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- 13/12/2023 - FAPESP abre chamada para estágio em universidades italianasEstão disponíveis bolsas BEPE para bolsistas de Mestrado, Doutorado, Doutorado Direto ou Pós-Doutorado em todas as áreas do conhecimento
Estão disponíveis bolsas BEPE para bolsistas de Mestrado, Doutorado, Doutorado Direto ou Pós-Doutorado em todas as áreas do conhecimento
Fonte: Agência FAPESP
A FAPESP lançou uma chamada de propostas que permite a beneficiários de Bolsa da FAPESP de Pós-Doutorado, Doutorado, Doutorado Direto ou Mestrado realizar estágios de curta e média duração em universidades italianas, em qualquer área do conhecimento.
A chamada integra o Programa de Mobilidade Confap/Itália 2023, no âmbito de acordo de cooperação científica assinado entre o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) – representando a FAPESP e demais fundações de amparo à pesquisa estaduais brasileiras – e a Rede Italiana de Universidades, composta por 14 universidades.
O estágio de pesquisa na Itália deverá necessariamente fazer parte do projeto de pesquisa que fundamenta a concessão da bolsa em andamento. As Bolsas BEPE, portanto, não podem ser solicitadas de forma independente, conforme as normas do Programa Bolsa Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE) da FAPESP.
O bolsista pode conferir, por meio do website do programa de mobilidade, as oportunidades de pesquisa oferecidas pelas instituições italianas, divididas por áreas de conhecimento. Também é possível contatar as instituições diretamente para ter acesso a outras oportunidades.
O prazo final para a submissão de propostas é 11 de março de 2024. As propostas devem ser enviadas à FAPESP, por meio do SAGe, e à Confap, por meio da plataforma https://sistema.confap.org.br/. Além de anexar sua proposta de projeto científico e currículo, o bolsista deverá apresentar uma carta da instituição no exterior aceitando-o como candidato e indicando o pesquisador responsável pela supervisão.
As orientações específicas aos pesquisadores do Estado de São Paulo estão na página https://fapesp.br/16464.
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- 13/12/2023 - Hormônio do crescimento também tem efeito na regulação da ansiedade em grupo específico de neurôniosPesquisadores da USP identificam, em testes realizados em camundongos, quais neurônios estão relacionados com o efeito ansiolítico do hormônio do crescimento. Achado abre caminho para o desenvolvimento de novas classes de medicamentos para tratar transtornos neuropsicológicos
Pesquisadores da USP identificam, em testes realizados em camundongos, quais neurônios estão relacionados com o efeito ansiolítico do hormônio do crescimento. Achado abre caminho para o desenvolvimento de novas classes de medicamentos para tratar transtornos neuropsicológicos
Fonte: Agência FAPESP
Conhecido por seu papel no crescimento de todos os tecidos do corpo humano, o hormônio do crescimento (GH, da sigla em inglês growth hormone) é também um poderoso ansiolítico. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) aprofundou o entendimento sobre a capacidade do GH em reduzir a ansiedade e, pela primeira vez, identificou a população de neurônios responsável por modular os efeitos do hormônio em doenças neuropsiquiátricas, como o transtorno de ansiedade, depressão e estresse pós-traumático.
No trabalho, apoiado pela FAPESP, os pesquisadores observaram que, ao retirar o receptor de GH de células neuronais que expressam o peptídeo somatostatina (um antagonista do hormônio de crescimento), houve um aumento do comportamento semelhante à ansiedade em camundongos machos. Os testes demonstraram ainda uma redução da memória do medo em animais de ambos os sexos. A descoberta pode permitir que no futuro novas classes de medicamentos ansiolíticos sejam desenvolvidas.
"A descoberta sobre o mecanismo envolvendo o efeito ansiolítico do GH abre caminho para uma possível explicação – meramente química – sobre esses distúrbios e por que em situações com maior ou menor secreção do hormônio do crescimento os indivíduos apresentam maior ou menor prevalência desses distúrbios”, afirma José Donato Júnior, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e autor do artigo publicado no The Journal of Neuroscience.
No estudo, os pesquisadores utilizaram três tipos de experimentos com os camundongos (campo aberto, labirinto em cruz elevado e caixa claro-escuro) para testar a capacidade dos animais de explorar o ambiente e de se colocar em risco. "São experimentos bem estabelecidos e que medem o comportamento do animal semelhante à ansiedade e à memória de medo (que está por trás dos movimentos de estresse pós-traumático). Com isso, foi possível verificar os efeitos do hormônio GH nesses animais”, explica Donato.
O pesquisador afirma que ainda não se sabe por que no estudo não houve aumento de comportamento semelhante à ansiedade em camundongos fêmeas. "Acreditamos que seja pelo fato de haver um dimorfismo sexual. Sabemos que a estrutura nessa área do cérebro onde estão os neurônios que estudamos é um pouco diferente entre machos e fêmeas. Não por acaso, alguns transtornos são diferentes entre homens e mulheres”, diz.
A parte química
Milhares de pessoas sofrem de doenças neuropsiquiátricas em todo o mundo. Embora ansiedade e depressão estejam entre os transtornos mais comuns, ainda não está totalmente esclarecido quais são as causas exatas para estes problemas. Acredita-se, inclusive, que possa ser uma combinação de fatores entre estresse, genética, pressões sociais, econômicas, de gênero, entre outros que possam contribuir para a ocorrência desses transtornos.
Evidências crescentes sugerem que os hormônios também podem desempenhar um papel importante na regulação de diversos aspectos neurológicos, modificando assim a predisposição a esses distúrbios. Alterações nos níveis de hormônios sexuais como o estradiol, por exemplo, afetam comportamento semelhante à ansiedade ou depressão e memória de medo em roedores e humanos. Outros estudos, ainda preliminares, demonstraram que os glicocorticoides (hormônios sintetizados a partir do cortisol) podem estar envolvidos no surgimento de doenças neuropsiquiátricas.
Pelo menos no caso do GH ainda não havia sido identificado o mecanismo de regulação do hormônio em neurônios associados a doenças neuropsiquiátricas. "Demonstramos que o hormônio do crescimento muda a sinapse alterando estruturalmente os neurônios que secretam somatostatina”, relata o pesquisador.
No estudo, os pesquisadores comprovaram ainda que transtorno de ansiedade, memória de medo e estresse pós-traumático são faces diferentes de um mesmo circuito neuronal.
Vale destacar que a ansiedade pode ser definida como um medo excessivo (falta de confiança). Já a memória do medo, explica Donato, está relacionada a algum evento negativo que gera uma resposta (uma alteração no cérebro) e toda vez que o animal ou o indivíduo é exposto novamente à mesma situação há uma reação exagerada de medo, podendo haver paralisia ou outros sintomas, como choro excessivo ou tremedeira.
"Tudo isso acontece na mesma população de neurônios. São eles que expressam o receptor de GH e quando, no nosso experimento, desligamos esse receptor os animais tiveram uma redução na formação de memória do medo. Isso significa que a capacidade de formação dessa memória de medo fica prejudicada. Pode ser que em situações de estresse pós-traumático o GH seja um fator que contribua para o desenvolvimento desses transtornos”, diz.
Isso porque uma sucessão de estresse crônico eleva outro hormônio denominado grelina – um potente estimulador da secreção de GH. "A grelina já vem sendo estudada no estresse pós-traumático há bastante tempo e alguns estudos demonstraram que é justamente essa secreção de GH induzida pela grelina que está aumentada no estresse crônico. Isso favorece o desenvolvimento da memória de medo e estresse pós-traumático no cérebro do animal.”
Hormônio e prevalência de transtornos
Em humanos, o hormônio do crescimento é secretado pela hipófise e liberado na corrente sanguínea, promovendo o crescimento de tecidos em todo o corpo humano por meio de formação proteica, multiplicação celular e diferenciação celular. Trata-se de um hormônio indispensável durante o período de crescimento. Ele é secretado principalmente durante a infância e adolescência. Há também um pico de secreção durante a gravidez. Depois, na velhice, há uma queda natural de GH.
Problemas em sua secreção acarretam o nanismo, por exemplo, que se manifesta principalmente a partir dos 2 anos de idade, impedindo o crescimento e desenvolvimento durante a infância e adolescência.
"Estudos anteriores realizados em seres humanos deficientes em GH já haviam demonstrado maior prevalência de depressão e ansiedade nesses indivíduos. Mas a causa disso ainda não foi estabelecida. Alguns autores atribuíam essa alta prevalência a problemas de imagem ebullying provenientes da baixa estatura”, conta Donato.
O pesquisador ressalta que o estudo realizado em camundongos permite verificar o papel-chave do hormônio do crescimento no problema, sem o impacto de outras variáveis, como, por exemplo, problemas de imagem. "Nosso estudo permitiu saber até que ponto se trata de um efeito direto do hormônio e até que ponto é uma ação indireta do déficit de crescimento. Como conseguimos identificar o mecanismo envolvendo o GH, sabemos que ele é uma causa direta do problema de transtorno de ansiedade e, assim, fica mais fácil começar a pensar em terapias”, afirma.
Donato conta que o grupo agora vai direcionar os estudos do GH para o período da gravidez. "É durante a gestação que ocorre um boom do GH. E é também após esse período que ocorre uma alta na prevalência de casos de depressão – a depressão pós-parto. É claro que existem pressões sociais, econômicas e outras relacionadas a esses tipos de transtornos. No entanto, não podemos esquecer que são períodos de um boom hormonal que podem desregular o funcionamento do cérebro, acarretando esses transtornos”, diz.
O artigo Growth Hormone Action in Somatostatin Neurons Regulates Anxiety and Fear Memory pode ser lido em: https://www.jneurosci.org/content/43/40/6816.
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- 12/12/2023 - Programa exclusivo de desenvolvimento de deep techs da USP com inscrições abertasSerão selecionadas 20 startups que utilizam descobertas científicas de ponta para solucionar grandes problemas da sociedade
Serão selecionadas 20 startups que utilizam descobertas científicas de ponta para solucionar grandes problemas da sociedade
Fonte: Agência FAPESPA Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de São Paulo, ambiente de empreendedorismo da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) sob gestão do Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), está com inscrições abertas até sábado (16/12) para um programa exclusivo de desenvolvimento de deep techs.Serão selecionadas 20 startups que utilizam descobertas científicas de ponta para solucionar grandes problemas da sociedade. Essas deep techs serão desenvolvidas no Programa DNA, metodologia proprietária ancorada nos 25 anos de expertise do ambiente de inovação da USP e do Ipen.As áreas prioritárias para participação abrangem Medicina & Saúde, Biotecnologia, Eletroeletrônicos, Química, Meio Ambiente e Tecnologia da Informação. A incubadora também está aberta a startups de outras áreas de conhecimento, desde que estejam envolvidas em atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para criação de novos produtos, processos e serviços.As startups selecionadas receberão um diagnóstico personalizado, com a avaliação do nível de maturidade do negócio e recomendações de especialistas para o desenvolvimento de pontos estratégicos. Por meio do Programa DNA, terão acesso a capacitações, mentoria, oportunidades de negócios e eventos exclusivos.Além disso, os empreendedores se conectarão a uma rede de parceiros que oferecem benefícios, incluindo Sebrae, Centro de Inovação do Hospital das Clínicas (InovaHC), Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), Anprotec e institutos da USP.As inscrições podem ser feitas por formulário on-line. Não é necessário possuir CNPJ constituído para se candidatar.As candidaturas serão avaliadas pela banca examinadora com base em critérios como grau de inovação, perfil empreendedor, potencial de mercado, risco tecnológico e impacto. O resultado do processo seletivo será divulgado em março de 2024.Mais informações: www.inscricoes.cietec.org.br/incubadora-sp/ -
- 12/12/2023 - Antonio Bisconsin Junior: “Comer insetos faz todo o sentido”, defende cientista de alimentosPesquisador desenvolve farinha proteica à base de grilos e defende que o país deveria produzir conhecimento e tecnologia na área
Pesquisador desenvolve farinha proteica à base de grilos e defende que o país deveria produzir conhecimento e tecnologia na área
Fonte: Revista FAPESP
Apesar de considerar que o brasileiro médio não incluirá tão cedo em sua rotina alimentar os chamados insetos comestíveis, o cientista de alimentos Antonio Bisconsin Junior, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (Ifro), defende que faz todo o sentido inseri-los na dieta – tanto pelo valor nutricional quanto pela ótica da sustentabilidade. "Insetos são uma alternativa para nosso sistema agroalimentar, que atualmente produz muito gás de efeito estufa e usa muita terra e recursos, com pouco retorno”, afirmou a Pesquisa FAPESP.
Em 2023, ele concluiu o doutorado no Programa de Ciência de Alimentos da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (FEA-Unicamp), feito sob orientação da professora Lilian Mariutti, que incluiu um período de seis meses no Instituto Leibniz para Tecnologia Agrícola e Bioeconomia, em Postdam, na Alemanha. Lá ele desenvolveu um concentrado proteico de grilo para consumo humano – um suplemento alimentar similar ao conhecido whey protein, a proteína do soro do leite. O concentrado também pode ser usado como ingrediente pela indústria de alimentos.
