Fonte: Petronotícias
Por Davi de Souza
O presidente Jair Bolsonaro já está nos
Estados Unidos para um encontro com Donald Trump, que acontecerá amanhã (19).
Um dos tópicos que será tema nas reuniões com o governo americano é a
possibilidade de abertura das reservas brasileiras de urânio para as empresas
privadas internacionais. Hoje, a exploração do minério é exclusiva da estatal
Indústrias Nucleares do Brasil (INB), que vê com bons olhos a participação de outras
companhias no setor de mineração nuclear. "Vemos isso de forma extremamente
positiva. Eu acho que existe espaço e urânio para isso no país”, afirmou o
presidente da INB, Carlos Freire Moreira (foto). O executivo, que assumiu o
cargo em fevereiro, também revela que uma das prioridades de sua gestão é a
retomada das atividades de mineração em Caetité, na Bahia, além da
implementação do projeto de Santa Quitéria, no Ceará. "E é uma preocupação de
todos, principalmente da INB e do ministério supervisor, que a empresa volte a
produzir [minério de urânio]. Para isso, estamos tomando medidas no sentido de
levantar toda essa problemática de licenciamento”, explicou.
Quais são suas metas prioritárias neste
primeiro ano à frente da INB?
Em termos de metas, temos algumas ações que
estão em andamento, no sentido de dar trato mais objetivo nos passivos que
existem, seja em Caldas, em Minas Gerais, ou em outros sites da INB, de forma
que isso possa ter uma solução definitiva. Claro que são coisas de longo prazo,
mas estamos fazendo um trabalho conjunto com os órgãos reguladores e
fiscalizadores – como o Conselho Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e Ibama –
para reduzir esse tipo de problema, que nos custa muito dinheiro e nos
preocupa. Existe uma demanda da sociedade e dos órgãos fiscalizadores para que
isso tenha um andamento positivo para que, em determinado momento, se dê fim a
este tipo de coisa, como descomissionar antigas áreas de produção. Essa área
ambiental é uma preocupação nossa e estamos dando uma atenção especial.
Que outros setores da empresa estão dentro
das prioridades?
Outra questão importante é a mineração. Por
diversas razões, nós estamos sem produzir urânio. E é uma preocupação de todos,
principalmente da INB e do ministério supervisor, que a empresa volte a
produzir. Para isso, estamos tomando medidas no sentido de levantar toda essa
problemática de licenciamento. É uma atitude muito positiva em relação aos
órgãos fiscalizadores, a CNEN e o Ibama, principalmente volta ao nosso principal
centro de produção, que é Caetité. Temos lá a exploração de uma cava
subterrânea, que está interrompida, por uma questão de licenciamento. Nós vamos
buscar resolver isso. A nossa preocupação em relação a Caetité é muito grande.
Nós temos que realmente voltar a produzir urânio. De certa forma, não adianta
postergar ações. Não existe retomada imediata. Ela é lenta e os processos são
demorados. Exige uma atenção muito especial dos órgãos controladores e
fiscalizadores. O que precisa ser feito é um trabalho conjunto, uma parceria
entre fiscalizador e fiscalizado, de forma a termos um resultado positivo.
O senhor poderia detalhar, além de Caetité, o
andamento do projeto de Santa Quitéria?
Dentro dessa área de mineração, existe nossa
preocupação com a implementação do projeto de Santa Quitéria. Ele é uma
parceria da INB com a Galvani. Estamos retomando isso fortemente, verificando
todas as implicações para voltarmos a priorizar este projeto. Quando
implementado, ele trará dois grandes benefícios. O primeiro deles é o fosfato,
por conta do seu interesse comercial para a Galvani, e o segundo é o urânio
para a INB. O Brasil é um dos maiores importadores de fosfato do mundo. Então,
ao termos uma unidade como a de Santa Quitéria, produzindo fosfato, e tendo
ainda o urânio, para a INB, em um volume que nos dará garantia de permanência,
sem necessidade de importações, será um ponto muito positivo. Existem
dificuldades na área de licenciamento que estamos tratando.
Em termos de priorização, temos essas duas
linhas, que estão perfeitamente alinhadas com o nosso planejamento estratégico
que foi concluído em 2017. Está ocorrendo uma reavaliação, numa busca
extremamente positiva dentro do planejamento estratégico, para que a INB possa,
em torno de 2026, ser independente do governo. Embora, hoje em dia, ela seja
uma empresa de baixa dependência do governo federal. Mas, como empresa, ela
precisa ser independente e se autossustentar.
Quando deve ocorrer a retomada na mineração?
Nós conseguimos ter muito controle de coisas
que estão em nossas mãos. Os órgãos como CNEN e Ibama tem o timing deles para
fazer este trabalho. Eu não posso assegurar para você quando acontecerá. Esses
prazos não são dados, em termos de órgãos reguladores. E até entendemos isso,
porque, muitas vezes, esses órgãos buscam informações. Não temos como informar
o prazo, mas temos o objetivo de que isto ocorra no prazo mais curto possível.
Como o senhor avalia a possibilidade de
abertura da mineração de urânio para o setor privado?
Temos visto na mídia a questão da parceria ou
até a alteração no marco regulatório de forma a permitir que a iniciativa
privada possa colaborar na mineração. Vemos isso de forma extremamente
positiva. Eu acho que existe espaço e urânio para isso no país. E a INB se
insere nisso. Se conseguirmos implementar, seja no nível de parcerias ou de
concessões, vemos isso de forma extremamente positiva. Foi como disse o
ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque: não é cabível que tenhamos
grandes reservas e não usemos as mesmas.
Além da parte operacional, quais outras
medidas estão sendo adotadas pela atual gestão?
Em termos organizacionais, estamos terminando
um Plano de Demissão Voluntária (PDV) no mês de maio. Naturalmente, tendo todos
os cuidados, porque quando temos um PDV, nós perdemos pessoas importantes em
várias áreas. Existe um processo interno muito cuidadoso de transferência de
conhecimento dessas pessoas que estão saindo. Boa parte deles é composta por
funcionários muito antigos, que deram sua contribuição no desenvolvimento da
INB. Temos que ter o cuidado de reter o conhecimento e a expertise dessas
pessoas.
Existe uma estimativa de quanto a dependência
do Tesouro deve diminuir ao longo dos próximos anos?
Essa redução já vem acontecendo há alguns
anos, por meio de mecanismos internos de cuidado com a economicidade, despesas
e tamanho da empresa. Essa dependência vem caindo e diria que, nos últimos
anos, ela caiu de algo em torno de 39% e 35% para 25%. Isso já vem acontecendo,
mas vamos além. Quando falamos de independência financeira, não estamos só
falando de passarmos a não depender mais de recursos do Tesouro. Além disso, a
meta é gerar recursos próprios para ampliarmos a INB em termos de produção.
Esse viés vai no sentido no novo marco regulatório, com a implementação dessas
duas áreas de mineração. Essa busca por independência em relação ao Tesouro já
vem acontecendo fortemente há mais de dois anos.
E quanto às novas cascatas de
ultracentrífugas, usadas no enriquecimento de urânio? Qual o cronograma de
entrada das novas unidades?
O projeto das cascatas poderia, digamos
assim, estar mais avançado do que temos hoje. Em relação aos grandes problemas
que acabamos de conversar, o enriquecimento de urânio está caminhando bem, eu
diria. Mas, repito, poderia estar mais avançado. Inclusive, teremos reuniões
com a Marinha, nossa parceria nesse projeto, de forma a acelerar o processo.
Temos o objetivo de chegar a 10ª cascata em um tempo mais breve do que o
previsto. Este é um desejo da Marinha também.