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- 30/11/2021 - MCTI estuda produção de radiofármacos por laboratórios especializadosO ministro do MCTI, Marcos Pontes, se reuniu nesta terça-feira (30) com representantes do Laboratório Cristália e com diretor da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN/MCTI)
O ministro do MCTI, Marcos Pontes, se reuniu nesta terça-feira (30) com representantes do Laboratório Cristália e com diretor da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN/MCTI)
Fonte: Ministério da Ciência, Tecnologia e InovaçõesO ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, astronauta Marcos Pontes, participou nesta terça-feira (30) de uma reunião com representantes do laboratório Cristália e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), que faz parte da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), autarquia vinculada ao MCTI. O laboratório sugeriu que a produção de radiofármacos, que hoje são produzidos exclusivamente pelo IPEN, pode ser auxiliada pela iniciativa privada e colocou-se à disposição do ministério e do país para estudar uma possível parceria.
O ministro Marcos Pontes demonstrou entusiasmo pela possibilidade. "Se a gente tivesse uma empresa pública, por exemplo, uma fundação, que consiga fazer essas transações sem ter que manejar recursos na caixa do Tesouro o problema estaria resolvido”. Hoje, o recurso gerado pela produção de radiofármacos do IPEN, que são vendidos para hospitais de todo país, não retornam diretamente para o instituto. O dinheiro vai para o Tesouro Nacional e só depois o Governo Federal libera recursos dentro do orçamento para o ministério, que o divide com as diversas vinculadas – entre elas a CNEN/MCTI.
O diretor de Pesquisa de Desenvolvimento da CNEN/MCTI, Madison Almeida, destacou que o Brasil ainda é dependente da importação destes radioisótopos, mas que a produção de radiofármacos no IPEN não está comprometida, e aponta uma solução no futuro. "Nós temos hoje uma dificuldade orçamentária; a dificuldade produtiva inexiste. O fato é que o Brasil ainda é dependente da importação desses radioisótopos, dos quais com o Reator Multipropósito Brasileiro pronto daqui cinco anos, nós seremos independentes”.
Recentemente o País passou por uma descontinuidade na produção de radiofármacos, necessários para milhares de pacientes em tratamento de câncer no país. O MCTI conseguiu de forma emergencial recursos do Governo Federal para a manutenção da produção destes medicamentos. Durante audiência pública na Câmara dos Deputados, o ministro Marcos Pontes, esclareceu que o gargalo na produção dos radiofármacos ainda são entraves orçamentários. "O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações tem tomado uma série de ações desde junho de 2020, há mais de um ano, e chegou nessa situação por causa de fatores contribuintes. O problema não está resolvido, é um problema sério. Nós colocamos R$ 19 milhões no limite da lei orçamentária, mas isso não vai resolver o problema”, declarou o ministro na ocasião.
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- 30/11/2021 - Novos usos da radiação - mesa-redonda da INAC 2021Na International Nuclear Atlantic Conference - INAC 2021, produzida pela Associação Brasileira de Energia Nuclear- ABEN com o tema: “Tecnologia Nuclear: redução da nossa pegada de carbono e aumento da qualidade de vida”, acontecerá a mesa-redonda “New Trends in Radiation Processing" no dia 30/11/21 de 14h às 15h30min.
Na International Nuclear Atlantic Conference - INAC 2021, produzida pela Associação Brasileira de Energia Nuclear- ABEN com o tema: “Tecnologia Nuclear: redução da nossa pegada de carbono e aumento da qualidade de vida”, acontecerá a mesa-redonda “New Trends in Radiation Processing" no dia 30/11/21 de 14h às 15h30min.
Fonte: ABEN
Processamento por radiação é uma técnica que usa radiação gama, feixes de elétrons e de raios-X para irradiar produtos e preservar ou modificar suas características. A grande vantagem dessa técnica reside na obtenção de efeitos físicos, químicos e biológicos reprodutíveis com controle adequado da dose absorvida no material irradiado.
O coordenador do debate será Wilson Calvo, superintendente do IPEN-CNEN/SP. E à mesa estarão três convidados: Bumsoo Han- da Agência Internacional de Energia Atômica; e Wilson Cody diretor de desenvolvimento de negócios da Ion Beam Accelerators/IBA - fabricante de aceleradores; e Florent Kuntz, pesquisador da Aerial.
Bumsoo Han vai abordar as novas tendências de processos relevantes na área de processamento por radiação; Wilson Code vai abordar as características do Rhodotron - um moderno e complexo acelerador de elétrons que permite também a produção de raios X; e Florent Kuntz sobre os novos sistemas dosimétricos adequados para usar nos processos em desenvolvimento.
Atualmente, a esterilização de produtos médicos, tratamento de alimentos e modificação de polímeros são as aplicações mais importantes na indústria de processamento por radiação. Mas o espectro de aplicações é muito amplo: preservação de obras de arte e patrimônio cultural, despoluição de gases e águas com grande contribuição ao meio ambiente e pesquisas na área de biomédica, como irradiação de osso, peles e tecidos.
Acompanhe a INAC 2021 no site www.inac2021.com.br
Contato imprensa: Whatsapp 21.979368737 (Gloria Alvarez)
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- 30/11/2021 - Tecnologia usa irradiação para diminuir a fome no mundo - Mesa Redonda na INAC 2021Técnica de conservar alimentos à base de irradiação é tema de debate na International Nuclear Atlantic Conference - INAC 2021, produzida pela Associação Brasileira de Energia Nuclear - ABEN. Na mesa redonda que acontecerá no dia 30/11, às 15h40, em formato digital (www.inac2021.com.br) será discutida a aplicação da energia nuclear na agricultura e traz importantes referências do setor.
Técnica de conservar alimentos à base de irradiação é tema de debate na International Nuclear Atlantic Conference - INAC 2021, produzida pela Associação Brasileira de Energia Nuclear - ABEN. Na mesa redonda que acontecerá no dia 30/11, às 15h40, em formato digital (www.inac2021.com.br) será discutida a aplicação da energia nuclear na agricultura e traz importantes referências do setor.
Fonte: ABENEntre os debatedores, estarão: Luis Rangel - diretor de Estudos e Prospecção da Secretaria de Política Agrícola, do Ministério da Agricultura (MAPA); Anna Lucia Villavicencio - pesquisadora do IPEN / CNEN e pós doutora em flores comestíveis irradiadas; Valter Arthur - doutor em Agronomia na área de Entomologia; Tiago Rusin - Assessor Técnico no Departamento de Coordenação do Sistema de Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro, do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República; e Roberto Betancourt - Diretor titular de Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).Da pauta constam: a necessidade de conservação de alimentos em função do crescimento demográfico; e o desenvolvimento nacional de uma política de Estado que adote a irradiação de alimentos. O objetivo é ampliar a durabilidade de forma segura, reduzindo o desperdício e expandindo o mercado exportador.Como exemplo, as frutas têm sido irradiadas com segurança em larga escala pelo mundo. Em média, elas duram três vezes mais depois da exposição à energia nuclear. A irradiação elimina parasitas e reduz o brotamento em muitos vegetais.Contato imprensa: Whatsapp: 21.979368737 - Gloria Alvarez -
- 29/11/2021 - Reator nuclear pode tornar Brasil autossuficiente em radiofármacosEmpreendimento reduzirá riscos de desabastecimento e custos dos medicamentos, além de ampliar o acesso dos brasileiros à medicina nuclear
Empreendimento reduzirá riscos de desabastecimento e custos dos medicamentos, além de ampliar o acesso dos brasileiros à medicina nuclear
Fonte: AmazulSão Paulo, 29 de novembro de 2021 - O Brasil deverá tornar-se autossuficiente na produção de radiofármacos para o diagnóstico por imagens e tratamento de câncer e outras doenças com o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), cujo projeto detalhado acaba de ser concluído pela Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A. (Amazul) e pela empresa argentina Invap, dentro do convênio de parceria técnica com a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen).
O RMB é um reator nuclear de pesquisa que tem como uma de suas finalidades a produção de radioisótopos, que são o insumo para radiofármacos utilizados na medicina nuclear.
"Como a maioria dos radioisótopos é importada, o RMB reduzirá os riscos de desabastecimento e os custos de produção dos radiofármacos e da realização de exames. Com isso, criará condições para investimentos privados na área de medicina nuclear e a ampliação do número de pessoas aos benefícios da medicina nuclear”, afirma o engenheiro Francisco Roberto Portella Deiana, diretor-presidente interino da Amazul.
A tecnologia nuclear é usada na cardiologia, oncologia, hematologia e neurologia, principalmente. Os radiofármacos permitem realizar diagnósticos precisos de doenças e complicações como embolia pulmonar, infecções agudas, infarto do miocárdio, obstruções renais e demências, entre outros. A medicina nuclear é a maneira mais eficiente de detectar o câncer, pois define o tipo e a extensão de tumor no organismo, o que ajuda a decisão sobre qual o tratamento mais indicado para cada caso.
Atualmente, o Brasil compra os insumos da Rússia, África do Sul e Países Baixos. Para atender à demanda anual de cerca de 2 milhões de procedimentos em medicina nuclear, o país gasta cerca de US$ 15 milhões (cerca de R$ 82,6 milhões) em radioisótopos que são processados e enviados a 430 hospitais e clínicas brasileiras.
Orçado em cerca de US$ 500 milhões, o RMB é um empreendimento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, gerido pela Cnen, em parceria técnica da Amazul. Para a construção do complexo do RMB já existe área de 2 milhões de metros quadrados adjacente ao Centro Industrial e Nuclear Aramar, no município de Iperó, no interior de São Paulo. Do total, 1,2 milhão de metros quadrados foram cedidos pela Marinha do Brasil e o restante por meio de desapropriação realizada pelo governo do Estado de São Paulo.
O empreendimento já obteve a aprovação das licenças ambientais para o início das obras e atualmente estão sendo executados planos socioambientais preliminares.
Importância do empreendimento
O projeto de engenharia de detalhamento do RMB inclui, além do reator propriamente dito, as estruturas, sistemas e componentes do complexo que abrange prédios e outras instalações. Devido à complexidade do empreendimento, o trabalho envolveu a elaboração de 3.842 documentos pela Amazul e a verificação de outros 5.348 elaborados pela argentina Invap, responsável pelo projeto relativo ao prédio do reator.
Para a realização do projeto, foi fundamental a expertise da Amazul em 13 áreas de conhecimento de engenharia em geral e sete de tecnologia nuclear, além da alta qualificação de seus profissionais.
Nessa etapa, foram liberados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, por meio da Finep – Financiadora de Estudos e Projetos, recursos da ordem de R$ 150 milhões. Os responsáveis pelo empreendimento estão realizando gestões para a obtenção de recursos para o início das obras de construção.
Com o RMB, o País sairá da condição de importador de radioisótopos para uma maior autonomia e eventual posição de exportador, além de se tornar um polo de desenvolvimento de novos radiofármacos de interesse nacional.
O Brasil tem quatro reatores nucleares de pesquisa dedicados a atividades diversas como pesquisa básica e tecnológica, produção de radioisótopos, testes de combustível nuclear e desenvolvimento de novos materiais, dentre outras aplicações.
Os radioisótopos são produzidos em maior escala apenas pelo reator IEA-R1, com potência máxima de 5 megawatts (MW), instalado no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, localizado no campus da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista. Segundo José Augusto Perrotta, coordenador-técnico do projeto do RMB, esse reator não tem capacidade para produzir em escala o molibdênio-99, radioisótopo que dá origem ao radiofármaco tecnécio-99m, empregado em 80% dos procedimentos de medicina nuclear realizados no país.
