Clipping de Notícias
-
- 23/12/2023 - Novo tratamento para o câncer de peleTerapia fotodinâmica e dispositivo desenvolvidos em universidade estarão à disposição de pacientes do SUS
Terapia fotodinâmica e dispositivo desenvolvidos em universidade estarão à disposição de pacientes do SUS
Fonte: Revista FAPESP
Mais de 20 anos de pesquisas desenvolvidas no Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC-USP), no interior paulista, resultaram em um novo protocolo terapêutico para um tipo específico de câncer de pele e em um equipamento inovador. Ambos poderão ser empregados tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento da lesão tumoral. A inovação está prestes a chegar à população brasileira por recomendação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) no Sistema Único de Saúde (SUS). A Conitec é um órgão assessor do Ministério da Saúde para assuntos relativos à adoção, exclusão ou alteração de tecnologias em saúde pelo SUS.
Em julho deste ano, após concluir o processo de avaliação das evidências científicas de segurança e eficácia, além de estudos de viabilidade econômica, a Conitec recomendou a incorporação ao SUS da terapia fotodinâmica (TFD) para carcinoma basocelular, um dos tipos de câncer de pele mais comuns no país.
O novo tratamento consiste na destruição do tumor por meio de irradiação intensa com luz em um comprimento de onda que ativa um agente fotossensível, produzido pelas células tumorais após aplicação local de um creme. Uma vez ativado, esse agente produz radicais livres que destroem as células que o contêm. Antes da irradiação, o próprio agente fotossensível permite identificar a região tumoral, pois uma vez iluminado com luz azul, o agente fluoresce em cor vermelha.
A recomendação da Conitec foi publicada no Diário Oficial da União em 5 de setembro. A partir dessa data, o Ministério da Saúde tem 180 dias para efetivar a oferta no SUS. "A incorporação dessa tecnologia é um incentivo para que as universidades continuem investindo em atividade de pesquisa, o que é fundamental para fomentar o desenvolvimento científico e tecnológico na área da saúde”, afirma a farmacêutica Daniela Oliveira de Melo, coordenadora do Núcleo de Avaliação de Tecnologias em Saúde da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e professora do curso de farmácia da instituição. A docente colaborou com o Ministério da Saúde na análise da demanda.
O responsável pelo projeto, o físico Vanderlei Bagnato, conta que começou a trabalhar com terapia fotodinâmica por volta de 1997. Na época, ao participar de um congresso nos Estados Unidos, tomou conhecimento do uso da TFD no tratamento de câncer. "Fiquei fascinado e iniciei a aplicação clínica, a partir dos estudos laboratoriais realizados no exterior, em parceria com o Hospital Amaral Carvalho, de Jaú [SP]”, diz ele, que coordena o Grupo de Óptica do IFSC-USP, sede do Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CePOF), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) apoiados pela FAPESP.
Inicialmente, o físico utilizou laser para tratamento de tumores na cavidade bucal e em órgãos internos como esôfago e bexiga. A droga fotossensibilizadora, com capacidade de absorver certa faixa de luz e promover a morte das células doentes, era administrada de forma sistêmica, via intravenosa. "Apesar dos resultados promissores no tratamento do câncer de bexiga e esôfago, por volta de 2005 começamos a focar em câncer de pele, utilizando um medicamento de uso tópico.”
A mudança de foco se deu por dois motivos principais. O primeiro era o elevado número de casos de câncer de pele no Brasil, que poderiam responder de forma rápida ao tratamento. O segundo dizia respeito à própria terapêutica. Por se tratar de um tratamento tópico, os resultados eram mais facilmente visíveis, o que ajudava no desenvolvimento da técnica.
O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que o Brasil deve registrar 704 mil novos casos de câncer por ano até 2025. O mais frequente é o de pele não melanoma, responsável por 31% das ocorrências dentre todos os tipos de tumores, com cerca de 220 mil novos casos anuais. O carcinoma basocelular, para o qual a terapia fotodinâmica foi recomendada, é o subtipo mais comum do câncer de pele não melanoma, correspondendo a 80% dessa parcela.
Segundo o dermatologista Mário Yoshiaki Enokihara, coordenador do curso de Especialização em Dermatologia Cirúrgica Avançada da Unifesp, o carcinoma basocelular apresenta prognóstico favorável desde que tratado precocemente, quando a lesão ainda é inicial. Foi exatamente para o tratamento de tumores superficiais, com até 2 milímetros (mm) de infiltração, que os pesquisadores paulistas criaram o protocolo, utilizando diodos emissores de luz (LED). O laser, que penetra mais profundamente na pele, era usado nos estudos que visavam ao tratamento de órgãos internos.
"Nem todos os pacientes tratados nos serviços públicos são diagnosticados precocemente, quando o tumor ainda é superficial”, diz Enokihara. A terapia fotodinâmica também é indicada em casos específicos de contraindicação do tratamento invasivo, seja por impedimentos clínicos do paciente, como imunossupressão ou baixa capacidade de cicatrização de feridas, ou se houver alto risco de desfiguração da região operada, com comprometimento funcional. O padrão ouro do tratamento é a remoção cirúrgica do tumor, com taxa de cura de até 98%.
Coube à empresa MM Optics, uma spin-off do IFSC, fundada em 1998 e apoiada pela FAPESP, a criação do novo aparelho de TFD, com luz LED, sob orientação do Grupo de Óptica do instituto. O equipamento, 100% nacional, teve apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial – Embrapii (ver Pesquisa FAPESP nº 253). Recebeu aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2014.
Segundo o engenheiro eletricista Anderson Luís Zanchin, diretor industrial e de engenharia da MM Optics, uma diferença desse equipamento em relação a outros usados para TFD em consultórios particulares é um sistema dual que une fotodetecção, a emissão de luz para a visualização do tumor, e uma ponteira de tratamento – os aparelhos concorrentes têm apenas a ponteira de tratamento. O uso da TFD para câncer de pele não melanoma foi aprovado no Brasil em 2006.
Estudo multicêntrico
A empresa já produziu cerca de 200 aparelhos, que estão sendo utilizados por centros de pesquisa e serviços de medicina privada. "O Brasil será o primeiro país a colocar a terapia fotodinâmica no sistema de saúde pública”, afirma a pesquisadora Cristina Kurachi, que também se dedica ao estudo de TFD no IFSC desde o fim da década de 1990.
Na recomendação de incorporação da tecnologia ao SUS, a Conitec considerou a existência de profissionais capacitados e uma estrutura instalada em dezenas de serviços públicos de saúde. Segundo Kurachi, essa estrutura é resultado do Programa TFD Brasil, coordenado pelo IFSC com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O programa, iniciado em 2012, foi criado com a finalidade de implementar a terapia fotodinâmica em centros nacionais. Nos cinco anos que durou o projeto, foram treinados na nova tecnologia profissionais de 72 centros de tratamento espalhados pelo país. "Foi o maior ensaio clínico multicêntrico de câncer de pele do mundo”, afirma Bagnato. Um artigo com os resultados foi publicado na revista Cancer Control, em 2019.
Uma das instituições participantes foi o Inca, que em 2015 criou um ambulatório específico para tratar câncer de pele com terapia fotodinâmica. "É um procedimento que poupa da cirurgia os pacientes com lesões superficiais”, destaca o chefe da Seção de Dermatologia do instituto, Dolival Lobão. Ele explica que, além de dispensar anestesia e internação, a TFD não deixa cicatrizes na região tratada. O serviço atende em média três pacientes por semana.
Fotossensibilizador de baixo custo
A parceria do Inca com a USP continua até hoje. O IFSC fornece, gratuitamente, o equipamento e o creme utilizado na terapia – manipulado na própria universidade –, e o Inca repassa os resultados clínicos aos pesquisadores. Os consultórios particulares recorrem a um produto importado, que custa em torno de R$ 1.000 a bisnaga de 2 gramas, o suficiente para quatro aplicações, em média. A manipulação do fármaco na USP foi custeada pelo BNDES e pela Embrapii. Por isso, pode ser oferecido gratuitamente ao Inca. Uma solução mais econômica pode surgir em breve. A empresa Emipharma, ligada a MM Optics, está sendo estabelecida para a produção nacional do fármaco.
Obter a recomendação da Conitec foi um processo longo. O primeiro pedido de incorporação da terapia foi feito em novembro de 2018. Após mais de um ano de análise, a resposta foi negativa e ele foi recusado. A comissão que analisou o pedido considerou frágeis as evidências científicas apresentadas, principalmente do ponto de vista de eficácia em comparação à cirurgia. "Continuamos aperfeiçoando a técnica e elevamos o índice de eliminação tumoral para 95%”, recorda-se Bagnato. "Trabalhamos com margens de segurança de modo a assegurar a remoção das pequenas células nas bordas que fogem do corpo principal do tumor.”
Em agosto de 2022, nova submissão foi apresentada e o parecer preliminar, emitido em março de 2023, antes da etapa de consulta pública, ainda foi desfavorável. Restavam dúvidas sobre a técnica, sobretudo em questões de custo-efetividade. "Depois da consulta pública, o Conitec promoveu outra reunião e pudemos tirar todas as dúvidas”, relata Kurachi. O parecer final, favorável, veio em julho.
O dermatologista Enokihara, da Unifesp, ainda vê com reservas a implementação da TFD no tratamento de câncer. Sua principal preocupação é a correta indicação da terapia fotodinâmica e o treinamento para os profissionais que a aplicarão. "Mesmo dentre os casos de carcinoma basocelular há vários tipos, e alguns mais agressivos. É preciso ter muita certeza do diagnóstico”, alerta.
Opinião semelhante tem a dermatologista Maria Claudia Almeida Issa, da Universidade Federal Fluminense (UFF). Ela estuda a terapia fotodinâmica há mais de 15 anos e viu casos de uso indevido da técnica. A médica não recomenda, por exemplo, sua aplicação para o carcinoma basocelular instalado em áreas da pele com alto risco de recorrência. "Na região do nariz e próximo aos olhos, mesmo o carcinoma in situ [não invasivo] é agressivo. Nesses casos, não se indica a TFD pela alta incidência de recidiva”, diz. A especialista enfatiza que a TFD tem "excelente taxa de cura para lesões de ceratoses actínicas, pré-malignas, na face”.
Autora de um artigo de revisão sobre o uso da TFD em tratamentos de pele, publicado na revista Anais Brasileiros de Dermatologia em 2010, e integrante do estudo multicêntrico promovido pelo grupo de São Carlos, Issa vê como positiva a incorporação do tratamento na rede pública. "Estou contente que a terapia tenha sido aprovada para implantação no SUS. Agora a sua aplicação será padronizada.”
-
- 22/12/2023 - Secretário executivo do MCTI visita CNEN e assume compromisso de investimento contínuo para a construção do RMBFonte: CNEN
O presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Francisco Rondinelli Júnior, recebeu nesta quinta-feira, 21, o secretário executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Luiz Fernandes, e o diretor de Desenvolvimento Científico e Tecnologia da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), Carlos Aragão.A reunião contou também com a participação, pela CNEN, de Wilson Calvo, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento, Patrícia Pagetti, coordenadora técnica do Empreendimento Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) e o assessor técnico José Augusto Perrotta, Gabriela Borsato, coordenadora geral de Aplicações das Radiações Ionizantes, e Roberto Xavier, coordenador Geral de Planejamento e Avaliação.
Os principais pontos da pauta abordaram o Empreendimento RMB, apresentando detalhes sobre aplicações, licenças ambientais, junto ao IBAMA, e nucleares, obtidas junto à Diretoria de Radioproteção e Segurança Nuclear (DRS), investimentos realizados, empresas contratadas (Tractebel e Amazul) e futuras parcerias com a Fundação Instituto de Administração (FIA), pela Presidência e Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD) da CNEN.
As discussões também englobaram modelos de gestão para a construção e operação do RMB, com enfoque nas fases de Implantação (fase I) e operação (fase II), estabelecendo diálogos diretos com o secretário executivo do MCTI.
Luiz Fernandes expressou o compromisso do MCTI com o investimento contínuo para a construção do RMB, por meio de fontes como o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), FINEP e a inclusão no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O secretário executivo destacou a abertura de um canal de comunicação direto com a FINEP para a execução de convênios, fortalecendo a colaboração estratégica entre as entidades.
"Essa reunião reflete o empenho conjunto MCTI, FINEP e CNEN, em impulsionar o desenvolvimento e a inovação no setor nuclear brasileiro, em prol da sociedade, a serviço da vida”, afirmou Rondinelli.
-
- 20/12/2023 - Fapergs e Fapesp lançam chamada para projetos conjuntos entre RS e SPFonte: Instituto Federal do Rio Grande do Sul
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) lançaram chamada para projetos conjuntos de pesquisa, visando fortalecer colaborações entre pesquisadores vinculados às instituições de ensino superior ou pesquisa de ambos os estados.
A chamada está aberta a propostas nas seguintes temáticas: Agronegócio e Agrotecnologia, Educação, Saúde pública, Energia, Meio ambiente, Desenvolvimento urbano e Desigualdade, pobreza e exclusão social.
As propostas de pesquisa deverão abranger conhecimentos avançados em ao menos uma das seguintes áreas do conhecimento: "Ciência dos Dados”; "Inteligência Artificial”; "Tecnologias de Informação e Comunicação”; "Manufatura Avançada”; "Biotecnologia e Nanotecnologia”; "Química Aplicada”; "Controle e Automação de Processos”. Os projetos selecionados poderão ter até 24 meses de duração.
A Fapergs fará um aporte para a chamada na ordem de até R$ 3 milhões, definindo um valor máximo por proposta de até R$ 200 mil. A Fapesp fará o aporte necessário para acomodar o número de propostas possíveis dentro do orçamento da Fapergs, permitindo um valor máximo de R$ 300 mil por proposta (incluindo Reservas Técnicas, Benefícios Complementares e possíveis Bolsas). Aplicam-se as condições usuais da modalidade Auxílio à Pesquisa Regular também quanto ao orçamento.
Cada proposta deve ser composta por um único projeto de pesquisa, preparado conjuntamente pelos pesquisadores responsáveis e com documentos específicos exigidos pela Fapergs e pela Fapesp.
As pró-reitorias responsáveis por pesquisa no IFRS, IFFAR, IFSul e IFSP convidam os pesquisadores interessados a preencherem o formulário a seguir, visando identificar os interessados e possibilitar a realização de conexão entre os pesquisadores: https://forms.gle/3C8QJeeSrtemUynG8.
É recomendado o preenchimento do formulário até 29 de fevereiro de 2024, para que haja tempo hábil para verificar os interessados e trabalhar em uma proposta conjunta. O perfil dos pesquisadores pode ser consultado na plataforma Integra.
