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- 15/05/2020 - COVID-19 deve ser tratada como uma doença trombótica, afirma médica brasileiraFonte: Agência FAPESPKarina Toledo | Agência FAPESP – A hipótese de que distúrbios de coagulação sanguínea estariam na base dos sintomas mais graves da COVID-19 – entre eles insuficiência respiratória e fibrose pulmonar – foi aventada por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) em meados de abril.
Em menos de um mês, o tema ganhou destaque em reportagens publicadas nos sites da Science e da Nature, duas das mais importantes publicações científicas internacionais.
Entre as primeiras pessoas a perceber o "caráter trombótico” da doença causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) está a médica Elnara Negri, que atua no Hospital das Clínicas da FM-USP e também no Hospital Sírio-Libanês.
"Foi por volta do dia 25 de março. Tratávamos uma paciente cuja função respiratória piorava rapidamente e, quando ela foi entubada, percebi que seu pulmão era fácil de ventilar. Não estava enrijecido, como seria esperado em alguém com síndrome do desconforto respiratório agudo. Logo depois notei que essa pessoa apresentava isquemia em um dos dedos do pé”, conta Negri à Agência FAPESP.
O sintoma, que tem sido chamado de COVID toes (dedos do pé de COVID), é causado pela obstrução de pequenos vasos que irrigam os dedos dos pés. Negri já havia observado fenômeno semelhante, muitos anos atrás, em pacientes submetidos a aparelhos de circulação extracorpórea durante cirurgia cardíaca.
"O equipamento que se usava antigamente bombeava oxigênio no sangue e induzia a formação de coágulos no interior dos vasos. Eu já tinha visto aquele quadro e sabia como tratar”, afirma.
A médica prescreveu heparina, um dos medicamentos anticoagulantes mais usados no mundo, e em menos de 18 horas o nível de oxigenação da paciente melhorou. O dedinho do pé, antes vermelho, ficou cor-de-rosa. O efeito se repetiu em outros casos atendidos no Sírio-Libanês. "Após esse dia, tratamos cerca de 80 pacientes com COVID-19 e, até agora, ninguém morreu. Atualmente, quatro estão na UTI [Unidade de Terapia Intensiva] e os demais ou estão na enfermaria ou já foram para casa”, diz.
Enquanto a maioria dos estudos indica que casos graves de COVID-19 necessitam, em média, de 28 dias de ventilação mecânica para recuperação, os pacientes tratados com heparina geralmente melhoram entre o 10o e o 14o dia de tratamento intensivo.
A experiência clínica com as primeiras 27 pessoas submetidas ao protocolo desenvolvido no Sírio-Libanês foi descrita em artigo disponível na plataforma medRxiv ainda em versão preprin (sem revisão por pares).
Evidências patológicas
Logo após a primeira experiência bem-sucedida com heparina, Negri compartilhou o achado com seus colegas do Departamento de Patologia da FM-USP Marisa Dolhnikoff e Paulo Saldiva, que estão coordenando as autópsias de pessoas que morreram em decorrência da COVID-19 no Hospital das Clínicas.
Por meio de procedimentos minimamente invasivos, desenvolvidos durante um projeto apoiado pela FAPESP, os patologistas haviam observado a existência de focos hemorrágicos na rede de pequenos vasos do pulmão, associados à presença de microtrombos – pequenos coágulos formados pela agregação de plaquetas (leia mais em: agencia.fapesp.br/32882eagencia.fapesp.br/32774).
Juntos, os pesquisadores da FM-USP redigiram o primeiro artigo da literatura científica que descreveu "evidências patológicas de fenômenos trombóticos pulmonares em COVID-19 grave”. O trabalho, revisado por pares e aceito para publicação no Journal of Thrombosis and Haemostasis, tem potencial para revolucionar o tratamento da doença.
Mudança de paradigma
O SARS-CoV-2 não foi o primeiro coronavírus a causar uma crise de saúde pública. Entre os anos de 2002 e 2003, quase 800 pessoas morreram em decorrência da síndrome respiratória aguda grave (SARS, na sigla em inglês) no mundo e, desde 2012, aproximadamente 850 foram vitimadas pela síndrome respiratória do oriente médio (MERS, na sigla em inglês). Nenhuma das duas doenças chegou ao Brasil até o momento.
"Pacientes com SARS ou com MERS desenvolvem uma forte reação inflamatória no pulmão, que pode levar ao desenvolvimento de um quadro conhecido como síndrome do desconforto respiratório agudo. Os alvéolos pulmonares – aqueles pequenos sacos onde ocorrem as trocas gasosas – ficam cheios de células mortas, pus e outras substâncias inflamatórias. Isso faz o pulmão ficar duro e impede a oxigenação adequada do organismo”, explica Negri.
Segundo a médica, o que ocorre em pacientes com COVID-19 é diferente – pelo menos no início. O SARS-CoV-2 não causa uma inflamação muito forte no pulmão, mas induz a descamação do tecido epitelial existente no interior dos alvéolos.
"As células epiteliais morrem após serem infectadas, caem para a luz alveolar e deixam a membrana basal exposta. O sistema de defesa do organismo entende que a região está em ‘carne viva’ e que há risco de hemorragia. Tem início uma tempestade de interleucinas [proteínas que atuam como sinalizadores imunes] que ativa o que chamamos de ‘cascata de coagulação’. As plaquetas começam a se agregar para formar trombos e estancar o suposto vazamento”, explica Negri.
Os coágulos acabam obstruindo pequenos vasos do pulmão e causando microinfartos. As regiões do tecido que morrem por falta de irrigação dão lugar a tecido cicatricial – processo conhecido como fibrose. Além disso, os microtrombos que se formam na interface do alvéolo com os vasos sanguíneos impedem a passagem do oxigênio para as pequenas artérias.
"Isso explica por que pacientes com COVID-19 podem não sentir dificuldade para respirar mesmo estando com uma saturação muito baixa de oxigênio. Muitos chegam ao hospital andando e falando e logo depois precisam ser entubados”, diz.
Caso não se trate o quadro de coagulação intravascular rapidamente, os pontos de infarto e de fibrose tendem a se espalhar pelo pulmão. Bactérias ou fungos oportunistas podem infectar o tecido lesionado e causar pneumonia, uma vez que o SARS-CoV-2 induz a diminuição das células de defesa (linfopenia). Eventualmente, no final desse processo, o paciente pode desenvolver a síndrome do desconforto respiratório agudo.
Negri observou que a heparina ajuda a impedir que isso ocorra por dois mecanismos: o fármaco desfaz os microtrombos que impedem o oxigênio de passar do alvéolo para as pequenas artérias pulmonares e, além disso, ajuda na recuperação do endotélio vascular, a camada de células epiteliais que recobre o interior dos vasos sanguíneos.
"O endotélio lesionado é como uma estrada esburacada, que dificulta o fluxo sanguíneo e induz a formação de novos coágulos. E isso gera um efeito bola de neve”, explica a médica.
Um terceiro possível mecanismo de ação da heparina foi descrito em estudo recente conduzido na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com apoio da FAPESP. A equipe coordenada pela biomédica Helena Bonciani Nader verificou in vitro que o fármaco pode reduzir em até 70% a infecção de células pelo novo coronavírus (leia mais em: agencia.fapesp.br/33125).
"Talvez exista um efeito antiviral, que ainda precisa ser mais bem estudado. Costumo dizer que estamos trocando o pneu com o carro andando”, diz Negri.
Para a pneumologista, porém, o fato de muitas pessoas diagnosticadas com COVID-19 terem sido tratadas, desde o início, como casos de síndrome do desconforto respiratório agudo – mantidas na UTI com menor nível de hidratação e ventilação mecânica mais intensa – pode ter custado muitas vidas. "Essas duas abordagens agravam o quadro trombótico. O tratamento requer uma mudança de paradigma”, afirma.
Negri defende que a intervenção com anticoagulante comece assim que se comprove que a saturação de oxigênio está abaixo de 93%, o que pode ocorrer entre o sétimo e o 10o dia após o início dos sintomas gripais e é possível de ser detectado em consultório médico ou Unidade Básica de Saúde (UBS).
"Mas não adianta comprar o remédio na farmácia e tomar por via oral. Desse modo não há efeito terapêutico e ainda pode induzir uma hemorragia”, alerta. "O tratamento deve ser injetável e a dose ajustada pelo médico.”
Vale ressaltar que os efeitos da heparina sobre diversos processos fisiológicos são expressivos e sua administração sem supervisão médica resulta em importante risco à vida. No tratamento da COVID-19, a automedicação, sem atenção especial aos efeitos adversos,pode colocar em risco a saúde dos pacientes.
Evidência definitiva
Para comprovar a eficácia da heparina no tratamento da COVID-19 ainda é preciso fazer um ensaio clínico randomizado, ou seja, separar dois grupos de pacientes com características semelhantes aleatoriamente e tratar apenas um deles com o fármaco, para em seguida comparar os resultados com os observados no grupo não tratado.
Os pesquisadores da FM-USP planejam iniciar em breve um projeto com essa finalidade em parceria com grupos da Universidade de Toronto (Canadá) e da Universidade de Amsterdã (Países Baixos). Aguardam apenas aprovação do Comitê de Ética do Hospital das Clínicas e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).
"A ideia é tratar com heparina aqueles pacientes que acabaram de chegar ao pronto-socorro com queda na saturação [de oxigênio] e observar se com o tratamento anticoagulante é possível evitar a ventilação mecânica”, conta.
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- 13/05/2020 - Fernando Menezes é reconduzido ao cargo de Diretor Administrativo da FAPESPFonte: Agência FAPESPAgência FAPESP – Em decreto publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo de 12 de maio de 2020, o governador João Doria reconduziu Fernando Dias Menezes de Almeida ao cargo de Diretor Administrativo da FAPESP por mais três anos.
A nomeação foi feita a partir de lista tríplice de candidatos elaborada pelo Conselho Superior da FAPESP, encabeçada por Fernando Menezes.
Bacharel em direito (USP/1993), doutor em direito (USP/1999) e livre-docente em direito (USP/2011), Menezes é professor titular do Departamento de Direito do Estado da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
Foi secretário adjunto da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo (2004-2006), assessor da Presidência da FAPESP (2007-2016) e controlador-geral da USP (2016-2017).
Menezes foi professor visitante nas Universidades Jean Moulin Lyon 3, Lumière Lyon 2 e Paris 1 Panthéon-Sorbonne. Recebeu a Ordre des Palmes Académiques, da França, e foi membro do Conselho Científico da Agence Universitaire de la Francophonie (2014-2016).
Menezes ocupa o cargo de Diretor Administrativo da FAPESP desde 10 de maio de 2017.
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- 13/05/2020 - Pesquisadores da UFSCar estão desenvolvendo testes rápidos para detectar novo coronavírusFonte: Agência FAPESPMaria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP– Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) estãodesenvolvendo dispositivos para a identificação do novo coronavírus (SARS-CoV-2) em pacientes infectados, em ambientes contaminados e até mesmo nas redes de esgoto.
