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Embaixadora destaca o papel de liderança da América Latina e Caribe em não-proliferação e segurança nuclear

Em Simpósio sobre o tema, Elayne Whyte defende a proibição de armas e testes nucleares e reivindica maior participação feminina para chegar a soluções sistêmicas e mais eficientes

América Latina e Caribe têm um papel central em formar novas lideranças para promover a desnuclearização e o desarmamento nuclear levando em consideração a importância de uma sociedade mais igualitária, com mais equidade de gênero e diversidade de ideias. Essa foi a tônica da palestra de Elayne Whyte, na abertura do "1º Simpósio sobre Não-Proliferação Nuclear e Segurança para Mulheres em STEM na América Latina e Caribe”, nesta segunda-feira, 19, no IPEN, Cidade Universitária.

Promovido em colaboração com o James Martin Center for Nonproliferation Studies (CNS), vinculado ao Middlebury Institute of International Studies at Monterey (MIIS), com apoio da Agência Internacional de Energia Atômica, o Simpósio tem como principal objetivo proporcionar uma compreensão mais ampla da não proliferação, dos usos pacíficos da energia nuclear e das políticas de segurança nuclear, bem como das instituições, ferramentas e mecanismos necessários para lidar com essas questões e seus desafios.

Elayne Whyte é embaixadora da Costa Rica e representante permanente nas Nações Unidas em Genebra. Presidiu a conferência diplomática que negociou o tratado da ONU sobre a proibição de armas nucleares. Desde 2022, é fellow da Harvard Advanced Leadership Initiative, cuja missão é promover o desenvolvimento de habilidades e oportunidades de colaboração para uma comunidade global diversificada de líderes experientes e comprometidos, permitindo um impacto social sustentável em escala.

Em seu discurso, proferido via web, Whyte comentou sobre a importância da ciência e da tecnologia para o enfrentamento dos desafios globais, destacou a "revolução” nas telecomunicações e a iminência da inteligência artificial como mais uma questão a ser olhada com cuidado – "pode ser uma arma perigosa”. Para a embaixadora, contudo, "o risco maior é a existência de armas nucleares e seu uso por decisão ou acidente”. Nesse sentido, C&T devem atuar em colaboração para respostas eficazes, como foi no passado.

"Séculos atrás, a guerra estava na busca pelo conhecimento, e a ciência e a tecnologia, em colaboração, puderam florescer. O que precisamos fazer uso das boas tecnologias e evitar possíveis impactos negativos que possam trazer. Conhecimento e progresso devem "caminhar juntos”, com parcerias entre governos visando ao empoderamento dos seres humanos para que possam viver mais felizes”, afirma a embaixadora, em referência, principalmente, a não-proliferação nuclear.

Falando com a propriedade de quem foi a primeira e mais jovem mulher, e a primeira pessoa de ascendência africana a servir como vice-ministra de relações exteriores da Costa Rica, Whyte defende que a proibição de armas e testes nucleares é fundamental. "Estamos enfrentando uma crise climática, e o poder das armas nucleares pode alterar os processos naturais dos ecossistemas do planeta, incluindo as mudanças climáticas”, pontuou.

Whyte ressaltou que América Latina e Caribe têm "história na desnuclearização e no desarmamento e um papel central em criar novas lideranças, mulheres, para dar respostas inovadoras” frente ao grande desafio que são a não-proliferação nuclear e a segurança nuclear de forma global. Um passo fundamental, segundo ela, é diminuir a lacuna de gênero apoiando ações que promovam uma sociedade mais igualitária, com equidade e diversidade de ideias.

"É o que vai melhorar a qualidade da política no mundo. Precisamos de grupos diversos com pensamentos diversos. A participação de mulheres pode ajudar na construção de parcerias comprometidas em conectar os problemas para chegar a soluções sistêmicas e mais eficientes”, concluiu Whyte, que foi diretora executiva do Projeto de Integração e Desenvolvimento da Mesoamérica, que coordena e entrega projetos de desenvolvimento social e econômico em toda a região da América Central.

IPEN na vanguarda

O pesquisador Jorge Eduardo de Souza Sarkis, um dos coordenadores do Simpósio, comentou que o IPEN já vem atuando para formar novas lideranças na área nuclear, em consonância com os argumentos apresentados por Elayne Whyte. O próprio evento, que acontece ao longo da semana (19 a 23/6), tem como princípio apoiar os esforços mundiais na promoção das mulheres no campo nuclear em geral, e nas áreas de não proliferação nuclear, usos pacíficos e segurança nuclear, em particular.