Link para as chamadas:
https://fapergs.rs.gov.br/chamada-de-propostas-fapergs-fapesp-2023
-
- 20/12/2023 - Presidente da SBMN alerta: produção de radiofarmacos (medicamentos usados no combate ao câncer) pode estar ameaçada em 2024Fonte: Blog Tania Malheiros
Às vésperas de completar um ano na presidência da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), o médico nuclear e cardiologista Rafael Willain Lopes, 47 anos, conversou com o Blog e fez um balanço sobre algumas das situações críticas que ameaçam a continuidade da produção de radiofármacos (insumos usados na produção de radioisótopos, medicamentos destinados à realização de diagnóstico e combate a doenças como o câncer), em 2024. "A demanda por serviços é grande, está reprimida e deve crescer por conta do envelhecimento populacional e doenças crônicas”, afirmou o médico, natural de Florianópolis, radicado em São Paulo desde 2004. Na entrevista exclusiva, ele, alertou que é "preciso que se resolva outras questões estruturais intrinsicamente relacionadas como a logística, infraestrutura, financiamento, regulação. E para isso precisamos de toda ajuda possível tanto pública, como privada, para suprir a demanda”. Falou também sobre a quebra do monopólio da produção de responsabilidade do Instituto de Pesquisas Energética e Nucleares (IPEN), por exemplo. Eis a entrevista:BLOG: A falta de radioisótopos gerou vários problemas e interrompeu o tratamento de pacientes no decorrer de 2021. Como está a situação no momento?
RAFAEL WILLAIN LOPES: Em relação ao presente e ao futuro, com a quebra de monopólio de produção de radioisótopos de meia vida longa, aprovada em 2022 pelo Congresso Nacional, a SBMN mantém o seu posicionamento em defesa da Medicina Nuclear brasileira, alinhada com sua missão. A SBMN está trabalhando sempre em prol dos pacientes que se beneficiam desta especialidade, buscando ampliar a utilização de suas metodologias, assim como expandir o acesso dos pacientes a elas, para melhorar, principalmente no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), o acesso dos pacientes aos procedimentos de medicina nuclear que impactam a tomada de decisão e o resultado do tratamento, atuamos junto às diversas instituições, visando a melhoria da qualidade de vida da população brasileira.
BLOG: E a quebra do monopólio?
RAFAEL WILLAIN LOPES: Durante décadas, por determinação legal, apenas ao IPEN era permitida a produção e a distribuição de geradores de Tecnécio, dentre outros insumos radioativos, item fundamental à nossa especialidade. Este cenário mudou, do ponto de vista legal, recentemente, a partir do momento em que empresas privadas foram autorizadas a comercializar tal material em território nacional. Somos imensamente gratos por todos os esforços e todas as entregas que o IPEN fez à Medicina Nuclear desde o seu surgimento, há 67 anos. Entendemos que o instituto prestou, presta e seguirá prestando papel fundamental neste cenário. Não existe um futuro para a medicina nuclear dissociado de um futuro para o IPEN, assim como para os demais institutos da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
BLOG: Há outros passos a serem dados...
RAFAEL WILLAIN LOPES: O que deverá ser discutido dentro de cada instituição, seja do IPEN, sejam em outros centros de pesquisa da CNEN, será qual deverá ser esse papel. Como cada um pode colaborar para o país e para a região específica em que se encontra. Em um país continental como o Brasil, é natural que existam demandas regionais mais especificas. Por outro lado, a entrada de outras empresas neste cenário tem o potencial de expandir a Medicina Nuclear para horizontes que ainda não temos acesso. Acreditamos que a demanda por serviços por parte da nossa população é grande, está reprimida, e deve crescer por conta do envelhecimento populacional e doenças crônicas, e que, resolvendo-se outras questões estruturais intrinsicamente relacionadas (logística, infraestrutura, financiamento, regulação etc.), precisaremos de toda ajuda possível, tanto pública quando privada, para suprir a demanda.
BLOG: Qual a posição da SBMN?
RAFAEL WILLAIN LOPES: A SBMN apoia a pluralidade de participantes no processo da Medicina Nuclear, declara seu fundamental apoio ao IPEN e congratula qualquer empresa que possa, porventura, acrescentar opções. Ocorre que discutir Medicina Nuclear no Brasil não passa, simplesmente, por permitir a entrada de novos players no cenário de suprimento.
BLOG: Como assim?
RAFAEL WILLAIN LOPES: A SBMN entende que urge discutirmos revisão de reembolso dos procedimentos, tanto os oferecidos pelo SUS, que não sofrem qualquer tipo de reajuste desde 2009, apesar dos crescentes custos, quanto os oferecidos aos usuários do sistema de saúde suplementar. Ao resolvermos o gap de financiamento existente no Brasil nestes procedimentos, vislumbramos um crescimento da especialidade, com expansão de serviços em todo o Brasil. A Medicina Nuclear brasileira se desenvolveu com o IPEN, segue e seguirá sendo grande parceira deste instituto, com o qual mantemos inclusive projeto de pesquisa junto a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). A entrada de outros entes nesse processo, por outro lado, pode ser auspicioso e vir a beneficiar a todos. Quando se somam esforços, reduzem-se as limitações, multiplicam-se os resultados e dividem-se os louros.
BLOG: Poderia exemplificar? Tem relação com importação?
RAFAEL WILLAIN LOPES: Uma vulnerabilidade da medicina nuclear do Brasil é a dependência externa de radioisótopos, principal exemplo sendo o molibdênio-99 para a produção de geradores de tecnécio, radiofármaco empregado na maioria dos exames de cintilografia no país e que são fornecidos quase que na sua totalidade pelo IPEN. O radioisótopo é importado, semanalmente, de países como Argentina, Israel, África do Sul e Rússia. Qualquer irregularidade no seu fornecimento impacta na produção dos geradores de tecnécio, que são distribuídos para todo o país.
BLOG: A quantas anda a demanda pelo tratamento?
RAFAEL WILLAIN LOPES: Anualmente, são realizados no país cerca de dois milhões de procedimentos de medicina nuclear, considerando-se o conjunto da saúde suplementar e Sistema Único de Saúde (SUS). Os exames de cintilografia do miocárdio respondem pela metade dos procedimentos. Os radiofármacos também são utilizados em exames de diagnóstico PET-CT e cintilografias tradicionais, além do tratamento de doenças como o câncer de tireoide, com o iodo-131 e tumores neuroendócrinos, com o lutécio-177.
BLOG: Qual a expectativa diante de novos cenários?
RAFAEL WILLAIN LOPES: Nossa estimativa é de que esse número, no entanto, deveria ser pelo menos o dobro, considerando o tamanho da nossa população e a prevalência dessas doenças. Em outros países da América Latina como Argentina e Chile, a possibilidade de um paciente realizar um exame ou tratamento de medicina nuclear é duas vezes maior do que a disponibilidade existente no Brasil, o gap é ainda maior se comparamos o número de procedimentos realizados na medicina suplementar em relação ao sistema público. Cerca de 94% dos serviços de medicina nuclear são privados - embora a grande maioria das clínicas preste serviços para o SUS – e apenas 6% são públicos, estimando-se, assim, que mesmo com um crescimento constante, seriam necessários 30 anos para que o número de procedimentos na saúde pública alcance os realizados na saúde suplementar.
BLOG: Outras questões prementes?
RAFAEL WILLAIN LOPES: Sim. Além desde cenário desafiador, temos questões ainda mais urgentes tais como a indisponibilidade de inúmeros kits liofilizados (cold-kits), muitos com excepcionalidade de importação no momento autorizada pela ANVISA. Mas isto também acarreta aumento de custos, que reduz a disponibilidade de uso e, por consequente, dos exames que os utilizam. Some-se a isso questões regulatórias que pairam há tempos sobre a medicina nuclear.
BLOG: Problemas nacionais?
RAFAEL WILLAIN LOPES: Não são exclusivas de nosso país. Mas diante da realidade brasileira, também impactam a utilização e até uma eventual expansão da metodologia. Claro, para um país continental como o nosso, com desafios para a interiorização da medicina e acesso a saúde pública como um todo, questões de infraestrutura e logísticas, que já são limitantes. No cenário da medicina nuclear tudo isso têm impacto ainda maior, colocando em risco a sobrevivência de muitos serviços pelo país afora, assim como a perspectiva de expansão de novos serviços, públicos e privados, tão necessário para podermos atender à demanda crescente da nossa população em função do envelhecimento e das doenças crônicas. A questão ficou evidente no último censo recém publicado.
BLOG: E a questão financeira?
RAFAEL WILLAIN LOPES: Por fim, é uma questão que hoje permeia todo sistema de saúde e não é diferente na nossa área, a sustentabilidade financeira e que na medicina nuclear vem se tornando crítica considerando a falta de reajuste dos procedimentos da tabela SUS desde 2009, bem como as dificuldades com as fontes pagadoras da saúde suplementar em seu momento talvez mais desafiador.
BLOG: Quais as soluções?
RAFAEL WILLAIN LOPES: Neste ponto, um projeto de grande relevância é o do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), a cargo da CNEN, que propiciará uma série de mudanças no contexto dos desafios que enfrentamos, ao garantir a autonomia do país na produção de diversos isótopos, principalmente o molibdênio-99. Dentro desta perspectiva, os geradores de tecnécio serão produzidos com matéria prima brasileira, seja pelo IPEN ou até mesmo pela iniciativa privada, que, com a flexibilização do monopólio, ocorrida em 2022, já pode também exercer tal atividade, mas ambos o fariam com custo em Real, o que facilitará sua distribuição e, principalmente, permitirá ampliar o acesso e reduzir os custos da medicina nuclear para a população. Além disso, o RMB será um polo de agregação do conhecimento que permitirá produzir novos isótopos e terá capacidade para abastecer não só o Brasil, como outros países da América Latina. O RMB sozinho não resolverá todos os problemas, mas pode trazer em sua concepção perspectivas para um futuro menos incerto e ampliar horizontes nas áreas da pesquisa, visando aplicações práticas e desenvolvimento de capital humano e intelectual associada à prática da medicina nuclear e das ciências nucleares nas mais variadas vertentes.
BLOG: Mas o RMB ainda é projeto que levará alguns anos para se tornar realidade. Assim, o que temos de soluções no horizonte atual?
RAFAEL WILLAIN LOPES: Diante de tantos desafios no curto e longo prazo, temos buscado continuamente manter diálogo com as diversas instituições e entes governamentais, tentando sensibilizar os tomadores de decisão no intuito de compreenderem a importância da medicina nuclear para o futuro da saúde da população. A delicada situação atual necessita de atenção para que ela possa realizar todo o potencial que vem se apresentando no horizonte.
BLOG: Bem complicado.
RAFAEL WILLAIN LOPES: Além das perspectivas no campo da cardiologia, as maiores promessas residem no campo da oncologia e do teranóstico, com a evolução de exames diagnósticos e tratamentos a eles associados. Alguns já estão disponíveis no Brasil, muitos outros estão por vir, e precisamos estar preparados para oferecê-los aos brasileiros, não apenas na saúde suplementar, mas também e principalmente, no âmbito da saúde pública e, para tanto, buscamos apoiar o desenvolvimento e implantação do programa nuclear brasileiro e o plano de expansão da medicina nuclear, que possuem dentro de sua concepção a importância da medicina nuclear e diretrizes para ajudar em sua sobrevivência e desenvolvimento do seu grande potencial em prol da população brasileira, que merece ter acesso ao que de melhor a medicina nuclear pode oferecer atualmente.
BLOG: Poderia exemplificar?
RAFAEL WILLAIN LOPES: Exemplos destes esforços vêm se materializando ao longo do tempo na forma de reuniões com a presidência da CNEN, superintendência do IPEN, fornecedores e parceiros, Ministérios e/ou ministros de Estado e com o próprio Vice-Presidente da República, explicando a urgência em olhar para a comunidade da medicina nuclear, seus desafios, com destaque para o IPEN, a gravidade da situação do seu Centro de Radiofarmácia e a incerteza de continuidade de produção de radiofármacos a partir de janeiro de 2024.
BLOG: Muito grave. Poderia fornecer maiores informações?
RAFAEL WILLAIN LOPES: Existe uma preocupação real e legítima, também compartilhada pela SBMN, segundo a visão exposta pelo IPEN, a sociedade em diversas reuniões, acerca de situações críticas que ameaçam a continuidade da produção de radiofármacos. Essas preocupações já foram endereçadas, tanto pelo IPEN como pela SBMN, em vários fóruns e com as mais diversas autoridades e instituições, em que discorremos sobre a falta de recursos necessários a investimentos de infraestrutura de instalações do centro de radiofarmácia, além da adequação às boas práticas de fabricação, uma exigência de longa data da ANVISA. Outra questão é a falta de recursos humanos, considerando que o IPEN vem, consistentemente, perdendo boa parte do seu capital humano, por conta da longevidade de seus servidores, muitos já aposentados ou em processo, sem uma adequada reposição ao longo dos anos, por conta da falta de concursos públicos e/ou outras alternativas. Neste sentido, entende-se também a necessidade de evolução do modelo de gestão, com mais agilidade, essencial para lidar com essas demandas, com as mudanças e dinâmicas de um setor globalizado como o da produção de radioisótopos e de sua cadeia logística, tanto mundial, como nacional. Diante desta incerteza de continuidade da produção de radiofármacos, expressada pelo órgão, a SBMN se une ao IPEN como voz em busca de soluções, visando garantir o futuro da produção de radioisótopos e, assim, assegurar a continuidade da prestação dos bons serviços que, historicamente, o uso desses radioisótopos na medicina tem oferecido à população brasileira.
BLOG: O que está sendo feito?
RAFAEL WILLAIN LOPES: Estamos cientes que estes órgãos e suas respectivas instâncias superiores estão empenhados na busca por soluções no curto, médio e longo prazo, nós como SBMN nos solidarizamos e empenhamos em expandir o diálogo, dar conhecimento e visibilidade a estas questões e a necessidade de se colocar em prática soluções no curto prazo, para que possamos realizar a promessa do futuro brilhante que se anuncia para a medicina nuclear, de modo a contribuir, na prática para a melhoria da qualidade de vida da população brasileira.
BLOG: Há metas?
RAFAEL WILLAIN LOPES: Com a nova diretoria da SBMN, ainda ao final de 2022 elencamos as seguintes metas que vêm norteando as principais ações deste novo biênio 2023-24, em consonância com a visão da instituição, e o que tem sido feito para atingi-las: apoiar e fomentar o ecossistema para o presente e futuro da Medicina Nuclear. Acreditando ser papel da SBMN ouvir as demandas dos diversos entes da comunidade nuclear, especialmente seus associados, e buscando coordenar esses diferentes atores em prol de objetivos comuns.
A SBMN se propõe a buscar a ampliação do uso e acesso das tecnologias nucleares para fins diagnósticos e de tratamento, propondo novas indicações de procedimentos já comprovadamente eficazes para Agência Nacional de Saúde (ANS) e na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia no sistema Único de Saúde (CONITEC) para uma quantidade cada vez maior de brasileiros alinhados a uma conduta técnico-científica, ética e socialmente responsável. Realizamos, como de costume, este ano, nossa prova de título de especialista em parceria com a CNEN, assim como nosso 37º Congresso Brasileiro de Medicina Nuclear, que foi um grande sucesso.
Temos trabalhado em nossas mídias com intuito de atingir tanto o público leigo, desmistificando a medicina nuclear e seus usos em prol da saúde e com toda a segurança a que estamos habituados em nossa prática cotidiana, assim também suas indicações para médicos das mais diversas especialidades e, claro, para os especialistas médicos e de áreas correlatas da medicina nuclear, para quem oferecemos cursos, simpósios com treinamentos e aulas, que vão desde conceitos básicos até técnicas avançadas, em conjunto com diversas entidades como a Agência internacional de Energia Atômica - IAEA, a própria CNEN e IPEN, Associação Brasileira de Física Médica - ABFM, Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR).