O projeto prevê a utilização de um sensor eletroquímico para a detecção, na saliva do paciente, de pelo menos três sequências do genoma do vírus. A pesquisa tem o apoio da FAPESP, no âmbito do edital Suplementos de Rápida Implementação contra COVID-19.
"Nosso objetivo é desenvolver uma metodologia simples e de baixo custo para o diagnóstico de COVID-19. A plataforma de testes descartável fará uso de materiais de fácil acesso e equipamentos simples e também permitirá a análise de diferentes amostras simultaneamente”, diz Ronaldo Censi Faria, pesquisador do Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que lidera o projeto.
De acordo com Faria, o teste rápido consiste em um dispositivo com vários compartimentos (canais microfluídicos), no qual a saliva do paciente é inserida. Os compartimentos contarão com quatro regiões sensoras (chips) programadas para identificar pedaços do RNA do vírus. "A detecção se dá por eletroquimiluminescência, ou seja, a partir da reação eletroquímica entre o sensor e o RNA do vírus ocorre a emissão de luz. Com isso, se o sensor detectar pelo menos uma das sequências de RNA, um ponto de luz irá surgir, indicando que o paciente está infectado", diz.
Em 2017, a equipe de Faria desenvolveu um dispositivo semelhante para a detecção de biomarcadores da doença de Alzheimer. "Normalmente, trabalhamos em conjunto com médicos e especialistas de outras áreas que nos apresentam um problema. No caso do dispositivo do Alzheimer, a professora Márcia Cominetti, do Departamento de Gerontologia da UFSCar, nos procurou após ter identificado que pacientes com Alzheimer apresentavam alteração em uma proteína [ADAM10] presente no sangue”, diz.
O grupo de pesquisadores desenvolveu então um sensor para detectar a presença dessa proteína em um dispositivo de baixo custo já patenteado, mas ainda sem previsão para ser comercializado.
Biomarcadores proteicos
De acordo com Faria, a metodologia usada no desenvolvimento dos testes para COVID-19 é uma adaptação de uma série de dispositivos que estão sendo desenvolvidos nos laboratórios para identificar a ocorrência de outras doenças, como câncer, leishmaniose, hanseníase, zika e Alzheimer.
"O nosso laboratório tem experiência no uso de biomarcadores proteicos para a identificação de doenças. Alguns deles já eram marcadores conhecidos que utilizamos em dispositivos, outros eram biomarcadores novos, como o caso do nosso dispositivo para detectar Alzheimer. Nesse novo projeto usaremos marcadores de RNA, partes da sequência de RNA que foram separadas pelo pesquisador Matias Melendez, que integra o nosso grupo”, diz.
No estudo para COVID-19, os pesquisadores vão testar a aplicação dos biomarcadores genéticos inicialmente em amostras com sequências sintéticas. Na segunda fase do projeto, haverá comprovação da técnica em amostras de pacientes infectados pelo SARS-CoV-2 fornecidas pelo Hospital Universitário da UFSCar, por meio de uma colaboração do pesquisador com o professor do Departamento de Medicina Henrique Pott Junior.
Identificação do vírus em ambientes
A equipe multidisciplinar também está desenvolvendo outros tipos de testes com sensores para a identificação do vírus em ambientes, como casas, ruas e escritórios, e no sistema de esgoto. Esses dois outros projetos estão sendo apoiados por um edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
"Como já temos uma metodologia, é do nosso interesse adaptá-la para diferentes usos, desde que seja possível identificar um biomarcador para a doença”, diz.
Além de trabalhar com a detecção de sequências de RNA do vírus, o grupo busca desenvolver ainda outra abordagem a partir do capsídeo do vírus (a membrana que envolve o vírus). "Se conseguirmos detectar o capsídeo, podemos desenvolver um teste mais abrangente e que precisaria de menos tratamento da amostra”, diz.
Faria explica que para atingir o RNA é preciso uma solução para "quebrar"o vírus e expor o material genético a ser detectado pelo sensor. "Ao identificar o capsídeo será possível detectar o vírus diretamente, o que abre um leque de possibilidades, como criar um dispositivo para identificação em sistema de esgoto ou no ar. Com isso, seria possível monitorar a distância o ambiente externo e mapear a contaminação de áreas pelo esgoto ou por coleta de material particulado na atmosfera”, diz.
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- 12/05/2020 - Lockdown será inevitável em SP se isolamento não subir nas próximas semanas, indica estudoFonte: Agência FAPESPKarina Toledo|Agência FAPESP – Projeções feitas com um modelo matemático desenvolvido na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) indicam que a adoção de lockdown obrigatório no Estado de São Paulo será inevitável caso o nível de isolamento social não suba significativamente nas próximas semanas, começando já nesta terça-feira (12/05).
Entre os dias 8 e 10 de maio, foram registrados, em média, 1.839 novos casos diários de COVID-19 em todo o estado, sendo 1.033 somente na capital. Se for mantida a taxa de contágio (R0) – que é o número de pessoas para as quais um infectado transmite o vírus – observada nos 30 dias anteriores a 10 de maio, no final de junho São Paulo contabilizará 53,5 mil novas infecções por dia, sendo 20,8 mil casos diários somente no município de São Paulo. Nesse período, estima-se que o número de novos casos dobre a cada 11,5 dias para o estado e a cada 12,9 dias para a capital, nas próximas semanas.
Tabela – Projeção para o número de novos casos diários da COVID-19 para São Paulo, estado e capital, 12/05 a 30/06.
Número básico de reprodução (R0) e número de dias para dobrar o número de casos diáriosFonte de dados: Fundação Seade (https://www.seade.gov.br/coronavirus/)
O cálculo foi feito considerando-se os dados reais de crescimento do número de casos ao longo do último mês, que indicam uma taxa de contágio de 1,49 para o estado e de 1,44 para a cidade de São Paulo. Ou seja, no final de abril, cada 100 paulistas infectados transmitiam o novo coronavírus para quase 150 pessoas, em média (ao longo de um período de cerca de 7,5 dias após se contaminar, de acordo com a modelagem utilizada).
"Essas projeções têm grande chance de estarem subestimadas, pois o nível de isolamento vem caindo desde o início de abril e, entre 5 e 9 de maio, não ultrapassou 50%, o que provocará o aumento da taxa de contágio. Isso se refletirá daqui a 15 ou 20 dias no número de novos casos, depois sobre o número de óbitos. Mas, mesmo que se mantenha o nível de contágio estimado até 10 de maio, os valores projetados indicam que ainda este mês o sistema público de saúde da Região Metropolitana de São Paulo [RMSP] atingirá o limite, pois o nível de ocupação de leitos de UTI [Unidade de Terapia Intensiva] já está acima de 80%. Se o isolamento não for ampliado urgentemente, o estado terá de adotar medidas mais drásticas de contenção, como ocorreu na Itália, ou a situação se tornará insustentável”, afirma o matemático Renato Pedrosa, professor do Instituto de Geociências da Unicamp e coordenador do Programa Especial Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação da FAPESP.
Figura – Nível de isolamento social em São Paulo (%) com linhas de tendência, estado e capital, 21/03 a 09/05.
As estimativas foram feitas com um modelo desenvolvido por Pedrosa e descrito em artigo disponível na plataforma medRxivem versão preprint (ainda não revisada por pares). O modelo permite estimar a dinâmica de transmissão da COVID-19 em diferentes locais, levando em conta variáveis climáticas (temperatura e umidade absoluta), a densidade populacional e a linha do tempo da instalação da doença (data em que o país ou a região atingiu a marca de 100 casos).
Para desenvolver o modelo, Pedrosa usou dados de 50 estados norte-americanos e de outros 110 países, incluindo o Brasil. Foram selecionados países para os quais havia informação suficiente disponível para calcular a taxa de crescimento exponencial no período em que o centésimo caso da doença foi registrado. As informações meteorológicas foram obtidas em uma base de dados da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês), instituição que integra o Departamento de Comércio dos Estados Unidos. Já os dados referentes à expansão da COVID-19 até o dia 10 de abril vieram de duas fontes: o Centro de Ciências de Sistemas e Engenharia da Johns Hopkins University (Estados Unidos) e o Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças, com sede na Suécia.
"Estudos iniciais sugeriam que o novo coronavírus teria mais dificuldade para se disseminar em países com clima quente e úmido. Mas, segundo este modelo, o efeito das variáveis climáticas na taxa inicial de expansão da doença não foi significativo ao se incluírem as variáveis de densidade populacional e/ou a data de início da doença [100º caso]. Isso confirmou a experiência do Brasil e de outros países que estavam em período de verão, com clima quente e úmido, e sofreram expansão severa da COVID-19”, conta Pedrosa.
"A data do centésimo caso apareceu de forma interessante. Quanto mais tarde esse evento ocorreu em um determinado local, menor foi a taxa inicial de expansão da COVID-19. Uma possível explicação para esse achado é que, nos locais onde o vírus tardou a chegar, a população foi ganhando consciência sobre a necessidade de adotar medidas de proteção, como lavar as mãos, usar álcool em gel, evitar apertos de mão e aglomerações. E isso diminuiu a velocidade de transmissão mesmo nos estágios iniciais”, avalia.
Segundo Pedrosa, uma vez descontado esse efeito, a densidade populacional das diferentes regiões analisadas – medida pelo número de habitantes por quilômetro quadrado – passou a ser a variável mais relevante para estimar a taxa de expansão livre da COVID-19, ou seja, sem nenhum efeito de atenuação de diversas origens, e como seria o contágio nessa situação. Quanto mais densamente povoada a região, maior seria a taxa de contágio livre, algo esperado conceitualmente, mas, segundo Pedrosa, aplicado pela primeira vez na análise da taxa de contágio da COVID-19.
Contágio atenuado
Com base nesses resultados, Pedrosa decidiu estimar a taxa de atenuação do contágio que seria necessária para controlar a doença em todas as capitais brasileiras e no Distrito Federal, em função da densidade populacional de cada cidade.
No topo da lista das mais densamente povoadas do país estão Fortaleza (7.786 hab./km2), São Paulo (7.398 hab./km2), Belo Horizonte (7.167 hab./km2), Recife (7.040 hab./km2) e Rio de Janeiro (5.267 hab./km2). Se nenhuma medida de distanciamento social tivesse sido adotada para conter o avanço do novo coronavírus nesses municípios, calcula o pesquisador, todos teriam uma taxa de contágio superior a 5,8 e o número de infecções dobraria em menos de dois dias.
"Isso ocorreu no início da pandemia em outros países, como na cidade de Nova York, nos Estados Unidos, em que o número de casos dobrou a cada 1,4 dia durante a semana de maior intensidade da pandemia, logo no seu início. A densidade populacional de Nova York atinge mais de 25 mil hab./km2 em Manhattan, e o caso foi analisado no artigo resultante da pesquisa”, observa o pesquisador.
"Para controlar a doença nas quatro cidades mais densamente povoadas do país, é preciso atenuar a taxa de contágio livre em 84%, o que seria possível com pelo menos 60% de isolamento social combinado ao uso obrigatório de máscaras de boa qualidade, por exemplo”, estima Pedrosa.