O RMB, de 30 MW, é um reator nuclear mais potente e com maior espectro de aplicações que o do Ipen. Além de radioisótopos, produzirá traçadores que são usados em pesquisas em agricultura, indústria, proteção do meio ambiente e biologia. Permitirá, por exemplo, a realização de testes de materiais e combustíveis nucleares para reatores de potência, utilização de feixes de nêutrons para pesquisa científica e tecnológica e em diversos campos da ciência, análise por ativação neutrônica, além de treinamento de pessoal para manutenção e operação de reatores de potência. Essas tecnologias permitem, por exemplo, testar materiais, localizar fissuras em superfícies como asas de avião ou verificar a quantidade de agrotóxicos contida em alimentos.
"É o grande projeto estruturante da ciência e tecnologia nuclear no país", diz Madison Coelho de Almeida, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Cnen.
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- 29/11/2021 - A INAC 2021, principal conferência sobre energia nuclear do Hemisfério Sul, começou nesta segunda, 29Este ano o evento tem como tema: redução de carbono e mais qualidade de vida
Este ano o evento tem como tema: redução de carbono e mais qualidade de vida
Fonte: ABEN
A décima edição da International Nuclear Atlantic Conference (INAC-2021) (Conferência Internacional Nuclear do Atlântico) começou na manhã desta segunda-feira, dia 29 de novembro. Devido à pandemia o evento está sendo realizado de forma virtual. O chair do encontro é Claudio Almeida.
A cerimônia de abertura contou com a participação de Carlos Henrique da Costa Mariz, presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN), promotora e organizadora da INAC 2021; do ministro Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Júnior, Ministro de Estado de Minas e Energia (MME); Rafael Mariano Grossi, diretor-geral da International Atomic Energy Agency (IAEA); Wiliam D. Magwood, diretor-geral da Nuclear Energy Agency (NEA); Marco Antonio Saraiva Marzo, secretário da Agência Brasileira-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (ABACC); e Sérgio Freitas de Almeida, secretário-executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
O tema da Conferência é "Tecnologia nuclear: redução da nossa pegada de carbono e aumento da qualidade de vida". Trata-se de uma iniciativa multidisciplinar e visa promover uma discussão sobre o papel essencial da ciência nuclear e da tecnologia de todas as suas aplicações em benefício e desenvolvimento da sociedade.
O presidente da ABEN, Carlos Henrique Mariz. Em sua saudação inicial, prestou homenagem especial ao ex-presidente da Associação, Rogério Arcuri Filho, que faleceu vítima de Covid-19, em 11 de maio de 2021. "A presente diretoria, escolhida e comprometida com ele, dará prosseguimento para que os sonhos e metas de Rogério se transformem em obras e entregas para a sociedade. Nesse momento prestamos nossa homenagem ao grande amigo Rogério e às demais vítimas dessa pandemia, com nossos pensamentos e orações e expressamos nossa solidariedade para sua família e amigos” destacou Carlos Henrique Mariz.
O presidente da ABEN ressaltou em sua fala, a Segundo Mariz, o INAC já se consolidou como um dos mais relevantes eventos da área nuclear em nível nacional e internacional e a escolha do tema deste ano evidencia a vinculação do evento às preocupações sociais. "Estamos em sintonia com as preocupações da sociedade com o aquecimento global, conforme metas do Acordo de Paris, e compreendemos o grande papel que a geração nuclear tem como forte alternativa para produção de energia de base, com mínima emissão de gases de efeito estufa e em substituição à produção com combustíveis fósseis, assunto amplamente discutido na recente COP-26, em Glasgow. Estamos em sintonia com o papel abrangente que a tecnologia nuclear tem com suas inúmeras aplicações. Na medicina, na agricultura, na produção de alimentos, no combate às pragas, na proteção dos nossos mares, etc, com grande contribuição para o aumento da nossa qualidade de vida! o momento é de intensa atividade na geração de energia nuclear no mundo e no Brasil com anúncios de projetos de construção de novas usinas e expansão da vida útil de muitas em operação”, ressaltou Mariz.
Rafael Grossi, diretor-geral da International Atomic Energy Agency (IAEA), também salientou a importância de debater tais temas, segundo ele existem pessoas no mundo que ainda não têm acesso à eletricidade. "Aliviar a sua pobreza tem que fazer parte do nosso plano, e isso significa que a demanda por energia vai crescer, e que a demanda por energia nuclear vai aumentar, sendo necessário desenvolver ações para aumentar matrizes energéticas com baixo teor de carbono”. Grossi ainda afirmou:” Precisamos que a matriz energética consiga fazer duas coisas em simultâneo, evitar poluentes que causam mudanças climáticas e doenças respiratórias e fornecer combustível de forma confiável a um custo acessível para impulsionar o crescimento econômico”.
O Ministro de Estado de Minas e Energia (MME), Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Júnior, colocou em relevo os eventos que ocorrem de forma paralela ao INAC, como o 22º Encontro de Física de Reatores e Termo hidráulicos (ENFIR); o 15º Encontro de Aplicações Nucleares (ENAN); 7º Encontro da Indústria Nuclear (ENIN), a Expo INAC (exposição de projetos e materiais); e as sessões técnicas de pôsteres juniores (para estudantes de graduação).
"No Ministério de Minas e Energia temos dado passos muitos decididos em coordenação com as demais áreas de governo, para promover a expansão da energia nuclear em nossa matriz energética, e consolidar a posição do Brasil no setor. Temos foco no desenvolvimento de energias limpas e renováveis, e destacamos que o Brasil tem uma das matrizes de energia elétrica mais limpas do mundo, com 85% de fontes renováveis” salientou Albuquerque Júnior.
Em seu discurso, o Ministro colocou em relevo que o setor nuclear vai começar uma nova etapa dessa atividade de regulação, fiscalização e licenciamento, de forma independente, com as ações que estão sendo desenvolvidas pelo Governo para a expansão do setor energético no País. "Destacamos a criação da Autoridade Nacional de Segurança Nuclear, que terá grandes desafios com a retomada do Programa Nuclear Brasileiro e a expansão esperada em todos as áreas desde a mineração até a aplicação final na energia elétrica, no Laboratório de Geração de Energia Nucleoelétrica (LABGENE) da Marinha; na fabricação de radiofármacos, na radiação de alimentos, e no futuro o reator multipropósito, que vai concentrar as pesquisas afetas a todos os setores”.
Ainda segundo o Ministro "Estamos radiantes com todas essas iniciativas, isso simboliza o resultado de um trabalho sério, entre Governo, empresas e a área acadêmica. No âmbito do ministério estamos trabalhando na retomada dos estudos de localização de novos sítios nucleares, em parceria com o CEPEL, sendo meta intensificar esse trabalho para que tenhamos a identificação de áreas preferenciais, que permitam ao Governo propor para o Congresso Nacional a implantação de novos centrais nucleares - o reputo de importância para o desenvolvimento e segurança do sistema de energia elétrica do Brasil”, concluiu o ministro.
Contato com a imprensa: 21.979368737 (Gloria Alvarez)
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- 24/11/2021 - Estatal nuclear mantém lixo radioativo em local sem licenciamento ambientalSem documentação do Ibama, sítio em Itu, interior de SP, armazena 3.500 toneladas de rejeito radioativo
Sem documentação do Ibama, sítio em Itu, interior de SP, armazena 3.500 toneladas de rejeito radioativo
Fonte: Brasil de FatoThales SchmidtSão Paulo (SP) |Sempre com a promessa de encontrar uma destinação ou uso, o Brasil abriga desde a década de 1970 toneladas de rejeitos radioativos. O material é resultado da mineração de monazita pela Nuclemon, antiga estatal nuclear que operou em São Paulo e foi fechada após a contaminação de seus trabalhadores, problemas trabalhistas e a morte de um de seus funcionários. Hoje, o material é administrado pela Indústrias Nucleares do Brasil (INB), companhia que sucedeu a Nuclemon, e parte dele está guardado, ao menos desde 2012, em um local sem licenciamento ambiental, no Sítio São Bento, em Itu (SP). O local fica em uma área de proteção ambiental do município paulista.
Batizado de Torta II, o material é resultado do processamento químico da monazita para a extração de terras raras — elementos químicos de alto valor e interesse industrial. Esse processo era realizado na unidade da Nuclemón no bairro do Brooklin, na capital paulista, durante a ditadura militar.
Quando moradores de Itu questionaram a presença do elemento radioativo no município na década de 1980, o então presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Rex Nazaré Alvez, afirmou ao Estadão que a Torta II era um elemento de "alto valor comercial".
Ainda assim, o depósito permanece intocado desde então e gerando custos de manutenção e segurança. Uma possível negociação surgiu em 2013, quando a venda da Torta II para a China foi cogitada. A empresa Global Green Energy Science compraria o material para reprocessá-lo e aproveitar as quantidades restantes de tório e urânio. Todavia, o negócio não prosperou porque as autoridades de Pequim não forneceram a licença ambiental de importação do material.
O frustrado negócio da China não impediu a CNEN de repetir o argumento de que a Torta II não seria um rejeito e teria, na verdade, um uso no futuro. Em audiência pública na Câmara de Vereadores de Caldas, em Minas Gerais, outro município que também abriga os rejeitos, a CNEN voltou a defender uma hipotética destinação futura do material.
"Ela é um material radioativo, uma vez que a definição de rejeito radioativo é quando o material não tem previsão futura de aproveitamento e a Torta II pode ser aproveitada para recuperação de urânio contido nela e terras raras”, afirmou Antonio Luiz Quinelato.
O hipotético uso futuro de rejeitos da mineração de elementos radioativos é, também, um dos argumentos do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) para expandir as usinas nucleares no país. Elaborado pelo Ministério de Minas e Energia, o Plano Nacional de Energia 2050 (PNE) estabelece diretrizes de longo prazo para o setor energético do país e afirma que a "opção brasileira” é não considerar o armazenamento do combustível nuclear usado (urânio) "como rejeito”.
"Isso porque há esforços mundiais no desenvolvimento de tecnologias de reaproveitamento desse combustível, que apresenta ainda teor energético”, diz o PNE 2050. "De tal forma que o país adotou a política de estocar o seu combustível usado no sítio das usinas no aguardo do desenvolvimento dessas novas tecnologias de reprocessamento e aproveitamento.”
Origem radioativa
A Torta II foi levada para Itu entre 1975 e 1981. Em 1987, relatório da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) apontou que os trabalhadores que faziam a segurança do local estavam expostos a níveis acima do recomendado de radiação "causando riscos profissionais de exposição”, noticiou o jornal Estadão.
"Se há perigo para os funcionários, existe também para a população, pois um dos mananciais que abastecem a cidade está a apenas 600 metros do depósito", afirmou o prefeito de Itu na época, Lázaro José Piunti, à publicação.
A INB afirma em seu site que "não se sabe ao certo o motivo que levou os administradores da Nuclemon a levar a Torta II" para Itu e que não havia à época "legislação ambiental contrária à instalação do depósito no local”.
Em documento interno, de 2016, a INB reconhece que outra quantidade de Torta II armazenada na Unidade de Tratamentos de Minérios em Caldas (MG), "apresenta riscos de vazamentos devidos à deterioração em função do tempo dos tambores de metal, das bombonas plásticas e dos paletes de madeira que dão sustentação às pilhas".
Sede da primeira mina de urânio do país, a mineira Caldas hospeda a maior parte dos rejeitos de Torta II do país, com 12,5 mil toneladas.
A posse do material segue um assunto controverso, com os atuais prefeitos de Caldas e Itu afirmando na imprensa não terem interesse em hospedar a Torta II.
Em nota enviada ao Brasil de Fato, a INB afirma que o licenciamento ambiental do seu depósito de lixo nuclear em Itu está "em andamento" e que fez a solicitação da documentação em 2012 e 2015 para o Ibama e que "o material está devidamente acondicionado na Unidade".
:: Alternativa controversa: Bolsonaro quer multiplicar o número de usinas nucleares pelo país ::
"É importante ressaltar que, independente da licença, a INB desenvolve um Programa de Monitoração Radiológica Ambiental no Sítio São Bento, Botuxim/SP, e todos os anos encaminha relatório das monitorações para o Ibama e a Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN. No histórico não foi identificado nenhum aumento de concentrações radiológicas, o que demonstra que o material está devidamente acondicionado na Unidade”, afirma a INB em nota.