BLOG: O que a entidade tem feito pela capacitação profissional?
RAFAEL WILLAIN LOPES: No que se refere ao crescimento e reconhecimento da especialidade, buscamos fortalecer os laços institucionais e criar, especialmente no âmbito da formação e educação dos profissionais médicos e de áreas correlatas, proporcionando, assim, sementes para o crescimento futuro do capital humano na área da saúde nuclear brasileira.
Neste sentido, promovemos cursos e simpósios próprios ou em parcerias com diversas instituições, nos mais diversos formatos, presencial, on line, híbrido e contamos para isto com grande apoio de diversas instituições como Agência Internacional de Energia Atômica - IAEA, CNEN, IPEN, Associação Brasileira de Física Médica - ABFM, Colégio Brasileiro de Radiologia - CBR, Associação Americana de Cardiologia - ASNC, ALASBIMN, Associação Europeia de Medicina Nuclear - EANM, dentre outras. Além de diversos webinares, desde a nossa já tradicional quinta-nuclear mensalmente discutindo casos e patologias com participação de profissionais em formação de diversas partes do país, assim como outros específicos que vem a atender a demandas e anseios da comunidade nuclear para discutir temas relevantes a sua prática.
No intuito de alinhar estes dois objetivos, buscamos firmar acordos de cooperação com entidades médicas internacionais que facilitem o intercâmbio de profissionais entre seus respectivos eventos científicos, seja na forma de vantagens para inscrições ou participação direta em eventos ou programas específicos, espaço para entidade nos eventos de forma a difundir a atuação da SBMN. Ainda neste alinhamento, tivemos a oportunidade representar o Brasil integrando uma delegação, em um fórum de especialista de Medicina Nuclear dos BRICS realizado em julho de 2023, no qual podemos constatar a enorme capacidade de cooperação que podemos oferecer aos demais países por meio do material humano e conhecimento acumulado ao longo dos mais de 62 anos de história da SBMN e prática da especialidade no Brasil, com profissionais de competência e renome internacional nas mais diversas áreas da medicina nuclear, da mesma forma que podemos aprender muito e trocar experiências sobre a produção de radiofármacos, com alguns dos líderes mundiais do setor.
BLOG: Bom trânsito na administração pública?
RAFAEL WILLAIN LOPES: Nas relações institucionais nacionais e internacionais queremos fortalecer as relações da SBMN com os diversos órgãos da administração pública na esfera federal, em especial, aqueles relacionados ao exercício da medicina nuclear.
Buscamos reafirmar o papel da SBMN como o interlocutor dos médicos nucleares, desta forma, dialogar com a comunidade nuclear, e as mais diversa instituições, das mais diferentes esferas, estaduais, federais, públicas e privadas, autarquias, ministérios, poder executivo e legislativo, organizações sem fins lucrativos, conselhos de classe, sociedades profissionais, médicas e não médicas, agências nacionais e internacionais, visando a cooperação mútua, para difusão e expansão do conhecimento sobre a medicina nuclear, sua prática e utilização, bem como perspectivas, sempre com caráter institucional, quando possível na forma através de acordos que possam perdurar e se fortalecer ao longo do tempo tendo como escopo o crescimento do conjunto da comunidade da medicina nuclear e suas áreas de atuação.
A exemplo disso, temos realizados ao longo deste ano reuniões institucionais com ANVISA, suas gerências e presidência, IAEA, EANM, ALASBIMN, ABFM, CBR, com diretorias e a presidência da CNEN, destacando-se na última semana com ministérios como segurança institucional, saúde e o Vice-presidente da República e na sequência com a superintendência do IPEN, tendo em vista alinhamentos conjuntos.
BLOG: Qual o trabalho da SBMN na Educação?
RAFAEL WILLAIN LOPES: No que se refere à Educação, trabalhamos junto ao Conselho Federal de Medicina (CFM) e sua câmara técnica de Medicina Nuclear, juntamente com Ministério da Educação (MEC) e Comissão Nacional de Residências Médicas (CNRM), visando uma proposta de inclusão da disciplina no currículo da Medicina em todo o Brasil.
Apesar de termos recebido uma negativa junto à câmara técnica do CFM em uma primeira consulta, continuamos buscando rediscutir o assunto e levar o pleito adiante em outras esferas com MEC e CNRM, uma vez que, sendo uma residência com acesso direto e fundamental, que os estudantes de medicina tomem conhecimento da especialidade já na sua graduação, se não por modo de uma disciplina formal, ao menos por uma carga horaria dedicada a falar sobre a Medicina Nuclear.
De forma similar, achamos extremamente importante divulgar as ciências nucleares para as áreas correlatas, e despertar também interesse nos demais profissionais, fundamentais para o crescimento do conjunto da comunidade, como Físicos, Biomédicos, Farmacêuticos, Químicos, Biólogos, e claro, fomentar também a pesquisa, tão intrinsicamente ligada à educação e ao avanço de qualquer área do conhecimento, através da participação em eventos que visem divulgar as aplicações da medicina nuclear, bem como sua multidisciplinaridade e as perspectivas de atuação neste campo.
E, claro, temos nosso congresso anual, como grande vitrine, a materialização e celebração da ciência da medicina nuclear nas suas mais diferentes vertentes, onde buscamos dar espaços para todos, especialmente pesquisadores de apresentarem seus trabalhos.
Também para a comunidade se atualizar, discutir os avanços que poderão virar benefícios aos pacientes no dia a dia de clinicas e hospitais através do aprimoramento técnico cientifico de seus profissionais e métodos empregados, tanto nos diagnósticos, como nas terapias que vêm ressurgindo com enormes perspectivas no campo agora do que se convenciona chamar de teranóstico, a ideia de associação da terapia ao diagnóstico, ou seja, eu trato o que eu vejo.
BLOG: Na área médica, o que faz a SBMN no que diz respeito à ética?
RAFAEL WILLAIN LOPES: Fazemos a defesa da atuação profissional ética e responsável, trabalhando junto às instituições para o fortalecimento do papel do médico nuclear como pivô central no cuidado de pacientes em sua jornada de diagnóstico e tratamentos. Além disso, vamos criar um código de compliance e conduta da SBMN, objetivando orientar sócios, diretores, funcionários e parceiros em suas relações futuras, baseado nos preceitos do próprio código de ética médica, tendo em vista a crescente relação da instituição com diversos entes públicos e privados.
Com intuito de atingir este objetivo, já foi comunicado aos sócios em assembleia, os desafios que o mundo moderno e a realidade pós pandemia nos impõe nos aspecto de compliance e das relações com nossos parceiros, e que, para isso, está sendo iniciado o processo de criação de uma cultura de compliance interno e que deverá ter repercussão em todos os níveis de atividade e relações da SBMN, visando ainda mais transparência e segurança, com a criação de documentos relacionados que nos orientarão no futuro destas relações institucionais. Também foi iniciada uma aproximação com as entidades de classe regionais, associações médicas e conselhos, tendo em vistas possíveis sinergias na busca por soluções de questões mais localizadas ou pontuais, e neste sentido uma das sugestões que já surgiu seja a constituição de uma comissão de ética permanente e independente da SBMN, a se discutir no processo que se iniciará.
Perfil
Rafael Willain Lopes - Formado em medicina aos 23 anos pela Universidade Federal de Santa Catarina, cursou Residências em Medicina Interna e Cardiologia em hospitais públicos (Hospital Regional de São José e Instituto de Cardiologia de Santa Catarina) da Secretaria de Saúde de Santa Catarina e ambas pelo MEC, Pós-graduação Lato Sensu em Medicina Nuclear pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Doutorado em 2013 pelo Instituto Dante Pazzanese/Universidade de São Paulo; foi membro do programa de desenvolvimento de lideranças da Sociedade Americana de Cardiologia Nuclear (ASNC), ex-presidente do Grupo de Estudos de Cardiologia Nuclear do Departamento de Ergometria e Reabilitação (DERC) da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), membro do corpo editorial do Journal Nuclear Cardiology - JNC e da Revista dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia - Imagem Cardiovascular - ABC-IC e coordenador médico e responsável técnico do Departamento de Medicina Nuclear do Hospital do Coração/SP; entre outros.
-
- 20/12/2023 - Parceria entre Acervo dos Palácios e IPEN restaura escultura de São JerônimoTécnica inovadora consegue recuperar imagem e preservar o patrimônio artístico do Palácio do Governo
Técnica inovadora consegue recuperar imagem e preservar o patrimônio artístico do Palácio do Governo
Fonte: Governo do Estado de São Paulo
O governo do Estado de São Paulo, através de uma parceria entre o Acervo dos Palácios – departamento da Secretaria da Casa Civil – e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN-CNEN) implementaram com sucesso um processo inovador de recuperação de uma escultura de São Jerônimo em madeira que estava em processo de deterioração.
O projeto, que conta com diversas fases, como o diagnóstico do objeto, a consolidação polimérica, a análise evolutiva das etapas, o restauro e as análises finais, é muito importante para as Ciências do Patrimônio, pois pela primeira vez esse tipo de ação foi realizado com sucesso em um objeto artístico-histórico no Brasil.
O processo começou com uma avaliação do objeto e da escolha pela melhor técnica para recuperá-lo, que levou muitos anos de pesquisa da restauradora-conservadora do Acervo dos Palácios, Adriana Pires. Ela é responsável pelo laboratório de restauro do Acervo dos Palácios há 21 anos e conheceu a técnica de consolidação polimérica durante um simpósio. Logo se lembrou da escultura e da possibilidade de restaurá-la com esse procedimento.
"A escultura de São Jerônimo, em madeira policromada, chegou ao laboratório de restauração em estado grave de conservação. A peça apresentava muitas perdas de suporte por ataques intensos de insetos xilófagos, cupim e broca, e estava totalmente desestruturada pelas perdas significativas de material. Existiam lacunas enormes no interior da peça, o que dificultou nosso trabalho de restauração, já que não dispúnhamos de nada que pudesse alcançar e preencher tão profundamente as áreas atacadas”, disse Adriana.
Segundo a restauradora, a consolidação polimérica com uso de radiação ionizante foi a técnica perfeita para esse processo de reestruturação do suporte. Foi a partir da consolidação no irradiador de cobalto 60 que o processo de restauração da peça pôde ser concretizado.
Para viabilizar o projeto, foi indispensável o apoio da equipe do IPEN, coordenada por Pablo Vasquez, que participou ativamente da pesquisa e possuía laboratório com equipamentos de ponta para a execução.
A consolidação polimérica é um processo que preenche perdas da escultura ("orifícios”) com uma resina que solidifica em contato com radiação gama. Para sua utilização num objeto histórico-artístico, os pesquisadores Dr. Pablo Vasquez e Dra. Maria José de Oliveira selecionaram uma resina específica, dentre diversas desenvolvidas, que se adequasse às especificidades necessárias para o procedimento e respeitassem as particularidades da escultura.
Colaboraram para a viabilização da ação o Departamento de Tomografia do Hospital Universitário da USP e o Museu de Zoologia da USP, que captaram imagens para as análises iniciais do procedimento e as imagens finais para a avaliação de resultados.
Também foram feitas análises físico-químicas em parceria com o Laboratório Essencis Tecnologies, que possibilitarão estudos mais aprofundados sobre a composição técnica da obra.
Durante a consolidação polimérica, a peça foi colocada num pequeno reator, criado sob medida para a escultura. O processo cria um vácuo que força a entrada da resina nos espaços vazios no interior da obra, submersa na substância e dentro da estrutura, com a indução de uma pressão positiva. O processo leva aproximadamente 24 horas.
Na sequência, a escultura passou por processo de restauro no laboratório de restauração do Acervo dos Palácios, onde foram realizadas ações curativas como limpeza (após a realização dos testes de solvência), nivelamentos e reintegração pictórica. Todos os materiais usados na restauração da obra são reversíveis e específicos para esse tipo de ação.
"É gratificante ver o resultado bem-sucedido desse processo de restauro nesta escultura sacra. Acredito que após 10 anos de pesquisa em busca de um método para poder recuperar a obra estamos frente a uma grande conquista científica, que aplicou tecnologia de ponta numa área tão específica como o restauro, possibilitando que a escultura volte a ser exposta.”, declarou Adriana.
-
- 15/12/2023 - Íntegra das respostas enviadas para a reportagem sobre a exploração de urânio em Santa QuitériaConfira as respostas enviadas para a matéria ”Água sim, urânio não’: agricultores no CE temem que mineração esgote açude e contamine população’
Confira as respostas enviadas para a matéria ”Água sim, urânio não’: agricultores no CE temem que mineração esgote açude e contamine população’
Fonte: Repórter Brasil
Comissão nacional de energia nuclear (CNEN)O Projeto Santa Quitéria (PSQ) tem como responsável o Consórcio Santa Quitéria, composto pelas Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e a pela Fosfatados do Norte Nordeste SA (FOSNOR). O PSQ é um complexo minerário e de beneficiamento que contempla a produção de derivados fosfatados (fertilizantes e produtos para alimentação animal) e a produção de concentrado de urânio, produtos estes derivados da lavra e beneficiamento do minério de fosfato associado ao urânio.
De maneira sumária, e para fins de licenciamento, o PSQ é dividido em duas unidades distintas: a primeira é a Unidade Mínero-Industrial, onde deverá ocorrer a lavra e o beneficiamento do minério fosfático; e a segunda é a Unidade de Urânio.
Com relação ao licenciamento da parte Mínero-Industrial, o PSQ recebeu recentemente a Autorização para Posse, Uso e Armazenamento de Minérios, Matérias-Primas e demais Materiais contendo Radionuclídeos das Séries Naturais do Urânio e/ou Tório (previsão: norma CNEN NN 4.01) – Anexa.
Com relação à parte nuclear do empreendimento (unidade de urânio), a documentação submetida para a obtenção da aprovação de local ainda está sob avaliação.
Consórcio Santa Quitéria
A) Posicionamento enviado após a publicação da matéria:
Nota de esclarecimento
Sobre a reportagem "‘Água sim, urânio não’: agricultores no CE temem que mineração esgote açude e contamine população”, publicada em 15 de dezembro de 2023 pelo veículo Repórter Brasil, o Consórcio Santa Quitéria, formado pela Indústrias Nucleares do Brasil – INB e Galvani, esclarece que:
Recursos hídricos
- O volume de água que será consumido pelo Projeto Santa Quitéria não irá impactar a disponibilidade de água para a população. Para consumir a água da região, o Consórcio Santa Quitéria solicitou e obteve a Outorga junto à Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará (COGERH), do Governo do Estado do Ceará, disponibilizando a vazão necessária para a operação do Projeto.
- De acordo com os estudos realizados por órgãos do Governo do Estado do Ceará, o açude Edson de Queiroz possui capacidade suficiente para abastecer o Projeto Santa Quitéria sem prejuízos ao consumo de água das comunidades. É importante mencionar que, no caso de eventual escassez, a prioridade de consumo de água é do ser humano, seguido dos animais. Nesta hipótese, a indústria suspende o uso até que seja regularizada a situação. Este procedimento é previsto na Lei Federal nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997.
- Importante pontuar que, mesmo no pior cenário histórico do Açude Edson Queiroz, o consumo de água pelo Projeto Santa Quitéria não ultrapassaria 3% do volume do reservatório no mês e, portanto, não afetaria o abastecimento. No cenário atual, o consumo de água mensal seria de, no máximo, 0,5% do volume do reservatório.