O potencial de proteção das máscaras pode ser calculado, segundo estudo disponível no repositório arXiv (também em versão preprint), que avaliou a eficiência de diversos modelos para atenuar o contágio, que pode ser muito significativo, dependendo da cobertura do uso e do tipo de máscara. "A dificuldade em utilizar os resultados desse estudo para estimar o efeito da obrigatoriedade do seu uso é que a eficiência dos tipos de máscara varia muito, desde praticamente zero para máscaras feitas em casa de material inadequado até mais de 90% para as máscaras do tipo N95, usadas por profissionais e que custam muito caro, sendo inacessíveis à maioria da população”, diz o pesquisador.
Pedrosa ressalta que a RMSP engloba várias cidades de alta densidade populacional, que apresentam números de reprodução [R0] próximos do observado na capital ou mesmo mais altos, como Diadema, Carapicuíba e Osasco. "Portanto, para uma região com mais de 21 milhões de habitantes, a situação poderá se tornar ainda mais grave em prazo muito curto se medidas que levem ao aumento do isolamento falharem”, conclui Pedrosa.
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- 11/05/2020 - Medicamento anticoagulante reduz em 70% a infecção de células pelo novo coronavírusFonte: Agência FAPESPElton Alisson | Agência FAPESP– Estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e colaboradores europeus revela um possível novo mecanismo de ação do fármaco heparina no tratamento da COVID-19. Além de combater distúrbios de coagulação que podem afetar vasos do pulmão e prejudicar a oxigenação, o medicamento parece também ser capaz de dificultar a entrada do novo coronavírus (SARS-CoV-2) nas células.
Em testes de laboratório, feitos em linhagem celular proveniente do rim do macaco-verde africano (Cercopithecus aethiops), a heparina reduziu em 70% a invasão das células pelo novo coronavírus. Os resultados do estudo, apoiado pela FAPESP no âmbito de um projeto selecionado na chamada FAPESP "Suplementos de rápida implementação contra a COVID-19”, foram descritos em artigo publicado na plataforma bioRxiv, ainda em versão pré-print (sem revisão por pares). A pesquisa contou com a participação de cientistas da Inglaterra e da Itália.
"Existiam indícios de que a heparina, que é um fármaco que desempenha várias funções farmacológicas, também tinha capacidade de prevenir infecções virais, incluindo por coronavírus, mas as evidências não eram muito robustas. Conseguimos comprovar essa propriedade do medicamento em ensaios in vitro”, diz à Agência FAPESP Helena Bonciani Nader, professora da Unifesp e coordenadora do projeto do lado brasileiro.
O grupo de Nader estuda há mais de 40 anos os glicosaminoglicanos – classe de carboidratos complexos à qual a heparina pertence – e desenvolveu as primeiras heparinas de baixo peso molecular, usadas clinicamente como agentes anticoagulantes e antitrombóticos, inclusive em pacientes com COVID-19.
Uma das descobertas feitas pelo grupo ao longo deste período foi que a heparina é um medicamento multialvo, pois além do seu efeito na prevenção da coagulação do sangue pode se ligar a diversas proteínas. Entre elas, fatores de crescimento e citocinas que se ligam a receptores específicos na superfície de células-alvo.
Nos últimos anos, estudos feitos por outros grupos sugeriram que as proteínas de superfície de outros coronavírus até então relatados poderiam se ligar a um glicosaminoglicano das células de mamíferos, chamado heparam sulfato, para infectá-las.
Com o surgimento do SARS-CoV-2, os pesquisadores da Unifesp, em colaboração com os colegas ingleses e italianos, tiveram a ideia de avaliar se a proteína de superfície do novo coronavírus responsável pela infecção das células – chamada proteína spike – se liga à heparina, uma vez que a molécula do fármaco tem estrutura muito semelhante à do heparam sulfato.
Os experimentos confirmaram a hipótese. Por meio de técnicas de ressonância plasmônica de superfície e de espectroscopia de dicroísmo circular, observou-se que a heparina, ao se ligar às proteínas spike do SARS-CoV-2, causa nessas moléculas uma alteração conformacional. Dessa forma, avaria a "fechadura” para entrada do vírus nas células.
"Se não entrar na célula, o vírus não consegue se multiplicar e não tem sucesso na infecção”, explica Nader.
Melhor forma estrutural
Os pesquisadores também avaliaram quais formas estruturais da heparina apresentam melhor interação e são capazes de mudar a conformação das proteínas spike do novo coronavírus, com base em uma biblioteca de derivados e em diferentes fragmentos da molécula, definidos por tamanho.
"Os resultados das análises indicaram que a heparina que apresenta a melhor interação e atividade de alteração conformacional da proteína spike do SARS-CoV-2 é com oito polissacarídeos, ou seja, um octossacarídeo”, afirma Nader.
Os pesquisadores estão fazendo, agora, mudanças estruturais em heparinas para identificar uma molécula que apresente o mesmo efeito de ligação e mudança conformacional da proteína spike do novo coronavírus, mas que cause menos sangramento – um potencial efeito colateral do fármaco.
Além disso, também estão testando outros compostos chamados de heparinas miméticas – que mimetizam a ação da heparina.
"A ideia é chegar a uma molécula com melhor efeito antiviral”, afirma Nader, que também integra o Conselho Superior da FAPESP.
Segundo a pesquisadora, os estudos em andamento serão feitos com tecnologias de biologia estrutural que envolvem técnicas de ressonância nuclear magnética, de cinética de interação rápida por stop-flow, microscopia confocal e citometria de fluxo, entre outras, empregando diferentes modelos celulares.
O artigo Heparin inhibitis cellular invasion by SARS-CoV-2: structural dependence of the interaction of the surface protein (spike) S1 receptor binding domain with heparin (DOI: 10.1101/2020.04.28.066761), de Courtney J. Mycroft-West, Dunhao Su, Isabel Pagani, Timothy R. Rudd, Stefano Elli, Scott E. Guimond, Gavin Miller, Maria C. Z. Meneghetti, Helena B. Nader, Yong Li, Quentin M. Nunes, Patricia Procter, Nicasio Mancini, Massimo Clementi, Nicholas R. Forsyth, Jeremy E. Turnbull, Marco Guerrini, David G. Fernig, Elisa Vicenzi, Edwin A. Yates, Marcelo A. Lima e Mark A. Skidmore, pode ser lido no bioRxivem www.biorxiv.org/content/10.1101/2020.04.28.066761v1.full.
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- 11/05/2020 - Mais de 50% da população adulta do Brasil está no grupo de risco da COVID-19Fonte: Agência FAPESPKarina Toledo | Agência FAPESP – Mais de 50% da população adulta brasileira – ou 86 milhões de pessoas – apresenta ao menos um dos fatores que aumentam o risco de manifestações graves da COVID-19, sugere estudo feito na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Se considerados apenas os adultos com menos de 65 anos, a proporção dos suscetíveis a complicações caso venham a se infectar pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) ainda é alta: 47%.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores incluíram na análise tanto os fatores de risco apontados pelos estudos iniciais sobre a doença, em países asiáticos, quanto os observados nas pesquisas mais recentes, conduzidas na Europa e nos Estados Unidos.
"Inicialmente, foram incluídas no grupo de risco as pessoas com idade igual ou superior a 65 anos, portadores de doenças crônicas [cardiovasculares, diabetes, hipertensão e doença pulmonar obstrutiva crônica] e os pacientes com câncer diagnosticados há menos de cinco anos. Os últimos estudos, porém, propuseram novos fatores de risco: pacientes em diálise ou outro tratamento para doença renal crônica, obesidade, asma moderada ou grave e tabagismo”, explica Leandro Rezende, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina (EPM-Unifesp) e coordenador da pesquisa, cujos resultados serão divulgados em breve na Revista de Saúde Pública.
Para estimar o tamanho do grupo de risco para COVID-19 no país, os pesquisadores da Unifesp usaram dados de 51.770 participantes da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2013. Trata-se de um inquérito de âmbito nacional que coletou, em mais de 80 mil domicílios, dados como peso, altura, circunferência da cintura e pressão arterial – além de amostras de sangue e urina para exames laboratoriais de uma parcela dos entrevistados.
"Infelizmente, esse é o levantamento mais recente que reúne todas as informações necessárias para nossa análise. Em 2019, teve início uma nova edição da PNS, que ainda não foi concluída. Vale ressaltar que a falta de investimento público em inquéritos abrangentes como esse dificulta a realização de análises precisas para subsidiar políticas públicas em uma situação de crise, como a atual”, diz Rezende.
Segundo o pesquisador, se forem comparados os dados da PNS com os de levantamentos mais recentes, como o Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco para doenças crônicas não transmissíveis do Ministério da Saúde) de 2018, realizado nas capitais dos estados brasileiros e no Distrito Federal, nota-se que a prevalência de diabetes (de 6,9% em 2013 para 7,7% em 2018) e hipertensão (de 21,5% entre os homens para 22,1%) variou pouco na população brasileira nos últimos anos, enquanto o número de fumantes diminuiu de 14,4% para 12,1%. Por outro lado, houve um crescimento considerável na proporção de obesos (de 17,5% para 19,8%) e de pessoas com doenças crônicas associadas ao envelhecimento.
"O tamanho do grupo de risco estimado pelo nosso estudo está possivelmente subestimado, o que torna ainda mais necessária a manutenção das medidas de distanciamento físico. Pelo menos até que os estudos de soroprevalência [que estimam a parcela da população que já foi infectada e desenvolveu anticorpos contra o novo coronavírus] indiquem ser segura a flexibilização”, avalia Rezende.
Desigualdades
Entre os adultos que concluíram apenas a primeira etapa do ensino fundamental, que representam na pesquisa a parcela da população com menor nível socioeconômico, a presença de fatores de risco para COVID-19 grave foi duas vezes mais frequente do que entre os adultos com nível superior completo.
"Embora a desigualdade social no país seja um fato conhecido, nos assustamos com os números. Cerca de 80% dos adultos com baixa escolaridade podem ser incluídos no grupo de risco, enquanto entre as pessoas com nível superior essa proporção é de 46%”, conta o pesquisador. "A prevalência de doenças é maior justamente na parcela da população mais vulnerável, que mora em locais onde o distanciamento físico é difícil, tem vínculos empregatícios mais frágeis e menos acesso a serviços de saúde. É preocupante.”
Ao analisar separadamente os dados estaduais, os pesquisadores observaram que a proporção da população no grupo de risco é maior no Rio Grande do Sul (58,4%), em São Paulo (58,2%) e no Rio de Janeiro (55,8%). Já os estados com menor proporção foram Amapá (45,9%), Roraima (48,6%) e Amazonas (48,7%).
"Há duas possíveis explicações para essa diferença. Uma tem relação com a maior expectativa de vida nos estados do Sul e Sudeste, onde o nível socioeconômico da população é maior e, portanto, há mais idosos. A outra seria o menor acesso ao diagnóstico médico no Norte e Nordeste, que poderia ter enviesado os dados sobre a prevalência de doenças como diabetes e hipertensão, que, muitas vezes, são assintomáticas no início”, diz.