Uma das tecnologias empregadas por Bisconsin para criar a farinha, chamada de alta pressão hidrostática, foi a mesma utilizada por ele durante o mestrado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no campus de Araraquara, quando estudou a qualidade do suco de laranja produzido de maneira não convencional, por alta pressão. A investigação foi realizada com apoio da FAPESP.
Na entrevista a seguir, ele apresenta as principais conclusões de sua pesquisa sobre a aceitação do brasileiro em incorporar insetos à sua dieta e revela particularidades desse hábito alimentar, pouco difundido no país.
Por que comer insetos?
Estudos deixam claro que insetos são ricos em nutrientes, como proteínas, lipídios de boa qualidade e fibras insolúveis. Com esse perfil nutricional, aliado à questão da sustentabilidade, insetos fazem todo o sentido como opção alimentar. A criação tem um impacto ambiental bem menor do que a de animais de corte tradicionais.
Qual a vantagem de inseri-los na dieta?
A principal é o teor proteico deles. É uma proteína de alta qualidade, comparada à do gado bovino, suíno, dos ovos e do leite. E há o aspecto sustentável. São emitidos menos gases de efeito estufa, a criação demanda pouco espaço, eles consomem menos alimento e água. São diversas vantagens do ponto de vista produtivo.
Onde o consumo por humanos é mais comum?
Em vários países da Ásia e da África. Faz parte da cultura alimentar dessas populações. A Tailândia tem um turismo forte com esse foco e consome bastante grilo. Na República Democrática do Congo, tem muita larva de besouro e lagarta de mariposa. No México, os famosos chapulines – ou gafanhotos – são vendidos em feiras de rua. As pessoas comem como se fosse pipoca. Há também o consumo em países europeus, que historicamente não têm a cultura de se alimentar de insetos, mas já criaram legislações próprias. Snacks, hambúrgueres e almôndegas de inseto são vendidos em algumas redes de alimentos da Holanda, Alemanha, França e Dinamarca.
Que insetos se comem por lá?
Eles usam a larva do Tenebrio molitor, conhecido popularmente como besouro-de-farinha ou bicho-de-farinha, para fazer hambúrguer e almôndega, e o grilo-doméstico, que é o Acheta domesticus, para salgadinhos. Insetos comestíveis já entraram no sistema agroalimentar europeu, embora não seja ainda algo muito popular.
Você come insetos?
Sim, sempre que tenho oportunidade. A última vez foi há um mês, durante uma trilha aqui em Rondônia. Pessoas da região consomem a larva de besouro do coquinho-babaçu, cujo nome popular é gongo, rico em lipídios. O costume dos indígenas é fazer um refogado. Também dá para cozinhar na própria gordura que soltam no aquecimento, mas no meio do mato se come cru mesmo. E tem um segredo. Você segura a cabeça do gongo e morde o restante da larvinha, jogando a cabeça fora. Se puser o bichinho inteiro na boca, ele pode te morder. É adocicado e parece leite de coco condensado, com uma textura mais firme que a do leite de coco.
Insetos têm mais proteína do que as carnes normalmente consumidas por nós?
A quantidade de proteína encontrada nos insetos equivale à das carnes. Mas existe certa confusão quando são exibidos dados de análises. É muito comum as pessoas apresentarem o resultado em base seca, ou seja, desprezando a água natural do produto. Isso faz sentido quando se produz uma farinha do inseto, que tem cerca de 60% a 70% de proteína, mais do que o dobro de uma carne convencional. Mas, quando é o inseto inteiro, considerando a água contida nele, há uma proporção de proteínas e de lipídios semelhante à das outras carnes.
O consumo de insetos traz risco de alergias, como ocorre com os crustáceos?
Sim. Do ponto de vista biológico, insetos e crustáceos são classificados como artrópodes. As substâncias que os crustáceos e os insetos produzem – as proteínas que geram alergia – são muito semelhantes. Mas não há nenhum outro risco à saúde quando comparado aos outros alimentos. A Autoridade de Segurança Alimentar Europeia lançou um relatório há uns cinco anos com a análise de risco de consumo de insetos e não encontrou nenhum problema adicional. É bom ressaltar: estamos falando das espécies já caracterizadas como comestíveis – e não de espécies naturalmente venenosas, tipo uma lagarta urticante.
O Brasil tem potencial para produzir insetos comestíveis?
Sim, principalmente por causa da temperatura local, naturalmente alta. Poderíamos explorar os insetos mais aceitos na Europa e nos Estados Unidos ‒ já existentes no Brasil ‒ e exportá-los para esses mercados. Não gastaríamos tanta energia criando um ambiente artificial para manter uma temperatura alta e acelerar o ciclo de vida do inseto, como fazem indústrias de produção de insetos na Holanda. Elas gastam muita energia. Também temos outra frente possível: os chamados insetos regionais, que fazem parte de nossa cultura. O brasileiro não assume, mas há quem consuma insetos. Restaurantes em São Paulo, Minas e Bahia servem pratos com formigas, por exemplo.
Quais os principais resultados da pesquisa que fez sobre a aceitação de insetos comestíveis?
Entre 2018 e 2019, eu e um grupo de professores e pesquisadores voluntários de universidades federais e da Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] entrevistamos 780 pessoas no país. Os moradores das regiões Norte e Centro-Oeste mostraram maior aceitação e familiaridade com o assunto. A cultura que molda a sociedade nessas regiões é influenciada pela dos povos originários, que consomem e consumiam insetos, dependendo do grupo indígena que estamos falando. Já no Sudeste, Sul e Nordeste, onde a população se distanciou dessa cultura originária, houve maior rejeição e desconhecimento sobre o tema.
Há alguma produção no Brasil?
A maioria dos membros da Associação Brasileira dos Criadores de Insetos Alimentícios [Asbracia] cria insetos para alimentação animal. Mas existe uma corrente que defende o uso de insetos para a nutrição humana. Há também uma rede de pessoas que produzem, cozinham em casa e vendem, apesar de não existir legislação. É algo informal.
De onde veio seu interesso por estudar esses insetos?
Já acompanhava o assunto na graduação [em ciência de alimentos, na Universidade de São Paulo], mas em 2013 a FAO [Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura] publicou um amplo relatório sobre o uso de insetos na alimentação humana, trazendo vários exemplos no mundo, ideias de criação e produção, composição nutricional. O documento, revolucionário para a área de alimentos, me motivou a acreditar nessa ideia.
A proteína de grilo que você desenvolveu no doutorado é para ser usada no lugar do whey protein?
Sim, mas não apenas como suplemento alimentar como o whey protein. Meu objetivo inicial era criar um concentrado, a partir do grilo-preto ou grilo-da-jamaica [Gryllus assimilis], que pudesse ser um ingrediente para a indústria alimentícia. Usamos proteína para fazer sorvete, enriquecer um produto, para dar textura, fazer uma emulsão. As empresas, infelizmente, ainda não abraçaram a ideia. O grilo é endêmico no Brasil e nas regiões mais quentes do mundo, no sul global.
Sua pesquisa mostrou que, no geral, o brasileiro acha nojento comer insetos. Existe uma escala de repulsa?
Sim. Nesse ranking, a barata fica em último lugar – é a mais repulsiva. Outro grupo de insetos mencionado de forma negativa foram as larvas. Larva de besouro ou mesmo lagarta-de-mariposa. Ficaram em penúltimo. Depois vieram as formigas, com uma conotação levemente positiva. Grilos e gafanhotos tiveram a maior aceitação entre os entrevistados.
Algum dia os insetos farão parte da nossa cultura alimentar?
Difícil responder. O ponto fundamental é que não há hoje normas regulamentadas pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] nem pelo Mapa [Ministério da Agricultura e Pecuária] sobre criação, processamento e comercialização de insetos para consumo humano. Além disso, são necessárias mudanças na visão do brasileiro e tempo para as pessoas aceitarem a ideia. Já a questão econômica poderia, sim, levar ao consumo, desde que os insetos se tornem mais acessíveis. A divulgação de receitas e de onde encontrar esses insetos também poderia ajudar a popularizar o consumo.
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- 12/12/2023 - FAPESP participa de chamadas da Comissão EuropeiaPesquisadores de São Paulo podem submeter propostas para colaborarem como colíderes de projetos selecionados e apoiados pelo Horizon Europe
Pesquisadores de São Paulo podem submeter propostas para colaborarem como colíderes de projetos selecionados e apoiados pelo Horizon Europe
A FAPESP abre nova oportunidade para que pesquisadores paulistas pleiteiem a participação como copesquisadores responsáveis (Co-PI, do inglês Co-Principal Investigators) em propostas elaboradas em resposta a chamadas do Horizon Europe, a iniciativa de pesquisa científica da Comissão Europeia.
As chamadas de propostas do Horizon Europe podem ser encontradas em: https://ec.europa.eu/info/funding-tenders/opportunities/portal/screen/opportunities/funding-updates.
Cientistas vinculados a instituições de pesquisa e ensino superior do estado de São Paulo poderão enviar propostas a qualquer momento, por meio do SAGe. A chamada, entretanto, exige que os proponentes realizem junto à FAPESP uma consulta de elegibilidade, exclusivamente pelo e-mail da chamada (chamada-horizoneurope@fapesp.br).
Para esta chamada, candidatos poderão submeter à FAPESP propostas de acordo com regras e condições de três modalidades de apoio FAPESP – Auxílio à Pesquisa Regular, Projeto Temático ou Jovem Pesquisador. Propostas serão aceitas somente se deixarem claro que o Co-PI em São Paulo tem uma participação relevante no projeto de pesquisa completo submetido ao Horizon Europe e liderará uma parte relevante do esforço de pesquisa; ou seja, sendo líder de pacotes de trabalho e/ou tarefas, ou cuja participação é fundamental para a realização de atividades específicas descritas na proposta do Horizon Europe.
Também é fundamental que a proposta demonstre que o objetivo final da colaboração é contribuir para o desenvolvimento científico e tecnológico do estado de São Paulo.
Para avaliar a proposta submetida, a FAPESP seguirá os procedimentos padrão para análise e seleção de propostas de pesquisa de acordo com as normas da modalidade escolhida. A proposta, no entanto, será financiada pela FAPESP somente se também for aprovada pelo Horizon Europe.
A chamada com diretrizes para pesquisadores paulistas está disponível em https://fapesp.br/16466.
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- 06/12/2023 - USP/Ipen seleciona 20 deep techs para programa de desenvolvimentoPor meio do programa, as deep techs receberão diagnósticos sobre o negócio, além de acesso à capacitações, mentoria e outras vantagens
Por meio do programa, as deep techs receberão diagnósticos sobre o negócio, além de acesso à capacitações, mentoria e outras vantagens
Fonte: Olhar Digital
Por Estella Abreu, editado por Bruno Ignacio de Lima
A Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de São Paulo, ambiente de empreendedorismo da USP e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), está com inscrições abertas para um programa de desenvolvimento de deep techs.
As deep techs serão desenvolvidas no Programa DNA, metodologia proprietária ancorada nos 25 anos de expertise do ambiente de inovação da USP e do Ipen.
Os interessados podem fazer a inscrição até o dia 16 de dezembro.
A princípio, serão selecionadas 20 startups que utilizam descobertas científicas de ponta para solucionar grandes problemas da sociedade.
Áreas prioritárias
As áreas prioritárias para participação incluem:
- Medicina e Saúde;
- Biotecnologia;
- Eletroeletrônicos;
- Química;
- Meio Ambiente;
- Tecnologia da Informação.
No entanto, a incubadora também está aberta a startups de outras áreas de conhecimento, caso estejam envolvidas em atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para criação de novos produtos, processos e serviços.
Benefícios oferecidos
Sendo assim, as startups selecionadas receberão um diagnóstico personalizado, avaliando o nível de maturidade do negócio, além de recomendações de especialistas para o desenvolvimento de pontos estratégicos.
Os interessados podem fazer a inscrição até o dia 16 de dezembro.
No entanto, a incubadora também está aberta a startups de outras áreas de conhecimento, caso estejam envolvidas em atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para criação de novos produtos, processos e serviços.
Por outro lado, por meio do Programa DNA, os integrantes terão acesso a capacitações, mentoria, oportunidades de negócios e eventos exclusivos.
Além disso, os empreendedores se conectarão a uma rede de parceiros que oferecem benefícios, incluindo:
- Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae);
- InovaHC;
- Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi);
- Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec);
- Institutos da USP.
Metodologia
O programa DNA oferece trilhas formativas híbridas, combinando experiências on-line e presenciais.
Os empreendedores participarão de uma metodologia única dividida em três ciclos:
- Descoberta;
- Negócios;
- Acel
Nesse sentido, as metodologias permitem que os empreendedores recebam suporte adequado conforme a maturidade de seus negócios e tecnologias.