O Ibama não respondeu aos questionamentos da reportagem.
Contaminação e morte
Em 1987, com a morte de um dos trabalhadores da Nuclemon por contaminação por sílica e o acidente com césio-137 em Goiânia, as atividades da Nuclemon passaram a ser alvo de maior atenção. E uma série de problemas foi detectada.
A Câmara Municipal de São Paulo instaurou uma CPI para investigar a empresa em 1991. O relatório final da comissão cita um laudo de Fiscalização do Instituto de Radioproteção e Dosimetria que encontrou elementos radioativos acima do limite em toda a unidade da estatal. Em alguns locais, o índice de radiação era até 100 vezes superior ao limite.
A CPI também indicou que a Nuclemon utilizava jornadas extraordinárias e que os trabalhadores não tinham os equipamentos necessários para sua prática profissional.
Com problemas de saúde causados pelo Nuclemon, trabalhadores da antiga estatal hoje processam a INB e pedem planos de saúde vitalícios e indenizações por danos morais, existenciais e materiais.
Esses antigos profissionais criaram a Associação Nacional dos Trabalhadores da Produção de Energia Nuclear (ANTPEN) e passaram a coletar informações sobre as enfermidades gestadas pela Nuclemon: leucemia, câncer gástrico, câncer de próstata, câncer de bexiga, hipertensão, diabetes, retite, silicose e pneumoconioses.
Enquanto a incidência de câncer de próstata brasileira está em torno de 2% da população, essa enfermidade é quatro vezes mais comum entre os ex-trabalhadores da Nuclemon, aponta laudo do processo da ANTPEN.
"A Torta II parece uma massa, um barro, um barro mole e marrom”, afirma José Venâncio, trabalhador da Nuclemon entre 1970 e 1993 e presidente da Antpen.
Venâncio afirma que uma parte considerável dos trabalhadores da Nuclemon era formada por retirantes nordestinos, que aceitavam o trabalho braçal e as longas horas de turno. Sem saber da radiação, ele diz que a convivência com os rejeitos nucleares era comum e parte dos trabalhadores chegou a manusear o material com as próprias mãos.
Sobre a falta de licenciamento ambiental da Torta II em Itu, o ex-trabalhador da Nuclemon afirma: "a ditadura acabou, mas eles continuam fazendo a mesma coisa”.
Edição: Rodrigo Durão Coelho
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- 23/11/2021 - Publicado decreto que vincula a Autoridade Nacional de Segurança Nuclear ao MMEA autarquia irá regular, licenciar e fiscalizar todas as instalações nucleares no Brasil
A autarquia irá regular, licenciar e fiscalizar todas as instalações nucleares no Brasil
Fonte: Ministério de Minas e EnergiaFoi publicado nesta segunda-feira (22/11) o decreto Nº 10.861, de 19 de novembro de 2021, que vincula a Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN) ao Ministério de Minas e Energia (MME). A autarquia irá regular, licenciar e fiscalizar todas as instalações nucleares no Brasil pela primeira vez de forma independente.
A ANSN é a consolidação de um novo marco legal estratégico no setor nuclear. Cabe à autarquia, entre outras atribuições, definir regras sobre segurança nuclear, proteção radiológica, segurança física das instalações nucleares e fontes de radiação no território nacional, nos termos da Política Nuclear Brasileira e diretrizes do governo federal.
A Autoridade irá desvincular as atividades de promoção e fomento de energia nuclear das ações relacionadas à fiscalização e controle dos usos da energia nuclear e à repressão de ilícitos, que estavam concentradas na Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
Mais do que uma simples separação de competências, a criação da ANSN é uma consolidação de um novo marco legal nuclear para regulação, normatização, licenciamento, controle e fiscalização de instalações e atividades que envolvam materiais nucleares, elementos estratégicos de interesse para a energia nuclear e fontes de radiação ionizante em território nacional.
A criação da ANSN não implicará em aumento das despesas para o Estado, visto que as autarquias vão dividir orçamento, estrutura e pessoal atualmente previstos para a CNEN. A Comissão conduzirá os trabalhos de pesquisa e desenvolvimento do setor, continuando vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
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- 23/11/2021 - CTMSP e IPEN assinam acordo de parceria para operação do reator IEA-R1Reator é fundamental na produção de radioisótopos para uso em medicina nuclear
Reator é fundamental na produção de radioisótopos para uso em medicina nuclear
Fonte: Defesa Aérea e Naval
Por Luiz Padilha
No dia 18 de novembro, o editor do Defesa Aérea & Naval teve o privilégio de presenciar a assinatura do Acordo de Parceria entre o Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP) e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), que objetiva capacitar recursos humanos da Marinha para a operação prolongada do reator IEA-R1 do IPEN.
O IEA-R1 é um reator de pesquisa tipo piscina, moderado e refrigerado a água leve e que utiliza elementos de berílio e de grafite como refletores. Foi projetado para operar a uma potência máxima de 5 MW. Sua primeira criticalidade ocorreu em 16 de setembro de 1957 e pode ser utilizado para várias finalidades,com destaque para a produção de radioisótopos para uso em medicina nuclear, tais como: o Samário-153, utilizado como paliativo da dor em metástases óssea e no tratamento de artrite reumatóide; o Iodo-131, utilizado na terapia de câncer de tireóide e hipertireoidismo, na terapia de hepatomas, na localização e terapia de feocromocitomas, neuroblastomas e outros tumores, no estudo da função renal, na determinação do volume plasmático e volume sanguíneo total; e o Irídio-192, produzido na forma de fios metálicos, utilizados na técnica de braquiterapia para o tratamento de câncer. Pesquisas estão sendo realizadas para a produção de geradores de Tecnécio-99m, Lutécio-177 e Rênio-188.
No Brasil é crescente a utilização de radiofármacos em diagnósticos, terapias, avaliação e tratamento de neoplasias, cardiopatias, neuropatias e outras enfermidades. Atualmente, o País conta com mais de 400 serviços de medicina nuclear distribuídos por todo o território, sendo que os radiofármacos fornecidos pela CNEN propiciam a realização de cerca de dois milhões de procedimentos por ano, com aproximadamente 70% deles cobertos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), dos quais apenas o Samário 153 é produzido no País, correspondendo a menos que 1% dos exames realizados. Essa realidade irá mudar em breve, pois essa parceria propiciará a retomada e aumento da produção dos radioisótopos Iodo 131 e Lutécio 177, hoje importados a um custo de dezenas de milhões de reais anuais, além da realização de pesquisas de novos radioisótopos.
Segundo o IPEN, além dos pesquisadores do Centro do Reator de Pesquisas (CRPq), onde o reator está localizado, também utilizam os serviços de irradiação do IEA-R1:
– Centro de Engenharia Nuclear (CEN),
– Centro de Tecnologia das Radiações (CTR),
– Diretoria de Radiofármacos (DIRF),
– Centro de Metrologia das Radiações (CMR),
– Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA) da USP,
– Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP),
– Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF),
– Instituto de Engenharia Nuclear (IEN),
– Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear (CDTN),
– Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
– Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB),
– Instituto de Geociências da USP,
– Instituto de Física da USP,
– Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD),
– Universidade Federal Fluminense (UFF) e
– TRACERCO do Brasil (empresa privada que executa inspeções e testes em refinarias de petróleo).Para o CTMSP, além de contribuir para o atendimento dessa demanda específica de saúde da sociedade brasileira, em parceria com o IPEN, esse Acordo irá propiciar o aumento da capacitação da Marinha no setor nuclear, conforme estabelecido na Política e na Estratégia nacionais de Defesa, documentos de alto nível do Estado brasileiro. Os militares do Centro Industrial Nuclear de Aramar (CINA), organização militar subordinada ao CTMSP, não estarão somente se qualificando para operar o IEA-R1. Este processo trará a experiência necessária para a operação do LABGENE, que é o protótipo em escala 1:1 da planta de propulsão do futuro submarino nuclear brasileiro (SN-BR), bem como para a operação e utilização do futuro Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), outro projeto de cunho estratégico para as pesquisas e aplicações práticas da energia nuclear no Brasil, nas áreas da física, da medicina, da agricultura, da indústria e do meio ambiente.
Pelo Acordo assinado, militares alunos do Centro de Instrução e Adestramento Nuclear de ARAMAR (CIANA), uma superintendência do CINA, serão capacitados pelo IPEN e, após licença obtida junto à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), contribuirão para a retomada da pesquisa e produção de radioisótopos que exigem longas jornadas de operação do reator, marcadores para os chamados radiofármacos.
Diretor do CTMSP, Vice Almirante Paulo César Colmenero Lopes e o Superintendente do IPEN, Dr. Wilson Aparecido Parejo Calvo, assinam o documento do convênio CTMSP e IPEN.
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- 22/11/2021 - Energia nuclear, energia limpa?Fonte: Congresso em FocoUma das maiores mentiras propagandeadas pelos defensores da energia nuclear é chamá-la de limpa. Talvez acreditam que será mais facilmente aceita, digerida, absorvida pela sociedade brasileira a construção de usinas nucleares.
Até o reino mineral sabe que não existe fonte de energia que não cause problemas sociais, impactos ao meio ambiente, produzam resíduos e contaminações; e assim não poderiam ser chamadas de limpas. Afinal não existe energia limpa, e sim sujas e menos sujas.
As fontes de energia sujas são conhecidas, as fontes não renováveis, como o petróleo e seus derivados, o carvão mineral, e o gás natural; os vilões das emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa). Também nesta classificação, é considerada a energia produzida pelos minerais radioativos.
E as fontes menos sujas, são as fontes renováveis provenientes do Sol, do vento, da água, da biomasssa, … Dependendo de como é produzida a energia elétrica, a partir das fontes renováveis, se tornam menos ou mais sujas. A produção centralizada, em grandes usinas, parques, centrais, são asmais sujas. Enquanto a produção descentralizada de energia nos telhados, ocupando pequenas áreas são as menos sujas. Esta nomenclatura corresponde ao que realmente acontece em campo ao analisar a geração centralizada e a geração descentralizada. No caso da geração centralizada, as boas práticas socio ambientais foram abandonadas pelas empresas que se dedicam ao negócio do vento e do Sol.
Os defensores de usinas nucleares insistem em chamar esta fonte de energia elétrica, de limpa. Pura esperteza, má fé, "fake news”. Tentam confundir, influenciar, e assim formar opinião com base em premissas falsas. Enganam os incautos, pois mundialmente, e no país, a fonte nuclear desperta na população temor, repulsa, medo, perigo. Chamando-a de limpa querem tornar mais palatável esta fonte de energia perigosa, cara e suja.
É preciso saber que existem várias fases e processos industriais envolvidos, que transformam o minério de urânio no combustível que vai gerar energia térmica (reações nucleares) e sua conversão em eletricidade nos reatores nucleares. Para se obter o combustível usado nas usinas, denomina-se de ciclo do combustível nuclear os vários processos industriais envolvidos, desde a mineração e beneficiamento do minério radioativo, a conversão em gás, o enriquecimento isotópico, a reconversão de gás para material sólido, a fabricação das pastilhas e do combustível, e a geração na usina nuclear. Rejeitos de alto grau de radioatividade são produzidos nos reatores nucleares e devem ser tratados e armazenados.
Um dos maiores problemas causados pelo volume descartado, popularmente chamado de "lixo nuclear”, merece uma discussão a parte, sobre o que fazer com este "lixo”, como armazená-lo com segurança, pois a radioatividade, e o perigo que ela representa para as pessoas e meio ambiente, pode perdurar por milhares de anos. E a pergunta que não quer calar é sobre a questão ética de legar para as gerações futuras, mais este grandioso problema.