De todo modo, Rezende considera que os indicadores estaduais podem ser úteis para guiar os gestores públicos em suas estratégias de prevenção e controle da epidemia. "Os números atuais, por enquanto, encorajam a permanência das medidas de distanciamento físico em quase todo o país”, afirma.
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- 08/05/2020 - Pesquisadores estimam haver mais de 1,6 milhão de casos de COVID-19 no BrasilFonte: Agência FAPESPMaria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Estimativa realizada por pesquisadores brasileiros e publicada no site COVID-19 Brasil aponta mais de 1,6 milhão de casos da doença causada pelo novo coronavírus no país, sendo 526 mil só no Estado de São Paulo. O número, referente ao dia 4 de maio, é 14 vezes maior que o registro oficial. De acordo com dados do Ministério da Saúde, o país registrava 108 mil casos confirmados da doença, sendo 32 mil só no estado paulista.
A contabilização desses casos ocultados das estatísticas pela subnotificação colocaria o Brasil como o novo epicentro da doença, ultrapassando os 1,2 milhão de casos registrados nos Estados Unidos, país com população maior que a brasileira.
"É sabido que existe uma grande subnotificação de casos no Brasil todo, pois só se estão sendo testados os casos graves, de quem vai para os hospitais. Mas de quanto é essa distorção da realidade? A motivação deste estudo é, de alguma forma, contribuir para o planejamento da epidemia, pois com essa subnotificação tremenda só estamos vendo a ponta do iceberg”, diz Domingos Alves, integrante do grupo COVID-19 Brasil, formado por cientistas de mais de 10 universidades brasileiras para monitorar a epidemia por meio de técnicas de ciências de dados.
O pesquisador, que também é coordenador do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), ressalta que uma estimativa mais realista do número de casos de COVID-19 permitiria que governos e população tivessem maior capacidade de planejar medidas de combate à pandemia.
"Para ter uma noção real da dimensão, o ideal seria testagem em massa. Como não temos testes disponíveis para todos, as estimativas podem servir de base para o gerenciamento de medidas de confinamento, necessidade de novos leitos e da abertura de hospitais de campanha”, diz Alves, que tem experiência em modelagem de epidemias de pneumonia.
Para chegar ao número de casos 14 vezes maior que o registro oficial, os pesquisadores se basearam nos dados epidemiológicos da Coreia do Sul e ajustaram fatores como pirâmide etária, porcentual de comorbidades e fatores de risco para COVID-19 na população brasileira. O ajuste contou ainda com informações sobre o número de óbitos.
"Aparentemente, o número de óbitos é um preditor para o número de casos. Já se sabe que a taxa de letalidade em diferentes países é mais ou menos fixa: 5,8% do total de casos”, diz.
No entanto, Alves ressalta que existe também grande subnotificação dos casos de morte. "Há uma discrepância. Em meio a uma epidemia, pessoas morrem com sintomas de COVID-19, mas permanecem como casos suspeitos, pois não foram e nem serão testados. Em muitas cidades já está acontecendo de as pessoas morrerem em casa, sem receberem nenhum atendimento. É a subnotificação das mortes. Trabalhamos com base apenas nas mortes confirmadas”, diz.
Dessa forma, ressalta o pesquisador, a realidade deve ser ainda mais grave que a estimativa. "É muito possível que seja 20 vezes pior do que os dados oficiais estão mostrando. A estimativa de a epidemia ser 14 vezes mais grave que o registrado já assusta e pode fazer com que as pessoas optem por um lockdown ou cobrem mais leitos e hospitais de campanha, mas é importante ressaltar que se trata de uma estimativa para baixo que estamos fazendo nesse estudo”, diz.
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- 07/05/2020 - Combate ao coronavírus: startup brasileira disponibiliza plataforma gratuita para estudos de células do pulmãoA tecnologia permite personalizar o tipo e origem das células que vão ser estudadas, visando entender como o vírus da COVID-19 atua e como as medicações interferem na sua evolução
A tecnologia permite personalizar o tipo e origem das células que vão ser estudadas, visando entender como o vírus da COVID-19 atua e como as medicações interferem na sua evolução
Fonte: Portal Nacional de Seguros SEGS
MatriWell™ - plataforma desenvolvida pela TissueLabs para fabricar barreiras epiteliais 3D in vitro.
Com a pandemia do coronavírus, há uma necessidade urgente da comunidade científica ampliar o seu conhecimento sobre o vírus e potenciais alvos terapêuticos, apesar dos diversos estudos sobre a eficácia de drogas já existentes. Diante deste cenário, a TissueLabs, startup da Incubadora USP/IPEN-Cietec, que atua na fabricação de órgãos e tecidos em laboratório, direcionou toda sua equipe científica para o desenvolvimento do MatriWell™, plataforma que permite estudar o COVID-19 no epitélio pulmonar, tecido afetado pelo vírus. A solução será distribuída gratuitamente aos pesquisadores que estão desenvolvendo estudos sobre a doença.
Como funciona
O MatriWell™, tecnologia tridimensional desenvolvida pela startup, possui matriz extracelular, tecido de suporte às células presentes no pulmão, permitindo que estas células fiquem expostas a um microambiente mimético, àquele encontrado no órgão dos pacientes. Além disso, a plataforma permite ao pesquisador personalizar o tipo e origem das células que serão estudadas.
Isso significa, por exemplo, que será possível utilizar células de pacientes com outras comorbidades como, asma e DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica), para criar tecidos tridimensionais personalizados, possibilitando compreender como o vírus atua nestes casos específicos e como as medicações utilizadas por esses pacientes interferem na evolução da COVID-19.
De acordo com Gabriel Liguori, CEO da TissueLabs, as atuais plataformas disponíveis para pesquisas in vitro do coronavírus no epitélio pulmonar não conseguem replicar o tecido encontrado no pulmão humano. "De maneira geral, as culturas bidimensionais, tradicionalmente utilizadas na pesquisa biomédica, submetem as células a um microambiente muito diverso daquele encontrado no organismo. Isso leva centenas de novos compostos a serem submetidos a testes pré-clínicos e clínicos com baixíssima taxa de sucesso, desperdiçando recursos que poderiam estar sendo aplicados para o desenvolvimento de compostos com maior chance de êxito", afirma o pesquisador.
Para solicitar a plataforma, o pesquisador deve acessar o site https://www.tissuelabs.com/covid-19 e preencher o formulário de requerimento.
Sobre a TissueLabs
A TissueLabs é uma startup de biotecnologia incubada no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (CIETEC), incubadora de empresas de base tecnológica localizada na Universidade de São Paulo (USP). Desenvolve pesquisas na área de fabricação de órgãos em laboratório e comercializa insumos e equipamentos para suporte à pesquisa nas áreas de medicina regenerativa e engenharia de tecidos. Atualmente, a TissueLabs oferece soluções em 16 diferentes tecidos e órgãos para pesquisadores trabalhando nas mais diversas áreas do setor de ciências da vida.
Sobre o Cietec
O Cietec - Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia, fundado em abril de 1998, tem como missão incentivar o empreendedorismo e a inovação tecnológica por meio da criação, fortalecimento e a consolidação de empresas de base tecnológica. O Cietec apoia a transformação de conhecimento em produtos e serviços para o mercado, a inserção no ecossistema de inovação, a capacitação técnica e de comercialização, contribuindo para o aumento da competitividade no Brasil.
O Cietec é a entidade gestora da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica USP/IPEN, onde são conduzidos processos de incubação de empresas inovadoras, em diferentes níveis de maturidade. Nesses processos, são oferecidos serviços de apoio para demandas nas áreas de gestão tecnológica, empresarial e mercadológica, aproximação com o investimento-anjo, capital semente e venture capital, recursos de fomento público, além de infraestrutura física para a instalação e operação dessas empresas.
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- 07/05/2020 - Unicamp estimula produção local de insumos para o principal teste de COVID-19Fonte: Agência FAPESPElton Alisson | Agência FAPESP – Considerado o padrão-ouro no diagnóstico da COVID-19, o teste de RT-PCR (transcrição reversa seguida de reação em cadeia da polimerase, na sigla em inglês) ainda tem sido pouco realizado no Brasil. A principal razão é a falta dos reagentes necessários para executá-lo – todos importados e escassos no mercado.
A fim de diminuir a dependência externa desses insumos e contribuir para aumentar a disponibilidade desse tipo de exame no país, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) estão produzindo matérias-primas e estabelecendo protocolos para utilizar reagentes produzidos por startups de biotecnologia situadas em São Paulo nos testes de diagnóstico de COVID-19 por RT-PCR feitos na instituição.
"A ideia é conseguir usar insumos e reagentes produzidos no país em todas as etapas do teste de RT-PCR”, diz à Agência FAPESP André Schwambach Vieira, professor do Instituto de Biologia da Unicamp e integrante da força-tarefa formada por pesquisadores da instituição para combater o novo coronavírus (SARS-CoV-2).
O teste do tipo RT-PCR, também chamado de teste molecular, permite identificar o material genético do vírus em secreções da mucosa nasal e da garganta e tem sido usado massivamente em países considerados exemplos no controle da COVID-19, como a Alemanha e a Coreia do Sul.
Isso porque o exame possibilita identificar o vírus logo no início da infecção, a partir do terceiro até o sétimo dia do início dos sintomas, e isolar mais rapidamente os pacientes de modo a diminuir o contágio. Já testes sorológicos, que verificam a resposta imunológica ao coronavírus, são capazes de constatar a doença em uma fase mais tardia – a partir do décimo dia do início dos sintomas, quando já foram produzidos os anticorpos.
Para fazer a coleta da secreção do nariz ou da garganta é usado um cotonete estéril comprido (swab). Mas até esse insumo básico está em falta no mercado em função da corrida de vários países para realizar testes diagnósticos, afirma Vieira.
Em contato com os pesquisadores, a Braskem – empresa produtora de resinas plásticas – se dispôs a estudar uma forma de também produzir no país o insumo, composto por uma haste flexível de plástico e fibra sintética, como o náilon ou raiom, na ponta.
"Já fizemos algumas reuniões com representantes da empresa, que se incumbiram de analisar a viabilidade de produzir swabsno país”, diz Vieira.
As amostras de secreção coletadas são enviadas aos laboratórios de análises mergulhadas em solução salina (soro fisiológico). Lá são submetidas a um processo de extração e purificação do material genético do vírus – o RNA – de modo a eliminar o invólucro formado por proteínas (capsídeo) que protege o microrganismo, além de outras proteínas e enzimas presentes nas amostras.
"A purificação do RNA viral é uma etapa crítica, pois permite que o teste tenha a maior sensibilidade possível e garante a reprodutibilidade dos resultados”, explica Vieira.
Hoje, para realizar milhares de testes de PCR para diagnóstico da COVID-19 é necessário empregar partículas nanomagnéticas chamadas nanobits. Esses kits de extração de RNA, contudo, também são importados e estão em falta no mercado.