Como se inscrever
Não é necessário possuir CNPJ constituído para se candidatar. O processo é simples: basta preencher o formulário disponível neste link.
As candidaturas serão avaliadas pela Banca Examinadora com base em critérios como grau de inovação, perfil empreendedor, potencial de mercado, risco tecnológico e impacto.
Por fim, o resultado do processo seletivo será divulgado em março de 2024 e o início da jornada começa em abril de 2024.
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- 30/11/2023 - IPEN-CNEN interrompe produção do radiofármaco MIBG para manutenção de equipamento: situação será normalizada na semana de 11/12Fonte: Blog Tania Malheiros
O Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), paralisou a produção do radiofármaco MIBG (agente bloqueador de neurônios adrenérgicos), por conta da complexa manutenção de um equipamento que envolve o processamento de materiais radioativos que exigem normas específicas de proteção radiológica. Em nota, o IPEN informou que a interrupção da produção do MIBG (Metaiodobenzilguanidina), a partir da semana de 10 de outubro, foi comunicado às clínicas. Segundo o Instituto, a produção será normalizada a partir da semana de 11 de dezembro.O último lote produzido, de número 340, foi distribuído na semana de 3 de outubro. Segundo o IPEN, clientes poderão colocar pedidos na próxima semana.
"Compreendemos e nos solidarizamos à angústia das famílias, reafirmando nosso compromisso com a população brasileira. Durante o período mais crítico da pandemia, nossos servidores não interromperam uma única vez a produção, mesmo correndo riscos e dependendo da logística de voos internacionais”, divulgou o IPEN. O MIBG é análogo de aralquilguanidina do neurotransmissor adrenérgico norepinefrina, normalmente usada como radiofármaco. Atua como agente bloqueador dos neurônios adrenérgicos.
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- 28/11/2023 - Aprovados acordos sobre pesquisa nuclear; Brasil será associado do CERNFonte: Agência Senado
Os senadores aprovaram dois acordos internacionais referentes à pesquisa nuclear. O relator de ambos os projetos foi o senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP). Os projetos de decreto legislativo seguem para promulgação.
— Essa matéria tem uma importância muito grande para a nossa ciência no Brasil, para a tecnologia e para a indústria brasileira. É um grupo de países que pertence a essa organização, são pesquisas ligadas à física de partículas e ao desenvolvimento de novos materiais e muitas das coisas que nós usamos em nosso dia a dia. Essa participação garante ao Brasil a possibilidade de enviar alunos de pós-graduação, pesquisadores, e também trazer pesquisadores ao Brasil — disse Marcos Pontes.
O PDL 168/2023 confirma o Protocolo sobre Privilégios e Imunidades da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN). O protocolo acompanha o Acordo de Concessão do Status de Membro Associado do CERN, também aprovado (PDL 169/2023).
O CERN é um laboratório de pesquisas em física com instalações na Suíça e na França. Tem o maior acelerador de partículas do mundo.
Com o acordo, o Brasil passa a ser o décimo primeiro membro associado do CERN. Hoje a organização conta com 23 estados membros, dez associados e seis observadores. O acordo permitirá o acesso a instalações de pesquisa de ponta, o treinamento de profissionais e a inclusão de empresas brasileiras na lista de possíveis fornecedoras do CERN. O Brasil se compromete a contribuir anualmente com o equivalente a 10% da contribuição de um estado membro, o que significa valor estimado em US$ 13 milhões, equivalentes hoje a aproximadamente R$ 65 milhões.
"Espera-se que pesquisadores e empresas nacionais tomem parte no desenvolvimento de tecnologias voltadas para a indústria aeroespacial, isótopos de saúde e a chamada indústria 4.0 (que envolve inteligência artificial, robótica, internet). Deverá haver um cenário propício à geração de empregos”, avalia o relator.
Segundo o protocolo, documentos, prédios e terrenos do CERN são invioláveis. Suas atividades oficiais, bem como a importação e a exportação de produtos e serviços a ela relacionados são isentas de impostos. O texto também garante a livre disposição de fundos e a imunidade de prisão, detenção e de apreensão de bens para seus representantes. Além disso, seus representantes e funcionários têm reconhecida a liberdade de jurisdição, isto é, estão isentas da jurisdição das leis brasileiras, exceto com relação a infrações de trânsito e por danos causados no trânsito.
Para Marcos Pontes, a aprovação do protocolo é necessária em função das vantagens de integrar o CERN, como acesso a infraestruturas de pesquisas de ponta e capacitação de profissionais.
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- 28/11/2023 - Alunos dos cursos de Tecnologia em Radiologia e Tecnologia em Sistemas Biomédicos visitam Instituto de Pesquisa Energéticas e NuclearesA visita monitorada ocorreu em 28 de novembro e propiciou aos alunos o acesso às atividades multidisciplinaridade do setor nuclear do país
A visita monitorada ocorreu em 28 de novembro e propiciou aos alunos o acesso às atividades multidisciplinaridade do setor nuclear do país
Fonte: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
Os alunos dos cursos de Tecnologia em Radiologia e Tecnologia em Sistemas Biomédicos da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) visitaram, em 28 de novembro, o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), estabelecido dentro da Universidade de São Paulo (USP).
Os alunos foram acompanhados pelos docentes dos cursos tecnológicos, o Prof. Sergio Bittencourt e o Prof. Rodrigo Oliveira. A visita faz parte do programa de atividades práticas dos cursos, onde os alunos têm a oportunidade de conhecer o reator nuclear e o setor de radiofarmácia de institutos e empresas parceiras.
De acordo com os professores, a visitação monitorada propicia aos alunos o acesso às atividades multidisciplinaridade do setor nuclear do país, como as áreas da Física Nuclear, Radioquímica, Biotecnologia e Materiais Avançados.
Durante a visita, os alunos puderam conhecer o IEA-R1 no Centro do Reator de Pesquisa. O equipamento é um reator do tipo piscina, moderado e refrigerado à água leve, capacitado a atender experimentos de física nuclear, física de estado sólido, além de realizar pesquisas em terapia de câncer.
Atualmente, o reator atua na produção de radioisótopos para uso em Medicina Nuclear; na produção de fontes radioativas para gamagrafia industrial, ou seja na no ensaio que permite avaliar diversos tipos de defeitos tanto em estruturas como em soldas; na produção de radioisótopos para processos industriais; e na irradiação de amostras para a realização de análises multielementares.
Os alunos também visitaram o Centro de Radiofarmácia, pioneiro na produção de radioisótopos e radiofármacos no Brasil. De acordo com o professor Rodrigo Oliveira, o Instituto possui o Acelerador Cíclotron, e, por meio do programa de nacionalização e desenvolvimento de novos produtos, tem produzido e distribuído em todo o território nacional diversos produtos radioativos para diagnóstico e tratamentos. Além disso, o equipamento produz radioisótopos primários, moléculas marcadas e reagentes liofilizados, todos com qualidade controlada para administração em seres humanos na forma de fármacos injetáveis, destinados ao diagnóstico e terapia de inúmeras patologias.
A visita foi acompanhada pela Sra. Katia Reiko Itioka e o Sr. Sérgio Tavares, ambos da Comunicação Institucional do IPEN; do Sr. Marcos Rodrigues de Carvalho, pesquisador nas instalações do Reator IEA-R1; e da Sra. Regina Celia Carneiro, gerente de produção no Centro de Radiofarmácia.
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- 22/11/2023 - Grupo pretende mapear o potencial de produção de hidrogênio no setor sucroalcooleiroEstudos visam um futuro combustível sustentável para a aviação elaborado com biomassa e etanol de cana-de-açúcar
Estudos visam um futuro combustível sustentável para a aviação elaborado com biomassa e etanol de cana-de-açúcar
Fonte: Agência FAPESP
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) pretendem estimar o potencial que o setor sucroalcooleiro apresenta para a produção de hidrogênio (H2) no país. Para isso, vão analisar dados de todas as usinas de etanol no Brasil – há 358 de cana-de-açúcar e 21 de milho, segundo números atualizados em dezembro de 2022 – e calcular a quantidade de H2que poderiam produzir visando um futuro combustível sustentável para a aviação. A ideia é extrair o hidrogênio da biomassa que sobra da produção e do próprio etanol da cana-de-açúcar.
O trabalho envolve cientistas do Grupo de Pesquisa em Bioenergia (GBio) do Instituto de Energia e Ambiente (IEE-USP) e do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído por FAPESP e Shell na Escola Politécnica (Poli-USP).
"O hidrogênio tem aparecido cada vez mais como vetor energético importante para a descarbonização de diferentes setores, incluindo o da aviação. O mais divulgado atualmente é o hidrogênio produzido a partir da eletrólise da água usando energia solar ou eólica, mas há também as rotas desenvolvidas a partir da biomassa, que são bastante competitivas”, afirma a engenharia química Suani Teixeira Coelho, professora do Programa de Pós-Graduação em Energia da USP e coordenadora do projeto, ao lado de Marcos Buckeridge, professor do Instituto de Biociências da USP e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) do Bioetanol.
Entre os vários possíveis usos do hidrogênio estão a produção de fertilizantes, de combustível para ônibus e automóveis e combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês), explica a professora.
Um estudo liderado pela organização não governamental Roundtable on Sustainable Biomaterials (RSB), com sede na Suíça, em colaboração com a ONG brasileira Agroicone, informa que, da produção global de 390 bilhões de litros de querosene para aviação, apenas 14 milhões de litros são SAF. A substituição dos combustíveis fósseis por outros produzidos de forma sustentável e com baixo teor de carbono seria a forma mais eficiente para atingir o objetivo da indústria de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 50% até 2050.
"Vamos analisar as usinas que temos no Brasil – o quanto produzem de cana-de-açúcar, de etanol e o potencial que pode ser produzido de biogás a partir dos subprodutos do processo. A partir desses dados, vamos estimar a quantidade de hidrogênio que poderíamos produzir a partir de diferentes rotas: fazendo a reforma [quebrando as moléculas] do etanol e do biogás, além da eletrólise da água utilizando a eletricidade excedente local”, afirma Coelho. "Estamos começando agora e essa primeira etapa deve durar aproximadamente um ano. Se conseguirmos financiamento adicional, mapearemos outras fontes de biomassa também.”
O estudo tem apoio do programa USPSusten e do INCT do Bioetanol, cujas pesquisas são financiadas prioritariamente pela FAPESP e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Diferentes cenários
O estudo trabalhará com diferentes cenários, abrangendo a demanda por etanol pelo transporte rodoviário e incluindo na análise o etanol de segunda geração (2G), considerado ainda mais sustentável que o de primeira geração por ser produzido a partir do bagaço de cana.
"Sempre que se usa um resíduo de biomassa, como o bagaço da cana, para gerar energia, se tem um sistema mais sustentável”, salienta Suani Coelho. "Primeiro, porque se dá um destino adequado a esse resíduo. E, segundo, porque não há necessidade de expansão da área de plantio. É um conceito que se enquadra no que chamamos de bioeconomia circular.”
Por enquanto, no país, há apenas uma planta de etanol 2G, situada no Bioparque Costa Pinto, em Piracicaba, no interior paulista, da empresa de energia Raízen. Outras duas usinas em São Paulo produzem biogás a partir de vinhaça e torta de filtro, resíduos da operação agroindustrial da cana-de-açúcar. "Hoje esses dois projetos – da usina Bonfim e da Cocal – usam biogás para produzir energia elétrica em motor elétrico ou para transformá-lo em biometano e usá-lo como combustível de automóveis e ônibus. Mas também podemos fazer a reforma do biogás para produzir hidrogênio”, diz a coordenadora do projeto.
"Então vamos fazer cenários. Vamos supor, por exemplo, que todas as usinas estejam interessadas em produzir biogás e depois que façam a conversão dele para hidrogênio”, destaca a professora.
Para o estudo, os pesquisadores usarão um banco de dados montado durante outro projeto do RCGI, que analisou o potencial de captura de carbono nas usinas, e informações disponíveis na publicação NovaCana.
A tecnologia de transformar hidrogênio em combustível de aviação existe por enquanto apenas em nível de laboratório e os pesquisadores acompanham de perto os avanços, por considerar significativa a perspectiva do uso de hidrogênio direto ou como precursor de outros combustíveis sustentáveis de aviação.
"Já fizemos outros mapeamentos, de potencial de biogás, de biometano, de eletricidade, mas esse de produção de hidrogênio, de forma ampla e para todas as usinas do país, é o primeiro”, afirma Coelho.
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- 20/11/2023 - Academia Brasileira de Ciências Radiológicas é inaugurada e conta com participação de professores do curso de RadiologiaColegiado é inaugurada pela ABTER em cerimônia em Brasília e tem professores da UFMG em seu corpo de integrantes
Colegiado é inaugurada pela ABTER em cerimônia em Brasília e tem professores da UFMG em seu corpo de integrantes
Fonte: Faculdade de Medicina UFMG
A Associação Brasileira de Tecnólogos em Radiologia (ABTER) apresentou no último sábado (18) os primeiros membros da Academia Brasileira de Ciências Radiológicas (ABCR), instituição dedicada à promoção da ciência e dos profissionais do campo da radiologia, tendo um professor do curso de Radiologia da UFMG como membro fundador e três professoras como membros titulares.