- Vale ressaltar ainda que não haverá liberações de líquidos ou quaisquer outros efluentes das instalações do Projeto Santa Quitéria. Tudo será reciclado no processo produtivo em circuito fechado, que impede que os líquidos e efluentes saiam do circuito e atinjam o subsolo ou demais cursos d’água.
Saúde e segurança
- O Projeto Santa Quitéria reforça que não irá contaminar a água, o ar, o solo, nem as lavouras ou as criações de animais da região. Em todas as áreas do processo produtivo e nas localidades vizinhas serão instalados equipamentos para monitorar a radiação e poeira no ambiente. Os órgãos reguladores fiscalizarão, de forma rígida e constante, os resultados desse processo de monitoramento.
- Mesmo com baixa concentração de material radioativo presente em toda a área do Projeto, foi feita uma Modelagem de Impacto Radiológico Atmosférico. Esse estudo simula toda a operação esperada com o desenvolvimento da mina, o beneficiamento, a estocagem, o transporte e as condições de exposição de todas as superfícies que podem ser alcançadas pelo vento e, ocasionalmente, terem suas partículas suspensas no ar.
- O limite admitido pela legislação da CNEN é de 1 mSv/a, que é considerado um valor seguro para a saúde da população. No entanto, para trabalhar com uma segurança ainda maior, a CNEN orienta sempre utilizar um valor menor do que o limite, que é o valor de referência de 0,3 mSv/a. Os resultados obtidos no estudo mostraram que o nível de exposição máximo nos limites da propriedade da Fazenda Itataia será abaixo do valor de referência de 0,3 mSv/a.
- Importante destacar que a atividade será sistematicamente monitorada e os resultados acompanhados pela CNEN, a qual tem autoridade para intervir a qualquer momento, e até paralisar a operação, se entender que a segurança radiológica não está adequada.
B) Respostas às perguntas enviadas pela reportagem:
1) Em que fase está o projeto de exploração na mina de Santa Quitéria? E quais são os próximos passos?
O Projeto Santa Quitéria encontra-se em fase de licenciamento ambiental e nuclear junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama e à Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN, respectivamente. Para a obtenção da Licença Prévia (LP), estão sendo realizados estudos complementares ao Estudo de Impacto Ambiental (EIA), conforme solicitação do IBAMA.
Em setembro, o Projeto Santa Quitéria recebeu autorização da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) para sua Instalação Mineroindustrial – onde será realizada a lavra e a produção de fosfatados. Vale ressaltar que o licenciamento junto à CNEN ocorre em dois processos. Este, da Instalação Mineroindustrial, é em fase única; o segundo se refere à instalação nuclear e ocorre em três etapas.
2) O projeto prevê a exploração e o beneficiamento do fosfato somente? Se sim, o que seria feito com o urânio extraído juntamente do local?
O Projeto Santa Quitéria prevê a construção e a operação de um complexo mineroindustrial para produzir anualmente cerca de:
1,05 milhão de toneladas de fertilizantes fosfatados e 220 mil toneladas de fosfato bicálcico, o que corresponde a 99,8% da produção prevista pelo empreendimento. Os fertilizantes fosfatados serão utilizados como adubo para a agricultura e irão ajudar a reduzir a dependência nacional deste insumo e contribuir para a segurança alimentar do país (hoje, o Brasil importa cerca de 85% dos fertilizantes que consome). Já a produção de fosfato bicálcico, será destinada à alimentação animal, o que corresponde a 50% da demanda atual deste insumo nas regiões Norte e Nordeste.
2,3 mil toneladas de urânio em seu estado natural (sem nenhum tipo de enriquecimento), o que equivale a apenas 0,2% do material que será produzido pelo projeto.
Quanto aos produtos, os fertilizantes e o fosfato bicálcico serão comercializados pela Galvani e o concentrado de urânio entregue à INB.
3) O consórcio tem um cálculo aproximado da quantidade de água necessária para a exploração? E como seria o abastecimento? Já há um plano de onde viria a água?
O Consórcio Santa Quitéria solicitou e obteve a Outorga junto à Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará (COGERH), do Governo do Estado do Ceará, para a vazão necessária para a operação do projeto, que é de 855 m³/hora. A Outorga possui validade de 10 anos.
Importante ressaltar que o volume de água que será consumido pelo Projeto Santa Quitéria não irá impactar a disponibilidade de água para a população. Mesmo com a captação já outorgada, somado aos diversos outros usos do recurso hídrico pela sociedade, o açude permanece com mais de 70% do seu volume outorgável disponível.
Durante as obras do Projeto Santa Quitéria, o abastecimento será feito por meio de caminhões-pipa com frota dedicada, que também fornecerão água potável para os trabalhadores. Já o abastecimento durante a fase de operação será realizado por meio de uma adutora, a partir do açude Edson Queiroz. A adutora, que será construída pelo Governo do Estado do Ceará, vai abastecer os assentamentos de Morrinhos, Queimadas, distrito de Riacho das Pedras e o Projeto Santa Quitéria. Vale mencionar que estas localidades, que sofrem atualmente com a escassez de água, terão acesso à água tratada e suficiente para atender 100% da população desses assentamentos.
4) A população local me pareceu bastante avessa ao projeto. Como tem sido o contato do Consórcio com os moradores?
O Consórcio Santa Quitéria preza pelo diálogo aberto e transparente com a sociedade e todas as partes interessadas no projeto. Ao longo do processo de licenciamento ambiental, o Consórcio tem apresentado e discutido o projeto abertamente com representantes da sociedade civil de diversas localidades. Como parte desse processo, também foram realizadas audiências públicas em Santa Quitéria, Itatira e Canindé em junho de 2022.
Além disso, o Consórcio mantém escritórios nos municípios de Santa Quitéria e Itatira e equipes de campo dedicadas diariamente ao processo de relacionamento e comunicação social para ouvir e esclarecer todos os questionamentos e dúvidas da população, além de disponibilizar e-mail e telefone gratuito para receber e responder dúvidas. Conta ainda com perfis em redes sociais nos quais divulga informações sobre o Projeto e esclarece questionamentos dos internautas.
5) O que muitos moradores do entorno da mina disseram à reportagem foi que muitas amostras de água e de alimentos produzidos na região já foram levadas para análises, mas eles nunca receberam retorno sobre os resultados. Como essas análises foram feitas? Há resultados? Os moradores receberam alguma devolutiva? Se sim, como foi?
As amostras coletadas na região do Projeto Santa Quitéria foram analisadas, seguindo normas técnicas adequadas, por laboratórios certificados. Os resultados das análises têm sido apresentados pela equipe do Consórcio Santa Quitéria para comunidades da região.
6) Outra questão pontuada pela população é referente à incidência de câncer em pessoas que já trabalharam nas escavações das galerias que já existem na mina. Há algum estudo sobre o impacto da radiação na região?
Dados públicos da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, apresentados durante audiência Pública do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), realizada na sede da Ordem dos Advogados do Brasil no Ceará (OAB/CE) em 2022, apontam Santa Quitéria e Itatira com índices de câncer abaixo da média cearense.
O Consórcio Santa Quitéria informa que, quando foram realizadas pesquisas e atividades de remoção de amostras de minério na jazida de Itataia na década de 1970, foram aplicados todos os controles radiológicos pertinentes e respeitados os limites de exposição, definidos pela legislação vigente.
O Consórcio Santa Quitéria ressalta ainda que a operação do Projeto Santa Quitéria não irá aumentar o número de casos de câncer na região, nem contaminará a água, ar, solo, lavouras ou criações de animais da região. Os níveis de radiação durante a operação do empreendimento não serão prejudiciais à saúde dos trabalhadores e nem das populações locais, uma vez que as doses que possam ser potencialmente geradas serão monitoradas e controladas para que permaneçam dentro dos rígidos limites estabelecidos pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
É importante mencionar que a radiação ocorre naturalmente e vem de diferentes fontes ao nosso redor, não somente do urânio. Não há evidências de efeitos adversos à saúde em doses baixas, como é o caso do urânio em seu estado natural. A atividade de mineração não aumenta a radiação emitida por esse mineral porque ela trabalha com o urânio em estado natural.
7) Em uma eventual exploração, como seriam feitos os descartes dos resíduos?
Importante ressaltar que o Projeto Santa Quitéria não terá barragem de rejeitos.
O Projeto Santa Quitéria produzirá apenas resíduos em pilha – na prática, significa que o fosfogesso e a cal gerados no processo serão dispostos em uma pilha seca em área adequada e impermeabilizada, que contará com sistema de drenagem interna.
8) E como o Consórcio garante a segurança diante de possíveis acidentes?
O Projeto Santa Quitéria irá utilizar tecnologias atualizadas e empregar controles eficientes tanto na lavra como no beneficiamento do minério contendo fosfato e urânio, assegurando a proteção de todos. Todos os aspectos ambientais e radiológicos serão reportados pelo Consórcio e fiscalizados pelos órgãos responsáveis.
Importante mencionar que não há riscos de acidentes nucleares no Projeto Santa Quitéria. O empreendimento trabalhará com o urânio em seu estado natural, ou seja, na forma como é encontrado na natureza, que tem como característica a baixa emissão de radiação.
Reforçamos ainda que o transporte de concentrado de urânio não representa risco algum à saúde das pessoas ou ao meio ambiente. O transporte de material nuclear é uma das atividades rotineiras da INB, que possui mais de 20 anos de experiência – sem registros de acidentes.
9) No pedido de licença ambiental protocolado no Ibama em junho de 2020, na Ficha de Caracterização de Atividade está descrito que "o objetivo é que o empreendimento produza anualmente 750.000 toneladas de derivados fosfatados, que são fertilizantes e produtos para alimentação animal, e 1.600 toneladas de urânio” e ainda que o empreendimento terá vida útil de 26 anos. Mas no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) protocolado no ano seguinte, o consórcio afirma que a "produção anual estimada será de 1.050.000 de toneladas de fertilizantes fosfatados e 220.000 toneladas de fosfato bicálcico para alimentação animal e 2.300 toneladas de concentrado de urânio”. Por que foi feita essa modificação? Essa ampliação da produção não necessita de uma mudança no Termo de Referência aprovado pelo Ibama?
O Projeto Santa Quitéria segue avançando com constantes inovações para melhorias no processo produtivo desenvolvido e redução dos impactos, e isso traz mudanças nas previsões de produção. Tais alterações já foram apresentadas no EIA de 2021, não havendo alteração da ADA ou seus impactos, mas sim uma otimização do processo com maior aproveitamento.
É importante destacar que o processo de licenciamento inicia-se por meio do preenchimento, pelo empreendedor, do formulário de caracterização de atividade (FCA).
As informações que compõem o FCA subsidiam o Ibama nas duas próximas etapas: triagem e definição do escopo. Por este preenchimento se dar previamente à realização dos estudos, são possíveis diferenças entre as informações ali apresentadas e aquelas descritas ao final da elaboração do EIA – não só pela maturidade do processo de desenvolvimento do projeto, como pela influência dos próprios estudos nos ajustes sobre o projeto inicialmente previsto.
Sobre o Projeto Santa Quitéria
Desenvolvido pelo Consórcio Santa Quitéria, formado pela Galvani e pela Indústrias Nucleares do Brasil (INB), o Projeto Santa Quitéria prevê a construção e a operação de um complexo mineroindustrial para produzir anualmente cerca de 1,05 milhão de toneladas de adubos fosfatados e 220 mil toneladas de fosfato bicálcico, o que corresponde a 99,8% da produção prevista. Cerca de 2,3 mil toneladas de urânio em seu estado natural (sem nenhum tipo de enriquecimento) também serão produzidas anualmente, o que equivale a apenas 0,2% do material que será produzido pelo empreendimento. Estratégico para diminuir a dependência brasileira de importação de fertilizantes, e com grande importância na segurança alimentar do país, o Projeto Santa Quitéria tem investimento estimado em R$ 2,3 bilhões e, quando estiver em operação, irá gerar cerca de 2,8 mil empregos diretos e indiretos.
-
- 15/12/2023 - ‘Água sim, urânio não’: agricultores no CE temem que mineração esgote açude e contamine populaçãoConsórcio Santa Quitéria, formado pela estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e pela empresa Galvani, avança com projeto de exploração de fosfato e urânio, no sertão do Ceará; População teme efeitos da radiação e escassez de água por causa da mineração
Consórcio Santa Quitéria, formado pela estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e pela empresa Galvani, avança com projeto de exploração de fosfato e urânio, no sertão do Ceará; População teme efeitos da radiação e escassez de água por causa da mineração
Fonte: Repórter Brasil
No sertão do Ceará, a pouco mais de 200 quilômetros da capital Fortaleza, os 43 mil habitantes de um pequeno município vivem à sombra de uma montanha. A imensa elevação rochosa que marca a paisagem de Santa Quitéria não funciona apenas como um escudo contra o sol escaldante do semiárido nordestino. Ela também concentra a maior reserva de urânio do país, matéria-prima para a geração de energia nuclear.
Há pelo menos duas décadas, os moradores ouvem promessas de que a extração do minério vai trazer riqueza e empregos. O projeto, no entanto, enfrenta resistência, principalmente na zona rural. A população teme que a radiação do urânio gere problemas de saúde e que a mineração consuma boa parte das já escassas reservas de água da região. Após 20 anos de idas e vindas, a exploração nunca esteve tão perto de sair do papel.
Descoberta em 1974, a jazida também contém também fosfato, além de urânio, e representa um negócio estratégico para o Consórcio Santa Quitéria – formado pela estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e pela empresa Galvani, do setor de fertilizantes.
Em nota enviada à reportagem, o grupo nega que a exploração da mina vá comprometer o abastecimento de água no município. Já sobre os riscos de contaminação, o texto sustenta que "não há evidências de efeitos adversos à saúde em doses baixas, como é o caso do urânio em seu estado natural”. (leia a resposta na íntegra)
Licenciamento ambiental
A apreensão da população de Santa Quitéria tem motivo: o início da extração de urânio parece cada vez mais próximo. Em setembro, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), vinculada ao governo federal, deu sinal verde para a exploração do fosfato, insumo básico para a indústria de fertilizantes. Agora, o órgão analisa a autorização da mineração do urânio. Em nível estadual, o governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), já assinou um memorando para alinhar compromissos com o Consórcio.
Além disso, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) aguarda a entrega do estudo de impacto ambiental (EIA/RIMA) até o final deste mês. Essa etapa é crucial para a aprovação do licenciamento ambiental do empreendimento – é a terceira vez em duas décadas que o consórcio tenta cumprir essa exigência.
A primeira ocorreu em 2004, quando chegou a obter a licença prévia da Secretaria de Meio Ambiente do Ceará. Porém, após uma ação movida pelo MPF (Ministério Público Federal), a Justiça determinou que a concessão seria de competência do Ibama, anulando a concessão estadual.
Em 2015 o empreendimento entregou ao órgão federal o estudo de impacto ambiental, mas o licenciamento foi negado quatro anos depois. "Havia tantas falhas que não era possível atestar nem mesmo a inviabilidade técnica do projeto”, afirmou um servidor do Ibama que preferiu não ser identificado. A terceira tentativa está em curso desde 2020.