Também pouco é discutido com a sociedade, o que fazer com as usinas depois de findarem suas vidas úteis de funcionamento. O processo de descomissionamento é caro e longo. Alguns estudos mostram que o custo envolvido nesta etapa pode ser próximo do valor gasto na instalação da própria usina. E quem finalmente pagará será o consumidor.
Além das questões postas sobre os inúmeros motivos para ser contra a instalação de usinas nucleares, sem dúvida a falta de transparência do setor nuclear é sua marca indelével. Está no DNA do setor o desrespeito completo para com a sociedade, sobre as explicações, ações, motivações e justificativas das decisões tomadas. Sem dúvida interesses militares contribuem para que informações não cheguem à população, sejam dificultadas e mesmo omitidas. O debate democrático é necessário sobre o futuro das usinas nucleares no país. Se é que haja futuro para esta fonte de energia.
Diferentemente do que afirmam os nucleopatas, o Brasil não precisa da energia nuclear para garantir sua segurança energética. O atendimento do consumo de energia elétrica pode ser ofertado apenas com fontes renováveis de energia sem recorrer a usinas nucleares de potência. Inúmeros estudos apontam para a exuberância e o enorme potencial dos recursos solares, eólicos, e da biomassa existentes nas várias regiões do país. Além de uma extensa costa marítima que permitiria o uso das marés, das ondas, das correntes marítimas como fonte de energia em futuro próximo.
Outra afirmação que ofende a inteligência alheia diante da realidade é que esta fonte energética esteja crescendo no mundo, com grande aceitação entre os países. Mentira deslavada.
Na reunião do Clima em Glasgow, a COP26, pouco se falou na alternativa nuclear para o enfrentamento da emergência climática. A exceção foi a presença dos grupos de pressão, que se beneficiam economicamente desta insana escolha, dos lobistas, das grandes corporações interessadas em fazer negócios.
Todavia, merece destaque a declaração conjunta assinada pela Alemanha, Portugal, Luxemburgo, Áustria e Dinamarca, nesta reunião, defendendo que não devem ser disponibilizados recursos financeiros da Comunidade Europeia para financiar novas usinas nucleares. Os italianos já haviam em 2011, através de referendo popular, por larga margem (94% dos votantes), serem favoráveis ao banimento das centrais nucleares de seu território. As quatro que existiam foram fechadas. Na Alemanha foi decisão do governo, de que em dezembro de 2021, metade dos reatores nucleares ainda em operação sejam desativados. A outra metade deverá sair de operação no próximo ano, e assim de vez abolir a energia nuclear de seu território.
Em outros países existem fortes resistências ao uso da energia nuclear para geração elétrica. Mesmo naqueles poucos países que têm aumentando a participação do nuclear em suas matrizes elétricas, existem fortes embates entre as posições pró e contra, e questionamentos sobre o uso destas "chaleiras atômicas”.
Não se pode aceitar que decisões de pequeno grupo, sobre questões essenciais, tão relevantes para a sociedade, sejam acatadas simplesmente, em detrimento da opinião do povo brasileiro que não gosta da ideia de ter usinas nucleares no país. A reivindicação é de que a sociedade brasileira seja ouvida com relação a instalação de usinas nucleares. Ainda mais sendo uma escolha que compromete não só as gerações atuais, como também as futuras, a uma fonte energética polêmica, para falar o mínimo, e desnecessária.
A energia nuclear não é a fonte prioritária para ser apoiada e disseminada, e compor um mix com outras fontes para diversificar a matriz elétrica, como recentemente declarou o almirante-ministro de Minas e Energia. Posição equivocada, contrária aos interesses públicos e da natureza. Sem lastro em análises técnicas, econômicas, ambientais; a decisão de priorizar a fonte nuclear na matriz elétrica é um erro que está sendo cometido açodadamente, sem que verdadeiramente haja um debate nacional sobre o papel desta fonte de energia insustentável no cenário elétrico brasileiro. Existe em todo território brasileiro disponibilidade de fontes energéticas mais econômicas, mais seguras, menos sujas.
A boiada no setor nuclear deve ser contida.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.
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- 22/11/2021 - FAPESP redefine normas para Auxílio à PublicaçãoCritérios para concessão de financiamento de artigos, livros no Brasil e no exterior foram reorganizados e atualizados
Critérios para concessão de financiamento de artigos, livros no Brasil e no exterior foram reorganizados e atualizados
Fonte: FapespA FAPESP concluiu uma ampla revisão nas normas para concessão de Auxílio à Publicação, aprovada em reunião do Conselho Técnico-Administrativo (CTA) da Fundação em 10 de novembro. Uma das principais novidades é que não serão mais financiadas publicações de periódicos.
O Auxílio à Publicação continua a oferecer financiamento para a publicação de artigos e livros, no Brasil e no exterior, que exponham resultados de pesquisa realizada por pesquisador com título de doutor ou qualificação equivalente e que possua vínculo empregatício com uma instituição de pesquisa no estado de São Paulo, pública ou privada.
No caso de publicação de artigos, a nova norma limita o valor do Auxílio a R$ 12 mil. Casos excepcionais, que necessitem de valores superiores, devem ser muito bem justificados em termos da qualidade e relevância do artigo e do periódico onde será publicado.
A FAPESP apoiará a publicação de livros no Brasil que exponham resultados originais e inéditos de pesquisa. Solicitações de publicação de livros que não exponham resultados de pesquisa apoiada pela Fundação poderão ser analisadas apenas em casos com alto grau de excepcionalidade, mediante justificativa detalhada.
O financiamento de livros publicados no exterior poderá ser de trabalho inédito ou para a tradução da obra já publicada no Brasil, desde que considerada de interesse atual pela FAPESP.
Para solicitar o Auxílio à Publicação será preciso apresentar dois novos documentos. O primeiro com informações sobre o Auxílio ou Bolsa cujos resultados da pesquisa deram origem ao artigo científico ou livro a ser publicado. No outro documento deve estar a relação dos autores e coautores da obra ou do artigo objeto do Auxílio.
As novas normas trazem de forma mais detalhada o passo a passo da descrição do processo de análise e seleção das propostas submetidas nesta modalidade de apoio. A análise é realizada em cinco etapas e envolve a participação de assessores ad hoc, membros da Coordenação de Área e da Coordenação Adjunta da Diretoria Científica da FAPESP.
As normas do Auxílio à Publicação podem ser acessadas na página www.fapesp.br/auxilios/publicacoes.
Dúvidas, por gentileza, acesse: https://fapesp.br/converse/escritorio-de-apoio
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- 16/11/2021 - INB obtém renovação para fábricas de urânio no RJCNEN concedeu Autorização de Operação Permanente, incluindo 9 ª cascata de enriquecimento a ser inaugurada neste mês
CNEN concedeu Autorização de Operação Permanente, incluindo 9 ª cascata de enriquecimento a ser inaugurada neste mês
Fonte: Canal EnergiaA Indústrias Nucleares do Brasil – INB teve renovada a Autorização de Operação Permanente (AOP) para as fábricas de Enriquecimento e Reconversão e Pastilhas, situadas em Resende/RJ. As licenças foram emitidas pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e incluem a operação da 9ª cascata de urânio, a ser inaugurada este mês. Também foi concedida a renovação de funcionamento das outras oito cascatas, com vigência até novembro de 2024. A Fábrica de Reconversão e Pastilhas contará com uma licença de 36 meses.
Entre as condições para operação das duas fábricas está o limite do grau de enriquecimento em 5% no isótopo de urânio-235, o envio de relatório de controle de todo material radioativo, inclusive rejeitos gerados e os relatórios de proteção radiológica ocupacional e ambiental.
Na FCN-Enriquecimento, a margem de operação é de no máximo de 30 toneladas de UF6 (hexafluoreto de urânio) e na Fábrica de Reconversão e Pastilhas a indicação é que a produção esteja limitada a 160 toneladas de dióxido de urânio (UO2) ao ano.
A CNEN concedeu ainda a Autorização para Utilização de Material Nuclear (AUMAN) das duas fábricas, com algumas condicionantes. Comum entre elas está a quantidade e o grau de enriquecimento acordado entre as duas instituições, que deve ser controlado através de documentos.
O hexafluoreto de urânio enriquecido, produzido na FCN-Enriquecimento, só poderá ser transferido da instalação após a homogeneização e amostragem para caracterização química e isotópica, verificado pela CNEN. Entre as exigências feitas para Reconversão e Pastilhas está o cumprimento integral de acordos e compromissos internacionais de salvaguardas assinados pelo Brasil.
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- 16/11/2021 - Contingenciamento de verbas para ciência e tecnologia tem colocado projetos em riscoUm encontro virtual entre vencedores do Prêmio Nobel e alunos da América Latina abordou a falta de apoio do governo. O contingenciamento impede o repasse de R$ 2,7 bilhões e ameaça centenas de projetos estratégicos para o país.
Um encontro virtual entre vencedores do Prêmio Nobel e alunos da América Latina abordou a falta de apoio do governo. O contingenciamento impede o repasse de R$ 2,7 bilhões e ameaça centenas de projetos estratégicos para o país.
Fonte: G1 - Jornal Nacional
Cinco ganhadores do Prêmio Nobel fizeram, nesta terça-feira (16) um encontro virtual com estudantes da América Latina, inclusive do Brasil. Um dos temas discutidos foi o contingenciamento de verbas federais, que tem vários projetos de ciência e tecnologia em risco.Um dos projetos ameaçados pela falta de recursos é o que pode garantir dois milhões de atendimentos por ano na área da saúde a um custo mais baixo para o país: inovação brasileira em medicina nuclear para o tratamento do câncer e outras doenças.
Sem esse equipamento, o país gasta, pelo menos, R$ 110 milhões anualmente importando os produtos necessários.
"Se nós tivéssemos já em operação o reator, a gente teria a garantia de ampliar esse atendimento da medicina nuclear, principalmente na área de imagem e diagnóstico e também no atendimento no tratamento de alguns tipos de câncer”, ressaltou José Augusto Perrotta, engenheiro e coordenador técnico do empreendimento Reator Multipropósito Brasileiro.
Outra pesquisa ameaçada é a que mapeia os impactos das mudanças climáticas nos rios e espécies aquáticas da Amazônia.
"Estamos vivendo uma situação dramática porque sabemos que, sem informação, nós não conseguimos desenhar processos adequados de conservação ambiental, de inclusão social e de geração de renda”, determinou Adalberto Luis Val, biólogo, pesquisador do Inpa e coordenador do INCT-Adapta.
O governo federal não liberou até agora os recursos do orçamento aprovados pelo Congresso para ciência e tecnologia. O contingenciamento impede o repasse de R$ 2,7 bilhões e ameaça centenas de projetos estratégicos para o país.
"Espero que haja uma mudança de rumo porque temos muito a contribuir. A comunidade cientifica é extremamente competente, temos equipamentos instalados, mas precisamos de uma política governamental que apoie isso, que seja pró-ciência e apoie a ciência”, afirmou Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciência.
No fim da tarde, cinco vencedores do Prêmio Nobel participaram de um encontro virtual promovido pela Academia Brasileira de Ciências com 80 estudantes da América Latina, inclusive o Brasil.
A vencedora do Nobel de Química de 2020, a francesa Emmanuelle Charpentier, afirmou que, enquanto os governos não entenderem que apoiar a educação e a ciência é crucial para o desenvolvimento das sociedades, será difícil para as pessoas pensarem que podem fazer a diferença.
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações não comentou o contingenciamento de verbas do setor.
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- 11/11/2021 - Lixo radioativo fica sem inspeçãoAuditoria da CGU aponta fiscalização inadequada e risco de acidente em depósitos
Auditoria da CGU aponta fiscalização inadequada e risco de acidente em depósitos
Fonte: Valor EconômicoA maioria dos depósitos de rejeitos radioativos no país opera sem licenciamento e não tem recebido inspeções anuais da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), responsável pela fiscalização do setor, elevando o risco de acidentes. A constatação faz parte de auditoria recém-concluída pela Controladoria-Geral da União (CGU), que expõe a precariedade no funcionamento de boa parte das instalações.