Em sua primeira formação, a Academia tem como presidente o professor Rodrigo Gadelha, do Departamento de Anatomia e Imagem (IMA), além das professoras Adriana de Souza Medeiros Batista, Críssia Carem Fontainha Paiva e Luciana Batista Nogueira, também do IMA da Faculdade de Medicina da UFMG.
A ABCR contará com 47 cadeiras ocupadas por Tecnólogos em Radiologia representando renomados cientistas na área de Ciências Radiológicas. "A Academia, nesse primeiro momento, será uma solenidade honorífica para os profissionais. Por estar subordinada a ABTER, será um braço importante na divulgação das atividades de construção da educação continuada, atividade fim da associação”, afirma o professor Rodrigo Gadelha, primeiro presidente da organização.
"O desejo é conservar, no meio da federação político-científica, a unidade acadêmica das ciências radiológicas. Tal obra exige, não só a compreensão pública, mas ainda e principalmente a constância e progresso”, declarou o professor Rodrigo Gadelha em seu discurso de posse na cerimônia de inauguração da Academia Brasileira de Ciências Radiológicas.
A Academia será constituída por representantes de todo o Brasil, reunindo renomados pesquisadores e profissionais. Segundo Gadelha, "a Academia é composta principalmente por mestres e doutores com currículos de alta expressão, dotados de excepcional experiência profissional com relevância regional ou nacional, e autores de materiais acadêmico-científicos de notório reconhecimento da classe”, aponta.
A Comissão responsável pela escolha dos imortais desenvolveu um minucioso levantamento de Tecnólogos em Radiologia com o perfil indicado, além de rigorosa análise de currículos, com critério de seleção exclusivamente técnico. A análise considerou, além da qualidade e distinção profissional, títulos e premiações, o grau de idoneidade moral do postulante, inclusive os serviços de relevância prestados à radiologia brasileira.
Para o professor Rodrigo Gadelha, primeiro presidente da ABCR, "a ideia para a criação da Academia é reconhecer os profissionais, dar visibilidade para o campo e promover a formação contínua dos técnicos em radiologia”, explica.
Para a professora Críssia Paiva é preciso mostrar que o conhecimento está vivo e é necessário. "É importante valorizar a ciência. Estamos em um momento em que o conhecimento não está sendo reconhecido como uma ferramenta importante para o avanço da humanidade. Queremos valorizar profissionais que se dedicam para as ciências radiológicas, trazendo essa visibilidade para a categoria”, indica a professora.
Luciana Nogueira também destaca a valorização profissional e a mobilização da classe. "Nós temos feito muito e tem muita coisa para se fazer.” A professora do IMA destaca que os professores da UFMG foram uma importante liderança para as conquistas dos estudantes e a qualificação profissional da área, propondo cursos e atividades de formação práticas e complementares.
Para a professora Adriana Batista, a Academia Brasileira de Ciências Radiológicas promove boas referências para os jovens profissionais. Segundo ela, a ABCR "é um exemplo. Quando nos formamos em determinada área, saber que tem ali certa quantidade de pessoas que ilustram aquilo que queremos almejar na profissão é um estímulo.”
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- 17/11/2023 - Incubadora de São Paulo anuncia 2ª edição de programa exclusivo para impulsionar 'deep techs'Fonte: Cietec
A Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de São Paulo - ambiente de empreendedorismo da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Pesquisa Energéticas e Nucleares (IPEN) sob gestão do CIETEC - está com inscrições abertas para um programa exclusivo de desenvolvimento de deep techs. Esta é uma oportunidade única, que selecionará 20 startups que utilizam descobertas científicas de ponta para solucionar grandes problemas da sociedade. Essas deep techs serão desenvolvidas no Programa DNA, metodologia proprietária ancorada nos 25 anos de expertise do ambiente de inovação da USP e do IPEN. As inscrições estarão abertas até o dia 16 de dezembro, no link: www.inscricoes.cietec.org.br/incubadora-sp.
As áreas prioritárias para participação abrangem Medicina & Saúde, Biotecnologia, Eletroeletrônicos, Química, Meio Ambiente e Tecnologia da Informação. No entanto, a incubadora também está aberta a startups de outras áreas de conhecimento, desde que estejam envolvidas em atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para criação de novos produtos, processos e serviços.
Atualmente, a Incubadora de São Paulo já abriga 84 startups, sendo a maioria delas (mais de 70%) relacionadas às áreas de Ciências da Vida e Tecnologias Verdes. Ao longo de 25 anos, mais de mil startups já passaram pelo programa de incubação da USP/IPEN.
Benefícios oferecidos: diagnóstico, networking e acesso a mercados
As startups selecionadas receberão um diagnóstico personalizado, avaliando o nível de maturidade do negócio, além de recomendações de especialistas para o desenvolvimento de pontos estratégicos. Por meio do Programa DNA, terão acesso a capacitações, mentoria, oportunidades de negócios e eventos exclusivos.
Além disso, os empreendedores se conectarão a uma rede de parceiros que oferecem benefícios, incluindo Sebrae, InovaHC, INPI, Anprotec e institutos da USP.
Trilhas formativas e metodologia exclusiva
O programa DNA oferece trilhas formativas híbridas, combinando experiências online e presenciais. Os empreendedores participarão de uma metodologia única dividida em três ciclos: Descoberta, Negócios e Aceleração. Isso permite que os empreendedores recebam suporte adequado de acordo com a maturidade de seus negócios e tecnologias.
"O formato foi pensado com o objetivo de entregar um valor específico para diferentes momentos da jornada empreendedora, considerando tanto a maturidade do negócio como da tecnologia”, pontua Felipe Maruyama, diretor de Operações do Cietec, entidade gestora do ambiente.
Candidatura Simplificada
É importante observar que não é necessário possuir CNPJ constituído para se candidatar. O processo é simples: basta preencher o formulário disponível neste link: www.inscricoes.cietec.org.br/incubadora-sp.
As candidaturas serão avaliadas pela Banca Examinadora com base em critérios como grau de inovação, perfil empreendedor, potencial de mercado, risco tecnológico e impacto. O resultado do processo seletivo será divulgado em março de 2024.
Programa DNA - Incubadora de São Paulo
Inscrições: De 6 de novembro a 16 de dezembro
Como se inscrever: www.inscricoes.cietec.org.br/incubadora-sp
Vagas Disponíveis: 20
Divulgação dos Resultados: 19 de março de 2024
Início da Jornada: 9 de abril de 2024
Áreas Prioritárias: Medicina & Saúde, Biotecnologia, Eletroeletrônicos, Química, Meio Ambiente e Tecnologia da Informação
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- 16/11/2023 - A economia do hidrogênio e a tecnologia nuclear; protagonismo do IPEN/CNEN, por Marcelo Linardi (II parte)Fonte: Blog Tania MalheirosNa primeira parte de meu artigo mencionei as considerações sobre as possibilidades de utilização da energia do hidrogênio como base energética tem se intensificado. Discussão acelerada por acontecimentos como a invasão da Ucrânia pela Rússia, colocando entraves ao comércio de gás natural na Europa e, não menos importante, a aceleração das mudanças climáticas, refletida em eventos do clima extremos por todo o planeta, causando muita destruição, mortes e prejuízos incalculáveis à humanidade. Nesta segunda parte, o foco é mais a questão nuclear no Brasil, suas utilizações em usinas nucleares, por exemplo, e a importância do protagonismo do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, da Comissão Nacional de Energia Nuclear (IPEN-CNEN). Como todo período de transição tecnológica, dúvidas e afirmações superficiais surgem costumeiramente. E no uso da tecnologia do hidrogênio e a tecnologia nuclear, não seria diferente. Entretanto, temos que considerar fatores importantes, que podem influenciar, significativa e positivamente, a evolução tecnológica em questão, como ocorreu em outras épocas com outras tecnologias. Nada é estanque e afirmações precipitadas só servem para confundir e mascarar a realidade.
Fato é que as mudanças no clima planetário têm causa antropogênica, comprovada pela ciência, e as ação para mitigar as emissões de gases de efeito estufa precisam entrar em planejamentos energéticos nacionais de uma maneira mais efetiva em relação aos últimos anos. Algumas afirmações prematuras ou precipitadas são discutidas a seguir, sem, entretanto, esgotar o assunto.
O hidrogênio é muito perigoso? Ora, esse medo ocorreu com os derivados do petróleo há 100 anos. A ciência e a tecnologia aprenderam a manuseá-los de maneira segura ao longo do tempo. A mesma curva de aprendizado se espera para o manuseio e armazenamento seguros do hidrogênio. Já existem várias empresas que oferecem produtos seguros nesta questão. Há um experimento interessante, onde dois carros são jogados em alta velocidade contra uma parede, cujo respectivo vídeo está disponível na internet. O carro a gasolina explode, causando mais danos que os causados no carro a hidrogênio/célula a combustível, que não chega a explodir, mas sim queimar num jato de chama.
A mineração para as baterias e as células a combustível são sujas e a demanda de metais é insana? É possível também processar uma mineração e uma metalurgia verdes, com técnicas ambientalmente limpas. Além disso, a evolução tecnológica pode reduzir quantidades de metais nobres, utilizando nanotecnologia, por exemplo, ou ainda ativando processos eletroquímicos termicamente, reduzindo, ou mesmo eliminando a necessidade de metais nobres.
A tecnologia é ainda muito cara? Sim, é verdade. Ainda! Assim como ocorreu com a indústria automotiva, a taxa de redução de custos vai ser acelerada com a produção em massa e o aumento do mercado específico (verde), seguindo, inclusive, determinações legais em certos países ou regiões. Temos exemplos na Europa, que, aliás, vai limitar, num futuro próximo, o licenciamento de automóveis poluentes.
Não adianta nada fazer algo aqui, pois o processo é global e outras nações não colaboram? Se pensarmos assim, o fim do mundo está já anunciado. Temos que fazer nossa parte, repetimos, em que pese nossa matriz elétrica bastante renovável, bem acima da média mundial. As ações governamentais, como já mencionado, podem acelerar esta questão.
Todo o processo é ineficiente? Em alguns casos sim, é verdade, sob o ponto de vista termodinâmico, mas a eficiência do carro a combustão interna a gasolina, do poço à roda, é de menos de 15%. E isso tudo para transportar o próprio veículo, sendo os passageiros uma ínfima fração deste. O fato é que outra variável entra em ação, o caráter ambiental, deixando a eficiência energética em segundo plano. Importante salientar, também, que as tecnologias de hidrogênio vão conviver, por um bom tempo, com as tradicionais. Essa transição pode ser saudável para a economia, embora não o seja para as mudanças climáticas. Só o tempo dirá em que taxa de crescimento a transição ocorrerá, pois são muitas as variáveis envolvidas. Certo é que já está ocorrendo!
Neste momento, temos que pontuar as possíveis contribuições da tecnologia nuclear para a chamada Economia do Hidrogênio que podem ser divididas em três grandes eixos de atuação. O primeiro trata da produção térmica do hidrogênio; o segundo diz respeito à aplicação de técnicas nucleares tanto para a caracterização de materiais na área como para produção de novos materiais (ou propriedades de materiais) via radiação e o terceiro relaciona-se com a possiblidade de aproveitamento do hidrogênio produzido nas instalações de produção de cloro nas usinas nucleares. O cloro é utilizado na purificação biológica da água de refrigeração dos reatores tipo PWR (Pressurized Water Reactor), principalmente.
Considerando a produção de hidrogênio a altas temperaturas, a fonte térmica nuclear é estável, limpa e possui grande capacidade produtiva. A combinação dessa fonte de calor com a produção térmica de hidrogênio é hoje em dia uma base real de estudo e pesquisa em todo o mundo. Os reatores nucleares do tipo HTGR (High Temperature Gas-cooled Reactor), que utilizam o gás hélio como refrigerante, são uma excelente opção para este fim. A temperatura máxima do combustível pode atingir cerca de 1260ºC e a temperatura do gás de saída para o sistema de transferência de calor é da ordem de 785ºC.
Com o aquecimento do sistema de eletrólise por meio de um reator nuclear HTGR, com eletrólise a 850ºC, pode-se atingir até 50% (rendimento total de energia consumida em relação à energia gerada para produção de hidrogênio). Esse nível de rendimento é superior ao da eletrólise a frio, na ordem de 27% para eletrólise alcalina. Este fato mostra o ganho de produção de hidrogênio que o aquecimento induz no processo de eletrólise a quente, utilizando-se uma energia menos nobre (térmica) que a elétrica, que pode vir de reatores nucleares.
