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Acidente em Goiânia faz 35 anos, mas Brasil ainda erra com lixo nuclear

Como o Brasil lida com o lixo radioativo que produz? Parte dele está guardado até hoje perto de prédios residenciais em Interlagos (SP)

Fonte: Byte - site Terra

De Ivana Fontes

Lixo nuclear é um tema que, no Brasil, automaticamente remete ao vazamento ocorrido em Goiânia, em 1987. Foi consideradoo maior acidente radioativo da história fora de uma instalação nuclear, matando oficialmente quatro pessoas, mas estima-se que 2.000 pessoas foram afetadas.

Na ocasião, um aparelho de radioterapia contendo o material radioativo césio-137 foi deixado em uma clínica desativada, Depois, foi coletado por catadores e levado para um ferro-velho. Algumas pessoas se encantaram pelo pó que "brilhava" azulado, mas infelizmente, tratava-se de um componente altamente perigoso, quese espalhou e fez várias vítimas diretas e indiretas na época.

Algumas partes da região onde o contato do césio-137 foi maior tornaram-se inabitadas, e ainda existe material radioativo estocado em solo brasileiro. O fato trouxe lições para o Brasil aprender a cuidar melhor de materiais radioativos, mas ainda há muitas incertezas.

Como é gerado o lixo nuclear e onde se localiza

Hoje em dia, todo o lixo nuclear armazenado no Brasil é gerado pelas usinas Angra 1 e Angra 2 e armazenado em piscinas, que ficam na Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.

Porém, o lixo de Angra 1 e 2 agora é levado para uma nova instalação, chamada Unidadede Armazenamento Complementar a Seco para Combustíveis Irradiados (UAS). Este processo começou no ano passado. Juntas, essas duas usinas produzem cerca de 3% de toda a energia consumida no país.

Os elementos combustíveis ficam no núcleo do reator por três anos. Quando não podem mais ser usados para gerar energia, recebem o nome de "elemento combustível irradiado” (ECI) e são levados para contêiners no interior de piscinas nas usinas.

A professora Emico Okuno, do Instituto de Física da USP, comentou no podcast da própria instituição que a questão da segurança nos reatores nucleares é complicada. "Quando acontece um acidente em reator nuclear, é realmente um problema, porque nos arredores você não vai poder viver cerca de 10 mil anos. Agora o uso na nossa vida cotidiana tem muitas aplicações importantes”, explica ela.

São Paulo e Minas Gerais guardam bastante lixo radioativo

De acordo com reportagem do Estadão de outubro de 2021, existem irregularidades no armazenamento do lixo radioativo. Na época, o governo federal buscava — e ainda busca — local para armazenar 1.179 toneladas de rejeitos radioativos, um lixão nuclear que ainda está guardado em galpões velhos localizado no bairro de Interlagos, na zona sul de São Paulo.

O material não poderá mais ficar no local, que é cercado por prédios residenciais e terá de ser desocupado. Mas ainda não houve acordo sobre um novo local para levar os rejeitos.

Eles contém a chamada "Torta II", resíduo que vem do tratamento químico da monazita, um fosfato que inclui terras raras e metais pesados comourânio e tório. Esse material pertencia à antiga Nuclemon, a Usina de Santo Amaro, em São Paulo. Nos anos 80, com o fechamento da usina e a venda do terreno, parte desse rejeito foi transferida para a INB Caldas. O material é considerado de baixa radioatividade, mas precisa ser guardado sob diversas normas de segurança para evitar contaminações.

A Nuclemon é uma antiga estatal nuclear que operou em São Paulo e foi fechada após a contaminação de seus trabalhadores, problemas trabalhistas e a morte de um de seus funcionários.

A INB também armazena cerca de 3.500 toneladas de Torta II em área de proteção ambiental sem documentação do Ibama na Unidade de Estocagem de Botuxim (UEB), em Itu (SP).

A empresa deseja levar os rejeitos de Interlagos para a pequena cidade de Caldas (MG) ou para Itu, mas o poder público dos municípios já se manifestou para não receber o material.

Em 2016, um documento interno da INB afirmou que uma outra quantidade de Torta II armazenada em Unidade de Tratamentos de Minérios em Caldas (MG) "apresenta riscos de vazamentos devidos à deterioração em função do tempo dos tambores de metal, das bombonas plásticas e dos paletes de madeira que dão sustentação às pilhas". O local armazena 12.534 toneladas de Torta II, quase 11 vezes o volume guardado em Interlagos.

Em dezembro do ano passado, a INB e o Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear (CDTN), autarquia vinculada ao Ministério da Ciência, assinaram contrato para realizar estudos hidrológicos, hidrogeológicos e isotópicos relacionados ao armazenamento em Caldas. A ideia é trazer novas soluções para os rejeitos nucleares.




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