Após a entrega do estudo de impacto, o órgão federal tem ao menos um ano para analisar o documento e decidir pela concessão ou não da licença. "O Ibama agora é o ponto focal para o projeto avançar”, afirma Carlos Freire Moreira, presidente da Aben (Associação Brasileira de Energia Nuclear) e ex-presidente da INB. Segundo o servidor ouvido pela reportagem, há "muitas questões difíceis de serem solucionadas”. A principal delas é a água, consumida em larga escala no processo de extração e beneficiamento do minério.
Apenas metade da população de Santa Quitéria tem acesso a água encanada, segundo o Sistema Nacional de Informações de Saneamento. Não à toa, o município está entre as 20 cidades do Ceará com a maior quantidade de cisternas, de acordo com dados obtidos via Lei de Acesso à Informação.
O projeto prevê que o açude Edson Queiroz, distante 15 quilômetros do centro da cidade e responsável por abastecer todo o município, também servirá de fonte para a mineração. Para fazer chegar até a jazida os 855 mil litros de água por hora que a operação necessita, o governo do Ceará se comprometeu a construir uma adutora.
O consórcio Santa Quitéria afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a adutora abastecerá também a população de um distrito e dois assentamentos no entorno da fazenda Itataia, onde fica a mina. "Estas localidades, que sofrem atualmente com a escassez de água, terão acesso a água tratada e suficiente para atender 100% da população desses assentamentos”.
A oferta, no entanto, é vista como "chantagem” pela população. "Não precisa de mineração para dar acesso a água para as pessoas”, diz Pedro D’Androsa, membro do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM).
Em nota enviada após a publicação da reportagem, o consórcio afirma que, "de acordo com os estudos realizados por órgãos do Governo do Estado do Ceará, o açude Edson de Queiroz possui capacidade suficiente para abastecer o Projeto Santa Quitéria sem prejuízos ao consumo de água das comunidades”. O texto informa ainda que, "no caso de eventual escassez, a prioridade de consumo de água é do ser humano, seguido dos animais. Nesta hipótese, a indústria suspende o uso até que seja regularizada a situação. Este procedimento é previsto na Lei Federal nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997”.
‘Riqueza de um lado, pobreza do outro’
Nos últimos anos, uma conjunção de eventos vem impulsionando o projeto de extração de minério das jazidas de Santa Quitéria. Dentre elas, as políticas de incentivo à energia nuclear retomadas no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a Guerra da Ucrânia, que alavancou o debate sobre a dependência brasileira do fosfato russo, essencial à fabricação de fertilizantes usados pelo agronegócio.
O consórcio prevê que a maioria da produção da jazida será de fosfato – e só 0,2% de urânio. Apesar do pequeno percentual, a produção estimada impressiona: 2,3 mil toneladas de urânio por ano, o que faz da mina de Santa Quitéria o maior depósito deste elemento químico da América Latina, segundo Moreira.
Em Caetité (BA), único local onde há mineração de urânio hoje no Brasil, a capacidade de produção é de 400 toneladas por ano. Também explorada pela INB, a operação na Bahia está sob investigação do Ministério Público do Estado da Bahia devido a denúncias de contaminação da água na região.
"Nosso medo é que Santa Quitéria seja a nova Caetité”, diz a agricultora Liduina de Almeida Paiva, 47. "Lá é a riqueza do urânio de um lado, e a pobreza da população do outro”, complementa. Ela vive em uma das 156 comunidades que o movimento popular calcula que serão afetadas pelo empreendimento.
A agricultora Patrícia Gomes, 31, também mora em uma dessas comunidades, a dois quilômetros da mina. Ela acredita que a radiação seja a responsável pela doença de seus familiares. "Meu pai trabalhou na abertura da galeria da mina, na década de 1970, e morreu de câncer no intestino”, conta ela. "Já a minha mãe cozinhava e lavava a roupa dos trabalhadores, e teve câncer de estômago”. Patrícia tem um lote no assentamento Queimadas, onde também há outras 17 famílias.
Entretanto, não há estudos que comprovem a relação entre a mina e os casos de câncer enfrentados por familiares de Patrícia ou por outros moradores. Dados do DataSUS, do Ministério da Saúde, consultados pelaRepórter Brasil, mostram que Santa Quitéria não figura entre os municípios cearenses com os maiores índices da doença no estado. Casos registrados de todos os tipos da doença vêm aumentando nas últimas décadas, mas seguem uma curva geral.
Professora do curso de engenharia nuclear da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Inayá Corrêa Barbosa Lima afirma que a preocupação dos moradores é legítima, mas ocorre devido à falta de clareza na comunicação sobre os impactos. "Os benefícios socioeconômicos são muito maiores do que qualquer risco futuro”, afirma a docente. "Há muitas normas que são seguidas e o setor de mineração tem avançado bastante em termos de tecnologias mais seguras”, acrescenta.
Na opinião de Elisabeth Mateus Yoshimura, professora do Departamento de Física Nuclear do Instituto de Física da USP, a mineração de urânio merece atenção redobrada. "O movimento de tirar o material do subsolo gera uma poeira radioativa que vai se depositar nas plantas, na terra e isso precisa ser minimizado”, explica. "E a água utilizada no processamento também precisa de um tratamento em decorrência dos produtos químicos utilizados na mineração”, complementa.
Yoshimura reflete ainda sobre as contrapartidas oferecidas pelas mineradoras e pelo poder público. "Esse ajuste precisa ser bom. As pessoas vão receber um pagamento justo? Vão trabalhar com a segurança adequada, protegidas da radiação?”, questiona.
No mês passado, o CNDH (Conselho Nacional de Direitos Humanos), vinculado ao governo federal, aprovou um relatório sobre as violações relacionadas ao projeto de mineração. Dentre a série de apontamentos, o documento elenca a escassez hídrica, a falta de escuta à população local e a omissão dos riscos relacionados à radiação.
O consórcio afirma que tem apresentado e discutido o projeto "abertamente com representantes da sociedade civil de diversas localidades. Como parte desse processo, também foram realizadas audiências públicas em Santa Quitéria, Itatira e Canindé em junho de 2022”.
Na nota enviada após a publicação desta matéria, o consórcio afirma que "o Projeto Santa Quitéria reforça que não irá contaminar a água, o ar, o solo, nem as lavouras ou as criações de animais da região. Em todas as áreas do processo produtivo e nas localidades vizinhas serão instalados equipamentos para monitorar a radiação e poeira no ambiente. Os órgãos reguladores fiscalizarão, de forma rígida e constante, os resultados desse processo de monitoramento”.
Antônio Ferreira Duarte, diretor-geral do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município, acredita que é preciso informar melhor a sociedade sobre o projeto. "As pessoas têm medo daquilo que não conhecem”, diz.
Enquanto o consórcio tenta vencer as etapas burocráticas, a população teme o despertar da mina, um gigante que antes só acordava a cada dois anos. "A gente ouvia falar mais sobre a mina em período eleitoral”, diz Liduína. "Trocavam votos pela promessa de empregos na mineração”.
A Repórter Brasil solicitou entrevistas com a prefeita de Santa Quitéria, Lígia Protásio (PP), e com o governador Elmano Freitas, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem. O texto será atualizado caso os posicionamentos sejam enviados.
A matéria foi atualizada às 11h do dia 18 de dezembro para ampliar o posicionamento do Consórcio Santa Quitéria. A íntegra pode ser conferida no link da resposta, disponibilizado ao longo do texto.
-
- 15/12/2023 - FAPESP e CNPq lançam nova chamada para fixação de jovens doutoresSerão concedidas Bolsas de Pós-Doutorado Júnior e Pós-Doutorado empresarial, pelo CNPq, e uma complementação pela FAPESP denominada Bolsa Fixação de Jovens Doutores
Serão concedidas Bolsas de Pós-Doutorado Júnior e Pós-Doutorado empresarial, pelo CNPq, e uma complementação pela FAPESP denominada Bolsa Fixação de Jovens Doutores
Fonte: Agência FAPESP
A FAPESP e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) anunciam o lançamento de uma nova chamada de propostas de apoio à fixação de jovens doutores.
A chamada visa criar condições favoráveis para que jovens doutores possam prosseguir com suas carreiras no estado de São Paulo por meio de:
Bolsas de Pós-Doutorado Junior (PDJ) para desenvolvimento de atividades de pesquisa junto a grupos e redes de reconhecida excelência no estado de São Paulo; ou
Bolsas de Pós-Doutorado Empresarial (PDI) para desenvolver atividades de pesquisa tecnológica e de inovação em empresas públicas ou privadas, em especial startups de base tecnológica no estado de São Paulo.
Serão concedidas Bolsas de PDJ e PDI sob a responsabilidade do CNPq, e uma complementação de Bolsa denominada Bolsa Fixação de Jovens Doutores (FJD), sob a responsabilidade da FAPESP, de modo a adequar o valor da Bolsa ao praticado nas Bolsas de Pós-Doutorado da FAPESP, além de recursos de capital e custeio para o Auxílio à Pesquisa no valor de R$ 52.350,00, sob responsabilidade da FAPESP.
As bolsas a serem concedidas visam contribuir para a retenção de jovens doutores em Instituições Científicas, Tecnológicas e de Inovação (ICTs) e empresas, em áreas consideradas de vanguarda científico-tecnológica e/ou em temas estratégicos para o estado de São Paulo.
Propostas devem ser submetidas por meio do SAGe até 19 de fevereiro de 2024.
A chamada está disponível em: fapesp.br/16495.
-
- 14/12/2023 - Pele de tilápia é opção para tratar lesões de córnea em cãesUsado como biocurativo, material rico em colágeno estimula a regeneração celular e acelera a cicatrização
Usado como biocurativo, material rico em colágeno estimula a regeneração celular e acelera a cicatrização
Fonte: Revista FAPESP
Uma nova técnica cirúrgica que utiliza um biotecido originado da pele de tilápia-do-nilo (Oreochromis nicoticus) tem ajudado a reestabelecer a visão de cães portadores de úlceras ou lesões graves de córnea, inclusive perfurações. A novidade é uma membrana rica em colágeno, substância eficiente em processos de reparação celular, feita a partir da pele do peixe, espécie de água doce comum no Brasil. Desenvolvida por pesquisadores do Núcleo de Produção e Desenvolvimento de Medicamentos da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (NPDM-UFC), o enxerto é usado como curativo no pós-cirúrgico, induzindo a regeneração ‒ ou reepitelização ‒ da córnea e acelerando a cicatrização.
"Nos últimos quatro anos, já recuperamos a saúde ocular de mais de 400 cães com o uso dessa nova técnica cirúrgica”, afirma a veterinária Mirza Melo, que lidera o estudo. "A membrana, tecnicamente uma matriz dérmica acelular, funciona como um arcabouço [scaffold], protegendo a córnea e estimulando a produção celular nas áreas afetadas. Ela vai liberando colágeno e depois é absorvida pelo organismo.” Segundo Melo, cães braquicéfalos, como buldogues, pugs, lhasas e shih-tzus, que têm o focinho curto e os olhos maiores e mais expostos, são os mais propensos a sofrer lesões de córnea.
Para a produção do biotecido, explica a pesquisadora, a pele do peixe passa por um longo processo em laboratório para remoção das escamas e de todas as células, de forma que reste apenas o colágeno. "Já há no mercado membranas biológicas feitas de material bovino ou suíno, mas são importadas. A vantagem da nossa é que deriva de um refugo da indústria pesqueira e de um peixe largamente cultivado na região, o que permitirá fabricar membranas de baixo custo.”
O emprego da matriz dérmica da pele de tilápia em cirurgias oftalmológicas foi tema do mestrado de Melo no Programa de Pós-graduação em Medicina Translacional, realizado sob orientação do médico Manoel Odorico de Moraes Filho, coordenador do NPDM. No estudo com 60 cães com lesões de córnea, ela comparou o uso da matriz, de uma membrana comercial derivada da mucosa do intestino de suínos e de um enxerto conjuntival do próprio indivíduo. "Nossa matriz dérmica mostrou-se superior, proporcionando menor tempo de cicatrização e alta do animal”, diz Melo. As etapas experimentais da pesquisa foram realizadas no Centro de Olhos Veterinário, clínica particular de atendimento oftalmológico coordenada pela pesquisadora.
Relato do primeiro caso
A descrição do primeiro animal operado com a nova técnica, uma cadela da raça shih-tzu com uma perfuração no olho, foi publicada na revista científica Brazilian Journal of Animal and Environmental Research, em 2022. "O relato sugere que a cicatrização promovida pelo enxerto da matriz de pele de tilápia em córneas de cães mostrou-se vantajosa, obtendo maior transparência, ausência de melanose [mancha], baixa vascularização e boa lubrificação”, anotaram os autores do artigo. O resultado desse primeiro caso foi apresentado no Congresso Brasileiro de Oftalmologia Veterinária no final de 2021 e recebeu o prêmio de melhor trabalho do evento.
A investigação de Melo, que é professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e está cursando doutorado na UFC, insere-se em um estudo mais amplo com foco no uso medicinal da pele de tilápia. Iniciada em 2014 no Ceará, essa pesquisa é liderada pelo cirurgião plástico Edmar Maciel, do NPDM-UFC e do Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ), de Fortaleza. A pele do peixe liofilizada,ou seja, desidratada, esterilizada, irradiada com raios gama e embalada a vácuo,já se mostrou eficaz como curativo biológico no tratamento de queimados, na reconstrução do canal vaginal de pacientes submetidas à cirurgia de redesignação sexual e na reparação de dedos de crianças portadoras de uma condição rara, a síndrome de Apert, que causa má formação das mãos (ver Pesquisa FAPESP no 280).
"Começamos a desenvolver a matriz dérmica acelular da pele de tilápia em 2018. Desde então, uma série de ensaios laboratoriais foram realizados para sua caracterização e produção”, explica Maciel. Ele informa que o uso do biotecido vem sendo pesquisado em mais de uma dezena de especialidades médicas, entre elas urologia, cardiologia, cirurgia geral e neurologia. "Além da pesquisa de Melo na oftalmologia veterinária, uma das investigações mais avançadas do grupo é em cirurgias de crânio [ver boxe abaixo].”
As análises químicas, biológicas e morfológicas da matriz dérmica foram coordenadas pelo bioquímico Carlos Roberto Koscky Paier, professor de farmacologia da UFC, e pelo biólogo Felipe Augusto Rocha Rodrigues, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). Os dois são os responsáveis pela área de pesquisa de novos produtos da pele de tilápia.
"O desenvolvimento da matriz dérmica foi semelhante ao do curativo biológico feito com a pele liofilizada. Tivemos que padronizar um método químico, bioquímico e enzimático para retirar o conteúdo celular do tecido da pele causando o mínimo de dano à matriz extracelular, rica em colágeno”, explica Paier. "Para isso, testamos vários métodos de descelularização com diferentes soluções, basicamente detergentes biocompatíveis.”
O passo seguinte foi a realização de análises histológicas da membrana, empregando técnicas de microscopia óptica, para verificar sua morfologia. Com apoio da microscopia de fluorescência, conseguiram estimar o número de células retiradas. "Também extraímos o DNA da pelein natura e da matriz acelular, depois do processo de remoção de células, para quantificar o DNA remanescente. Houve uma redução de mais de 90%, o que foi considerado satisfatório.”
