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7 perguntas e respostas sobre a contaminação radioativa dos alimentos no Japão

Fonte: Jornal Floripa

São Paulo - Preocupados com a contaminação de alimentos pela radiação nuclear, muitos países estão reforçando suas medidas de segurança para produtos importados do Japão. Não é por menos. O governo japonês já anunciou ter detectado altos níveis de radioatividade em verduras , como espinafre, brócolis e salsinha, e até no leite, em regiões próximas à usina de Fukushima.

A água que corre nas torneiras de Tóquio, a 200 km da usina, também apresenta níveis de iodo radioativo superiores aos recomendados para a saúde. Nem os peixes saem ilesos do acidente nuclear. Temerosos, os japoneses estão deixando de lado o seu alimento mais básico e principal fonte de proteína. Mas de que forma a radiação se propaga no meio ambiente, afeta a produção de alimentos e prejudica a saúde?

Para responder a essa questão, EXAME.com consultou os especialistas Virgílio Franco, professor titular do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP (CENA) e a pesquisadora Sandra Bellintani, da área de Radioproteção do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN). Confira.

1 - Como a emissão de partículas radioativas pelas usinas japonesas ameaça a produção de alimentos?
Durante o vazamento ou explosão de um reator, elementos radioativos, frutos da fissão do urânio, são liberados na atmosfera na forma de gás e partículas microscópicas. Entre os principais estão o Iodo-131, o Césio-137 e o Estrôncio-90, que contaminam o ar e consequentemente a água e o solo. Vegetais produzidos numa área afetada também serão contaminados. No caso do leite, o que ocorre é a contaminação das gramíneas dos pastos que servem de alimento para o gado. A vaca se contamina e os radioisótopos podem aparecer rapidamente no leite e se acumular na carne. Em todo o caso, garantem os especailistas, é possível controlar o nível de contaminação dos alimentos por meio de análises radiométricas.

2 - O Japão alertou os moradores de Tóquio a evitarem o consumo de água da torneira. Que elementos radioativos presentes na água ameaçam a saúde humana?
O iodo radioativo é a principal ameaça na água. Mas comparado aos outro elementos, ele apresenta vida média curta. Sua radioatividade decai à metade em apenas 8 dias, contra 30 anos do Césio e 30 do Estrôncio. Ele também pode ser combatido ingerindo-se comprimidos de iodo não ionizante. O corpo concentra, naturalmente, iodo na tireóide, mas essa absorção tem uma cota. No Japão, o governo está distribuindo pílulas de iodo pra suprir essa dose e impedir o corpo de absorver o iodo radioativo.

3 - Quais os riscos à saúde humana da ingestão de um alimento contaminado?
De acordo com Sandra Bellintani, o que determina se há ou não um risco para a saúde humana é a quantidade de material radioativo encontrado nos alimentos. "O organismo humano está acostumado a receber pequenas doses de radiação ionizante. Grandes quantidades de material radioativo, entretanto, podem levar até a morte", alerta. Segundo a pesquisadora, no longo prazo, a população exposta pode apresentar maiores índices de incidência de câncer.

4 - O nível de iodo-131 foi considerado alto no mar próximo à Fukushima. É prudente que os japoneses suspendam, por um tempo, o consumo de pescados?
De acordo com o professor da USP, o iodo-131 é altamente solúvel e há bastante chance de ter sido transportado diretamente da usina nuclear para o mar, não só via ar, mas pelas águas aspergidas na tentativa de se refrigerar os reatores e piscinas dos materiais combustíveis nas usinas. "Os peixes e moluscos podem, sim, concentrar o iodo-131 e, através da ingestão desses alimentos, o ser humano pode reter esse radioisótopo na tireóide e, no futuro, vir a apresentar câncer", afirma.

5 - Qual os efeitos da contaminação na agricultura e no desenvolvimento de plantios?
O perigo maior está na exposição às radiações ionizantes que podem ocasionar danos biológicos nas células de novas sementes e cultivos. Segundo Virgílio Franco, até o momento, os níveis encontrados nas proximidades do acidente e mesmo em regiões distantes, como Tóquio, não são alarmantes, como aconteceu em Chernobyl.

"O iodo-131deverá desaparecer rapidamente do solo. O césio-137, com 30 anos de meia-vida, deverá permanecer por mais tempo na camada arável (zona das raízes), mas a sua transferência para as plantas poderá ser reduzida pela adição de fertilizante potássio ao solo", explica Franco.

6 - Alguns países suspenderam as importações de produtos alimentícios japoneses. É prudente agir assim ou trata-se de uma decisão exagerada?
Para a pesquisadora do IPEN, a suspensão de todos os produtos vindos do Japão é uma decisão radical. Ela ressalta que o Japão tem realizado um acompanhamento rigoroso por meio do monitoramento constante e restringindo exportações de províncias afetadas.

O professor da USP, por seu turno, critica a falta de informações sobre os níveis de radiação dos alimentos, ou seja, a quantidade de material radioativo por unidade de massa traduzida em becquerel/kg. "Isso faz com que os países importadores tenham uma percepção de risco aumentada, e com isso tomem a suspensão de importação como medida preventiva, passando a importar de outros fornecedores produtos seguramente não contaminados", pondera.

7 - Há riscos para o Brasil? Tanto pela distância da usina japonesa quanto pela baixa intensidade dos níveis de radiação, os especialistas concordam que Brasil não corre risco de contaminação. "Mas caso haja dúvida quanto à procedência de algum produto japonês existem no Brasil laboratórios que podem realizar uma análise desses alimentos e avaliar uma possível contaminação radioativa", garante Sandra.

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