Também estavam presentes na abertura Wilson Calvo, titular da Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento da CNEN, Isolda Costa, diretora do IPEN, Juan Du Preez e Margarita Kalinina-Pohl, ambos do CNS. O Simpósio, que selecionou 30 participantes do total de 70 inscrições, continua até o dia 23, presencial e virtual, com palestras, debates e atividades em grupo, realizados no Auditório Rômulo Ribeiro Pieroni, no Bloco A do IPEN, das 9h às 17h. 

Primeira a se pronunciar, Kalinina-Pohl deu as boas-vindas às participantes e destacou que o Simpósio para mulheres em STEM é muito importante porque já há participação feminina em C&T, na política, e "juntar nesse evento é mais uma oportunidade e é também um desafio”. "Precisamos fazer mais para promover a liderança de mais mulheres. É uma construção coletiva, estamos aqui para trocar experiências e aprender com vocês”, afirmou.

Du Preez, diplomata e responsável pela gestão de educação e treinamento do Middlebury Institute of International Studies at Monterey (MIIS), acredita que ações como o simpósio são fundamentais porque podem oferecer soluções científicas para a meta de eliminar armas nucleares em nível global. "Essa região [América Latina e Caribe] é liderança mundial para evitar esses problemas. Estou feliz e ansioso por estar aqui”, disse, acrescentando que as presenças de Wilson Calvo e Isolda Costa "mostram a importância do evento”.

A diretora Isolda Costa é uma das profissionais em STEM do Instituto e se disse muito "honrada e orgulhosa” de o IPEN ser o anfitrião do simpósio. Ressaltou o compromisso dos organizadores com jovens mulheres empreendedoras que estão diante de uma oportunidade única de aprendizado e troca de experiências. "Nós aqui estamos de portas abertas para vocês. A colaboração é a melhor maneira de compartilhar os conhecimentos e a infraestrutura de que dispomos”.

Primeira mulher a dirigir o IPEN em quase 67 anos de fundação, Isolda comentou ainda que o IPEN tem 11 Centros de Pesquisas e reconhecida excelência, podendo ser um importante parceiro em pesquisas futuras. A diretora fez uma saudação especial às mulheres participantes do Simpósio dizendo-se "orgulhosa, como mulher” de ver tantas outras em STEM, como ela própria. "Espero que desfrutem ao máximo essa oportunidade e que sejam alguém a falar sobre o IPEN no futuro”.

Na mesma linha, Wilson Calvo ressaltou as expertises dos organizadores do Simpósio e enfatizou a possibilidade de promover melhorias ao oferecer visões em não-proliferação nuclear e desarmamento. Fez uma breve apresentação do IPEN, que completa 67 anos de fundação em agosto, destacando a liderança na produção de radiofármacos para a medicina nuclear brasileira.

Calvo também realçou os dois programas de pós-graduação existentes no IPEN, o de Tecnologia Nuclear, com a USP, que já formou mais de três mil mestres e doutores, e o Mestrado Profissional em Tecnologia das Radiações em Ciências da Saúde, que este ano chega à sua quinta turma. Ao final, convidou todos os participantes do Simpósio para visitas às instalações do Instituto, inclusive o Reator Nuclear de Pesquisas IEA-R1, "disponíveis para futuras colaborações”.

AIEA: "paridade de gênero”

O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), embaixador Rafael Grossi, comentou que, apesar de a não-proliferação nuclear e o desarmamento serem de extrema importância, não há tantos trabalhos nesse âmbito. "Temos que atrair e não estamos conseguindo fazer isso”. Considerando que as mulheres representam menos de um terço dos fóruns deliberativos, enfatizou que sua primeira decisão à frente do cargo foi estabelecer a paridade de gênero para 2025.

Grossi acredita que a presença de um número maior de mulheres é estratégica diante dos muitos desafios nessas áreas. "Precisamos de vocês mais do que nunca. Farei tudo ao meu alcance para garantir mais presença e mais qualidade ao trabalho de vocês", afirmou, concluindo com uma menção à Resolução da ONU que, para ele, assinala o "óbvio": "Mulheres são importantes para assegurar a paz mundial". 

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