A equipe fez testes tensiométricos comparando a resistência da matriz dérmica e a pele do peixe. Esses ensaios mostraram uma pequena redução na resistência à tração da membrana de colágeno, mas nada que comprometesse seu uso como matriz proteica biocompatível. Também foram feitos estudos de citotoxicidade. Como o material provém de um animal de vida livre, exposto à contaminação por diversos microrganismos, ele passa, ainda antes da descelularização, por um processo de descontaminação química que pode deixar resíduos tóxicos nas proteínas da matriz extracelular.
"Tivemos que desenvolver um processo de desintoxicação a nível histológico. Ensaios de citotoxicidade por contato indireto com o biomaterial comprovaram que foi efetivo”, conta o bioquímico da UFC, que fez doutorado com foco na análise de um grupo de proteínas cardíacas, no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas, com apoio da FAPESP.
Os bons resultados obtidos até então com o uso do biocurativo em cães levaram os pesquisadores cearenses a aprimorar a matriz visando sua aplicação em humanos. "Em 2021, fomos convidados pelos organizadores do Congresso Cearense de Oftalmologia e apresentamos nossa membrana”, diz Melo. A expectativa dos pesquisadores é de iniciar em breve estudos com a matriz em voluntários.
Para o médico veterinário Flávio Vieira Meirelles, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo (FZEA-USP), que não participou da pesquisa da UFC, o uso de uma matriz dérmica acelular rica em proteínas de colágeno é uma estratégia interessante em tratamentos veterinários por favorecer a migração de células em áreas lesionadas.
"O emprego da membrana extraída da pele de tilápia mantém o ambiente protegido, mais umidificado, estimulando a regeneração. O resultado é que o tecido tratado, como a córnea de animais, começa a se remodelar”, diz Meirelles. "A investigação envolvendo a pele de tilápia é importante, mas há outros grupos de pesquisa no estado de São Paulo e no país que trabalham com diferentes tecidos descelularizados, como membranas amnióticas, derivadas da placenta, em tratamentos veterinários. Há também o uso de membranas de origem animal em válvulas cardíacas, já bastante consolidado e com aplicação em seres humanos.”
Em cirurgias no crânio
Matriz dérmica também é testada na recomposição da membrana que reveste o cérebro
Outra vertente da pesquisa com a matriz dérmica acelular da pele de tilápia é sua utilização em cirurgias cranianas, decorrentes de acidentes ou doenças, na recomposição da membrana de dura-máter, a mais externa das três meninges que revestem o cérebro, e o sistema nervoso central. Esse estudo é conduzido pelo grupo do neurocirurgião Rodrigo Becco, doutorando em medicina translacional pela UFC.
"Sintetizamos as membranas e depois dos testes in vitro selecionamos algumas para os ensaios com animais”, informa Becco. Nos testes que conduziu com ratos, o pesquisador operou 36 animais, divididos em três grupos. No primeiro, ele usou uma membrana de referência, considerada padrão ouro, já comercializada no Brasil e no mundo e aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pela Food and Drug Administration (FDA), a agência que regula medicamentos e alimentos nos Estados Unidos, e pela União Europeia. No segundo, foi usada a matriz rica em colágeno da pele de tilápia, e no terceiro grupo os animais passaram apenas por uma craniectomia, que é a remoção de uma parte do osso da calota craniana, sem que fosse colocada uma membrana no local.
De acordo com o pesquisador, a matriz dérmica da pele de tilápia tem características muito parecidas com a dura-máter em termos de espessura e flexibilidade. "O que os primeiros resultados mostraram é que ela não provoca um processo inflamatório. É bastante maleável e funciona como uma barreira mecânica muito eficiente, até mais que a membrana de referência”, relata Becco.
"Nosso próximo passo é obter autorização do Comitê de Ética da faculdade para fazermos ensaios em humanos e verificar se os bons resultados observados em animais se repetem”, finaliza.
-
- 13/12/2023 - FAPESP abre chamada para estágio em universidades italianasEstão disponíveis bolsas BEPE para bolsistas de Mestrado, Doutorado, Doutorado Direto ou Pós-Doutorado em todas as áreas do conhecimento
Estão disponíveis bolsas BEPE para bolsistas de Mestrado, Doutorado, Doutorado Direto ou Pós-Doutorado em todas as áreas do conhecimento
Fonte: Agência FAPESP
A FAPESP lançou uma chamada de propostas que permite a beneficiários de Bolsa da FAPESP de Pós-Doutorado, Doutorado, Doutorado Direto ou Mestrado realizar estágios de curta e média duração em universidades italianas, em qualquer área do conhecimento.
A chamada integra o Programa de Mobilidade Confap/Itália 2023, no âmbito de acordo de cooperação científica assinado entre o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) – representando a FAPESP e demais fundações de amparo à pesquisa estaduais brasileiras – e a Rede Italiana de Universidades, composta por 14 universidades.
O estágio de pesquisa na Itália deverá necessariamente fazer parte do projeto de pesquisa que fundamenta a concessão da bolsa em andamento. As Bolsas BEPE, portanto, não podem ser solicitadas de forma independente, conforme as normas do Programa Bolsa Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE) da FAPESP.
O bolsista pode conferir, por meio do website do programa de mobilidade, as oportunidades de pesquisa oferecidas pelas instituições italianas, divididas por áreas de conhecimento. Também é possível contatar as instituições diretamente para ter acesso a outras oportunidades.
O prazo final para a submissão de propostas é 11 de março de 2024. As propostas devem ser enviadas à FAPESP, por meio do SAGe, e à Confap, por meio da plataforma https://sistema.confap.org.br/. Além de anexar sua proposta de projeto científico e currículo, o bolsista deverá apresentar uma carta da instituição no exterior aceitando-o como candidato e indicando o pesquisador responsável pela supervisão.
As orientações específicas aos pesquisadores do Estado de São Paulo estão na página https://fapesp.br/16464.
-
- 13/12/2023 - Hormônio do crescimento também tem efeito na regulação da ansiedade em grupo específico de neurôniosPesquisadores da USP identificam, em testes realizados em camundongos, quais neurônios estão relacionados com o efeito ansiolítico do hormônio do crescimento. Achado abre caminho para o desenvolvimento de novas classes de medicamentos para tratar transtornos neuropsicológicos
Pesquisadores da USP identificam, em testes realizados em camundongos, quais neurônios estão relacionados com o efeito ansiolítico do hormônio do crescimento. Achado abre caminho para o desenvolvimento de novas classes de medicamentos para tratar transtornos neuropsicológicos
Fonte: Agência FAPESP
Conhecido por seu papel no crescimento de todos os tecidos do corpo humano, o hormônio do crescimento (GH, da sigla em inglês growth hormone) é também um poderoso ansiolítico. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) aprofundou o entendimento sobre a capacidade do GH em reduzir a ansiedade e, pela primeira vez, identificou a população de neurônios responsável por modular os efeitos do hormônio em doenças neuropsiquiátricas, como o transtorno de ansiedade, depressão e estresse pós-traumático.
No trabalho, apoiado pela FAPESP, os pesquisadores observaram que, ao retirar o receptor de GH de células neuronais que expressam o peptídeo somatostatina (um antagonista do hormônio de crescimento), houve um aumento do comportamento semelhante à ansiedade em camundongos machos. Os testes demonstraram ainda uma redução da memória do medo em animais de ambos os sexos. A descoberta pode permitir que no futuro novas classes de medicamentos ansiolíticos sejam desenvolvidas.
"A descoberta sobre o mecanismo envolvendo o efeito ansiolítico do GH abre caminho para uma possível explicação – meramente química – sobre esses distúrbios e por que em situações com maior ou menor secreção do hormônio do crescimento os indivíduos apresentam maior ou menor prevalência desses distúrbios”, afirma José Donato Júnior, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e autor do artigo publicado no The Journal of Neuroscience.
No estudo, os pesquisadores utilizaram três tipos de experimentos com os camundongos (campo aberto, labirinto em cruz elevado e caixa claro-escuro) para testar a capacidade dos animais de explorar o ambiente e de se colocar em risco. "São experimentos bem estabelecidos e que medem o comportamento do animal semelhante à ansiedade e à memória de medo (que está por trás dos movimentos de estresse pós-traumático). Com isso, foi possível verificar os efeitos do hormônio GH nesses animais”, explica Donato.
O pesquisador afirma que ainda não se sabe por que no estudo não houve aumento de comportamento semelhante à ansiedade em camundongos fêmeas. "Acreditamos que seja pelo fato de haver um dimorfismo sexual. Sabemos que a estrutura nessa área do cérebro onde estão os neurônios que estudamos é um pouco diferente entre machos e fêmeas. Não por acaso, alguns transtornos são diferentes entre homens e mulheres”, diz.
A parte química
Milhares de pessoas sofrem de doenças neuropsiquiátricas em todo o mundo. Embora ansiedade e depressão estejam entre os transtornos mais comuns, ainda não está totalmente esclarecido quais são as causas exatas para estes problemas. Acredita-se, inclusive, que possa ser uma combinação de fatores entre estresse, genética, pressões sociais, econômicas, de gênero, entre outros que possam contribuir para a ocorrência desses transtornos.
Evidências crescentes sugerem que os hormônios também podem desempenhar um papel importante na regulação de diversos aspectos neurológicos, modificando assim a predisposição a esses distúrbios. Alterações nos níveis de hormônios sexuais como o estradiol, por exemplo, afetam comportamento semelhante à ansiedade ou depressão e memória de medo em roedores e humanos. Outros estudos, ainda preliminares, demonstraram que os glicocorticoides (hormônios sintetizados a partir do cortisol) podem estar envolvidos no surgimento de doenças neuropsiquiátricas.
Pelo menos no caso do GH ainda não havia sido identificado o mecanismo de regulação do hormônio em neurônios associados a doenças neuropsiquiátricas. "Demonstramos que o hormônio do crescimento muda a sinapse alterando estruturalmente os neurônios que secretam somatostatina”, relata o pesquisador.
No estudo, os pesquisadores comprovaram ainda que transtorno de ansiedade, memória de medo e estresse pós-traumático são faces diferentes de um mesmo circuito neuronal.
Vale destacar que a ansiedade pode ser definida como um medo excessivo (falta de confiança). Já a memória do medo, explica Donato, está relacionada a algum evento negativo que gera uma resposta (uma alteração no cérebro) e toda vez que o animal ou o indivíduo é exposto novamente à mesma situação há uma reação exagerada de medo, podendo haver paralisia ou outros sintomas, como choro excessivo ou tremedeira.
"Tudo isso acontece na mesma população de neurônios. São eles que expressam o receptor de GH e quando, no nosso experimento, desligamos esse receptor os animais tiveram uma redução na formação de memória do medo. Isso significa que a capacidade de formação dessa memória de medo fica prejudicada. Pode ser que em situações de estresse pós-traumático o GH seja um fator que contribua para o desenvolvimento desses transtornos”, diz.
Isso porque uma sucessão de estresse crônico eleva outro hormônio denominado grelina – um potente estimulador da secreção de GH. "A grelina já vem sendo estudada no estresse pós-traumático há bastante tempo e alguns estudos demonstraram que é justamente essa secreção de GH induzida pela grelina que está aumentada no estresse crônico. Isso favorece o desenvolvimento da memória de medo e estresse pós-traumático no cérebro do animal.”
Hormônio e prevalência de transtornos
Em humanos, o hormônio do crescimento é secretado pela hipófise e liberado na corrente sanguínea, promovendo o crescimento de tecidos em todo o corpo humano por meio de formação proteica, multiplicação celular e diferenciação celular. Trata-se de um hormônio indispensável durante o período de crescimento. Ele é secretado principalmente durante a infância e adolescência. Há também um pico de secreção durante a gravidez. Depois, na velhice, há uma queda natural de GH.
Problemas em sua secreção acarretam o nanismo, por exemplo, que se manifesta principalmente a partir dos 2 anos de idade, impedindo o crescimento e desenvolvimento durante a infância e adolescência.
"Estudos anteriores realizados em seres humanos deficientes em GH já haviam demonstrado maior prevalência de depressão e ansiedade nesses indivíduos. Mas a causa disso ainda não foi estabelecida. Alguns autores atribuíam essa alta prevalência a problemas de imagem ebullying provenientes da baixa estatura”, conta Donato.
O pesquisador ressalta que o estudo realizado em camundongos permite verificar o papel-chave do hormônio do crescimento no problema, sem o impacto de outras variáveis, como, por exemplo, problemas de imagem. "Nosso estudo permitiu saber até que ponto se trata de um efeito direto do hormônio e até que ponto é uma ação indireta do déficit de crescimento. Como conseguimos identificar o mecanismo envolvendo o GH, sabemos que ele é uma causa direta do problema de transtorno de ansiedade e, assim, fica mais fácil começar a pensar em terapias”, afirma.
Donato conta que o grupo agora vai direcionar os estudos do GH para o período da gravidez. "É durante a gestação que ocorre um boom do GH. E é também após esse período que ocorre uma alta na prevalência de casos de depressão – a depressão pós-parto. É claro que existem pressões sociais, econômicas e outras relacionadas a esses tipos de transtornos. No entanto, não podemos esquecer que são períodos de um boom hormonal que podem desregular o funcionamento do cérebro, acarretando esses transtornos”, diz.
O artigo Growth Hormone Action in Somatostatin Neurons Regulates Anxiety and Fear Memory pode ser lido em: https://www.jneurosci.org/content/43/40/6816.
-
- 12/12/2023 - Programa exclusivo de desenvolvimento de deep techs da USP com inscrições abertasSerão selecionadas 20 startups que utilizam descobertas científicas de ponta para solucionar grandes problemas da sociedade
Serão selecionadas 20 startups que utilizam descobertas científicas de ponta para solucionar grandes problemas da sociedade
Fonte: Agência FAPESPA Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de São Paulo, ambiente de empreendedorismo da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) sob gestão do Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), está com inscrições abertas até sábado (16/12) para um programa exclusivo de desenvolvimento de deep techs.Serão selecionadas 20 startups que utilizam descobertas científicas de ponta para solucionar grandes problemas da sociedade. Essas deep techs serão desenvolvidas no Programa DNA, metodologia proprietária ancorada nos 25 anos de expertise do ambiente de inovação da USP e do Ipen.As áreas prioritárias para participação abrangem Medicina & Saúde, Biotecnologia, Eletroeletrônicos, Química, Meio Ambiente e Tecnologia da Informação. A incubadora também está aberta a startups de outras áreas de conhecimento, desde que estejam envolvidas em atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para criação de novos produtos, processos e serviços.As startups selecionadas receberão um diagnóstico personalizado, com a avaliação do nível de maturidade do negócio e recomendações de especialistas para o desenvolvimento de pontos estratégicos. Por meio do Programa DNA, terão acesso a capacitações, mentoria, oportunidades de negócios e eventos exclusivos.Além disso, os empreendedores se conectarão a uma rede de parceiros que oferecem benefícios, incluindo Sebrae, Centro de Inovação do Hospital das Clínicas (InovaHC), Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), Anprotec e institutos da USP.As inscrições podem ser feitas por formulário on-line. Não é necessário possuir CNPJ constituído para se candidatar.As candidaturas serão avaliadas pela banca examinadora com base em critérios como grau de inovação, perfil empreendedor, potencial de mercado, risco tecnológico e impacto. O resultado do processo seletivo será divulgado em março de 2024.Mais informações: www.inscricoes.cietec.org.br/incubadora-sp/ -
- 12/12/2023 - Antonio Bisconsin Junior: “Comer insetos faz todo o sentido”, defende cientista de alimentosPesquisador desenvolve farinha proteica à base de grilos e defende que o país deveria produzir conhecimento e tecnologia na área
Pesquisador desenvolve farinha proteica à base de grilos e defende que o país deveria produzir conhecimento e tecnologia na área
Fonte: Revista FAPESP
Apesar de considerar que o brasileiro médio não incluirá tão cedo em sua rotina alimentar os chamados insetos comestíveis, o cientista de alimentos Antonio Bisconsin Junior, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (Ifro), defende que faz todo o sentido inseri-los na dieta – tanto pelo valor nutricional quanto pela ótica da sustentabilidade. "Insetos são uma alternativa para nosso sistema agroalimentar, que atualmente produz muito gás de efeito estufa e usa muita terra e recursos, com pouco retorno”, afirmou a Pesquisa FAPESP.