Um grupo de pesquisadores do Instituto de Química da Unicamp, coordenado pela professora Ljubica Tasic, conseguiu sintetizar partículas micromagnéticas para extração e purificação de RNA viral.
As micropartículas são compostas de magnetita revestida com silicato. Em contato com as partículas, o RNA se liga a elas por uma interação eletrostática e é absorvido pelo silicato. Ao lavar as partículas, o material genético do vírus é extraído para fazer a PCR.
"Testamos as partículas tanto com RNA viral como bacteriano e os resultados foram muito positivos. Se tudo correr bem, poderemos usá-las, agora, para fazer diversos testes simultaneamente”, afirma Tasic.
A quantidade de partículas magnéticas produzidas inicialmente pelos pesquisadores é suficiente para 10 mil extrações de RNA do novo coronavírus. A ideia é aumentar progressivamente a produção.
"Agora temos um produto substituto ao importado para fazer extração e purificação de RNA”, diz Tasic.
Substituição de importação
Outros insumos importados que os pesquisadores da Unicamp também já conseguiram substituir nos testes de RT-PCR são enzimas, primerse sondas usadas nas etapas seguintes às da extração e purificação.
Por meio de uma parceria com as startups Ecra Biotec e Exxtend, foram validados os reagentes produzidos pelas duas empresas de acordo com o protocolo para realização de diagnóstico de COVID-19 por teste de RT-PCR elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), explica Vieira.
As duas empresas foram apoiadas pelo Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).
"Já usávamos os reagentes produzidos por essas empresas em projetos de pesquisa anteriores. Agora, com a pandemia de COVID-19, decidimos compará-los com os importados para verificar se apresentam a mesma qualidade e eficiência. Os resultados foram muito positivos”, conta Vieira.
As enzimas desenvolvidas pela Ecra Biotec, com apoio do PIPE-FAPESP, chamadas transcriptase reversa, são usadas para converter o genoma do vírus SARS-CoV-2 de RNA para DNA.
"Fizemos uma série de testes comparativos com as enzimas comercializadas hoje e constatamos que apresentam resultados superiores”, diz Fábio Trigo Raya, sócio-fundador da empresa.
Já a Exxtend produz sequências curtas de DNA, chamada sprimerse sondas, que auxiliam na amplificação e na detecção do material genético do vírus em uma amostra.
Se o vírus estiver presente na amostra, seu material genético será replicado milhões de vezes e a luz emitida por moléculas fluorescentes ligadas às sequências de DNA será registrada pelo sensor do equipamento de análise como um sinal da infecção. Dependendo da intensidade dessa luz, é possível até estimar a quantidade de vírus presente no paciente.
"Temos planos de aumentar nosso portfólio e produzir uma série de outros insumos necessários para apoiar o desenvolvimento de testes diagnósticos no país”, diz Paulo Roberto Pesquero, diretor da empresa.
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- 03/05/2020 - Pesquisadores do Butantan combinam técnicas de biotecnologia para formular vacina contra COVID-19Fonte: Agência FAPESPMaria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Pesquisadores do Instituto Butantan vão combinar técnicas inovadoras de biotecnologia para formular uma nova vacina contra COVID-19. O objetivo é induzir no organismo, de modo mais efetivo, diferentes tipos de resposta imune contra o novo coronavírus (SARS-CoV-2).
A nova estratégia é inspirada em um mecanismo usado por certas bactérias para "despistar” nosso sistema imune: elas liberam pequenas esferas feitas com o material de suas membranas como iscas para desviar a defesa do organismo. Essas vesículas, denominadas membranas pelos pesquisadores, têm a propriedade de ativar intensamente o sistema imunológico e, por isso, atraem células e moléculas da defesa do organismo.
Os pesquisadores vão aproveitar esse artifício das vesículas de membrana e acoplar a elas proteínas de superfície do novo coronavírus. Criadas em laboratório, essas vesículas atrairiam a defesa imune contra as proteínas de superfície do SARS-CoV-2, induzindo uma memória a ser mobilizada no caso de uma eventual infecção. A formulação estimularia não só a produção de anticorpos, mas também de outras células ligadas ao sistema imune, como macrófagos e glóbulos brancos.
"Para essa abordagem, juntamos duas estratégias diferentes que já vínhamos utilizando no desenvolvimento de vacinas contra outras doenças. A nova técnica permite que as formulações contenham uma grande quantidade de um ou mais antígenos do vírus em uma plataforma fortemente adjuvante, induzindo uma resposta imune mais pronunciada”, diz Luciana Cezar Cerqueira Leite, pesquisadora do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do Instituto Butantan.
O estudo, apoiado pela FAPESP, integra uma plataforma de pesquisa que envolve o desenvolvimento de vacinas para coqueluche, pneumonia, tuberculose e esquistossomose, com base em técnicas desenvolvidas para a BCG recombinante (usada para prevenir formas graves de tuberculose em crianças). Recentemente, foi criada uma nova linha no projeto voltada ao desenvolvimento de uma vacina para a COVID-19.
"No mundo todo, e aqui no Brasil também, estão sendo testadas diferentes técnicas. Muitas delas têm como base o que já estava sendo desenvolvido para outros vírus, como o que causou o surto de SARS em 2001. Esperamos que funcionem, mas o fato é que ninguém sabe se vão realmente proteger. Neste momento de pandemia, não é demais tentar estratégias diferentes. A nossa abordagem vai demorar mais para sair, mas, se aquelas que estão sendo testadas não funcionarem, já temos os planos B, C ou D”, diz a pesquisadora.
Muitas vacinas consistem em soluções com o patógeno morto ou atenuado. São as chamadas vacinas celulares que, ao serem injetadas no indivíduo, têm por objetivo desenvolver a resposta imune contra o microrganismo, como anticorpos específicos e outras células de defesa de modo seguro, sem sofrer as consequências da doença. Dessa forma o indivíduo fica imunizado, tendo uma "memória de combate” do próprio sistema imune contra um determinado patógeno.
"As vacinas celulares são formas simples, e com frequência eficazes, de se obter um imunizante, porém, essas abordagens nem sempre funcionam, principalmente para patógenos com grande variabilidade antigênica ou organismos mais complexos, com mecanismos de evasão do sistema imune mais sofisticados”, diz a pesquisadora.
Estratégias combinadas
O grupo do Butantan propõe a combinação de duas estratégias para o desenvolvimento de uma vacina acelular. De um lado, tem-se as proteínas recombinantes de antígenos de superfície do novo coronavírus, que têm o papel de deflagrar a produção de anticorpos específicos contra o SARS-CoV-2. De outro lado, utiliza-se vesículas de membrana externa (Outer membrane vesicles conhecidos como OMVs) como matriz suporte dos antígenos, para que a partícula mimetize o vírus.
"As vesículas de membrana externa podem modular a resposta imunológica, em geral, aumentando e melhorando a proteção. Muitas vacinas têm o hidróxido de alumínio como principal adjuvante. No nosso caso, usaremos as OMVs para uma apresentação do antígeno com forte poder adjuvante embutido, que garante uma resposta melhor”, diz.
Para isso, a vacina em desenvolvimento no Butantan usará uma plataforma inovadora de apresentação de antígenos chamada Multiple antigen presenting system (MAPS), desenvolvida por um colaborador da Universidade de Harvard (Estados Unidos) e usada em uma formulação experimental contra o pneumococo.
Basicamente, o complexo molecular é montado por um sistema de acoplamento semelhante ao usado para detecção na reação de ELISA (ensaio de imunoabsorção enzimática), muito usada em diagnósticos. Esse tipo de teste de laboratório é usado para detectar anticorpos contra um determinado patógeno e assim diagnosticar doenças. No processo desenvolvido em Harvard, um ou vários antígenos são ligados a polissacarídeos das cápsulas das bactérias, como se fossem peças de encaixar.
"É uma plataforma que permite a ligação não-covalente de proteínas de forma muito eficiente, permitindo saturar a superfície da OMV com as proteínas do vírus, tornando-as bastante imunogênicas”, disse Cerqueira Leite à Agência FAPESP.
A ideia de usar as OMVs partiu da observação de uma estratégia que determinadas bactérias gram-negativas adotam para escapar do sistema de defesa do hospedeiro. "Quando infectam organismos, as bactérias produzem essas vesículas a partir de sua própria membrana externa. O intuito é atrapalhar a resposta do sistema imunológico. Anticorpos e outras células relacionadas ao sistema imune ficam tentando matar as vesículas em vez de atacar as bactérias, que ficam livres para se multiplicar no organismo”, diz.
Na nova formulação, a presença dessas vesículas extracelulares tem a função de estimular a resposta imunológica. "Elas são muito imunogênicas. Estudos recentes mostram que têm grande capacidade de ativar células dendríticas e macrófagos”, diz.
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- 02/05/2020 - Pesquisadores da USP desenvolvem aparelho que detecta presença de coronavírus no arPrevisão é a de que, se foram liberados, os aparelhos sejam montados em cinco hospitais da capital paulista nas zonas norte, oeste e centro nos próximos dias.
Previsão é a de que, se foram liberados, os aparelhos sejam montados em cinco hospitais da capital paulista nas zonas norte, oeste e centro nos próximos dias.
Fonte: SP 1a. edição - Portal G1
Por Renato Peters, SP1— São Paulo
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um aparelho que verifica a qualidade do ar e que consegue identificar a presença do coronavírus no ambiente. Pesquisas recentes realizadas por médicos de vários países mostram que o vírus pode ficar no ar por algumas horas, por isso, a tecnologia desenvolvida pela USP pode auxiliar no monitoramento de lugares onde há risco de contrair a doença.
O "amostrador", como foi batizado o aparelho, capta o ar do ambiente, inclusive micropartículas invisíveis a olho nu. Elas ficam presas em um tubo, o qual é levado para o laboratório, onde é analisado. A partir das amostras é possível dizer se o coronavírus está presente nos ambientes.
O instrumento também possui um sensor que é capaz de ler e transmitir, em tempo real, como está a qualidade do ar e se tem muita concentração de gás carbônico, o que ajuda a verificar, por exemplo, aglomerações de pessoas. A tecnologia utilizada no aparelho foi baseada em outros instrumentos já usados no exterior, mas é 100% nacional, o que a torna mais barata que similares importados.
"Esse mesmo amostrador foi usado em 2018 pra identificação do vírus influenza em transporte público em Singapura.", disse Aikawa.
O aparelho foi desenvolvido no Centro de Inovação e Tecnologia (Cietec) na USP, local onde empresas ficam "incubadas", ou seja, protegidas enquanto crescem e conseguem financiamento para projetos.
Nos próximos dias, se for liberado, os pesquisadores pretendem montar os instrumentos em cinco hospitais da capital nas Zonas Norte, Oeste e no Centro.
Coronavírus no ar
Gorenstein explica que esses estudos ainda estão sendo discutidos, mas, diz que eles reforçam a necessidade de algumas medidas de proteção.Estudos recentes, publicados em revistas científicas importantes, mostraram que partículas lançadas pelo espirro e pela tosse podem podem ficar suspensas no ar por até três horas.