Segundo estudos já existentes, pode-se propor, a partir de construções específicas para uma planta industrial, com base em aquecimento nuclear, um sistema HTGR associado ao processo de eletrólise a quente, para produção de hidrogênio de alta pureza, de forma eficiente e em grandes quantidades.
Vale lembrar que a energia térmica de reatores nucleares também pode ser útil em combinação com eletrolisadores do tipo SOEC (Solid oxide Electrolic Cell), derivadas da célula a combustível tipo SOFC (Solid Oxide Fuel Cell), com eficiências da ordem de 70%. Por fim, ainda existe a possibilidade de aproveitamento do hidrogênio produzido como subproduto da eletrólise da água do mar para produção de hipoclorito de sódio, do sistema de cloração da água de refrigeração das Centrais Nucleares, em geral.
Quanto às técnicas nucleares, lembro que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) realizou, em 2008, a primeira reunião em sua sede em Viena, Áustria, sobre o tema, entre outras, das quais participei, abrangendo os três eixos citados. Este encontro gerou um Relatório de distribuição restrita da IAEA, sob número 08CT03399.
Inúmeras técnicas nucleares ou que utilizam radiação, como espectroscopia de aniquilação de pósitrons (PAS-Positron Annihilation Spectroscopy), microscopia de varredura por tunelamento (STM-Scanning Tunnelling Microscopy), microscopia eletrônica (SEM e TEM) e ferramentas de Testes Não-Destrutivos, têm papel importante na caracterização de materiais atualmente, que vão desde o nível atômico até a escala macroscópica.
Algumas das melhores técnicas podem ser fornecidas por aceleradores. Consequentemente, essas técnicas analíticas têm um grande impacto nos estudos de materiais nanoestruturados, metais leves e ligas, e materiais eletrônicos, entre outros. Uma importante ferramenta para caracterizar as propriedades e desempenho dos materiais é a Análise por Feixe de Íons (IBA).
Outra é a radiação síncrotron que, assim como os feixes de nêutrons, íons e elétrons, pode ser usada para a caracterização de materiais em tempo real. Com esta tecnologia, podem ser enfrentados vários desafios tecnológicos e de investigação específicos da utilização de determinados materiais em aplicações relacionadas com a energia.
Uma outra aplicação importante para a área do hidrogênio é a utilização de neutrografia para o estudo da distribuição de água em células a combustível de baixa temperatura de operação, aproveitando o fato de que nêutrons "enxergam” moléculas de água, diferentemente de raios-X. Estes dados são muito importantes, pois o afogamento de canais das células são um problema grave de perda de eficiência.
Além disso, pode-se aproveitar o resultado da radiólise de soluções aquosas para produzir agentes fortemente redutores, como elétrons solvatados e átomos de hidrogênio, para a produção de nanoestruturas metálicas, estabilizadas por outros agentes, via redução eletroquímica de metais de interesse em eletrocatálise para células a combustível.
Nesta área, o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) da Comissão nacional de Energia Nuclear (CNEN) produziu algumas patentes e publicações científicas, utilizando radiações gama, beta e também feixe de nêutrons e de elétrons, para a produção de catalisadores nanoestruturados e membranas trocadoras de íons, para aplicações em células de baixa temperatura de operação. Destaco mais adiante o papel de maior importância do IPEN, no campo da tecnologia do hidrogênio, que deve ser democratizado para conhecimento e reconhecimento de toda a sociedade.
Quanto ao aproveitamento do hidrogênio na produção de hipoclorito de sódio, cito como exemplo o caso brasileiro. Obviamente, este aproveitamento pode ser feito em qualquer instalação semelhante. As usinas nucleares Angra 1 e Angra 2, operadas pela Eletronuclear, utilizam a água do mar como fluido refrigerante no circuito terciário de refrigeração (condensadores). O hipoclorito de sódio é adicionado a este fluido refrigerante de forma a atuar como biocida para evitar o crescimento de bioincrustação (biofouling) nos equipamentos e tubulações desse circuito terciário. O hipoclorito de sódio é produzido continuamente, através de um sistema que realiza a eletrólise da água do mar. O subproduto da produção do hipoclorito de sódio pela eletrólise é o gás hidrogênio, o qual está sendo, atualmente, totalmente liberado para atmosfera.
Dois sistemas de eletrólise operam nas centrais nucleares: Angra1, com produção de uma quantidade de hidrogênio; e outro em Angra 2, com outra produção de hidrogênio. Somando os dois sistemas, Angra 1 e Angra 2, há um lançamento contínuo de hidrogênio para a atmosfera da ordem de 140Nm3/h. O que isto representa? Que essas quantidades não são desprezíveis. E mais: caso seja construída Angra 3, esse volume lançado para a atmosfera passa para 260 Nm3/h.
Uma célula a combustível do tipo PEM utiliza cerca de 0,66 Nm3/h de hidrogênio por kW elétrico produzido. Logo, a disponibilidade de hidrogênio produzido nas usinas permite obter uma potência de aproximadamente 210kW.
Portanto, uma possível aplicação dos sistemas de produção de energia distribuída seria a utilização da energia elétrica na vila residencial de Praia Brava, resultante do aproveitamento do hidrogênio, via células PEM. Neste caso, a energia elétrica gerada pelas células a combustível poderia complementar a rede local e poderia, ainda, gerar água quente, por exemplo, para hospedagem.
Vimos aqui que a chamada Economia do Hidrogênio não é um simples sonho. Pode ser realidade. As perguntas que devemos fazer são apenas: "Quando?”, "Em que penetração de mercado?” e "A que preço?”. Embora uma "Economia do Hidrogênio” madura pressuponha soluções técnicas e econômicas para a produção, armazenagem e utilização do hidrogênio, nada impede que soluções parciais para cada uma destas áreas possam ser implementadas separadamente e a seu tempo.
A demanda global de energia é crescente, enquanto a preocupação com o meio ambiente e mudanças climáticas se tornam imperativas. Esta combinação única de tendências cria inúmeras oportunidades para o hidrogênio entrar numa matriz energética nacional como um armazenador complementar de energia elétrica.
No Brasil, em particular, há necessidade de desenvolvimento de uma tecnologia nacional, segundo o nosso mercado específico, que possui características diferentes de outros países, como a utilização de outro vetor energético: o etanol. A opção brasileira pelo hidrogênio obtido do etanol deveu-se a vários fatores, que tornam esta escolha interessante. O etanol é um combustível líquido, de fácil armazenamento e transporte, já havendo no Brasil toda a infraestrutura para a sua produção, armazenamento e distribuição em todo o território nacional. Além disso, o etanol possui outras características muito importantes, como ser pouco tóxico e ser um biocombustível, portanto, renovável. É um insumo rico em hidrogênio.
A aplicação estacionária, ou seja, a geração distribuída de energia elétrica com células a combustível, representa um enorme potencial de crescimento e uma oportunidade ímpar à indústria nacional, mesmo com empresas estrangeiras concorrendo. Insere-se aí o fornecimento de energia elétrica a regiões isoladas do país, aumentando a qualidade de vida destas comunidades. Outro nicho de mercado promissor é a aplicação veicular, com os carros e caminhões elétricos híbridos, ou mesmo os "puros”, movidos a células a combustível/hidrogênio.
Toda mudança global vem acompanhada de oportunidades de sucesso e crescimento. Com o binômio células a combustível/hidrogênio não será diferente. Portanto, compete aos atores: governos, universidades, institutos de pesquisa e empresas a tomada de decisões estratégicas, no momento certo, para se destacarem a assumirem posições privilegiadas no futuro. Enfatizando, mais uma vez para finalizar, os obstáculos à introdução da chamada Economia do Hidrogênio não se configuram como dificuldades intransponíveis. O Brasil já possui o seu roteiro para a Economia do Hidrogênio e um programa nacional de pesquisa e desenvolvimento para esta tecnologia. Neste artigo, portanto, é preciso destacar o papel do IPEN/CNEN em todo o processo de pesquisas e da economia do hidrogênio que estamos tratando.
IPEN - Protagonismo
A criação do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), em 1956, está relacionada diretamente à área de energia. Esta área do conhecimento permeia vários Centros de Pesquisa do instituto até os dias de hoje. O Instituto vai além da bancada, pois tem vocação para projetos de pesquisa e desenvolvimento que levam a produtos, protótipos e/ou processos até escala piloto, favorecendo assim a Inovação Tecnológica, como demonstra seu passado, no desenvolvimento da tecnologia nuclear no país.
Os recursos orçamentários para custeio e investimento das atividades do IPEN são repassados pela CNEN. Além dos recursos advindos da CNEN, o IPEN capta recursos junto a Fundações de Apoio à Pesquisa, Agências de Fomento, nacionais e internacionais, e por intermédio de parcerias com empresas e outras instituições públicas.
A Instituição sente-se orgulhosa de ter contribuído, de maneira significativa, para o desenvolvimento da Economia do Hidrogênio no Brasil, com realizações cientificas e tecnológicas, no período de 1998 até a atualidade. Em consequência destas realizações, o IPEN/CNEN tornou-se referência nacional e internacional na área, como comprovam as parcerias institucionais e projetos de inovação tecnológica estabelecidas com empresas nacionais e estrangeiras como, por exemplo, Nissan e Shell.
Todas as atividades científicas e tecnológicas contaram com a valiosa contribuição dos alunos, em todos os níveis, desde a Iniciação Científica, até o Pós-doutoramento, inseridos no Programa de Pós-Graduação IPEN/USP. Nesta área, especificamente, oito cursos foram oferecidos na primeira década do século XXI, a saber: Introdução à Tecnologia de Células a Combustível; Tópicos em Eletrocatálise para Células a Combustível de Baixa Temperatura; Eletroquímica: Princípio e Aplicações; Engenharia Eletroquímica e Reatores Eletroquímicos; Tópicos Avançados em Células a Combustível: Materiais; Tópicos Avançados em Células a Combustível: Fenômenos de Transporte; Projeto e Análise Técnico-Econômica para Células a Combustível e Tecnologia do Hidrogênio para Aplicação em Células a Combustível. Um cálculo aproximado, revela um total de 330 alunos (80 doutorandos, 130 mestrandos, 100 alunos de Iniciação Científica), além de 20 pós-doutorados, que obtiveram formação relacionada à Economia do Hidrogênio no IPEN/CNEN na última década.
Como consequência desta atuação exitosa, o IPEN/CNEN tem aumentado, recentemente, e de maneira significativa, a qualidade de suas publicações em periódicos internacionais, além de apresentar uma média anual de 280 publicações em periódicos internacionais, 152 patentes depositadas, 25.000 itens no Repositório Digital e Índice-h de 90. A localização de uma Incubadora de empresas de caráter tecnológico no Campus do IPEN que, por sua vez, está dentro da USP, ambos na maior cidade industrial do Brasil, cria um ambiente profícuo em Ideias e Inovação Tecnológica, com características únicas.
Este quadro atual é fruto de 65 anos de trabalho sério e comprometido com a melhoria da qualidade de vida da população brasileira. Um futuro de sucesso do IPEN depende, fortemente, de ações políticas de continuidade.
Perfil
MARCELO LINARDI - Pesquisador Emérito do IPEN, no Centro de Células a Combustível e Hidrogênio; graduado em Engenharia Química pela Universidade Estadual de Campinas (1983), com mestrado em Ciências Nucleares pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (1987), doutorado em Engenharia Química - Universitat Karlsruhe (1992) e Pós-Doc pela Universidade de Darmstadt, Alemanha em 1998; autor de vários livros, entre eles, "O IPEN e a Economia do Hidrogênio”, Editora SENAI, 288p, São Paulo, 2022. Exemplares podem ser solicitados, gratuitamente, em superintendente@ipen.br
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- 15/11/2023 - A economia do hidrogênio e a tecnologia nuclear, por Marcelo Linardi (I parte)Fonte: Blog Tania Malheiros
"Nos últimos anos a discussão sobre as possibilidades de utilização da energia do hidrogênio como base energética tem se intensificado. Essa discussão foi acelerada, recentemente, por acontecimentos como: a invasão da Ucrânia pela Rússia, colocando entraves ao comércio de gás natural na Europa e, não menos importante, a aceleração das mudanças climáticas, refletida em eventos do clima extremos por todo o planeta, causando muita destruição, mortes e prejuízos incalculáveis à humanidade.O vetor energético hidrogênio representa uma ótima possibilidade como substituto, setorialmente, para os combustíveis fósseis, no Brasil e no mundo, em que pese o fato de a nossa matriz elétrica já ser em torno de 85% renovável, segundo o próprio Presidente Lula, em discurso recente na Assembleia Geral da ONU. Nenhuma dessas informações é novidade, fato que nos conduz ao objetivo deste artigo.
Especialistas alegam que a opção renovável não importa ao Brasil neste momento, ou ainda que a introdução de carros elétricos não resolveria o problema das emissões nocivas ao meio ambiente ou tampouco que se trata de uma energia limpa, devido à mineração maciça de seus insumos. Pondera-se ainda, que o hidrogênio é inviável economicamente - e também energeticamente – sendo apenas um sonho a desejada Economia do Hidrogênio.