Os depósitos existentes no Brasil - todos de baixo e médio níveis de radiação - abrigam rejeitos de diversas fontes: geração de energia nuclear, equipamentos hospitalares, indústria do petróleo, para-raios mais antigos, pesquisas científicas. Esse lixo é recolhido e armazenado em condições específicas de segurança.
Segundo a auditoria, 11 das 17 unidades sob controle regulatório não tiveram uma única inspeção da CNEN em 2019, contrariando a periodicidade mínima anual nas fiscalizações. O relatório mostra que algumas instalações, como o depósito intermediário de rejeitos radioativos localizado no Recife, ficaram até quatro anos sem nenhuma inspeção.
"Com base nos dados levantados, que apontam mais de 50% das instalações não visitadas em 2019, bem como um significativo número de espaços com intervalo superior a 12 meses entre a penúltima e a mais recente fiscalização, conclui-se que o planejamento da autarquia não consegue garantir uma inspeção anual de todos os depósitos de rejeitos radioativos sob sua supervisão, o que repercute em maior risco de acidentes com danos a pessoas, ao patrimônio público e/ou privado e ao meio ambiente”, diz a CGU em um trecho do relatório.
No Instituto de Engenharia Nuclear, que fica na Ilha do Fundão (RJ), a auditoria aponta que "fissuras e trincas” afetam o novo depósito de rejeitos radioativos desde 2014. Além de não ter sido resolvida, a situação se agravou nos últimos anos, levando à interdição da estrutura, acrescenta o relatório.
Em 1987, 249 pessoas tiveram algum tipo de contaminação e quatro morreram após terem entrado em contato com restos de césio-137, em Goiânia. Catadores de materiais recicláveis encontraram um aparelho de radioterapia abandonado. Eles começaram a desmontá-lo e depois o venderam a um ferro-velho, provocando um rastro de contaminação.
No âmbito da auditoria, a CNEN alegou insuficiência de recursos humanos para o exercício de suas atribuições, lembrando o limite de 24 horas semanais de trabalho para quem opera diretamente com raio-X e materiais radioativos. Para a autoridade nuclear, o contingente deveria ser pelo menos o dobro do atual.
A explicação, porém, não convenceu a controladoria. Para os auditores, há uma "série de fragilidades” na gestão de processos e falta de um "repositório eficiente de informações e documentos”, além da subutilização da força de trabalho dos profissionais, que se somam à carência de pessoal.
Apenas cinco depósitos no país - incluindo aqueles situados na central nuclear de Angra dos Reis (RJ) - têm autorização plena para funcionar. A CNEN recebeu responsabilidade legal pelo licenciamento de depósitos de rejeitos iniciais, intermediários e finais desde 2001, mas o assunto só foi regulamentado em 2014.
As instalações que estavam ativas no Brasil ganharam prazo de dois anos para submeter um relatório de análise de segurança. Algumas não enviaram essa documentação até hoje.
"Embora a CNEN tenha regulamentado o assunto, não se pronunciou conclusivamente sobre as condições de segurança dos depósitos de rejeitos, considerando o risco envolvido”, diz a auditoria.
Procurada pelo Valor, a CNEN - vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações - informou ter elaborado um plano de ação específico para atender às recomendações feitas pela controladoria, mas frisou que nenhum dos pontos levantados compromete a segurança dos depósitos. "[A comissão] segue com rigor procedimentos que garantem a segurança e radioproteção da população, trabalhadores e meio ambiente.”
De acordo com nota da CNEN, a programação de inspeções regulatórias foi impactada pela pandemia. "Porém, há ações já iniciadas que objetivam o pleno restabelecimento das fiscalizações, inclusive na área de rejeitos radioativos. Em outra frente de ação, há um intenso trabalho em andamento para o licenciamento dos depósitos sob controle regulatório da CNEN. A maioria destes depósitos está dentro de unidades da própria CNEN, onde há estrutura adequada e profissionais capacitados para garantir a segurança e radioproteção, evitando, assim, qualquer risco.”
Algumas das recomendações já foram atendidas, afirma a nota. No entanto, devido ao tempo de implantação, outras questões devem ser equacionadas quando a Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN) já estiver operacional. A ANSN, criada por medida provisória aprovada pelo Congresso Nacional em setembro, nascerá a partir de desmembramento da CNEN e busca justamente reforçar a fiscalização do setor. A CNEN passará a concentrar-se em pesquisa e desenvolvimento nuclear.
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- 10/11/2021 - Nova audiência pública discute possível chegada de novos rejeitos radioativos na INB, em Caldas, MGAssunto tem gerado polêmica desde que o Ministério Público Federal de São Paulo instaurou um inquérito civil para apurar a regularização ambiental da unidade da INB em Interlagos (SP).
Assunto tem gerado polêmica desde que o Ministério Público Federal de São Paulo instaurou um inquérito civil para apurar a regularização ambiental da unidade da INB em Interlagos (SP).
Fonte: G1Mais uma audiência pública discutiu a provável chegada de mais rejeitos radioativos para a unidade das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Caldas (MG). O assunto tem gerado polêmica desde que o Ministério Público Federal de São Paulo instaurou um inquérito civil para apurar a regularização ambiental da unidade da INB em Interlagos (SP).
Na ocasião, a INB afirmou que já tinha iniciado o processo de desativação da unidade e que cerca de 1,1 mil toneladas de equipamentos e material radioativo poderiam ir para Caldas. Desta vez a audiência aconteceu em Poços de Caldas e conta com representantes da cidade e também de Caldas e Andradas, além de representantes da Comissão Nacional de Energia Nuclear e da INB.
"O objetivo nosso é evitarmos que venha mais rejeitos nuclear para o planalto de Poços de Caldas, embora 70% da INB esteja dentro geograficamente de Caldas, qualquer situação de danos ambientais ou agravos à saúde, vai atingir o planalto de Poços de Caldas, que é Poços, Caldas e Andradas. É óbvio que vai se tornar caso nós não abortemos essa situação, vai se tornar um local de depósito final de rejeito nuclear do país", disse a vereadora de Poços de Caldas, Regina Cioffi (PP).
Uma das preocupações é que a unidade de Caldas, que já passa por processo de desativação, possa se tornar um depósito nacional de rejeitos radioativos.
"Eventuais infrações que possam ter sido cometidas nesse processo precisam ser apuradas porque não há prescrição para reparação de infrações e danos ambientais e mais do que isso, exigimos a criação de um observatório com participação das prefeituras, do poder Legislativo e da sociedade civil de Caldas, Andradas e Poços de Caldas para acompanharem os dois processos, ajustes e melhorias da situação que temos hoje na INB e acompanhamento do processo de descomissionamento", disse o vereador de Caldas, Daniel Tygel (PT).
A Assembleia Legislativa de Minas Gerais acompanha o caso e também já fez uma audiência para discutir o tema. Depois do encontro, passou a tramitar um projeto de lei que proíbe o trânsito de rejeitos no estado, o que pode impedir o transporte desse material para a região.
"A unidade das indústrias em Caldas não consegue sequer armazenar o que está lá, as condições são péssimas já atestadas em relatório do Tribunal de Contas da União e em outros relatórios, não há condição de manter o lixo radioativo que está lá, o que dirá receber mais mil toneladas", disse a deputada estadual, Beatriz Cerqueira (PT).
O superintendente de descomissionamento da INB, Diógenes Salgado Alves, falou sobre a possível chegada desses rejeitos.
"Não existe uma definição quanto a isso, a INB trabalha aqui em Caldas no descomissionamento de Caldas e não estamos com nenhuma definição de transferência para cá. Isso tem sido insistido e peço que não insistam mais. Quando houver uma definição para São Paulo, que haverá, os órgãos responsáveis e a sociedade, o poder Executivo, o poder Legislativo, vão ser comunicados, vão participar", disse o superintendente de descomissionamento da INB, Diógenes Salgado Alves.
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- 09/11/2021 - Falta de medicamento dificulta tratamentos de câncer no paísPor causa de cortes no orçamento, o Ipen teve que suspender a compra dos insumos, o que prejudicou toda a cadeia de produção e distribuição de radiofármacos. Mesmo com um novo aporte de dinheiro, as importações ainda não se normalizaram.
Por causa de cortes no orçamento, o Ipen teve que suspender a compra dos insumos, o que prejudicou toda a cadeia de produção e distribuição de radiofármacos. Mesmo com um novo aporte de dinheiro, as importações ainda não se normalizaram.
Fonte: Jornal Nacional
Depois de enfrentar cortes no orçamento, o laboratório público que fabrica remédios contra o câncer finalmente recebeu uma verba extra para retomar a produção. Mas agora enfrenta outro problema, que tem deixado pacientes bastante apreensivos.Um quarto reservado para o tratamento do câncer de tireoide em um hospital de São Paulo tem ficado vazio nos últimos meses, mas não por falta de pacientes. É que o iodo-131 praticamente desapareceu das prateleiras dos hospitais. Esse é um dos medicamentos mais usados no combate ao câncer e também em exames de imagem, como cintilografia.
O empresário Paulo José Pinheiro operou um câncer de tireoide e desde setembro espera pela sessão de iodoterapia. Na semana passada, o procedimento foi cancelado pela segunda vez.
"Frustrado. Psicologicamente não é uma boa, porque a gente quer tirar logo isso da frente, uma situação de câncer que a gente sabe que pode ser expandido. Então, a gente fica muito chateado, triste, e uma expectativa grande girou em torno disso e agora eu voltei à estaca zero”, afirma.
O iodo-131 faz parte de uma categoria de medicamentos que emitem radiação. São os chamados radiofármacos. 85% de tudo o que o Brasil usa dessas substâncias saem do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares. Em setembro, por causa de cortes no orçamento, o Ipen teve que suspender a compra de insumos, o que prejudicou toda a cadeia de produção e distribuição de radiofármacos.
Neste ano, o orçamento do Ipen, vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, caiu de R$ 95 milhões para quase metade disso. O governo acabou liberando uma verba extra de R$ 19 milhões, depois que exames e tratamentos foram adiados em todo o país. E, em outubro, liberou um novo crédito suplementar de R$ 63 milhões.
Ainda assim, os problemas continuam. O Ipen recebeu só 15% dos pedidos de insumos feitos a fornecedores internacionais.
"O argumento do Ipen é que, lá fora, os fornecedores estão com dificuldades, mas, na verdade eles estão com dificuldades porque o Ipen, por falta de dinheiro, interrompeu as importações e, agora, é óbvio que, para retomar as importações, demora algum tempo”, disse Antonio Britto, diretor-executivo da Associação Nacional dos Hospitais Privados.
O presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear, Dalton Alexandre dos Anjos, diz que essa situação tem colocado os médicos diante de um dilema ético: "É uma situação muito angustiante ter que escolher qual paciente vai ser ou não tratado. Nós temos buscado escolher aqueles pacientes que são mais graves ou aqueles pacientes que estão esperando há mais tempo, mas isso nunca é justo com todos os pacientes. Nosso desejo era poder tratar esses pacientes imediatamente. Todos eles sem exceção”.
"Não sou só eu, mas milhares de pessoas estão sendo impactadas por isso. Mais um motivo para eu ficar bastante preocupado", diz o paciente Paulo José, que aguarda para iniciar seu tratamento.
O JN procurou o Ministério da Ciência e Tecnologia, mas não teve retorno.
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- 09/11/2021 - Lixo Radioativo: Audiência para tratar das ações da INB acontece nesta quarta-feira em PoçosFonte: Onda PoçosA Câmara de Poços realiza, nesta quarta-feira (10), às 15h, audiência pública para discutir as ações das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em especial com relação à possibilidade do Planalto de Poços de Caldas se tornar depósito de rejeito final de material radioativo transferido de outros locais. O debate foi proposto pela vereadora Regina Cioffi (PP).