Um desses estudos, publicado há poucos dias na revista Nature, foi feito em dois hospitais de Wuhan, na China, onde a epidemia começou, e também em áreas públicas da cidade. A pesquisa mostrou uma presença maior de partículas do vírus - o chamado RNA - no ar do banheiro dos pacientes, de áreas em que a equipe médica tirava as roupas de proteção e, principalmente, depositados em superfícies da UTI. O estudo também detectou a presença do vírus no ar de lojas de departamento.
A infectologista Rosana Richtmann afirma que as pesquisas revelam a presença do RNA viral do vírus no ar, mas isso não permite concluir que essa partícula genética seja infectante. Entretanto, ela reforça que é importante tomar os cuidados devidos.
"Esses estudos são super importantes para a gente entender cada vez mais o vírus, mas o que eles estão detectando é o RNA viral. O que é isso? É uma partícula genética do vírus, saber se o vírus está infectante a gente ainda não sabe, mas, na dúvida, a gente sempre fala que tem muitos estudos mostrando que sim, o vírus pode ficar no ar, pelo menos uns trinta minutos até três horas, e isso só reforça o que a gente sempre fala, ventilação do ambiente, higiene na hora de tossir e espirrar exatamente com o objetivo de não disseminar partículas no nosso ambiente e não contaminar superfícies", disse Richtmann.
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- 30/04/2020 - Tem início o mapeamento da população já infectada pelo novo coronavírus na capital 30 de abril de 2020Fonte: Agência FAPESPKarina Toledo | Agência FAPESP – Um projeto que visa determinar o porcentual da população paulistana que já foi infectada e desenvolveu anticorpos contra o novo coronavírus (SARS-CoV-2) começou na quinta-feira(30/04) em seis bairros da capital. Essa informação é considerada crucial para a elaboração do plano de flexibilização da quarentena na cidade, onde se concentra a maioria dos casos de COVID-19 do país.
A iniciativa envolve pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade de São Paulo (USP), além de colaboradores do Grupo Fleury, da consultoria Ibope Inteligência e da ONG Instituto Semeia. Conta ainda com apoio da Secretaria Municipal de Saúde e do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo, criado pelo governo estadual.
"Nossa equipe fará, nesta etapa-piloto, a coleta domiciliar de dados, por meio de um questionário, e de amostras de sangue de 500 moradores, que serão levadas para análise em laboratório. Acreditamos que em no máximo seis dias após o início da coleta os primeiros resultados estejam disponíveis”, conta o médico Celso Granato, professor da Unifesp e diretor clínico do Grupo Fleury.
No momento, estão sendo selecionados os domicílios que serão visitados pela equipe do projeto. A fase de coleta deve começar na segunda-feira (04/05).
O material será analisado em uma unidade da rede Fleury localizada no bairro do Jabaquara, por um método conhecido como quimioluminescência – capaz de detectar tanto a presença de anticorpos IgM (imunoglobulina M), que é o primeiro tipo produzido pelo organismo e que pode ser detectado a partir do sétimo dia de infecção, como de anticorpos IgG (imunoglobulina G), produzidos mais tardiamente e considerados mais específicos e duradouros.
Foram incluídos na primeira fase de coleta os três bairros paulistanos com maior incidência cumulativa de infecção pelo novo coronavírus (número total de casos confirmados por 100 mil habitantes): Morumbi, Jardim Paulista e Bela Vista. E também os três bairros com maior incidência de óbitos por COVID-19 (número de mortes pela doença por 100 mil habitantes): Água Rasa, Belém e Pari.
"A seleção dos bairros foi feita com base nas estatísticas fornecidas pela Prefeitura. Em um futuro breve, pretendemos ampliar a área de coleta e também, oportunamente, voltar a esses seis bairros para medir a taxa de soro conversão [porcentual de moradores que no primeiro exame não tinham anticorpos e, no seguinte, passaram a ter]. Esses dados nos darão uma ideia de como a epidemia está evoluindo na cidade”, conta Granato.
O desenho da pesquisa seguiu a mesma técnica de amostragem probabilística usada nas pesquisas de opinião pública conduzidas pelo Ibope. O objetivo é obter uma amostragem representativa da população que reside nas regiões estudadas. Os resultados serão compartilhados com os gestores públicos.
Inquéritos seriados
Especialistas em epidemiologia estimam que as medidas de distanciamento social só poderão ser totalmente abandonadas em uma determinada região quando for atingida a chamada imunidade de rebanho, ou seja, quando aproximadamente 80% da população local já tiver sido infectada e apresentar anticorpos contra o novo coronavírus. Acredita-se que, nessa fase da epidemia, os casos graves seriam esporádicos e o sistema de saúde daria conta de atendê-los.
Na avaliação da médica e professora do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP Beatriz Tess, esse processo deverá ocorrer de forma bastante heterogênea na capital paulista, ou seja, alguns bairros atingirão a imunidade de rebanho mais rapidamente, enquanto outros ainda terão a maior parte de sua população suscetível ao vírus e poderão levar mais tempo para sair da quarentena, dependendo da estratégia adotada pelos gestores da saúde.
"Por esse motivo, é importante repetir a metodologia deste piloto na forma de inquéritos domiciliares seriados, a cada três ou quatro semanas, em diversas regiões da cidade e em outros municípios do Estado de São Paulo. Assim, a evolução da epidemia poderá ser monitorada por meio da taxa de soroprevalência [porcentual de moradores que já desenvolveram anticorpos]”, conta Tess.
A fase-piloto do projeto está sendo custeada pelo Grupo Fleury e pelo Instituto Semeia. Para a ampliação e a continuidade do monitoramento, o grupo espera contar com novas fontes de financiamento. "Várias empresas manifestaram interesse em contribuir. Os resultados serão fundamentais para planejar a flexibilização do isolamento, a adequação dos serviços de saúde e outras políticas públicas relacionadas ao combate da COVID-19”, afirma Tess.
Um dos desafios, porém, será a importação dos reagentes necessários para analisar as amostras em laboratório. "Para os primeiros 500 testes já temos o material reservado, mas não está fácil a importação dos insumos”, conta Granato.
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- 30/04/2020 - Plataforma reúne gráficos interativos sobre a evolução da COVID-19 no BrasilFonte: Agência FAPESPAgência FAPESP* – Um grupo de pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) desenvolveu uma plataforma interativa que reúne dados epidemiológicos sobre a COVID-19 de todos os estados brasileiros. A iniciativa é liderada pela pós-doutoranda Pilar Veras,bolsista da FAPESP que atua no laboratório do professor Carlos Menck, do Departamento de Microbiologia do ICB-USP. Com dados obtidos no site do Ministério da Saúde, os cientistas montaram gráficos interativos que são atualizados diariamente.
A ideia, segundo a pesquisadora, veio da necessidade de organizar os dados de modo a possibilitar comparações entre os estados. Em três semanas, todos os gráficos foram colocados na plataforma para livre acesso. O grupo optou por usar gráficos interativos, em vez de estáticos, para que o usuário compreenda melhor os dados, podendo manipulá-los e escolher quais estados deseja comparar.
"Existem várias iniciativas que tentam fazer análises estaduais, mas os gráficos não reúnem todos os estados e não exploram todos os dados, como mortalidade, incidência de casos e letalidade”, explica Veras.
Os gráficos mostram a quantidade total de casos e óbitos confirmados, a incidência na população, a taxa de letalidade e o número de novos casos. Em cada um, é possível selecionar datas, regiões e estados, de acordo com a informação buscada. A região Sudeste, por exemplo, é a que registrou mais casos até o dia 27 de abril (31.077); em seguida, o Nordeste, com 17.531 casos da doença. Outro gráfico permite verificar se o número de novos casos está diminuindo em cada estado.
Além da publicação de informação gratuita e didática, outro ponto interessante da iniciativa é dar mais visibilidade a estados fora do eixo Rio-São Paulo. A pesquisadora lembra que o país tem dimensões continentais e abriga uma série de peculiaridades que podem influenciar na coleta de dados e até mesmo no destaque que cada lugar ganha na mídia.
O projeto está em constante aprimoramento e a equipe pretende elaborar mais gráficos com diferentes dados. Um deles será sobre a disponibilidade de leitos em cada estado, informação que ainda será coletada e, como destaca a pesquisadora, terá grande impacto no planejamento de políticas para frear o vírus. Outro gráfico fará uma relação entre os principais municípios do estado.
A plataforma com informações atualizadas sobre a epidemia de coronavírus em todo o Brasil está acessível no endereço public.tableau.com/profile/covid19estadosbr#!/.
*Com informações da Assessoria de Comunicação do ICB-USP.
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- 29/04/2020 - Novo coronavírus é capaz de infectar neurônios humanosFonte: Agência FapespKarina Toledo | Agência FAPESP – Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) acabam de confirmar, por meio de experimentos feitos com cultura de células, que o novo coronavírus (SARS-CoV-2) é capaz de infectar neurônios humanos.
A infecção e o aumento da carga viral nas células nervosas foram confirmados pela técnica de PCR em tempo real, a mesma usada no diagnóstico da COVID-19 em laboratórios de referência. O grupo coordenado pelo professor do Instituto de Biologia Daniel Martins-de-Souza também confirmou que os neurônios expressam a proteína ACE-2 (enzima conversora de angiotensina 2, na sigla em inglês), molécula à qual o vírus se conecta para invadir as células humanas. Nos próximos dias, a equipe pretende investigar de que modo o funcionamento dessas células nervosas é alterado pela infecção.
A pesquisa está sendo conduzida no âmbito de um projeto aprovado pela FAPESP na chamada "Suplementos de Rápida Implementação contra COVID-19”, como parte da força-tarefa criada pela Unicamp (leia mais em agencia.fapesp.br/32861/).
"Vamos comparar as proteínas e demais metabólitos presentes nas culturas celulares antes e após a infecção. A ideia é observar como o padrão das moléculas muda e, com base nessa informação, tentar contar a história de como o vírus atua no sistema nervoso central”, explica Martins-de-Souza à Agência FAPESP.
No experimento, realizado pela pós-doutoranda Fernanda Crunfli, foram usados uma linhagem celular cerebral humana e também neurônios humanos obtidos a partir de células-tronco pluripotentes induzidas (IPS, na sigla em inglês).
O método consiste, inicialmente, em reprogramar células adultas – que podem ser provenientes da pele ou de outro tecido de fácil acesso – para fazê-las assumir estágio de pluripotência semelhante ao de células-tronco embrionárias. Esta primeira parte foi realizada no laboratório do professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Stevens Rehen, no Instituto DOR de Pesquisa e Ensino. Em seguida, o time de Martins-de-Souza induziu, por meio de estímulos químicos, as células IPS a se diferenciarem em células-tronco neurais – um tipo de célula progenitora que pode dar origem a diversas células do cérebro, como neurônios, astrócitos e oligodendrócitos.
"Também estamos começando testes com astrócitos humanos e, em breve, saberemos se o vírus infecta essas células, que dão suporte ao funcionamento dos neurônios e são as mais abundantes do sistema nervoso central”, conta Martins-de-Souza.