Todas essas afirmações são, no mínimo, apressadas ou mesmo superficiais. Portanto, temos por objetivos tecer algumas considerações sobre esses assuntos, sem esgotá-los, definir alguns termos e, por fim, listar algumas possíveis contribuições que a tecnologia nuclear pode fornecer neste desenvolvimento tão crucial neste momento da humanidade.
Visando, então, a definição do conceito de Economia do Hidrogênio recorre-se ao desenvolvimento tecnológico ao longo da história. A humanidade passou por vários períodos de utilização de diferentes fontes primárias de energia. Podemos citar, por exemplo, a madeira como a primeira fonte primária de energia utilizada pelo homem. Segue-se a este período a era do carvão que, associada a desenvolvimentos tecnológicos, possibilitou a revolução industrial.
Denomina-se então a Economia do Carvão para este período da história, onde grande parte da energia que alimentava a economia provinha do carvão. Seguiu-se, posteriormente, a Economia do Petróleo/Gás Natural, que é a que vivemos hoje. É interessante notar que houve uma descarbonização progressiva das fontes primárias de energia.
Décadas atrás sonhou-se com uma Economia Nuclear, que por motivos diversos (como: a não-aceitação pública, após os acidentes de Chernobyl e Fukushima, além de questões de não-proliferação de armas nucleares) não aconteceu.
Portanto, define-se a Economia do Hidrogênio como sendo a economia, cuja fonte energética principal (mais de 90%), que move essa economia, num certo período da humanidade, provenha do vetor energético hidrogênio, que por sua vez, pode ser obtido de diversas fontes primárias de energia, preferencialmente, de origem renovável, em detrimento à de origem fóssil.
Outra observação interessante se faz necessária e diz respeito à geografia. Todos os recursos naturais de fontes de energias primárias estavam ou estão localizados em determinadas regiões do planeta, beneficiando, naturalmente, os países destas regiões. Este fato gerou e gera conflitos político-econômicos e até guerras.
Por outro lado, a obtenção do gás hidrogênio tem um caráter bastante flexível, sendo este fato uma de suas características mais interessantes. Ele pode ser obtido a partir de energia elétrica (via eletrólise da água), pelas fontes: hidroelétricas, geotérmicas, eólica e solar fotovoltaica, todas geológicas, ou também da eletricidade de usinas nucleares. Também pode ser obtido da energia da biomassa (via reforma catalítica ou gaseificação, seguido de purificação), como: etanol, lixo, rejeitos da agricultura, por exemplo.
A fonte de hidrogênio mais viável economicamente é, entretanto, o gás natural. Seguramente, o gás natural fará, como fonte principal de hidrogênio, uma transição, uma ponte, entre o hidrogênio não renovável e o renovável, também conhecido como hidrogênio verde, ou ainda, de baixo carbono. Essa transição é bem-vinda, pois suaviza a transição tecnológica e já traz benefícios em termos de eficiência energética, se compararmos à simples queima do gás metano.
A rota do etanol como insumo renovável para a obtenção de hidrogênio é particularmente importante ao Brasil. Talvez o único país que pode explorar esta linha de produção, no mundo, em grande escala, devido às suas características, aliás as mesmas que geraram o sucesso do Proálcool, após o desenvolvimento dos carros Flex. Esta flexibilidade em relação à sua obtenção permite que cada país escolha sua melhor maneira de produzir o hidrogênio, segundo suas próprias disponibilidades.
Em uma plena economia do hidrogênio, as emissões poluidoras seriam insignificantes; a eficiência de conversão energética químico/elétrica seria pelo menos o dobro da atual e os conflitos geopolíticos, de origem energética, poderiam ser atenuados (fato inédito na humanidade).
Alguns pontos críticos para o desenvolvimento da Economia do Hidrogênio podem ser citados. O hidrogênio é um vetor energético, ou seja, não está disponível na natureza, precisando ser obtido de uma fonte primária que o contenha, elevando obviamente, o seu custo. Este fato tende a ser minimizado com a produção em grande escala.
Outro ponto crítico seria a segurança em seu manuseio, armazenamento e transporte. Entretanto, a tecnologia pode equacionar este aspecto, como ocorreu com outros tipos de combustíveis no passado. Há também uma necessária mudança de paradigma na indústria, onde toda forma de produção de energia e de meios de transporte têm de ser modificada. O sistema atual de geração centralizada de energia elétrica para um sistema híbrido, incluindo a geração distribuída tem que ser considerado também, envolvendo toda a necessária regulamentação de sistemas de segurança e confiabilidade (vide recente apagão elétrico nacional).
A degradação do meio ambiente é a grande força motriz para a implementação da Economia do Hidrogênio, cujas consequências, como o aquecimento global, são insustentáveis a médio e longo prazos. Neste ponto, um paralelo faz-se útil. A maturidade tecnológica nos tempos iniciais da invenção do automóvel a gasolina pode ser comparada nos dias atuais ao binômio célula a combustível/hidrogênio. Não havia infraestrutura para a rolagem dos automóveis, que tinham, por sua vez, preços proibitivos. A gasolina não era nem abundante nem barata e, tampouco, se encontrava "em cada esquina”. Muitos a temiam, devido à sua inflamabilidade.
Pois bem, aproximadamente cem anos depois, o automóvel tornou-se accessível, existem estradas para sua rolagem e pode-se abastecê-lo em qualquer lugar (sem medo), ou seja, aprendemos a lidar com o combustível e com a produção em massa. Com o crescimento do mercado, os preços caíram. Esta mesma curva de aprendizado pode ser pensada e aplicada à nova Economia.
A seguinte reflexão é de suma relevância para planejamentos de políticas energéticas nacionais. Como o hidrogênio poderá ser obtido de diversas maneiras, qualquer país ou região do planeta poderá obtê-lo. Neste caso, com a introdução da Economia do Hidrogênio, ter-se-ia, pela primeira vez na história da humanidade, uma democratização das fontes primárias de energia, o que seguramente gerará mais progresso e menos tensões políticas.
Associado a estas ações está o desenvolvimento intensivo da tecnologia de células a combustível, visando sempre à redução de custos para aplicações diversas. As metas de custos a serem atingidas variam para cada classe de aplicações: gerações estacionárias de energia elétrica, aplicações portáteis e eletrotração ou transporte em geral. Salienta-se aqui apenas o caráter econômico da tecnologia e não os ambientais, que podem, num futuro próximo, ser tão importantes na nossa sociedade como o financeiro.
Concluindo esta seção, os obstáculos à introdução da chamada Economia do Hidrogênio não configuram dificuldades intransponíveis, ao contrário, apontam um elenco de oportunidades para o surgimento no país de novas empresas de bens e serviços, como demonstrado pelas tecnologias emergente do setor. Este energético (o hidrogênio) pode, em médio prazo, dependendo de políticas, de seu desenvolvimento tecnológico e da abertura de novos mercados, desempenhar um papel importante no cenário mundial de energia.
Quem pretende entender as prováveis e promissoras mudanças no cenário energético futuro, que incluirão, na matriz energética mundial, parcelas crescentes de renováveis e, neste filão, a energia proveniente do hidrogênio, deve conhecer o seu conversor por excelência, a célula a combustível. Estas são os dispositivos mais apropriados para a utilização do hidrogênio como vetor energético.
As tecnologias do binômio hidrogênio/células têm-se desenvolvido bastante nos últimos anos, encontrando aplicações diversas como geradores de energia para meios de transporte (eletrotração para automóveis, caminhões e outros veículos, bem como trens, barcos e outros), para unidades estacionárias (edifícios, condomínios, hospitais, repartições públicas, bancos, torres de comunicação, etc.) e para fins portáteis (laptops, celulares, dispositivos militares, etc.).
Os grandes diferenciais são o baixo (ou nenhum) impacto ambiental e a alta eficiência. Embora a tecnologia de células a combustível não esteja ainda completamente madura e estabelecida (custos, durabilidade), verifica-se que a sua implementação no mercado já começou. Entretanto, é crescente o desenvolvimento da área de novos materiais para equacionar os desafios finais dessa tecnologia.
Resumindo, o hidrogênio já está em fase de implantação e testes em diversos setores energéticos, pavimentando uma possível futura Economia do Hidrogênio, como no setores automotivo, marítimo, da aviação, de fertilizantes (amônia a partir de hidrogênio verde), siderurgia verde, mineração verde (que pode ser a resposta para a obtenção de insumos para baterias e células a combustível), cimento verde, combustíveis híbridos, entre outros.
Enfatizando, mais uma vez para finalizar, os obstáculos à introdução da chamada Economia do Hidrogênio não se configuram como dificuldades intransponíveis. O Brasil já possui o seu roteiro para a Economia do Hidrogênio e um programa nacional de pesquisa e desenvolvimento para esta tecnologia. Um indício da abrangência e seriedade do assunto foi a realização de um evento recente pala ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) em São Paulo. Com a participação de 150 profissionais, o encontro teve o título de "Inteligência, meio ambiente e mudanças climáticas: transição energética – desafios e oportunidades para o país” da qual participamos, entre vários especialistas no assunto. Portanto, o tema é sério, estratégico e merece grande respeito e consideração".
Perfil
MARCELO LINARDI - Pesquisador Emérito do IPEN, no Centro de Células a Combustível e Hidrogênio; graduado em Engenharia Química pela Universidade Estadual de Campinas (1983), com mestrado em Ciências Nucleares pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (1987), doutorado em Engenharia Química - Universitat Karlsruhe (1992) e Pós-Doc pela Universidade de Darmstadt, Alemanha em 1998; autor de vários livros, entre eles, "O IPEN e a Economia do Hidrogênio”, Editora SENAI, 288p, São Paulo, 2022. Exemplares podem ser solicitados, gratuitamente, em superintendente@ipen.br
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- 14/11/2023 - Centro de Pesquisa é inaugurado no Campus São João da Boa VistaInaugurado no dia 9, o Centro de Pesquisa e Inovação em Materiais e Estruturas reúne pesquisadores de várias instituições
Inaugurado no dia 9, o Centro de Pesquisa e Inovação em Materiais e Estruturas reúne pesquisadores de várias instituições
Fonte: Instituto Federal de São Paulo
Na última quinta-feira (09), foi inaugurado, no Campus São João da Boa Vista, o Centro de Pesquisa e Inovação em Materiais de Estruturas (Cepimate). Além dos pesquisadores do IFSP, campi Itapetininga, Guarulhos e São Paulo, participaram também pesquisadores do campus São João da Boa Vista da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen).
O Cepimate tem foco na realização de projetos de pesquisa, inovação e desenvolvimento tecnológico, promovendo o desenvolvimento local e regional, além do uso eficiente de recursos humanos e tecnológicos. Estiveram presentes na inauguração, o diretor de pesquisa do IFSP, Thiago Donadon, representando o reitor, Silmario dos Santos; o diretor-adjunto educacional do Campus São João da Boa Vista, Márcio Roberto Martins, na ocasião representando o diretor-geral do campus, Diego Cesar Valente e Silva; o chefe do departamento de Engenharia Aeronáutica do Campus São João da Boa Vista da Unesp, Denilson Paulo Souza dos Santos, além do atual coordenador do Cepimate, Emerson dos Reis.
De acordo com Emerson, o Cepimate tem como ponto forte o compartilhamento não só de conhecimento entre os pesquisadores, mas também de recursos humanos e infraestrutura entre as instituições envolvidas. Já o diretor de Pesquisa do IFSP ressalta a importância da articulação com diferentes atores da pesquisa e inovação e da presença do Centro na região: "O Cepimate une um grupo interessante de pesquisadores tanto do IFSP quanto de outras instituições, como a Unesp e Ipen, permitindo o desenvolvimento científico e tecnológico de toda a região, uma vez que o arranjo produtivo local e regional pode ser ainda beneficiado pelos serviços prestados ou desenvolvidos no Centro”.
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- 13/11/2023 - Brasileiros testam pele de tilápia como tratamento para queimadura e em cirurgias de mudança de sexoFonte: BBC News Brasil
André Biernath
Da BBC News Brasil em Londres
Twitter,@andre_biernathDe um lado, um produto abundante, que era praticamente jogado no lixo em sua totalidade. Do outro, uma área da Medicina com recursos insuficientes e em busca de novas soluções.
Basicamente esse era o cenário quando dois pesquisadores brasileiros se encontraram durante um evento realizado na cidade de Gramado, no Rio Grande do Sul, em 2014.
O cirurgião plástico Marcelo Borges, de Pernambuco, veio com a ideia inicial de usar a pele de tilápia em glicerol (um líquido conservante) como um curativo para tratar queimaduras.
Em terras gaúchas, ele conversou com o também cirurgião plástico Edmar Maciel, do Ceará, que conseguiu financiamento para iniciar as investigações sobre o novo candidato a recurso terapêutico.