A parlamentar relembra, no Requerimento aprovado em Plenário solicitando a audiência, todo o histórico de início das atividades de exploração de urânio no Brasil e de transferência de lixo radiativo para o município de Caldas. "Diante de todas as questões que envolvem esse assunto, desde o início das atividades, transferência de 12 mil toneladas de lixo radioativo da Usina de Santo Amaro no passado, a necessidade de execução de Plano de Recuperação de Área Degradada e, agora, a possibilidade de nova transferência de material vindo de Unidade de Descomissionamento em Interlagos, São Paulo, estamos propondo esse encontro. Vários debates já foram realizados e a Câmara de Poços também está trabalhando no intuito de dialogar, considerando que a proteção ao meio ambiente é o princípio que deve nortear todas as relações sociais, inclusive econômicas e, em especial, aquelas voltadas à exploração de recursos naturais”, declara.
Regina ressalta, ainda, que a INB, geograficamente, está no município de Caldas, mas que Poços e Andradas também podem ser impactadas por possíveis agravos ambientais. "Os municípios de Poços e Andradas se encontram no Planalto de Poços de Caldas. O Rio das Antas fica à jusante da última barragem das Águas Claras, sendo que o mesmo cruza o Cipó, que é o rio que abastece em torno de 70% do município de Poços”, comenta.
No Requerimento aprovado, a vereadora pontua algumas questões que devem nortear a audiência pública, entre elas: PRAD (Plano de Recuperação de Áreas Degradadas); condições do galpão onde estão armazenados os rejeitos; análise da Bacia de Águas Claras; Decreto n. 40.969, que proíbe o ingresso de rejeito radioativo no Estado de Minas; operação realizada, atualmente, pela INB; possível transporte de Torta II para o Planalto de Poços de Caldas.
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- 09/11/2021 - Barragens da INB Caldas têm estabilidade atestada por auditor independenteCondições de segurança das estruturas foram verificadas e indicações de melhorias foram feitas
Condições de segurança das estruturas foram verificadas e indicações de melhorias foram feitas
Fonte: Portal da Cidade - AndradasAs barragens de Rejeitos e de Águas Claras, da Unidade em Descomissionamento de Caldas/MG (UDC), tiveram a estabilidade garantida por auditor independente em Inspeções de Segurança Regular (ISR) realizadas este ano. A atividade tem como objetivo verificar as condições de segurança das estruturas e indicar melhorias, além de atender ao estabelecido pelos órgãos fiscalizadores.
A empresa contratada para realizar o serviço avaliou taludes, cristas, reservatórios, instrumentações e extravasores, além da infraestrutura operacional. As inspeções das duas barragens ocorreram em agosto.
"Foram analisadas as principais seções da estrutura, sendo verificadas situações que poderiam desestabilizá-la, como chuvas intensas, rebaixamento rápido do nível do reservatório, solicitações sísmicas e diferentes níveis de operação”, explica Thiago Fernando de Avila Navarro, supervisor de Engenharia da Gerência de Descomissionamento de Caldas (GEDEC.M).
Sugestões de melhorias
Além de atestar a estabilidade, os relatórios das inspeções trazem recomendações para a manutenção das condições de segurança das barragens. As ações sugeridas estão sendo executadas ou planejadas pela INB. Entre elas, está a contratação do serviço de plantio de gramíneas para proteção dos taludes na Barragem de Rejeitos. Também foram realizados pequenos reparos no extravasor da estrutura, manutenção de rotina que foi concluída em setembro.
Para a Barragem de Águas Claras, a principal recomendação está relacionada ao esvaziamento de uma lagoa formada à jusante da estrutura. Já existe um projeto para realização da obra, em fase de licenciamento no Ibama.
Monitoramento aprimorado
Em junho deste ano, a INB Caldas aprimorou o sistema de monitoramento das barragens com a automatização dos piezômetros instalados nos locais. Piezômetros são equipamentos utilizados para medir as poropressões nas barragens e representam o principal sistema no monitoramento dessas estruturas.
A Unidade em Descomissionamento de Caldas conta, ao todo, com 15 piezômetros na Barragem de Águas Claras e 20 na Barragem de Rejeitos. A leitura dos equipamentos de forma manual era realizada desde 2005, trabalho que demandava a atuação de dois operadores e ocorria semanalmente nos meses anteriores à automatização. Com a implementação do sistema automático, as leituras em ambas as barragens passaram a ser feitas a cada 6 horas.
"Com a automatização dos piezômetros, as leituras em ambas as barragens são realizadas com frequência muito maior, aumentando de maneira significativa o controle e o monitoramento dessas estruturas”, afirma Navarro.
A partir de uma estação de monitoramento instalada na UDC é possível visualizar as leituras piezométricas, gerar gráficos, exportar dados registrados, emitir relatórios de acompanhamento, emitir avisos de alerta via e-mail, entre outras funcionalidades.
O sistema automatizado foi implementado em atendimento aos órgãos reguladores e à legislação de segurança de barragens vigente, além de atender a uma cláusula do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), especificamente para a Barragem de Rejeitos, junto ao Ministério Público Federal (MPF) de Pouso Alegre/MG, assinado em 08 de novembro de 2019.
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- 09/11/2021 - De vilã a fonte “verde”: Brasil retoma projeto de energia nuclearAssim como em outros países do mundo, projeto nuclear volta a ganhar força como alternativa para fugir da solução fóssil; financiamento e impacto no meio ambiente são questionados
Assim como em outros países do mundo, projeto nuclear volta a ganhar força como alternativa para fugir da solução fóssil; financiamento e impacto no meio ambiente são questionados
Fonte: CNN BrasilEduardo Geraque - colaboração para a CNNO Brasil, tendo à frente o ministério de Minas e Energia (MME), já tomou sua decisão. A energia nuclear, como provam os planos para a construção da usina Angra 3 e o anúncio da construção de uma nova usina, é uma realidade que está no planejamento do governo para as próximas décadas. Pelo menos, até 2050, como mostra o Plano Nacional de Energia 2050 (PNE 2050).Enquanto isso, em outros países, em um contexto onde os preços da energia estão em alta e as mudanças climáticas obrigam todos a deixar o mundo do petróleo e do carvão, o assunto causa divisão.Apesar disso, muitos já falam em uma nova era nuclear, sem nenhuma conotação militar atrelada à expressão – embora exista, no Brasil, o plano de lançar ao mar um submarino nuclear em 2033, numa previsão otimista.Nos Estados Unidos, os 90 reatores nucleares em operação produziram um quinto da energia do país em 2020. E os planos de expansão estão sobre a mesa. Na Europa, a França, onde a energia nuclear sempre foi muito importante e é responsável por 61% da produção energética nacional, continua até tentando influenciar o bloco europeu a rotular a energia nuclear como verde – o que facilitaria as linhas de investimentos que se voltam cada vez mais para um mundo com menos carbono.Até na Alemanha o debate voltou. Os germânicos decidiram abandonar novos investimentos do setor. Algumas usinas serão desligadas em meses e outras nos próximos anos. O país, que tem por volta de 50% da sua matriz energética centrada em fontes renováveis, gera 11% da demanda anual em reatores nucleares.Mas o debate não está totalmente encerrado. Pesquisas recentes feitas com a opinião pública mostram que um terço da população aceitaria manter as usinas nucleares funcionando se fosse para reduzir o preço da energia.Mesmo no Japão, uma década depois do desastre de dez anos atrás, a energia nuclear está sendo incentivada. Em 11 de março de 2011, um terremoto seguido de tsunami atingiu a usina nuclear em Fukushima, desencadeado um dos maiores acidentes nucleares da história. Todos os eventos geraram a morte ou desaparecimento de 18,5 mil pessoas. Mais de 35 mil pessoas, depois de mais de uma década, não conseguiram voltar para suas casas por causa do risco de contaminação radioativa.Ainda assim, essa fonte de energia ressurge como alternativa. "A energia nuclear é parte da solução para o grave problema da emissão de gases causadores de efeito estufa pela geração de eletricidade com combustíveis fósseis, contribuindo para sérias mudanças climáticas”, defende Aquilino Senra, físico e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desde os anos 1970.Segundo o pesquisador, a relação custo e benefício a favor das fontes nucleares é totalmente justificada. E elas estão ressurgindo como opção de energia limpa principalmente por causa dos debates sobre o futuro do planeta, como os que estão ocorrendo em Glasgow, durante a COP26, a reunião anual da Conferência das Partes das Nações Unidas."Há atualmente 50 usinas nucleares sendo construídas em todo o mundo. O Brasil, apesar de ter uma matriz energética bastante limpa, baseada principalmente na geração hidrelétrica, deve decidir pela expansão da geração nuclear, para que possa enfrentar futuras crises hídricas com uma fonte de energia não intermitente.”Em linhas gerais, de acordo com o explicado em nota à CNN pelo Ministério de Minas e Energia, o plano brasileiro para energia nuclear está centrado em duas frentes. O PNE 2050, sem dar muitos detalhes sobre quantas novas usinas serão feitas, estima uma expansão entre 8 e 10 Gigawatts de energia nuclear nos próximos 30 anos (entre 4 a 5 vezes mais do que geram Angra 1 e 2, usinas responsáveis por 1,1% da matriz energética brasileira ou 30% de toda a demanda do Rio de Janeiro).Durante a abertura da reunião anual da Associação Brasileira para Atividades Nucleares, no início do mês, o ministro Bento Albuquerque surpreendeu o setor ao anunciar que uma quarta usina nuclear será construída no Brasil."Além da conclusão de Angra 3, em 2026 ou 2027, está prevista no plano uma nova usina nuclear no Brasil. Para isso o Ministério de Minas e Energia , a EPE [Empresa de Pesquisa Energética] e o Cepel [Centro de Pesquisas de Energia Elétrica] já deram início a estudos complementares para novos sítios nucleares no Brasil”, disse Albuquerque. O ministro fez referência ao Plano Decenal de Energia 2031 que deverá ser publicado no ano que vem.Ampliação do complexo AngraO segundo conjunto de intenções é construir a usina de Angra 3 e ampliar a vida útil de Angra 1, também instalada na costa verde fluminense.O governo afirma que a previsão para Angra 3 entrar em operação é 2027, a um custo estimado de R$ 20 bilhões. O empreendimento encontra-se em fase final da modelagem pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
"A construção da usina nuclear Angra 3 está com mais de 60% do projeto executado. Sua conclusão, pelos aspectos financeiros, é plenamente justificada. A descontinuidade da construção implicaria no desmonte da estrutura existente, pagamento de multas contratuais e a desativação completa do canteiro de obras. Portanto, haveria necessidade de arcar com enorme prejuízo”, diz Senra, cientista da Coppe/UFRJ.
Ele acrescenta que, quanto aos aspectos energéticos, também é justificada a conclusão da obra. "Se a usina nuclear Angra 3 já estivesse em operação, a crise hídrica que assola o país teria impacto reduzido no fornecimento e no custo da eletricidade para o consumidor”, afirma.
Em relação à Angra 1, está em curso o pedido para extensão de sua vida útil em mais 20 anos, informa o ministério por meio de nota. De acordo com o governo, a recalibração de reatores nucleares é algo que vem sendo feito no mundo todo.
Por um lado, por causa do desenvolvimento tecnológico – novos materiais e técnicas podem dar segurança para as usinas por mais tempo em relação àquilo que elas foram projetadas na segunda metade do século passado. De outro, pelos padrões rigorosos do período da construção. O prazo de operação do licenciamento inicial, da época da inauguração, poderia ser ampliado dentro de algumas condições.
Especialistas confirmam que a extensão de operação é algo corriqueiro no mundo, mas avaliam que cada caso é um caso, e todos precisam seguir protocolos rígidos. Pelos dados do governo federal, os Estados Unidos, por exemplo, esticaram recentemente a operação de mais de 70 usinas nucleares. Na maioria dos casos, a vida útil passou de 40 para 60 anos. Na França isso também está ocorrendo.