Em 2023, ele concluiu o doutorado no Programa de Ciência de Alimentos da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (FEA-Unicamp), feito sob orientação da professora Lilian Mariutti, que incluiu um período de seis meses no Instituto Leibniz para Tecnologia Agrícola e Bioeconomia, em Postdam, na Alemanha. Lá ele desenvolveu um concentrado proteico de grilo para consumo humano – um suplemento alimentar similar ao conhecido whey protein, a proteína do soro do leite. O concentrado também pode ser usado como ingrediente pela indústria de alimentos.
Uma das tecnologias empregadas por Bisconsin para criar a farinha, chamada de alta pressão hidrostática, foi a mesma utilizada por ele durante o mestrado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no campus de Araraquara, quando estudou a qualidade do suco de laranja produzido de maneira não convencional, por alta pressão. A investigação foi realizada com apoio da FAPESP.
Na entrevista a seguir, ele apresenta as principais conclusões de sua pesquisa sobre a aceitação do brasileiro em incorporar insetos à sua dieta e revela particularidades desse hábito alimentar, pouco difundido no país.
Por que comer insetos?
Estudos deixam claro que insetos são ricos em nutrientes, como proteínas, lipídios de boa qualidade e fibras insolúveis. Com esse perfil nutricional, aliado à questão da sustentabilidade, insetos fazem todo o sentido como opção alimentar. A criação tem um impacto ambiental bem menor do que a de animais de corte tradicionais.
Qual a vantagem de inseri-los na dieta?
A principal é o teor proteico deles. É uma proteína de alta qualidade, comparada à do gado bovino, suíno, dos ovos e do leite. E há o aspecto sustentável. São emitidos menos gases de efeito estufa, a criação demanda pouco espaço, eles consomem menos alimento e água. São diversas vantagens do ponto de vista produtivo.
Onde o consumo por humanos é mais comum?
Em vários países da Ásia e da África. Faz parte da cultura alimentar dessas populações. A Tailândia tem um turismo forte com esse foco e consome bastante grilo. Na República Democrática do Congo, tem muita larva de besouro e lagarta de mariposa. No México, os famosos chapulines – ou gafanhotos – são vendidos em feiras de rua. As pessoas comem como se fosse pipoca. Há também o consumo em países europeus, que historicamente não têm a cultura de se alimentar de insetos, mas já criaram legislações próprias. Snacks, hambúrgueres e almôndegas de inseto são vendidos em algumas redes de alimentos da Holanda, Alemanha, França e Dinamarca.
Que insetos se comem por lá?
Eles usam a larva do Tenebrio molitor, conhecido popularmente como besouro-de-farinha ou bicho-de-farinha, para fazer hambúrguer e almôndega, e o grilo-doméstico, que é o Acheta domesticus, para salgadinhos. Insetos comestíveis já entraram no sistema agroalimentar europeu, embora não seja ainda algo muito popular.
Você come insetos?
Sim, sempre que tenho oportunidade. A última vez foi há um mês, durante uma trilha aqui em Rondônia. Pessoas da região consomem a larva de besouro do coquinho-babaçu, cujo nome popular é gongo, rico em lipídios. O costume dos indígenas é fazer um refogado. Também dá para cozinhar na própria gordura que soltam no aquecimento, mas no meio do mato se come cru mesmo. E tem um segredo. Você segura a cabeça do gongo e morde o restante da larvinha, jogando a cabeça fora. Se puser o bichinho inteiro na boca, ele pode te morder. É adocicado e parece leite de coco condensado, com uma textura mais firme que a do leite de coco.
Insetos têm mais proteína do que as carnes normalmente consumidas por nós?
A quantidade de proteína encontrada nos insetos equivale à das carnes. Mas existe certa confusão quando são exibidos dados de análises. É muito comum as pessoas apresentarem o resultado em base seca, ou seja, desprezando a água natural do produto. Isso faz sentido quando se produz uma farinha do inseto, que tem cerca de 60% a 70% de proteína, mais do que o dobro de uma carne convencional. Mas, quando é o inseto inteiro, considerando a água contida nele, há uma proporção de proteínas e de lipídios semelhante à das outras carnes.
O consumo de insetos traz risco de alergias, como ocorre com os crustáceos?
Sim. Do ponto de vista biológico, insetos e crustáceos são classificados como artrópodes. As substâncias que os crustáceos e os insetos produzem – as proteínas que geram alergia – são muito semelhantes. Mas não há nenhum outro risco à saúde quando comparado aos outros alimentos. A Autoridade de Segurança Alimentar Europeia lançou um relatório há uns cinco anos com a análise de risco de consumo de insetos e não encontrou nenhum problema adicional. É bom ressaltar: estamos falando das espécies já caracterizadas como comestíveis – e não de espécies naturalmente venenosas, tipo uma lagarta urticante.
O Brasil tem potencial para produzir insetos comestíveis?
Sim, principalmente por causa da temperatura local, naturalmente alta. Poderíamos explorar os insetos mais aceitos na Europa e nos Estados Unidos ‒ já existentes no Brasil ‒ e exportá-los para esses mercados. Não gastaríamos tanta energia criando um ambiente artificial para manter uma temperatura alta e acelerar o ciclo de vida do inseto, como fazem indústrias de produção de insetos na Holanda. Elas gastam muita energia. Também temos outra frente possível: os chamados insetos regionais, que fazem parte de nossa cultura. O brasileiro não assume, mas há quem consuma insetos. Restaurantes em São Paulo, Minas e Bahia servem pratos com formigas, por exemplo.
Quais os principais resultados da pesquisa que fez sobre a aceitação de insetos comestíveis?
Entre 2018 e 2019, eu e um grupo de professores e pesquisadores voluntários de universidades federais e da Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] entrevistamos 780 pessoas no país. Os moradores das regiões Norte e Centro-Oeste mostraram maior aceitação e familiaridade com o assunto. A cultura que molda a sociedade nessas regiões é influenciada pela dos povos originários, que consomem e consumiam insetos, dependendo do grupo indígena que estamos falando. Já no Sudeste, Sul e Nordeste, onde a população se distanciou dessa cultura originária, houve maior rejeição e desconhecimento sobre o tema.
Há alguma produção no Brasil?
A maioria dos membros da Associação Brasileira dos Criadores de Insetos Alimentícios [Asbracia] cria insetos para alimentação animal. Mas existe uma corrente que defende o uso de insetos para a nutrição humana. Há também uma rede de pessoas que produzem, cozinham em casa e vendem, apesar de não existir legislação. É algo informal.
De onde veio seu interesso por estudar esses insetos?
Já acompanhava o assunto na graduação [em ciência de alimentos, na Universidade de São Paulo], mas em 2013 a FAO [Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura] publicou um amplo relatório sobre o uso de insetos na alimentação humana, trazendo vários exemplos no mundo, ideias de criação e produção, composição nutricional. O documento, revolucionário para a área de alimentos, me motivou a acreditar nessa ideia.
A proteína de grilo que você desenvolveu no doutorado é para ser usada no lugar do whey protein?
Sim, mas não apenas como suplemento alimentar como o whey protein. Meu objetivo inicial era criar um concentrado, a partir do grilo-preto ou grilo-da-jamaica [Gryllus assimilis], que pudesse ser um ingrediente para a indústria alimentícia. Usamos proteína para fazer sorvete, enriquecer um produto, para dar textura, fazer uma emulsão. As empresas, infelizmente, ainda não abraçaram a ideia. O grilo é endêmico no Brasil e nas regiões mais quentes do mundo, no sul global.
Sua pesquisa mostrou que, no geral, o brasileiro acha nojento comer insetos. Existe uma escala de repulsa?
Sim. Nesse ranking, a barata fica em último lugar – é a mais repulsiva. Outro grupo de insetos mencionado de forma negativa foram as larvas. Larva de besouro ou mesmo lagarta-de-mariposa. Ficaram em penúltimo. Depois vieram as formigas, com uma conotação levemente positiva. Grilos e gafanhotos tiveram a maior aceitação entre os entrevistados.
Algum dia os insetos farão parte da nossa cultura alimentar?
Difícil responder. O ponto fundamental é que não há hoje normas regulamentadas pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] nem pelo Mapa [Ministério da Agricultura e Pecuária] sobre criação, processamento e comercialização de insetos para consumo humano. Além disso, são necessárias mudanças na visão do brasileiro e tempo para as pessoas aceitarem a ideia. Já a questão econômica poderia, sim, levar ao consumo, desde que os insetos se tornem mais acessíveis. A divulgação de receitas e de onde encontrar esses insetos também poderia ajudar a popularizar o consumo.
-
- 12/12/2023 - FAPESP participa de chamadas da Comissão EuropeiaPesquisadores de São Paulo podem submeter propostas para colaborarem como colíderes de projetos selecionados e apoiados pelo Horizon Europe
Pesquisadores de São Paulo podem submeter propostas para colaborarem como colíderes de projetos selecionados e apoiados pelo Horizon Europe
A FAPESP abre nova oportunidade para que pesquisadores paulistas pleiteiem a participação como copesquisadores responsáveis (Co-PI, do inglês Co-Principal Investigators) em propostas elaboradas em resposta a chamadas do Horizon Europe, a iniciativa de pesquisa científica da Comissão Europeia.
As chamadas de propostas do Horizon Europe podem ser encontradas em: https://ec.europa.eu/info/funding-tenders/opportunities/portal/screen/opportunities/funding-updates.
Cientistas vinculados a instituições de pesquisa e ensino superior do estado de São Paulo poderão enviar propostas a qualquer momento, por meio do SAGe. A chamada, entretanto, exige que os proponentes realizem junto à FAPESP uma consulta de elegibilidade, exclusivamente pelo e-mail da chamada (chamada-horizoneurope@fapesp.br).
Para esta chamada, candidatos poderão submeter à FAPESP propostas de acordo com regras e condições de três modalidades de apoio FAPESP – Auxílio à Pesquisa Regular, Projeto Temático ou Jovem Pesquisador. Propostas serão aceitas somente se deixarem claro que o Co-PI em São Paulo tem uma participação relevante no projeto de pesquisa completo submetido ao Horizon Europe e liderará uma parte relevante do esforço de pesquisa; ou seja, sendo líder de pacotes de trabalho e/ou tarefas, ou cuja participação é fundamental para a realização de atividades específicas descritas na proposta do Horizon Europe.
Também é fundamental que a proposta demonstre que o objetivo final da colaboração é contribuir para o desenvolvimento científico e tecnológico do estado de São Paulo.
Para avaliar a proposta submetida, a FAPESP seguirá os procedimentos padrão para análise e seleção de propostas de pesquisa de acordo com as normas da modalidade escolhida. A proposta, no entanto, será financiada pela FAPESP somente se também for aprovada pelo Horizon Europe.
A chamada com diretrizes para pesquisadores paulistas está disponível em https://fapesp.br/16466.
-
- 06/12/2023 - USP/Ipen seleciona 20 deep techs para programa de desenvolvimentoPor meio do programa, as deep techs receberão diagnósticos sobre o negócio, além de acesso à capacitações, mentoria e outras vantagens
Por meio do programa, as deep techs receberão diagnósticos sobre o negócio, além de acesso à capacitações, mentoria e outras vantagens
Fonte: Olhar Digital
Por Estella Abreu, editado por Bruno Ignacio de Lima
A Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de São Paulo, ambiente de empreendedorismo da USP e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), está com inscrições abertas para um programa de desenvolvimento de deep techs.
As deep techs serão desenvolvidas no Programa DNA, metodologia proprietária ancorada nos 25 anos de expertise do ambiente de inovação da USP e do Ipen.
Os interessados podem fazer a inscrição até o dia 16 de dezembro.
A princípio, serão selecionadas 20 startups que utilizam descobertas científicas de ponta para solucionar grandes problemas da sociedade.
Áreas prioritárias
As áreas prioritárias para participação incluem:
- Medicina e Saúde;
- Biotecnologia;
- Eletroeletrônicos;
- Química;
- Meio Ambiente;
- Tecnologia da Informação.
No entanto, a incubadora também está aberta a startups de outras áreas de conhecimento, caso estejam envolvidas em atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para criação de novos produtos, processos e serviços.
Benefícios oferecidos
Sendo assim, as startups selecionadas receberão um diagnóstico personalizado, avaliando o nível de maturidade do negócio, além de recomendações de especialistas para o desenvolvimento de pontos estratégicos.
Os interessados podem fazer a inscrição até o dia 16 de dezembro.
No entanto, a incubadora também está aberta a startups de outras áreas de conhecimento, caso estejam envolvidas em atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para criação de novos produtos, processos e serviços.
Por outro lado, por meio do Programa DNA, os integrantes terão acesso a capacitações, mentoria, oportunidades de negócios e eventos exclusivos.
Além disso, os empreendedores se conectarão a uma rede de parceiros que oferecem benefícios, incluindo:
- Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae);
- InovaHC;
- Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi);
- Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec);
- Institutos da USP.
Metodologia
O programa DNA oferece trilhas formativas híbridas, combinando experiências on-line e presenciais.
Os empreendedores participarão de uma metodologia única dividida em três ciclos:
- Descoberta;
- Negócios;
- Acel
Nesse sentido, as metodologias permitem que os empreendedores recebam suporte adequado conforme a maturidade de seus negócios e tecnologias.
Como se inscrever
Não é necessário possuir CNPJ constituído para se candidatar. O processo é simples: basta preencher o formulário disponível neste link.
As candidaturas serão avaliadas pela Banca Examinadora com base em critérios como grau de inovação, perfil empreendedor, potencial de mercado, risco tecnológico e impacto.
Por fim, o resultado do processo seletivo será divulgado em março de 2024 e o início da jornada começa em abril de 2024.
-
- 30/11/2023 - IPEN-CNEN interrompe produção do radiofármaco MIBG para manutenção de equipamento: situação será normalizada na semana de 11/12Fonte: Blog Tania Malheiros
O Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), paralisou a produção do radiofármaco MIBG (agente bloqueador de neurônios adrenérgicos), por conta da complexa manutenção de um equipamento que envolve o processamento de materiais radioativos que exigem normas específicas de proteção radiológica. Em nota, o IPEN informou que a interrupção da produção do MIBG (Metaiodobenzilguanidina), a partir da semana de 10 de outubro, foi comunicado às clínicas. Segundo o Instituto, a produção será normalizada a partir da semana de 11 de dezembro.O último lote produzido, de número 340, foi distribuído na semana de 3 de outubro. Segundo o IPEN, clientes poderão colocar pedidos na próxima semana.
