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Arábia Saudita terá urânio suficiente para fabricar armas nucleares

Estudo encomendado por Riade a geólogos chineses revela que há urânio para produzir energia e para dar e vender, literalmente. Propósitos serão pacíficos, mas príncipe herdeiro prometeu que caso o Irão produza bombas nucleares, a Arábia Saudita também o fará

Fonte: Expresso


É provável que a Arábia Saudita tenha suficientes reservas de urânio para produzir combustível nuclear, revela um estudo feito por geólogos chineses a pedido do reino saudita e citado esta quinta-feira pelo diário britânico "The Guardian”. A informação suscita a questão de saber se Riade estará interessada num programa de armas nucleares, à semelhança do Irão, seu rival regional Irão, e de países vizinhos como Israel ou o Paquistão. E já gerou inquietação em Washington.

A equipe que elaborou o estudo foi encarregue, no âmbito de um acordo de cooperação energética, de mapear as reservas de urânio sauditas. Estas "reservas inferidas”, resultantes de prospeção preliminar entre 2017 e 2019, que carece de confirmação posterior, estarão concentradas em três jazidas no centro e noroeste do país e atingirão cerca de 90 mil toneladas. Os resultados do estudo foram apresentados no final do ano passado ao secretário de Estado das Minas saudita, informaram os seus autores.

Riade assumiu há anos o desejo de minerar urânio para se tornar "autossuficiente” na produção de combustível nuclear, para reduzir a dependência do petróleo. Os valores apontados no relatório dos geólogos chineses, do Instituto de Investigação Geológica de Urânio de Pequim e da Corporação Nacional Nuclear Chinesa, permitiriam não só cumprir essa ambição como exportar minério.

É a existência do excedente, associada ao retomar do programa nuclear iraniano (na sequência do abandono pelos Estados Unidos do acordo que o regulamentava e limitava), que leva alguns a suspeitar que os sauditas possam estar tentados a produzir armas nucleares. O príncipe herdeiro Mohammed bin Salman assegurou em 2018 que caso Teerão produzisse uma bomba nuclear, Riade faria o mesmo "o mais rapidamente possível”.

SEM INSPEÇÕES

"Quando se pondera desenvolver armas nucleares, quanto mais nativo for o programa nuclear, melhor. Nalguns casos os fornecedores externos de urânio exigem compromissos de fins pacíficos ao utilizador final. Se o urânio for nativo, não tem de haver preocupação com essas restrições”, afirmou o cientista nuclear Mark Hibbs, do Instituto Carnegie pela Paz, citado pelo diário.

Um acordo com a Agência Internacional da Energia Atómica (IAEA, na sigla inglesa), firmado há 15 anos, permite à Arábia Saudita escapar a inspeções (à semelhança de 30 outros países), desde que se comprometa a limitar as quantidades de minério processado e a dar-lhe utilização pacífica. A agência quer rever esse pacto, enquanto o seu chefe, Rafael Grossi, garante que os propósitos de Riade são "pacíficos, evidentemente”.

Embora não entre em território saudita, a IAEA está em contacto com o Instituto de Investigação Geológica de Urânio de Pequim, escreve o jornal americano "The New York Post”. "É muito importante a agência estar presente e envolvida com qualquer país que queira levar a cabo atividade relacionada com o ciclo do combustível nuclear”, alertou Grossi.

A IAEA presta assistência técnica a Riade na produção de combustível nuclear, mas quer passar a inspecionar esse processo. "Temos de adotar um padrão mínimo”, defende Grossi, para quem o acordo vigente "já não é adequado em 2020”.

O envolvimento chinês explica-se, segundo "The Guardian”, por motivos comerciais e diplomáticos. Por um lado consegue um novo fornecedor de minérios, por outro planta uma lança numa potência do Médio Oriente aliada dos Estados Unidos.

INQUIETAÇÃO NOS ESTADOS UNIDOS E EM ISRAEL

Um grupo de senadores americanos reagiu à notícia alertando o Presidente Donald Trump, numa carta, para o risco de a Arábia Saudita produzir armas nucleares. Os signatários incluem membros dos partidos Democrata e Republicano.

A missiva pede informação sobre os programas nuclear e de mísseis balísticos da Arábia Saudita e o envolvimento da China nos mesmos. "Escrevemos para exprimir preocupação pelas notícias recentes de que a Arábia Saudita está a construir instalações nucleares secretas e pelos indícios de que o seu programa nuclear está a avançar rapidamente sem salvaguardas internacionais fortes”, lê-se no texto dos senadores.

A seu ver isto pode "ameaçar seriamente o regime internacional de não-proliferação e os objetivos dos Estados Unidos no Médio Oriente”. A resistência de Mohammed bin Salman às propostas da IAEA "põe em causa as intenções pacíficas do programa nuclear de Riade”, avisam.

Também Israel comunicou aos Estados Unidos os seus receios perante a cooperação sino-saudita neste campo, informa o jornal digital israelita "Walla”. Os serviços de informações do Estado judaico comunicaram com os seus homólogos americanos sobre potenciais instalações nucleares sauditas e frisaram que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu considera o assunto "muito sensível”.

Na referida instalação os sauditas produzem um material conhecido como yellow cake, que não viola o Tratado de Não-Proliferação nem requer informação à IAEA, mas pode ser o primeiro passo para um programa militar, explicam os israelitas. Telavive teme que a cooperação com a China se deva à não-exigência por Pequim de garantias de utilização pacífica.

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