Em relação à Angra 2, segundo o MME, existe um plano para implementar um Programa Integrado de Gestão do Envelhecimento de Sistemas, Estruturas e Componentes. Ainda não há previsão de extensão da vida útil dos reatores.
A Usina de Angra 1 é de 1985 e, inicialmente, deveria funcionar por 40 anos, portanto, até 2024. Mas se o pedido do governo para extensão do prazo até 2044 não for concedido pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), apenas Angra 2 continuará em ação – o que faria com que a usina, que pode funcionar até 2026, se tornasse a única a gerar energia nuclear no Brasil.
Apenas a partir de 2027, se os planos se confirmarem, é que os reatores de Angra 3 entrariam em ação. As obras desta usina começaram em 1984 e foram paradas em 2015, por causa de desvios apontados pela Operação Lava Jato.
O consórcio Angra Eurobras NES, vencedor da concorrência para estruturação do projeto de retomada e término das obras de Angra 3, anunciou que vai apresentar até o fim do ano um estudo sobre o estado da obra até agora e o que também precisará ser feito.
A licitação para o início das novas obras também já foi feita. A terceira usina a ser feita na Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), nome oficial das instalações, deverá ter 1.405 megawatts (MW) de potência instalada e aproximadamente 82 mil metros quadrados (m²) de área construída.
O consórcio Angra Eurobras NES tem como líder a Tractebel Engineering Ltda. Além da construção e aperfeiçoamento do parque nuclear de Angra, o recente protocolo de cooperação nuclear com a gigante russa Rosatom também ajuda a corroborar a aposta da gestão Bolsonaro no universo nuclear.
O governo defende que a energia nuclear é importante para diversificar a matriz energética brasileira, principalmente as chamadas de base, que sustentam a rede independentemente da situação. Além disso, ela também será essencial para evitar o aumento das emissões de gases de efeito estufa. E, ainda, será barata, porque o país é o sétimo do mundo em reservas de urânio e é um dos dez que dominam o ciclo do combustível.
Mas todas essas teses, assim como ocorre em outros países, onde o debate sobre segurança e os riscos dos dejetos tóxicos que duram séculos estão candentes, não apresentam nenhuma unanimidade.
"Do ponto de vista do suprimento de energia, da segurança energética do país, o Brasil não precisa de energia nuclear”, afirma Sergio Leitão, diretor executivo do Instituto Escolhas.
O raciocínio do executivo do think tank brasileiro está baseado em duas premissas. Segundo ele, existe um potencial para a energia eólica do Brasil (inshore e offshore) de 1 milhão e 300 mil megawatts, enquanto a capacidade instalada do país é de 175 mil megawatts.
"Temos aí a grandeza do tamanho da possibilidade que o país tem de se suprir com a força do vento sem necessitar de uma energia que tem, além dessa desnecessidade, um segundo problema. Ela é muito cara”, afirma Leitão.
Pelos cálculos do Escolhas, Angra 3, para ser concluída, vai significar um custo 47% maior do que Angra 2. "A energia nuclear só consegue ser viabilizada com pesado investimento estatal. Para você concluir a obra, tem que buscar recursos no caixa do BNDES e no caixa da Caixa Econômica Federal.”
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- 04/11/2021 - Radiofármacos sob ameaça - Revista Pesquisa FapespEspecialistas propõem medidas para evitar que a paralisação da produção de fármacos com elementos radioativos, como a ocorrida neste ano, torne-se recorrente no país
Especialistas propõem medidas para evitar que a paralisação da produção de fármacos com elementos radioativos, como a ocorrida neste ano, torne-se recorrente no país
Fonte: Revista Pesquisa FAPESP - Edição 309 - novembro de 2019
Domingos Zaparolli
O Brasil sofreu no fim de setembro um apagão na produção de radiofármacos, produtos químicos dotados de elementos radioativos empregados no diagnóstico e tratamento de diversas doenças nas áreas de oncologia, cardiologia, hematologia e neurologia. A produção dessas substâncias pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo, foi interrompida entre 20 de setembro e 1° de outubro, pondo em risco 9 mil procedimentos médicos diários, na estimativa da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN). A situação, decorrente da falta de recursos do Ipen para importar insumos e produzir os materiais, empregados principalmente na saúde humana, demonstrou como pode ser frágil o atendimento a 2 milhões de brasileiros que dependem desses fármacos. A escassez de recursos também compromete a pesquisa e o desenvolvimento de novos produtos de medicina nuclear no país.
A produção de radiofármacos de meia-vida superior a duas horas no Brasil é monopólio da União, ou seja, é exclusiva de órgãos públicos do governo federal (ver box). Autarquia gerida pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), o Ipen atende 85% da demanda nacional de medicina nuclear. Grande parte da produção depende da importação de radioisótopos, substâncias radioativas fabricadas em reatores nucleares que são a matéria-prima dos radiofármacos. O país importa esses insumos principalmente da África do Sul, Rússia e dos Países Baixos, algumas das poucas nações com excedente exportável. De acordo com o Ipen, a despesa anual com importações de radioisótopos é da ordem de US$ 15 milhões – algo como R$ 82,6 milhões na cotação do dólar em meados de outubro.Em 2021, a destinação orçamentária para a importação de insumos e para cobrir todas as demais despesas produtivas do Ipen foi de R$ 91 milhões, montante 46% inferior ao do ano anterior. Em depoimento na Câmara dos Deputados em 27 de setembro, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Marcos Pontes, admitiu que, desde a elaboração da Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2021, já era evidente que os recursos seriam insuficientes para o abastecimento de radiofármacos. Alertas nesse sentido foram feitos ao Ministério da Economia, mas não surtiram efeito, resultando no apagão produtivo de setembro. Em caráter emergencial, o Ipen foi socorrido com a transferência de R$ 19 milhões de outros projetos da Cnen. A crise só foi contornada, temporariamente, após a liberação orçamentária de R$ 82,6 milhões em outubro.Profissionais da Cnen e do Ipen propõem duas soluções complementares para garantir maior autonomia produtiva ao instituto e evitar riscos de desabastecimento dos fármacos. A primeira medida ataca o problema orçamentário e precisa do aval do Congresso Nacional. Consiste de uma autorização para que os recursos gerados com a venda dos radiofármacos – algo em torno de US$ 30 milhões anuais – fiquem no Ipen e sejam aplicados na produção. Hoje essa verba é encaminhada à conta única do Tesouro Nacional e redistribuída de acordo com a LOA."Criaríamos um ciclo fechado para os recursos e não haveria mais os recorrentes problemas orçamentários”, detalhou Pontes, que em sua ida ao Parlamento indicou apoiar a proposta. A medida também daria fôlego financeiro para o Ipen investir em pesquisa e inovação, uma vez que hoje a instituição recebe apenas verbas para o seu custeio.Léo Ramos Chaves Detalhe do processamento do iodo-131Léo Ramos ChavesReator brasileiroA outra solução proposta pelos especialistas é a construção do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), o que faria o país sair da condição de importador de radioisótopos para uma maior autonomia e eventual posição de exportador. O RMB também seria uma peça importante para o Brasil se tornar um polo de desenvolvimento de novos radiofármacos de interesse nacional. O projeto do reator foi concebido em 2008 no âmbito da Cnen e desde 2012 está incluído entre as prioridades do país listadas no Plano Plurianual do governo federal. Suas obras físicas, contudo, ainda não começaram.Segundo José Augusto Perrotta, coordenador-técnico do projeto do RMB, o Brasil possui quatro reatores nucleares de pesquisa em funcionamento dedicados a atividades diversas como testes de combustível, desenvolvimento de novos materiais e insumos industriais e agrícolas. A produção nacional de radioisótopos ocorre principalmente no reator IEA-R1, com potência máxima de 5 megawatts (MW), instalado no Ipen, localizado no campus da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista. Entre outras limitações, esse reator não tem capacidade para produzir em escala o molibdênio-99, radioisótopo que dá origem ao radiofármaco tecnécio-99m, empregado em 80% dos procedimentos de medicina nuclear realizados no país.O projeto do RMB prevê um reator nuclear seis vezes mais potente, de 30 MW, que, além de produzir radioisótopos para uso na medicina, indústria e agricultura, também seria utilizado em testes de materiais e combustíveis nucleares e na geração de feixe de nêutrons para a pesquisa em vários campos da ciência. A ideia é que o reator conte com laboratórios associados para cada atividade (ver Pesquisa FAPESP nº 221). "É o grande projeto estruturante da ciência e tecnologia nuclear no país”, diz Madison Coelho de Almeida, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Cnen.Para Almeida, a construção do RMB complementa uma cadeia produtiva já estruturada no país. "Temos grandes jazidas de urânio, que é o insumo básico, e dominamos toda a tecnologia do ciclo produtivo. Com o RMB, poderíamos ser grandes fornecedores globais de radioisótopos”, afirma. Para instalação da unidade, a Cnen tem uma área de 1,2 milhão de metros quadrados (m2) em Iperó (SP), cedida pelo Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), e 800 mil m2 destinados pelo governo do estado de São Paulo. A Cnen já dispõe das licenças de instalação ambientais e de segurança nuclear.O projeto está orçado em US$ 500 milhões, que seriam investidos em um prazo de cinco anos. "Os estudos econômicos indicam que, com os recursos provenientes de sua produção, o RMB poderá se manter operacional e com capacidade de autoinvestimento em pesquisa”, argumenta Perrotta. A proposta do Ministério da Economia para a LOA 2022 novamente não contempla recursos para o RMB. O ministro Pontes mencionou em seu depoimento no Congresso que existe uma possibilidade de o projeto receber recursos via Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), gerido pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que deve contar com um montante de R$ 8,46 bilhões em 2022. O problema é que os recursos do fundo são constantemente contingenciados pelo governo federal.Pontes também se posicionou favoravelmente à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) n° 517/2010, de autoria do senador Álvaro Dias (Podemos-PR), que quebra o monopólio estatal dos radiofármacos. A PEC já foi aprovada no Senado e tramita na Câmara dos Deputados. "Não se trata de substituir a produção estatal por privada, mas de complementar”, defendeu o ministro. De acordo com Almeida, dados da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) demonstram que a produção privada de radiofármacos é predominante no mundo.Celso Cunha, presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan), diz que há empresas dispostas a investir tanto na produção de radiofármacos no Brasil quanto no RMB. "A iniciativa privada pode complementar a produção do Ipen e resolver a crise de abastecimento de radiofármacos no país”, afirma. "Mas isso só ocorrerá se puderem competir em igualdade de condições.” Segundo Cunha, os preços do instituto não refletem o impacto de variação cambial nos custos de importação de insumos, configurando assim um subsídio ao consumidor. Além disso, a produção do Ipen é isenta de impostos. "Não há como uma empresa privada concorrer contra subsídios”, afirma.Léo Ramos Chaves Etiquetagem dos frascos que receberão o radiofármacoLéo Ramos ChavesOs subsídios atualmente existentes são vantajosos para os usuários do sistema de saúde público e privado que necessitam de tratamento com radiofármacos, mas geram um custo para os cofres da União que é pago por todos os contribuintes. Caso o monopólio estatal seja quebrado, uma das possíveis consequências é o aumento de preço do produto e o encarecimento dos tratamentos.Para o superintendente do Ipen, Wilson Aparecido Calvo, a presença do Estado na fabricação de radioisótopos e radiofármacos é essencial para a expansão do atendimento a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) e para a democratização da medicina nuclear no país. Um modelo inspirador, segundo ele, é o da Argentina, em que houve uma quebra parcial do monopólio. "A Comissão Nacional de Energia Atômica [Cnea] da Argentina produz radioisótopos com reatores próprios e se encarrega do processamento de radiofármacos. Já a venda dos produtos é feita há algum tempo pela Dioxitek, empresa criada por ex-servidores da Cnea. Antes a própria Cnea fazia a comercialização”, conta Calvo."