"Compreendemos e nos solidarizamos à angústia das famílias, reafirmando nosso compromisso com a população brasileira. Durante o período mais crítico da pandemia, nossos servidores não interromperam uma única vez a produção, mesmo correndo riscos e dependendo da logística de voos internacionais”, divulgou o IPEN. O MIBG é análogo de aralquilguanidina do neurotransmissor adrenérgico norepinefrina, normalmente usada como radiofármaco. Atua como agente bloqueador dos neurônios adrenérgicos.
-
- 28/11/2023 - Aprovados acordos sobre pesquisa nuclear; Brasil será associado do CERNFonte: Agência Senado
Os senadores aprovaram dois acordos internacionais referentes à pesquisa nuclear. O relator de ambos os projetos foi o senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP). Os projetos de decreto legislativo seguem para promulgação.
— Essa matéria tem uma importância muito grande para a nossa ciência no Brasil, para a tecnologia e para a indústria brasileira. É um grupo de países que pertence a essa organização, são pesquisas ligadas à física de partículas e ao desenvolvimento de novos materiais e muitas das coisas que nós usamos em nosso dia a dia. Essa participação garante ao Brasil a possibilidade de enviar alunos de pós-graduação, pesquisadores, e também trazer pesquisadores ao Brasil — disse Marcos Pontes.
O PDL 168/2023 confirma o Protocolo sobre Privilégios e Imunidades da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN). O protocolo acompanha o Acordo de Concessão do Status de Membro Associado do CERN, também aprovado (PDL 169/2023).
O CERN é um laboratório de pesquisas em física com instalações na Suíça e na França. Tem o maior acelerador de partículas do mundo.
Com o acordo, o Brasil passa a ser o décimo primeiro membro associado do CERN. Hoje a organização conta com 23 estados membros, dez associados e seis observadores. O acordo permitirá o acesso a instalações de pesquisa de ponta, o treinamento de profissionais e a inclusão de empresas brasileiras na lista de possíveis fornecedoras do CERN. O Brasil se compromete a contribuir anualmente com o equivalente a 10% da contribuição de um estado membro, o que significa valor estimado em US$ 13 milhões, equivalentes hoje a aproximadamente R$ 65 milhões.
"Espera-se que pesquisadores e empresas nacionais tomem parte no desenvolvimento de tecnologias voltadas para a indústria aeroespacial, isótopos de saúde e a chamada indústria 4.0 (que envolve inteligência artificial, robótica, internet). Deverá haver um cenário propício à geração de empregos”, avalia o relator.
Segundo o protocolo, documentos, prédios e terrenos do CERN são invioláveis. Suas atividades oficiais, bem como a importação e a exportação de produtos e serviços a ela relacionados são isentas de impostos. O texto também garante a livre disposição de fundos e a imunidade de prisão, detenção e de apreensão de bens para seus representantes. Além disso, seus representantes e funcionários têm reconhecida a liberdade de jurisdição, isto é, estão isentas da jurisdição das leis brasileiras, exceto com relação a infrações de trânsito e por danos causados no trânsito.
Para Marcos Pontes, a aprovação do protocolo é necessária em função das vantagens de integrar o CERN, como acesso a infraestruturas de pesquisas de ponta e capacitação de profissionais.
-
- 28/11/2023 - Alunos dos cursos de Tecnologia em Radiologia e Tecnologia em Sistemas Biomédicos visitam Instituto de Pesquisa Energéticas e NuclearesA visita monitorada ocorreu em 28 de novembro e propiciou aos alunos o acesso às atividades multidisciplinaridade do setor nuclear do país
A visita monitorada ocorreu em 28 de novembro e propiciou aos alunos o acesso às atividades multidisciplinaridade do setor nuclear do país
Fonte: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
Os alunos dos cursos de Tecnologia em Radiologia e Tecnologia em Sistemas Biomédicos da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) visitaram, em 28 de novembro, o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), estabelecido dentro da Universidade de São Paulo (USP).
Os alunos foram acompanhados pelos docentes dos cursos tecnológicos, o Prof. Sergio Bittencourt e o Prof. Rodrigo Oliveira. A visita faz parte do programa de atividades práticas dos cursos, onde os alunos têm a oportunidade de conhecer o reator nuclear e o setor de radiofarmácia de institutos e empresas parceiras.
De acordo com os professores, a visitação monitorada propicia aos alunos o acesso às atividades multidisciplinaridade do setor nuclear do país, como as áreas da Física Nuclear, Radioquímica, Biotecnologia e Materiais Avançados.
Durante a visita, os alunos puderam conhecer o IEA-R1 no Centro do Reator de Pesquisa. O equipamento é um reator do tipo piscina, moderado e refrigerado à água leve, capacitado a atender experimentos de física nuclear, física de estado sólido, além de realizar pesquisas em terapia de câncer.
Atualmente, o reator atua na produção de radioisótopos para uso em Medicina Nuclear; na produção de fontes radioativas para gamagrafia industrial, ou seja na no ensaio que permite avaliar diversos tipos de defeitos tanto em estruturas como em soldas; na produção de radioisótopos para processos industriais; e na irradiação de amostras para a realização de análises multielementares.
Os alunos também visitaram o Centro de Radiofarmácia, pioneiro na produção de radioisótopos e radiofármacos no Brasil. De acordo com o professor Rodrigo Oliveira, o Instituto possui o Acelerador Cíclotron, e, por meio do programa de nacionalização e desenvolvimento de novos produtos, tem produzido e distribuído em todo o território nacional diversos produtos radioativos para diagnóstico e tratamentos. Além disso, o equipamento produz radioisótopos primários, moléculas marcadas e reagentes liofilizados, todos com qualidade controlada para administração em seres humanos na forma de fármacos injetáveis, destinados ao diagnóstico e terapia de inúmeras patologias.
A visita foi acompanhada pela Sra. Katia Reiko Itioka e o Sr. Sérgio Tavares, ambos da Comunicação Institucional do IPEN; do Sr. Marcos Rodrigues de Carvalho, pesquisador nas instalações do Reator IEA-R1; e da Sra. Regina Celia Carneiro, gerente de produção no Centro de Radiofarmácia.
-
- 22/11/2023 - Grupo pretende mapear o potencial de produção de hidrogênio no setor sucroalcooleiroEstudos visam um futuro combustível sustentável para a aviação elaborado com biomassa e etanol de cana-de-açúcar
Estudos visam um futuro combustível sustentável para a aviação elaborado com biomassa e etanol de cana-de-açúcar
Fonte: Agência FAPESP
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) pretendem estimar o potencial que o setor sucroalcooleiro apresenta para a produção de hidrogênio (H2) no país. Para isso, vão analisar dados de todas as usinas de etanol no Brasil – há 358 de cana-de-açúcar e 21 de milho, segundo números atualizados em dezembro de 2022 – e calcular a quantidade de H2que poderiam produzir visando um futuro combustível sustentável para a aviação. A ideia é extrair o hidrogênio da biomassa que sobra da produção e do próprio etanol da cana-de-açúcar.
O trabalho envolve cientistas do Grupo de Pesquisa em Bioenergia (GBio) do Instituto de Energia e Ambiente (IEE-USP) e do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído por FAPESP e Shell na Escola Politécnica (Poli-USP).
"O hidrogênio tem aparecido cada vez mais como vetor energético importante para a descarbonização de diferentes setores, incluindo o da aviação. O mais divulgado atualmente é o hidrogênio produzido a partir da eletrólise da água usando energia solar ou eólica, mas há também as rotas desenvolvidas a partir da biomassa, que são bastante competitivas”, afirma a engenharia química Suani Teixeira Coelho, professora do Programa de Pós-Graduação em Energia da USP e coordenadora do projeto, ao lado de Marcos Buckeridge, professor do Instituto de Biociências da USP e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) do Bioetanol.
Entre os vários possíveis usos do hidrogênio estão a produção de fertilizantes, de combustível para ônibus e automóveis e combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês), explica a professora.
Um estudo liderado pela organização não governamental Roundtable on Sustainable Biomaterials (RSB), com sede na Suíça, em colaboração com a ONG brasileira Agroicone, informa que, da produção global de 390 bilhões de litros de querosene para aviação, apenas 14 milhões de litros são SAF. A substituição dos combustíveis fósseis por outros produzidos de forma sustentável e com baixo teor de carbono seria a forma mais eficiente para atingir o objetivo da indústria de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 50% até 2050.
"Vamos analisar as usinas que temos no Brasil – o quanto produzem de cana-de-açúcar, de etanol e o potencial que pode ser produzido de biogás a partir dos subprodutos do processo. A partir desses dados, vamos estimar a quantidade de hidrogênio que poderíamos produzir a partir de diferentes rotas: fazendo a reforma [quebrando as moléculas] do etanol e do biogás, além da eletrólise da água utilizando a eletricidade excedente local”, afirma Coelho. "Estamos começando agora e essa primeira etapa deve durar aproximadamente um ano. Se conseguirmos financiamento adicional, mapearemos outras fontes de biomassa também.”
O estudo tem apoio do programa USPSusten e do INCT do Bioetanol, cujas pesquisas são financiadas prioritariamente pela FAPESP e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Diferentes cenários
O estudo trabalhará com diferentes cenários, abrangendo a demanda por etanol pelo transporte rodoviário e incluindo na análise o etanol de segunda geração (2G), considerado ainda mais sustentável que o de primeira geração por ser produzido a partir do bagaço de cana.
"Sempre que se usa um resíduo de biomassa, como o bagaço da cana, para gerar energia, se tem um sistema mais sustentável”, salienta Suani Coelho. "Primeiro, porque se dá um destino adequado a esse resíduo. E, segundo, porque não há necessidade de expansão da área de plantio. É um conceito que se enquadra no que chamamos de bioeconomia circular.”
Por enquanto, no país, há apenas uma planta de etanol 2G, situada no Bioparque Costa Pinto, em Piracicaba, no interior paulista, da empresa de energia Raízen. Outras duas usinas em São Paulo produzem biogás a partir de vinhaça e torta de filtro, resíduos da operação agroindustrial da cana-de-açúcar. "Hoje esses dois projetos – da usina Bonfim e da Cocal – usam biogás para produzir energia elétrica em motor elétrico ou para transformá-lo em biometano e usá-lo como combustível de automóveis e ônibus. Mas também podemos fazer a reforma do biogás para produzir hidrogênio”, diz a coordenadora do projeto.
"Então vamos fazer cenários. Vamos supor, por exemplo, que todas as usinas estejam interessadas em produzir biogás e depois que façam a conversão dele para hidrogênio”, destaca a professora.
Para o estudo, os pesquisadores usarão um banco de dados montado durante outro projeto do RCGI, que analisou o potencial de captura de carbono nas usinas, e informações disponíveis na publicação NovaCana.
A tecnologia de transformar hidrogênio em combustível de aviação existe por enquanto apenas em nível de laboratório e os pesquisadores acompanham de perto os avanços, por considerar significativa a perspectiva do uso de hidrogênio direto ou como precursor de outros combustíveis sustentáveis de aviação.
"Já fizemos outros mapeamentos, de potencial de biogás, de biometano, de eletricidade, mas esse de produção de hidrogênio, de forma ampla e para todas as usinas do país, é o primeiro”, afirma Coelho.
-
- 20/11/2023 - Academia Brasileira de Ciências Radiológicas é inaugurada e conta com participação de professores do curso de RadiologiaColegiado é inaugurada pela ABTER em cerimônia em Brasília e tem professores da UFMG em seu corpo de integrantes
Colegiado é inaugurada pela ABTER em cerimônia em Brasília e tem professores da UFMG em seu corpo de integrantes
Fonte: Faculdade de Medicina UFMG
A Associação Brasileira de Tecnólogos em Radiologia (ABTER) apresentou no último sábado (18) os primeiros membros da Academia Brasileira de Ciências Radiológicas (ABCR), instituição dedicada à promoção da ciência e dos profissionais do campo da radiologia, tendo um professor do curso de Radiologia da UFMG como membro fundador e três professoras como membros titulares.
Em sua primeira formação, a Academia tem como presidente o professor Rodrigo Gadelha, do Departamento de Anatomia e Imagem (IMA), além das professoras Adriana de Souza Medeiros Batista, Críssia Carem Fontainha Paiva e Luciana Batista Nogueira, também do IMA da Faculdade de Medicina da UFMG.
A ABCR contará com 47 cadeiras ocupadas por Tecnólogos em Radiologia representando renomados cientistas na área de Ciências Radiológicas. "A Academia, nesse primeiro momento, será uma solenidade honorífica para os profissionais. Por estar subordinada a ABTER, será um braço importante na divulgação das atividades de construção da educação continuada, atividade fim da associação”, afirma o professor Rodrigo Gadelha, primeiro presidente da organização.
"O desejo é conservar, no meio da federação político-científica, a unidade acadêmica das ciências radiológicas. Tal obra exige, não só a compreensão pública, mas ainda e principalmente a constância e progresso”, declarou o professor Rodrigo Gadelha em seu discurso de posse na cerimônia de inauguração da Academia Brasileira de Ciências Radiológicas.
A Academia será constituída por representantes de todo o Brasil, reunindo renomados pesquisadores e profissionais. Segundo Gadelha, "a Academia é composta principalmente por mestres e doutores com currículos de alta expressão, dotados de excepcional experiência profissional com relevância regional ou nacional, e autores de materiais acadêmico-científicos de notório reconhecimento da classe”, aponta.
A Comissão responsável pela escolha dos imortais desenvolveu um minucioso levantamento de Tecnólogos em Radiologia com o perfil indicado, além de rigorosa análise de currículos, com critério de seleção exclusivamente técnico. A análise considerou, além da qualidade e distinção profissional, títulos e premiações, o grau de idoneidade moral do postulante, inclusive os serviços de relevância prestados à radiologia brasileira.
Para o professor Rodrigo Gadelha, primeiro presidente da ABCR, "a ideia para a criação da Academia é reconhecer os profissionais, dar visibilidade para o campo e promover a formação contínua dos técnicos em radiologia”, explica.
Para a professora Críssia Paiva é preciso mostrar que o conhecimento está vivo e é necessário. "É importante valorizar a ciência. Estamos em um momento em que o conhecimento não está sendo reconhecido como uma ferramenta importante para o avanço da humanidade. Queremos valorizar profissionais que se dedicam para as ciências radiológicas, trazendo essa visibilidade para a categoria”, indica a professora.
Luciana Nogueira também destaca a valorização profissional e a mobilização da classe. "Nós temos feito muito e tem muita coisa para se fazer.” A professora do IMA destaca que os professores da UFMG foram uma importante liderança para as conquistas dos estudantes e a qualificação profissional da área, propondo cursos e atividades de formação práticas e complementares.
Para a professora Adriana Batista, a Academia Brasileira de Ciências Radiológicas promove boas referências para os jovens profissionais. Segundo ela, a ABCR "é um exemplo. Quando nos formamos em determinada área, saber que tem ali certa quantidade de pessoas que ilustram aquilo que queremos almejar na profissão é um estímulo.”