Efeitos no cérebro
Como explica Martins-de Souza, estudos feitos em outros países sugerem que o SARS-CoV-2 tem tropismo pelo sistema nervoso central, ou seja, uma certa propensão a infectar as células nervosas. "Mas ainda não sabemos se o vírus realmente consegue atravessar a barreira hematoencefálica [estrutura que protege o cérebro de substâncias tóxicas e patógenos presentes na circulação sanguínea] e, caso consiga, que tipo de impacto pode causar no tecido nervoso. Tentaremos buscar pistas que ajudem a elucidar essas dúvidas”, diz o pesquisador.
Os experimentos in vitro com isolados virais estão sendo feitos no Laboratório de Estudos de Vírus Emergentes (Leve) do Instituto de Biologia da Unicamp, que tem nível 3 de biossegurança (em uma escala que vai até 4) e é coordenado pelo pesquisador José Luiz Proença Módena.
Participam dos testes os pós-graduandos Gabriela Fabiano de Souza e Stéfanie Primon Muraro, orientandas de Módena, e Ana Campos Codo e Gustavo Gastão Davanzo, sob a orientação do professor Pedro Moraes Vieira.
Os testes de metabolômica e proteômica serão conduzidos no Laboratório de Neuroproteômica, coordenado por Martins-de-Souza, pelos pós-doutorandos Victor Corasolla Carregari e Pedro Henrique Vendramini. Para isso, será usado um espectrômetro de massas, equipamento capaz de discriminar diferentes substâncias presentes em uma solução com base no peso molecular de cada uma.
"Além de investigar se a quantidade de uma determinada proteína na amostra aumenta ou diminui após a infecção, também pretendemos avaliar como está o nível de fosforilação e de glicosilação das moléculas. Esses dois mecanismos bioquímicos são usados pela célula para ativar ou desativar rapidamente a função desempenhada pelas proteínas. Isso nos dará pistas sobre as vias metabólicas que são alteradas nos neurônios em resposta ao novo coronavírus”, conta Martins-de-Souza.
Manifestações neurológicas
Em um vídeo divulgado no site da Unicamp, o neurologista Li Li Min comenta as manifestações neurológicas já observadas em pacientes com COVID-19, entre elas perda de olfato e paladar, confusão mental, derrame e dor muscular (sem relação com alguma lesão no músculo).
Segundo o pesquisador, estima-se que até 30% dos infectados pelo novo coronavírus possam apresentar algum sintoma neurológico. Min é coordenador de Educação e Difusão do Conhecimento do Instituto de Pesquisa sobre Neurociências e Neurotecnologia (BRAINN), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiado pela FAPESP.
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- 27/04/2020 - Luiz Eugênio Mello assume a Diretoria Científica da FAPESPFonte: Agência FAPESPAgência FAPESP – Luiz Eugênio Araújo de Morais Mello assume hoje, 27 de abril, o cargo de diretor científico da FAPESP. Ele substitui Carlos Henrique de Brito Cruz, que ocupava o cargo desde 2005.
Empossado em meio à pandemia de COVID-19 e durante período de quarentena, Luiz Eugênio Mello afirma em vídeo que, em sua gestão, a FAPESP seguirá "trajetória de excelência” e de indutora de mudanças e que tem planos de otimizar processos, reduzir a burocracia e aumentar a capilaridade de atuação da instituição.
"O novo diretor científico assume com apoio unânime do Conselho Superior, em um momento extremamente delicado, em que a sociedade brasileira enfrenta uma crise sanitária, econômica e política sem precedentes. Nós temos certeza de que o professor Luiz Eugênio Mello será bem-sucedido nesse encargo, tendo em vista a sua liderança e sua experiência pregressa no mundo acadêmico, científico e tecnológico. Sabemos que os próximos meses exigirão cautela na execução das atividades-fim da FAPESP, para assegurar a viabilidade financeira da Fundação, ao mesmo tempo em que cumpre sua missão no panorama de ciência e desenvolvimento do Estado de São Paulo”, afirmou o presidente da Fundação, Marco Antonio Zago.
"Este é um momento muito importante para a FAPESP, pois pela primeira vez, em uma década e meia, passamos por uma transição na Diretoria Científica, e desejo tornar público, em nome do Conselho Superior, nosso reconhecimento à atuação do Prof. Carlos Henrique de Brito Cruz à frente da Diretoria Científica, marcada sempre pela seriedade, busca da qualidade e forte defesa da ciência para a solução dos problemas da sociedade”, completou o presidente da FAPESP.
Luiz Eugênio Mello é graduado em medicina pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) (1982), com mestrado (1985) e doutorado em biologia molecular (1988) pela mesma universidade e pós-doutorado em neurofisiologia na Universidade da Califórnia (UCLA) (1988-1991), nos Estados Unidos.
Livre-docente (1994) e professor titular de fisiologia (1998), Luiz Eugênio Mello foi membro do Comitê de Assessoramento de Biofísica, Bioquímica, Farmacologia, Fisiologia e Neurociências (CA-BF) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (2000-2003), coordenador adjunto da Diretoria Científica da FAPESP (2003-2006).
É membro titular da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp) desde 2007 e da Academia Brasileira de Ciências (ABC) desde de 2010, no mesmo ano em que foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico.
Integra o Conselho Deliberativo do CNPq, o Conselho Deliberativo do Sebrae-SP, o Conselho de Administração do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), o Conselho Superior do Instituto D´Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), o Conselho Consultivo do Centro de Inovação da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGVIn), o Conselho da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), o Conselho da Tibet House Brasil e é editor setorial do Brazilian Journal of Medical and Biological Research.
Foi pró-reitor de Graduação da Unifesp (2005-2008), presidente da Federação das Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE) (2007-2011), conselheiro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) (2014-2017) e vice-presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei) (2016-2018).
Luiz Eugênio Mello foi também diretor de Tecnologia e Inovação da Vale (Vale S.A.) e responsável pela implantação do Instituto Tecnológico Vale (2009-2018); diretor de Pesquisa e Desenvolvimento do IDOR (2018-2020) e diretor da Agência de Inovação Tecnológica e Social (AGITS) da Unifesp (2019-2020). Atua nas áreas de plasticidade neuronal, epilepsia, degeneração neuronal, gestão de C&T.
Escolhido por unanimidade pelo Conselho Superior da FAPESP, Luiz Eugênio Mello foi nomeado pelo governador João Doria em decreto publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo em 06 dezembro de 2019.
Leia a entrevista de Luiz Eugênio Mello à revista Pesquisa FAPESP.
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- 24/04/2020 - A única saída para a pandemia está na ciência, dizem pesquisadoresFonte: Agência FAPESPAgência FAPESP – A pandemia de COVID-19 está exigindo que a ciência brasileira mobilize seu arsenal de conhecimento e de recursos na busca de solução para um desafio até agora inédito. E as respostas têm sido positivas, de acordo com pesquisadores que participaram do webinar Ciência, Saúde e Políticas Públicas no Brasil: quais as iniciativas necessárias no futuro?, promovido pela Fundação Fernando Henrique Cardoso nesta quinta-feira,23 de abril. O debate foi mediado pelo superintendente da Fundação FHC, Sérgio Fausto.
"Hoje temos um conjunto de cientistas capaz de dar respostas rápidas a desafios da pandemia”, afirmou Luiz Eugênio Mello, professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), diretor de Pesquisa e Desenvolvimento do Instituto D´Or de Pesquisa e Ensino e que na segunda-feira, dia 27, assume a Diretoria Científica da FAPESP. "O apoio da FAPESP à estruturação de redes de pesquisas para o combate a arboviroses como zika, chikungunya e dengue, por exemplo, habilitou pesquisadores de São Paulo para o sequenciamento do vírus SARS-CoV-2 em tempo recorde, de 48 horas.”
"A Fiocruz trabalha dia e noite produzindo testes. E isso é a nossa fortaleza”, disse Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruze membro do grupo de especialistas do Ministério da Saúde para a pandemia causada pelo novo coronavírus.
"A ciência brasileira tem crescido nos últimos anos e com destaque. Com a COVID-19 a reação foi grande, desde o sequenciamento genético do vírus até os testes sorológicos e o desenvolvimento de vacinas”, afirmou Jorge Kalil, professor titular de Imunologia Clínica e Alergia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração.
Eles ressaltaram, no entanto, que a construção dessa competência brasileira para pesquisa não tem sido um processo fácil. "A nossa capacidade de produção e de adaptação vem da adversidade”, ressaltou Dalcolmo. A falta de apoio reduziu a capacidade do país de "reter recursos humanos qualificados”, completou Kalil. "O Brasil vinha melhorando no aporte de recursos para a C&T e para P&D, tendo atingido a ordem de 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Mas, por razões econômicas e de disponibilidade de recursos, esse percentual caiu, estando agora perto de 1%, enquanto nos Estados Unidos, Europa, Japão e China esse percentual chega até 5% do PIB”, ponderou Mello.
À falta de recursos somam-se os excessos burocráticos. "A burocracia atrapalha e atrasa os testes clínicos”, diz Dalcolmo, citando o exemplo da dificuldade de importação de reagentes. Kalil agregou à lista de problemas a descontinuidade dos financiamentos. Deu o exemplo do Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) que, segundo ele, estão há anos sem financiamento. "Aqui em São Paulo recorremos à FAPESP que nos mantêm vivos, mas no plano nacional é complicado."
O fomento é instrumento estratégico para o desenvolvimento da ciência e para a solução de problemas que eclodiram com a pandemia. Mello cita o exemplo das empresas Magnamed e Timpel, que, como apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP, desenvolveram tecnologia que estão a serviço do tratamento da COVID-19. Os ventiladores pulmonares da Magnamed, adquiridos pelo Ministério da Saúde, equiparão hospitais da rede pública, e os tomógrafos por impedância elétrica da Timpel já estão sendo utilizados em pacientes com a COVID-19 na Espanha e Itália.
Aos investimentos públicos em C&T e P&D, seria necessário que se somassem mais esforços de empresas. "O Brasil compra máscaras da China. É inacreditável que a nossa indústria têxtil não se habilite para produzir esse insumo mais simples”, diz Dalcolmo. "O Brasil também não produz princípios ativos para doenças endêmicas, apesar de ter uma indústria farmacêutica forte. Não há uma visão sanitarista na indústria farmacêutica. Somos dependentes da China e principalmente da Índia.”
A adesão das empresas deveria ser mais incentivada. "Os Estados Unidos têm legislação que fomenta aportes privados com abatimento do Imposto de Renda. Aqui esse estímulo é pequeno”, salientou Mello.
Outro grande desafio é o da educação. "Essa pandemia mostrou de forma cruel a falha estrutural de educação. As cenas horrorosas que temos visto poderiam ser evitadas se as pessoas não estivessem emprenhadas por bobagens. Sem educação não há como formular um pensamento científico e está aberto o espaço para propostas equivocadas”, diz Dalcolmo.