Passados nove anos, o projeto gerou quatro produtos diferentes, que são testados em diferentes áreas da saúde humana e animal — de queimaduras a cirurgias de redesignação sexual — com o envolvimento de centenas de pesquisadores no Brasil e em outras partes do mundo.
A iniciativa, aliás, ganhou repercussão internacional — e foi retratada em seriados como Grey’s Anatomy, The Good Doctor, The Resident e One Piece.
Mas como tantos trabalhos acadêmicos diferentes com um mesmo material evoluíram nessa década? E quais são as perspectivas de que a pele de tilápia se transforme numa solução disponível em clínicas e hospitais?
Necessidades e oportunidades
Edmar Maciel conta que o Brasil possui apenas quatro bancos de pele humana — todos eles localizados no Sul e no Sudeste.
Esse material é fundamental para o tratamento de queimaduras mais graves. Ele é usado como enxerto e ajuda a preencher as partes superficiais do corpo que foram afetadas pelo fogo.
"Mas a captação de peles é quase insuficiente no país, principalmente pela falta de uma cultura do nosso povo de fazer a doação desse tecido”, diz ele.
Para completar, o Brasil não utiliza a pele porcina (vinda de porcos) para esse tipo de tratamento, como ocorre em partes da Europa e dos Estados Unidos.
Diante de uma necessidade não atendida, os especialistas viram uma possibilidade: por que não estudar a pele de tilápia para este fim?
"Esse é um peixe criado em grande quantidade no Brasil e no mundo, com a segunda maior produção, atrás apenas das carpas. Além disso, ele possui um ciclo reprodutivo rápido, aguenta temperaturas que variam entre 12 e 38 ºC em cativeiro e demora cerca de seis meses para ter entre 800 gramas e 1 kg”, resume o médico.
Para ter ideia, o anuário de 2022 da Associação Brasileira da Piscicultura aponta que a tilápia já representa 63,5% (ou 486,2 mil toneladas) da produção brasileira de pescados, e a tendência é que esse número suba para 80% até o final da década.
"Nós já sabíamos também que os animais aquáticos trazem um risco menor de transmissão de doenças zoonóticas em comparação com as espécies terrestres.”
Há ainda um último detalhe que torna a pele de tilápia um potencial alvo de estudos. Cerca de 99% desse material não tinha qualquer aplicação comercial e era descartado pelos produtores durante o processamento dos filés.
"O uso evita a contaminação do meio ambiente e ainda gera uma cadeia produtiva e de empregos”, destaca Maciel.
Avaliações iniciais
Com financiamento garantido, Borges e Maciel concordaram em concentrar as pesquisas na Universidade Federal do Ceará.
Lá, as primeiras investigações desvendaram as propriedades moleculares da pele de tilápia e testaram como ela funcionaria em animais de laboratório.
"Nas primeiras etapas, nossa equipe detectou que esse material trazia o colágeno tipo 1, que é muito importante no processo de cicatrização”, detalha Maciel.
Em ratos, os pesquisadores puderam observar que a pele de tilápia tinha uma série de vantagens no tratamento das queimaduras.
"Ela adere na ferida e não permite a contaminação a partir do meio externo, evita a perda de líquidos ou proteínas e reduz a necessidade de trocar o curativo todos os dias”, lista o cirurgião plástico.
Nas palavras do médico, os resultados obtidos nessas primeiras pesquisas foram satisfatórios.
"Infelizmente, essa necessidade de trocar os curativos diariamente é algo que acontece na rede pública brasileira, em que o tratamento das queimaduras depende da aplicação de cremes ou pomadas.”
Com o passar do tempo, os testes passaram a envolver seres humanos. A pele de tilápia foi usada inicialmente em queimaduras simples e mais superficiais, mas logo acabou também aplicada em ferimentos mais graves e profundos, que exigem internação.
Esses trabalhos se concentraram principalmente no Instituto Dr. José Frota, um hospital público de Fortaleza.
A pele de tilápia liofilizada não precisa de refrigeração e tem validade superior a dois anos (Foto: arquivo pessoal)
Um novo produto
O final de 2017 marca o início de uma nova etapa nas investigações sobre a pele de tilápia no Ceará, com a saída voluntária de Marcelo Borges do grupo e a chegada dos pesquisadores Carlos Paier e Felipe Rocha.
Após os primeiros estudos, os cientistas perceberam uma grande barreira para o uso amplificado do material.
"Nosso primeiro produto, a pele de tilápia em glicerol, precisa ficar a uma temperatura de 2 a 4 ºC. Para realizar o transporte dela, é necessário usar uma caixa especial, com gelo seco e termômetro. Toda essa logística eleva o custo”, detalha Maciel.
Para resolver essas questões, os especialistas desenvolveram a pele de tilápia liofilizada. Em resumo, o material é desidratado, esterilizado e embalado a vácuo.
Esse processo de esterilização utiliza substâncias radioativas e acontece no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo.
Importante dizer que essa radiação é inócua e não causa nenhum problema de saúde no paciente — ela serve apenas para eliminar micro-organismos potencialmente perigosos que estavam localizados na pele do pescado.
"A vantagem é que essa pele não precisa ser refrigerada, pode ficar na prateleira em temperatura ambiente, e tem uma validade de dois anos e meio”, pontua o médico.
Novas fronteiras terapêuticas"Ou seja, ela possui os mesmos objetivos e aplicações da pele de tilápia em glicerol, só que com um custo 90% menor no transporte para outros locais”, calcula ele.
A partir de 2018, a pele de tilápia liofilizada virou o carro-chefe do time de investigadores. O produto passou a ser testado não apenas no tratamento de queimaduras, mas em uma série de outras áreas da saúde.
Um desses testes se concentra na ginecologia: no Ceará, algumas pacientes com a Síndrome de Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser, que nascem sem a vagina (e outras estruturas sexuais/reprodutivas), foram recrutadas para um estudo. O objetivo era construir esse órgão por meio de uma cirurgia que tem a pele de tilápia como um dos componentes principais.
Já alguns trabalhos realizados na Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) focaram nas mulheres que sofrem um encurtamento na vagina, seja por causa de um câncer ou pelo efeito da radiação no aparelho reprodutor feminino.
Por fim, um especialista de Cali, na Colômbia, avaliou a pele de tilápia em cerca de 160 pacientes que passaram pela cirurgia de redesignação sexual — em que há a alteração dos órgãos sexuais masculinos para os femininos.
Nesses três casos, a pele de tilápia é colocada no molde que, durante e após o procedimento operatório, vai garantir o formato da nova vagina.
"O colágeno do material fica em contato com essa nova área e é totalmente transferido para o organismo. Desse modo, se forma um epitélio vaginal, com uma cicatrização espontânea”, detalha Maciel.
Ou seja: nesses casos, as fibras de colágeno da pele de tilápia são transferidas para o leito da vagina, ajudando na formação adequada dessa estrutura.
Crianças e animais
No mundo da pediatria, a pele de tilápia virou objeto de estudos que avaliam o material em crianças que nascem com alterações nos dedos das mãos.
Alguns desses indivíduos possuem os dedos colados — e, após a cirurgia para separá-los, esse produto foi avaliado como um curativo que acelera a cicatrização e facilita a aceitação de um posterior enxerto de pele humana.
Maciel também destaca que, nos últimos anos, a pele de tilápia foi utilizada para tratar animais feridos em incêndios florestais que ocorreram no Pantanal, em Uberaba (MG), na Califórnia (EUA) e no Líbano.
Ainda no meio veterinário, há um terceiro produto feito a partir da pele de tilápia que passou a ser testado mais recentemente.
"Falamos aqui da matriz dérmica. Nós pegamos a pele de tilápia e tiramos a parte de cima, que é o epitélio onde estão as escamas”, explica Maciel.
"O que sobra funciona como um andaime, um arcabouço, feito de colágeno puro. Esse produto é para ser usado internamente no organismo”, complementa ele.
A tal matriz dérmica feita a partir da pele de tilápia está sendo avaliada em cirurgias de hérnia abdominal (quando um pedacinho dos órgãos digestivos escapa pela camada de tecidos protetores que recobre a área) e até em operações no sistema nervoso e nos olhos.
"Hoje, são mais de 430 cachorros operados de úlcera de córnea com o uso da matriz dérmica. Ano que vem, devemos começar os estudos em seres humanos”, projeta o cirurgião plástico.
Por fim, a equipe ainda avalia um quarto produto: o colágeno extraído da pele de tilápia na forma de pomadas, cremes, sprays e suplementos alimentares. Uma possível aplicação aqui seria na área de estética.
O futuro
Vale lembrar que todas essas pesquisas estão em fase experimental. Isso significa que a pele de tilápia é aplicada como um candidato a tratamento, mas não está aprovada ainda para uso clínico pelas agências regulatórias.
Maciel diz que há planos para ampliar o acesso ao produto num futuro próximo.
A pele de tilápia em glicerol já possui patente no Brasil e nos Estados Unidos. A equipe também já registrou os demais produtos (a pele liofilizada, a matriz dérmica e a extração de colágeno) e aguarda uma resposta dos órgãos responsáveis.
"A Universidade Federal do Ceará poderá fazer uma chamada pública e lançar um edital para que empresas interessadas possam licenciar o produto”, informa o médico.
A empresa escolhida, por sua vez, terá o trabalho de buscar a aprovação regulatória (no caso do Brasil, o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para que o produto possa ser comercializado para determinados fins terapêuticos — como o tratamento das queimaduras, por exemplo.
Segundo Maciel, é possível que alguns dos produtos com um volume maior de pesquisas sejam submetidos a esse processo de licenciamento a partir do início do ano que vem.
Para o médico, a tendência é que o material seja muito utilizado na saúde pública.
"A pele de tilápia vem para somar e complementar o trabalho que é feito nos bancos de pele já instalados no país, que têm uma produção pequena por causa dos problemas de captação dos tecidos”, diz ele.
"A ideia é que tudo seja adquirido pelo Ministério da Saúde e distribuído nos centros de queimados e nos hospitais, para que a população mais carente tenha acesso. Estima-se que 97% dos pacientes que se queimam não têm plano de saúde.”
Questionado sobre como vê toda a repercussão do trabalho iniciado há nove anos — inclusive em séries ficcionais produzidas no exterior — Maciel confessa que não esperava tanto.
"Jamais imaginávamos chegar onde estamos hoje. Nosso sonho inicial virou realidade com 36 artigos científicos publicados, 24 prêmios e muita repercussão na mídia”, calcula ele.
"E a satisfação é muito maior diante do fato de que este virou um trabalho de 337 pessoas, número que aumenta a cada semana com a inclusão de novos projetos de pesquisa”, conclui o médico.
Cobra recebendo um curativo de pele de tilápia (Foto: arquivo pessoal)
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- 13/11/2023 - Preservação de acervos culturais e interesse pela ciência nuclear são temas de apresentações na programação 67 anos CNENFonte: CNEN
Casos desafiadores da contemporaneidade no uso da radiação ionizante para preservar acervos culturais foram tema de palestra no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, na tarde da última sexta-feira, 10 de novembro, como parte das comemorações pelos 67 anos da CNEN. Na sequência, outro tema de apresentação foi o Museu do Conhecimento Nuclear, iniciativa para promover a ciência e a tecnologia nucleares e mostrar sua importância para a sociedade em diversas áreas: da geração nucleoelétrica à saúde, passando pela indústria, meio ambiente, agricultura, entre outros setores.
Na abertura das atividades, Fábio Scarano, diretor de Sustentabilidade do Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG), Organização Social que administra o Museu do Amanhã, destacou a abertura do espaço para as discussões, enfatizou que o museu se propõe a criar diálogos sobre desejos e vontades, desenvolve esforços no sentido de manter a imaginação e, ainda, como é importante o trabalho voltado para energia desenvolvido pela CNEN. "A ciência trabalha para um amanhã melhor. Também aproveito para parabenizar a instituição pelo seu aniversário”, afirmou.
O presidente da CNEN, Francisco Rondinelli Jr., por sua vez, enfatizou o quanto a instituição é grata "pela abertura desta parceria de futuro com a ciência, com a tecnologia nuclear e com a construção de futuro”, referindo-se ao espaço disponibilizado para as apresentações, seguidas de perguntas abertas ao público, e a forma como a instituição foi bem recebida pela equipe do Museu do Amanhã, tendo a programação sendo realizada no espaço Observatório do Amanhã.
Tecnologia nuclear que promove a arte
Os raios gama se tornaram de grande importância para a preservação de acervos culturais e sua utilização já consolidada no país demonstra que a ciência nuclear está mais próxima dos cidadãos do que se pode imaginar. A irradiação de obras de arte e objetos histórico-culturais com uso dos raios gama se tornou uma alternativa poderosa como primeira etapa de tratamento no processo de restauro.