É esse modelo que estamos propondo para o Brasil. O importante é que os recursos oriundos da venda de radiofármacos e radioisótopos retornem para as instituições que fazem sua produção”, diz Calvo. De acordo com ele, África do Sul e Austrália também têm sistemas híbridos, em que a fabricação dos produtos é de responsabilidade do Estado e sua comercialização fica por conta da iniciativa privada. Já o Chile, segundo o superintendente do Ipen, adotou um modelo que não deu certo. "Lá, houve uma quebra total do monopólio. A política adotada pela Comissão Chilena de Energia Nuclear foi de privatização de radiofármacos, o que deixou a população muito vulnerável.”O fim do monopólio, apontado por alguns especialistas como solução para o problema, gera apreensão no Ipen. "Pode ser a desculpa perfeita para o governo reduzir ainda mais os recursos para a produção de radiofármacos e abandonar de vez o projeto do RMB”, diz o engenheiro químico Marcelo Linardi, ex-diretor de Pesquisa e Desenvolvimento do instituto e autor do livro O Ipen e a saúde.Para Linardi, também podem ser definitivamente comprometidas pesquisas de novos produtos inéditos no Brasil e no mundo, como o desenvolvimento com o apoio da FAPESP de um novo radiofármaco específico para o diagnóstico de câncer de mama do tipo HER-2 positivo, um dos mais agressivos. "Hoje o método disponível para o diagnóstico desse tipo de câncer é a biópsia seguida de imuno-histoquímica, que não são 100% conclusivas. Isso leva muitas vezes a tratamentos inadequados. Nosso projeto se baseia no desenvolvimento de um radiofármaco capaz de identificar o marcador HER-2 na doença metastática para acompanhar a evolução da enfermidade e auxiliar na escolha da melhor terapia para cada caso”, diz Emerson Bernardes, gerente do Centro de Radiofarmácia do Ipen.O principal esforço inovativo no Ipen hoje é resultado de uma parceria com a FAPESP por meio do Plano de Desenvolvimento Institucional em Pesquisa (PDIP), iniciativa da Fundação voltada à modernização dos institutos estaduais de pesquisa. A infraestrutura laboratorial está sendo adequada para o desenvolvimento de novos radiofármacos, utilizando inclusive técnicas de nanotecnologia. O Ipen será o terceiro no mundo a contar com um microscópio com resolução subnanométrica a laser, conhecido como NSOM, sigla de Near-field Scanning Optical Microscopy. Não invasivo, o instrumento permite mapear o interior de uma molécula, observar mudanças ultraestruturais e estudar amostras biológicas."A nanotecnologia é o futuro da inovação em radiofármacos”, diz Linardi, que foi o responsável pelo desenvolvimento do projeto. A previsão é de que o NSOM seja instalado em dezembro e entre em operação em meados de 2022. Entre as pesquisas em desenvolvimento no Ipen estão a de radioisótopos inéditos no mundo que utilizam nanopartículas de ouro e paládio para braquiterapia, um procedimento que utiliza alta concentração de radiação diretamen-te no tumor, sem impactar células saudáveis, reduzindo os efeitos colaterais no tratamento do câncer.Diferentes tipos de substânciaOs radiofármacos são agrupados de acordo com o tempo de seu decaimento radioativoOs radiofármacos são divididos em dois grupos distintos de acordo com o tempo em que os átomos reduzem suas emissões radioativas. Um grupo é formado por radiofármacos com meia-vida igual ou inferior a duas horas. O produto não perde a validade nesse prazo, mas há um decaimento radioativo de metade de sua carga a cada duas horas, o que exige que a produção e o uso sejam calibrados de forma a tirar o melhor proveito das suas características.Nesse grupo estão os radiofármacos usados na tomografia por emissão de pósitrons, conhecido pela sigla PET, que é utilizada em diagnóstico para avaliar a estrutura de órgãos como pulmão, fígado e cérebro, além de ossos. Essas substâncias respondem por 15% da demanda da medicina nuclear. Desde 2006 é liberada a produção privada no país, para permitir uma maior proximidade física entre os laboratórios e os centros médicos usuários. A recente crise não afetou o abastecimento desses produtos.Segundo a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), cerca de 450 clínicas e hospitais realizam serviços de medicina nuclear no país, concentrados nos grandes centros urbanos, principalmente no Sudeste. Os insumos para os PET são providos por três ou quatro fornecedores principais, muitos deles com filiais regionais, mas há outras empresas pequenas no mercado – nem a SBMN nem a Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan) sabem ao certo quantas companhias atuam nesse segmento, em que o domínio tecnológico das substâncias já é consolidado, sem inovações relevantes.O outro grupo de radiofármacos é formado pelos produtos com meia-vida superior a duas horas. Monopólio da União e produzidos exclusivamente pelo Ipen, esses produtos foram afetados pelas dificuldades orçamentárias do órgão. São 37 radiofármacos, cada um com características próprias de meia-vida. O tecnécio-99m, por exemplo, tem decaimento radioativo a cada seis horas.Segundo o médico radiologista George Coura Filho, presidente da SBMN, o desabastecimento de radiofármacos impacta diretamente o diagnóstico e o tratamento dos pacientes com potencial de gerar efeitos irreversíveis a eles. Sem contar os gastos ainda maiores para o sistema de saúde.Um exame de cintilografia de perfusão miocárdica, exemplifica Coura Filho, é capaz de estratificar com precisão riscos de insuficiência coronariana e ajudar a indicar o melhor tratamento a ser seguido, seja medicação, cateterismo ou cirurgia cardíaca. "Um diagnóstico impreciso por falta de recursos para a realização do procedimento adequado pode levar a uma conduta equivocada, provocando um prejuízo maior do que o custo do exame que deixou de ser realizado”, avalia.Projetos1. Capacitação científica, tecnológica e em infraestrutura em radio fármacos, radiações e empreendedorismo a serviço da saúde, PDIP (nº 17/50332-0); Modalidade Programa Modernização de Institutos Estaduais de Pesquisa; Pesquisador responsável Marcelo Linardi (Ipen); Investimento R$ 13.223.638,80.2. Validação do uso de um aptâmero de DNA específico para HER2 como radiofármaco para imagem de tumores (nº 18/18112-3); Modalidade Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe); Pesquisadora responsável Sofia Nascimento dos Santos; Investimento R$ 928.409,54.
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- 04/11/2021 - Pele de tilápia é testada para reconstituir dedos de criançaBiomaterial deverá ser usado em procedimento que repara má-formação nas mãos de portadores de síndrome rara
Biomaterial deverá ser usado em procedimento que repara má-formação nas mãos de portadores de síndrome rara
Fonte: Revista Fapesp
Uma técnica cirúrgica inovadora está sendo testada no país para corrigir a fusão de dedos de crianças portadoras da chamada síndrome de Apert, que acomete um a cada 70 mil nascidos no mundo – não há números de incidência no Brasil porque a notificação da doença não é compulsória. Graças a uma parceria entre a Universidade Federal do Ceará (UFC) e o Hospital Sobrapar – Crânio e Face, de Campinas, no interior paulista, pedaços de pele de tilápia foram utilizados nos procedimentos a fim de melhorar o processo de reconstituição dos dedos e otimizar a recuperação dos pacientes. As primeiras cirurgias ocorreram em setembro deste ano.
De acordo com o cirurgião plástico Edmar Maciel, presidente do Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ), de Fortaleza, e coordenador-geral da pesquisa com pele de tilápia, realizada em conjunto com a UFC (ver Pesquisa FAPESP no 280), houve redução no tempo da cirurgia, menor morbidade do tecido enxertado e melhor pega (ou aderência) do enxerto de pele humana na região em que os dedos são separados. O uso do biomaterial também diminuiu em 50% o número de curativos, causou alívio nas dores do pós-operatório e baixou os custos do tratamento. Maciel é coautor de quatro pedidos de patente relacionados ao preparo de peles de tilápia para uso médico, entre eles o tratamento de queimaduras e ferimentos e procedimentos cirúrgicos ginecológicos.
O também cirurgião plástico Cássio Eduardo Raposo do Amaral, vice-presidente do Sobrapar, que liderou a equipe cirúrgica em Campinas, informa que os cinco procedimentos realizados até quarta-feira (27/10) fazem parte de um total de 10 programados para 2021. "O objetivo é comparar os desfechos com os de outro grupo de 10 pacientes operados sem a técnica. Já observamos, por exemplo, que as crianças sentem menos dor e a troca de curativos é feita a cada cinco dias em vez de ser diária”, detalha. "Os resultados serão compilados e publicados em artigos.”
Raposo do Amaral conta que em 2018 desenvolveu, com sua equipe, um protocolo para a separação de dedos de portadores de Apert para maximizar o movimento e a função das mãos. O trabalho, que já rendeu dezenas de publicações, ganhou o reforço do biomaterial desenvolvido por Maciel e o grupo cearense de pesquisadores.
A separação cirúrgica dos dedos deixa uma região sem pele, chamada de área cruenta. Antes do uso da pele de tilápia, a pele retirada do abdômen da própria criança era enxertada ali para reconstituir o tecido. "A perda desses enxertos era grande. Por isso, estávamos procurando algo como um curativo biológico que maximizasse essa pega da pele enxertada”, descreve Raposo do Amaral. "No fim do ano passado, a cirurgiã plástica do nosso grupo, Thaís Miguel do Couto, e a mãe de um paciente sugeriram usar a pele de tilápia para preparar o ferimento antes do enxerto. Conversei, então, com o Maciel, que é um amigo de minha família há muito tempo, para estabelecermos uma parceria. A Thaís submeteu um projeto de pesquisa e o Comitê de Ética da Universidade Estadual de Campinas [Unicamp] aprovou o uso da técnica em pacientes”, comenta Amaral.
Tecnologia à flor da peleO material utilizado nas cirurgias é produzido e fornecido pelo banco de peles da UFC. A pele do peixe passa por um processo de preparação em que é liofilizada (desidratada) e esterilizada. Depois, o tecido é embalado a vácuo e irradiado com raios gama, para eliminação de microrganismos. Essa última parte do processo ocorre no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), em São Paulo, que é parceiro da UFC e do IAQ na produção do biomaterial (ver infográfico abaixo).
Segundo Maciel, a liofilização é vantajosa em vários sentidos. Por meio desse processo, o material pode ser armazenado à temperatura ambiente, sem necessidade de refrigeração, o que facilita e barateia o transporte. Por ser desidratada, não está sujeita à proliferação de bactérias. "Outra vantagem é que toda essa preparação deixa a pele liofilizada livre de glicerol, componente que causa dor quando em contato com a pele ferida ou exposta”, aponta o cirurgião cearense. "E a hidratação, necessária para uso final nas cirurgias, é simples de ser feita: basta mergulhar o material por 10 minutos em soro fisiológico.”
O médico do IAQ conta que a pele de tilápia evoluiu de um curativo para tratar queimaduras e ferimentos para um biomaterial que prepara a pele para receber enxertos, seja na ginecologia – em cirurgias para reconstrução vaginal –, seja no tratamento de Apert. "Em feridas profundas, o colágeno da pele da tilápia é absorvido e integrado no leito da ferida. Esse colágeno cria uma matriz dérmica para receber o enxerto com a pele do próprio paciente, algo que acontece 10 dias após a aplicação do tecido do peixe”, explica.
Com a retirada da pele de tilápia, o ferimento está preparado para receber pedaços de pele mais finos do que o tecido abdominal, normalmente usado nos procedimentos convencionais. "A nova técnica facilita a integração de tecidos estruturalmente mais simples – como a pele retirada do couro cabeludo ou do antebraço do paciente – com o leito da ferida. Isso aumenta o sucesso da pega da pele e evita uma grande cicatriz na barriga”, destaca.