As restauradoras Vivian Freire e Fernanda Cascardo, da empresa Conservare, trouxeram casos peculiares de obras que passaram pelo processo de irradiação. "Não sei se vocês têm ideia da dimensão de quanto este trabalho é importante para a arte”, disse Fernanda.
O desenvolvimento de recursos e aplicações específicas para eliminar infestações por microorganismos gera produção de conhecimento científico, resultados de destaque do país no cenário mundial, publicações e inúmeros trabalhos científicos, profissionais formados e cada vez maiores desafios. Na disseminação da tecnologia, Pablo Vasquez, do Centro de Tecnologia das Radiações do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/CNEN), afirma que o maior desafio foi convencer restauradores e conservadores da efetividade da técnica.
Desde então, foram mais de 50 mil itens preservados com esta tecnologia, a partir da parceria com o instituto, unidade técnico-científica da CNEN em São Paulo, que desenvolve trabalho representativo no país, formando pesquisadores em níveis de mestrado e doutorado. Segundo ele, além do aspecto do pioneirismo, os trabalhos de alto nível atingem diretamente o usuário final.
Na Europa, entre outros países, França, Holanda, Itália, Romênia, Croácia utilizam a tecnologia amplamente. No Brasil, a instalação utilizada para o processo de irradiação é o Irradiador Multipropósito de Cobalto-60, desenvolvido com tecnologia inteiramente nacional e situado no IPEN/CNEN. O apoio da Agência Internacional de Energia Nuclear (AIEA) tem sido importante para a divulgação da tecnologia.
Há materiais diversos combinados na mesma obra e, em cada caso, é desenvolvido todo um estudo para o restauro. É preciso entender os processos, materiais utilizados e os tipos de contaminação por micro-organismos. A obras são irradiadas diretamente em caixas, de acordo com o tempo recomendado. Os materiais não ficam radioativos – dúvida que sempre aparece quanto o assunto é apresentado – e há uma série de vantagens do ponto de vista da utilização. Após adequada higienização, as obras podem retornar de forma saudável para o ambiente de exposição.
Museu do Conhecimento Nuclear
As múltiplas possibilidades de divulgação científica, de promoção da ciência, do conhecimento e de valorização do patrimônio científico e tecnológico da área nuclear foram aspectos de destaque na palestra de Antônio Carlos de Abreu Mol, tecnologista do Instituto de Engenharia Nuclear (IEN/CNEN). A apresentação teve como título Museu do Conhecimento Nuclear: promovendo o interesse pela ciência nuclear e sua relação com a sociedade.
O projeto do Museu, virtualizado, pretende despertar o interesse pela ciência, promovendo reflexão e olhar crítico e aproximação da população com a ciência nuclear. Para isso, diversos trabalhos estão sendo desenvolvidos: simuladores em realidade virtual; visitas virtuais, como por exemplo ao reator nuclear de pesquisas Argonauta e ao ciclotron, ambos no IEN/CNEN; jogos e vídeos.
Segundo Mol, para realizar tantas possibilidades de trabalhos, a equipe do Museu do Conhecimento Nuclear também pretende ter um acervo físico e itinerante e compor exposições em diversos espaços. Há três núcleos de trabalho do grupo: educação, desenvolvimento tecnológico e museologia, este último incorporado há cinco meses. Está sendo criada uma plataforma on-line do Museu e sobre a qual ele antecipou algumas novidades, como a Cidade da Ciência, um ambiente imersivo virtual, onde será possível acessar uma videoteca, biblioteca e diversos outros ambientes da cidade.
"É um projeto que nasceu a partir da preocupação com a educação como um todo e da experiência com o desenvolvimento tecnológico para a área de divulgação científica; fruto de um trabalho de mais de 15 anos, voltado ao público jovem e expandido a diversos públicos, como espaço de produção de conhecimento, tecnologia e inovação, com imensas possibilidades”, descreveu Mol. Há bolsistas e alunos envolvidos, compondo a equipe. "Queremos chegar na capacitação de professores da rede pública e temos portas abertas para isso; estou muito motivado”.
Ao finalizar a programação comemorativa, o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da CNEN, Wilson Calvo, afirmou o quanto toda a direção da CNEN está orgulhosa com relação ao trabalho que vem sendo desenvolvido e aos projetos em curso. Agradeceu aos anfitriões da programação que encerrou a data comemorativa da autarquia, a todos os servidores e anunciou que haverá novidades para a Conferência de Ciência e Tecnologia, que será realizada em junho de 2024, em Brasília.
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- 13/11/2023 - CNEN comemora aniversário de 67 anos com programação científico-culturalFonte: CNEN
Uma série de atividades fez parte da programação do aniversário de 67 anos da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), autarquia vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), nesta sexta-feira, 10 de novembro de 2023. A agenda alusiva à data festiva foi dividida em dois momentos. Pela manhã, os eventos se concentraram na sede da CNEN, no bairro de Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro. À tarde, o palco das celebrações foi o Museu do Amanhã, localizado na Praça Mauá, centro da capital fluminense.
Estavam presentes gestores da CNEN, como seu presidente, Francisco Rondinelli Júnior, os diretores de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD), Wilson Calvo, de Gestão Institucional (DGI), Pedro Maffia, e de Radioproteção e Segurança Nuclear (DRS), Alessandro Facure. Também marcaram presença diretores das unidades técnico-científicas. Ainda prestigiaram o evento deputados federais carioca e representantes da Marinha, da Amazul, da Agência Brasileiro-Argentina e Controle de Materiais Nucleares (ABACC), da COPPE/UFRJ, do Governo do Estado do Rio de Janeiro, da Eletronuclear, além do subsecretário de Unidades de Pesquisa e Organizações Sociais do MCTI, César Augusto Rodrigues do Carmo e dirigentes das Unidades de Pesquisa: CBPF, CETEM, INT, ON.
Um dos momentos mais importantes da cerimônia culminou com a entrega do Diploma de Reconhecimento ao servidor com maior tempo de serviço na CNEN, Cleber Santos Leite, atual chefe do Serviço Financeiro, e que trabalha na instituição há 50 anos. Além dele, três colaboradores também foram agraciados com a honraria – Erlian Martins Matias, da Manutenção, Nilceia Lázaro e Bruna Oliveira, de Serviços Gerais, sendo os três amplamente aplaudidos pela plateia presente no auditório.
Na ocasião, o presidente da CNEN listou o nome dos servidores mais antigos em atuação no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), no Centro Regional de Ciências Nucleares do Centro-Oeste (CRCN-CO), no Centro Regional de Ciências Nucleares do Nordeste (CRCN-NE), nos distrito de Angra dos Reis, de Caetité, e de Fortaleza; nos escritórios de Brasília e de Resende; no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), no Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD) e do Laboratório de Poços de Caldas (LAPOC). Ainda foram relacionados os servidores mais novos da CNEN e do IRD.
Visão de futuro
Demonstrando a sua preocupação com o futuro da área, a CNEN apresentou também duas iniciativas voltadas para os próximos anos. Uma delas trata-se do lançamento do Prêmio CNEN de Melhor Tese, Melhor Dissertação e Destaque IC. Anunciada pelo diretor da DPD, Wilson Calvo, a premiação será destinada para trabalhos de pesquisa na área nuclear, com foco nos programas de pós-graduação da CNEN. A outra é a proposta da Agenda Nuclear, apresentada pelo presidente da CNEN, Francisco Rondinelli Júnior. Baseado em sete pontos, o documento é projetado para o decênio 2025-2035.
São considerados pontos fundamentais para esse período alavancar todo o Ciclo do Combustível Nuclear, a conclusão da Usina Nuclear de Angra 3 e a avaliação dos reatores SMR, impulsionar a exploração dos minérios nucleares, ampliar o acesso da população aos benefícios das aplicações nucleares e a implantação do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), da Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN) e do Centro Tecnológico Nuclear e Ambiental (CENTENA).
Atividade cultural
Duas palestras integram a agenda da tarde. No Museu do Amanhã, o público pôde conferir a explanação "Ionização Gama na preservação de acervos culturais”, das restauradoras Fernanda Perroni Cascardo Furtado e Vivian D. Freire, da Conservação e Restauração de Obras de Arte (Conservare). A segunda palestra. "Museu do Conhecimento Nuclear: Promovendo o interesse pela ciência nuclear e sua relação com a sociedade”, foi ministrada pelo pesquisador do Instituto de Engenharia Nuclear (IEN/CNEN).
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- 13/11/2023 - USP abre inscrição de programa para startups de tecnologiaIncubadora da universidade vai selecionar 20 empresas de inovação; formulário está aberto até 16 de dezembro.
Incubadora da universidade vai selecionar 20 empresas de inovação; formulário está aberto até 16 de dezembro.
Site: Poder 360A USP (Universidade de São Paulo) e o Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) abriram vagas de inscrições para um programa que visa a desenvolver deeptechs (startups que utilizam tecnologia de alto nível). O cadastro pode ser realizado até 15 de dezembro neste link. Serão convocadas 20 empresas de inovação.A iniciativa Incubadora de São Paulo tem 6 áreas prioritárias para a seleção: medicina e saúde, biotecnologia, eletroeletrônicos, química, meio ambiente e tecnologia da informação. Entretanto, a USP afirma que outros campos de atuação também podem ser escolhidos.A banca examinadora utilizará os seguintes critérios para escolher os candidatos: grau de inovação, perfil empreendedor, potencial de mercado, risco tecnológico e impacto. O resultado será divulgado em março.Não é necessário ter CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas) para fazer a inscrição. É necessário somente preencher o formulário.Leia abaixo alguns serviços que serão oferecidos para as companhias pelo projeto:- diagnóstico personalizado;
- mentorias;
- capacitações;
- acesso a eventos exclusivos;
- rede parceira que inclui o Sebrae, núcleo de inovação tecnológica no Hospital das Clínicas, Anprotec (Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores) e outros institutos da USP.
As atividades do programa são realizadas de forma híbrida (on-line e presencial). Há divisão em 3 ciclos: descoberta, negócios e aceleração. "Isso permite que os empreendedores recebam suporte adequado de acordo com a maturidade de seus negócios e tecnologias”, diz o comunicado de divulgação do programa enviado à imprensa. Eis a íntegra (PDF – 62 kB)."O formato foi pensado com o objetivo de entregar um valor específico para diferentes momentos da jornada empreendedora, considerando tanto a maturidade do negócio como da tecnologia”, disse Felipe Maruyama, diretor de Operações do Cietec (Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia), entidade gestora do ambiente.A universidade diz que o programa já abriga 84 startups, a maioria (70%) é ligada às áreas de Ciências da Vida e Tecnologias Verdes. A iniciativa já atendeu 1.000 startups em 25 anos. -
- 12/11/2023 - Fantástico mostra o trabalho de engenheiros e técnicos brasileiros na construção do 1º submarino movido a energia nuclearFantástico também deu uma volta no "Riachuelo", o primeiro dessa nova geração de submarinos que representam um salto tecnológico pra indústria brasileira.
Fantástico também deu uma volta no "Riachuelo", o primeiro dessa nova geração de submarinos que representam um salto tecnológico pra indústria brasileira.
Fonte: G1
O Brasil está a caminho de ter o seu próprio submarino de propulsão nuclear -- com reator 100% nacional. Isso quer dizer que a autonomia é muito maior - não precisa subir à superfície para recarregar bateria, por exemplo.
Enquanto ele não fica pronto, o Fantástico deu uma volta no "Riachuelo", o primeiro dessa nova geração de submarinos que representam um salto tecnológico pra indústria brasileira. Em Aramar, o Fantástico também acompanhou todo o processo de enriquecimento de urânio, o combustível do submarino.
A construção de um submarino
Nada é trivial na construção de um submarino. O projeto envolve pesquisadores de mais de 20 universidades, profissionais de 700 empresas e milhares de trabalhadores.
Equipes se revezam na construção do"Tonelero"e do"Angostura", dois dos quatro submarinos convencionais, a propulsão diesel elétrica. Boa parte dessa tecnologia foi transferida pelos franceses, parceiros do programa brasileiro.
Dois submarinos já foram lançados ao mar. O"Humaitá", que ainda está em fase de testes, e o"Riachuelo", incorporado à Marinha no ano passado.
Primeiro submarino a propulsão nuclear do Brasil
Depois disso, todo o complexo naval vai se dedicar à fabricação do primeiro submarino a propulsão nuclear do Brasil. E a produção do reator nuclear já tá acontecendo em Iperó, no interior de São Paulo.
Engenheiros e técnicos vêm trabalhando na montagem de protótipos de partes estratégicas do submarino com propulsão nuclear. Nas imagens é possível ver a parte do navio onde ficam as turbinas e os geradores, e a sessão onde vai ser instalado o reator nuclear. Mas segundo a Marinha, o local tem tecnologias sensíveis, desenvolvidas pelo Brasil, que são segredos de Estado e não é possível mostrar.
O reator começará a ser testado em terra dentro de quatro anos, no Laboratório de Geração Nucleoelétrica, o Labgene.