"O Brasil tem deficiências estruturais na educação. Há iniciativas em curso, mas a porcentagem de pessoas alfabetizadas, de 92% da população, é igual ao percentual de alfabetização dos Estados Unidos em 1910”, diz Mello. Essa situação se reflete no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), que coloca os estudantes brasileiros entre os últimos no que diz respeito à qualificação para a ciência.
A única saída para a pandemia, todos concordam, está na ciência. "Mas a ciência obedece a protocolos que devem ser seguidos, a solução não aparece da noite para o dia. A sociedade já reconhece que a ciência é importante. Os governantes têm que saber que isso exige investimento de longo prazo e que se trata de uma questão de segurança nacional. A ciência é fundamental para a soberania”, sublinhou Mello.
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- 24/04/2020 - Com planejamento e empenho CNEN mantém atividades essenciais e também aplica tecnologia nuclear no combate à pandemiaQuem passa em frente a sede da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) ou de suas unidades percebe claramente que o movimento de pessoas está menor, que o trânsito habitual de servidores e colaboradores diminuiu. Certamente, a instituição está com uma rotina afetada pelo distanciamento social adotado como estratégia de combate à pandemia da COVID-19. No entanto, um planejamento detalhado e a dedicação de seus colaboradores possibilitaram à CNEN manter a qualidade de suas funções essenciais e ainda desenvolver ações que contribuem diretamente para o combate à pandemia.
Quem passa em frente a sede da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) ou de suas unidades percebe claramente que o movimento de pessoas está menor, que o trânsito habitual de servidores e colaboradores diminuiu. Certamente, a instituição está com uma rotina afetada pelo distanciamento social adotado como estratégia de combate à pandemia da COVID-19. No entanto, um planejamento detalhado e a dedicação de seus colaboradores possibilitaram à CNEN manter a qualidade de suas funções essenciais e ainda desenvolver ações que contribuem diretamente para o combate à pandemia.
Fonte: site CNEN
A CNEN e suas unidades têm boa parte da força de trabalho exercendo funções remotamente. Manteve em atividade presencial quem realmente foi necessário. O trabalho, tanto de quem está em casa como de quem vai para seus postos, é acompanhado e coordenado de forma a suprir as necessidades e percalços que o período de distanciamento social tem gerado em toda a sociedade.
Periodicamente, reuniões online são realizadas entre dirigentes de unidades, diretores e presidente da instituição.Da mesma forma, recursos de comunicação à distância seguem sendo usados largamente por equipes e lideranças de diferentes setores da CNEN. O Gabinete de Crise analisa a situação da instituição e busca caminhos que possibilitem os melhores resultados dentro da situação atual. Neste contexto, a CNEN não deixou de exercer suas funções essenciais e ainda pode aplicar seu conhecimento e estrutura no combate à pandemia.
Desta forma, técnicas nucleares estão sendo usadas em medidas que visam conter a propagação do coronavírus.No dia 13 de abril, moradores da comunidade de Paraisópolis, em São Paulo (SP), levaram 1.500 máscaras para serem esterilizadas com radiação gama no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), unidade da CNEN na capital paulista. Semanalmente, novos lotes de máscaras serão irradiados, somando um total esperado de 50 mil unidades.
Aradiação gama também está sendo usada no combate à pandemia pelo Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), unidade da CNEN em Belo Horizonte (MG). O Laboratório de Irradiação Gama (LIG) do CDTN está esterilizando kits de teste do coronavírus em cooperação a projeto que envolve o Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, Hospital Eduardo de Menezes e a empresa Símile Medicina Diagnóstica.
Em atividades de pesquisa relacionadas à COVID-19, o CDTN integrou sua Unidade de Radiobiologia aos trabalhos da Rede Virus, criada em fevereiro pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) para unir esforços dos pesquisadores no combate ao coronavírus e controle da pandemia. No dia 13 de abril, o ministro da pasta, Marcos Pontes, visitou a Unidade e pode conhecer melhor seu potencial de contribuição nesta linha de pesquisa.
No Rio de Janeiro, outra unidade da CNEN, o Instituto de Engenharia Nuclear (IEN), também investe em pesquisa para combater a COVID-19. Em parceria com a Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (EPM/UNIFESP), o IEN estuda o uso da nanotecnologia de forma a desenvolver a produção de nanofármacos, que são medicamentos em escala nanométrica, com propriedades físicas, químicas e biológicas especiais.A perspectiva é de desenvolver medicamentos que combatam a doença com mais eficácia e menos efeitos colaterais.
Outras unidades da Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD) da CNEN, como Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD), Centro Regional de Ciências Nucleares do Nordeste (CRCN-NE) e Centro Regional de Ciências Nucleares do Centro-Oeste (CRCN-CO) também possuem ações locais de apoio ao combate à pandemia.
Com iniciativas como estas, a CNEN aplica seus conhecimentos específicos de forma a juntar-se aos esforços de toda a sociedade brasileira no combate à COVID-19. Ao mesmo tempo, a CNEN não deixa de observar com rigor o exercício de suas funções essenciais.A Diretoria de Radioproteção e Segurança Nuclear (DRS)segue realizando,através de processos eletrônicos, o licenciamento e controle das unidades que utilizam técnicas nucleares. Em unidades de maior porte, como as usinas nucleares Angra 1 e Angra 2 (Angra dos Reis-RJ), a Fábrica de Combustível Nuclear (Resende-RJ) e a atividade de mineração de Urânio (Caetité-BA), as unidades da CNEN e os inspetores residentes específicos destas atividades seguem atuando. Caso ocorram emergências radiológicas, equipes de especialistas de todas as diretorias e unidades da CNEN encontram-se em prontidão para os atendimentos necessários em qualquer parte do território nacional.
Outra atividade fundamental e que implica na preservação de vidas humanas é a produção de radiofármacos, usados na Medicina Nuclear para o diagnóstico e tratamento de diversas doenças.Estas substâncias são produzidas em quatro unidades da CNEN. O IPEN é o responsável pela maior parte desta produção.Após contornar dificuldades no fornecimento de insumos vindos do exterior, o Instituto está conseguindo atender à demanda nacional por radiofármacos.
Para que estas áreas finalísticas possam agir com competência e qualidade, a Diretoria de Gestão Institucional (DGI) da CNEN tem se organizado e empenhado de forma a suprir necessidades de infraestrutura da instituição e possibilitar o trabalho remoto.Em respeito a sua missão junto à sociedade brasileira, a CNEN mobilizou todas as diretorias e unidades em um esforço conjunto e organizado para dar conta de suas funções essenciais e também para aplicar as tecnologias nucleares no enfrentamento direto à pandemia.
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- 23/04/2020 - Imagens de satélite confirmam redução na poluição de São PauloNa Região Metropolitana houve a redução de 33% nos níveis de dióxido de nitrogênio (NO2), poluente da queima de diesel por veículos e da produção industrial
Na Região Metropolitana houve a redução de 33% nos níveis de dióxido de nitrogênio (NO2), poluente da queima de diesel por veículos e da produção industrial
Fonte: Exame por Agência Fapesp
A poluição atmosférica diminuiu consideravelmente em algumas capitais brasileiras em decorrência das medidas de distanciamento social estabelecidas para retardar a disseminação do novo coronavírus (SARS-CoV-2). Imagens de satélite do Instituto Real de Meteorologia dos Países Baixos (KNMI) mostram, na Região Metropolitana de São Paulo, redução de 33% nos níveis de dióxido de nitrogênio (NO2), poluente associado à queima de diesel por veículos e à produção industrial.
"As imagens mostram que a emissão do gás diminuiu mais de 30% em São Paulo na comparação entre os meses de março e abril do ano passado e deste ano. Também é possível identificar uma grande redução de NO2 em outras regiões metropolitanas, como as de Curitiba (PR), Rio de Janeiro (RJ) e Vitória (ES). A queda está fortemente ligada à diminuição da atividade industrial e dos transportes”, diz Eduardo Landulfo, pesquisador do Centro de Lasers e Aplicações do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen).
O pesquisador destaca ainda que, como São Paulo é a cidade com a maior frota de veículos e atividade industrial, é possível ver com mais clareza uma diminuição drástica e identificar em que áreas a atividade cessou na região metropolitana. "O curioso é que, no caso da Grande São Paulo, a área que está um pouco mais avermelhada, portanto com maior concentração de NO2, é a região da marginal Tietê e do viaduto para Santana do Parnaíba [Cebolão para a rodovia Castelo Branco], mostrando que ali ainda permanece tráfego intenso de caminhões. Já a região sudeste/sul está bem limpa, inclusive Santo Amaro e o ABC paulista”, diz.
"Trabalhamos em colaboração com a Agência Espacial Europeia, que nos forneceu as imagens de satélite. Cuido da parte de monitoramento, mas usando sensoriamento remoto com o uso de laser e da validação desses dados de satélite”, diz. A base das imagens foi gerada e cedida pelo pesquisador Henk Eskes, colaborador do KNMI.
Os dados sobre a redução da poluição na Região Metropolitana de São Paulo serão importantes para estudos que estão sendo realizados por pesquisadores que integram o projeto apoiado pela FAPESP sobre o comportamento dos gases de efeito estufa.
A coordenadora do projeto, Maria de Fátima Andrade , afirma que os dados obtidos neste período de quarentena vão permitir medir níveis de poluentes que geralmente são apenas estimados.
Por meio de vários projetos financiados pelaFAPESP, o pesquisador vem desenvolvendo o radar de laser denominado Lidar (sigla em inglês para detecção de luz e medida de distância), que permite o sensoriamento remoto ativo da atmosfera para a detecção de poluentes.
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- 23/04/2020 - Tecnologia permite monitorar a distância pacientes com suspeita ou sintomas brandos de COVID-19Fonte: Agência FAPESPElton Alisson | Agência FAPESP– Um sistema baseado em internet das coisas desenvolvido pela startup paulista Biologix para diagnosticar e monitorar apneia do sono em ambiente domiciliar pode ajudar a acompanhar remotamente pacientes com suspeita ou com sintomas brandos de COVID-19 e encaminhá-los a um hospital caso registrepiora nos sinais clínicos.
Viabilizada por meio de um projeto apoiado pelo Programa PIPE/PAPPE Subvenção, a tecnologia será testada por dois hospitais privados em São Paulo.
"Hoje há vários aplicativos voltados a monitorar pacientes com suspeita ou sintomas brandos de COVID-19, mas baseados em respostas subjetivas do próprio paciente, e não no monitoramento de sinais clínicos como o sistema que desenvolvemos permite fazer”, diz ao Agência FAPESP Tácito Mistrorigo de Almeida, CEO da Biologix.
O sistema é composto por um sensor portátil e sem fio. Ao ser colocado na ponta do dedo indicador, o dispositivo capta os dados de saturação de oxigênio e a frequência cardíaca do paciente.
Os dados são coletados em tempo real por um aplicativo de celular gratuito, disponível nas plataformas Android e IOS. O programa envia as informações para a nuvem e automaticamente para o painel de controle da equipe médica que está monitorando o paciente.
Ao constatar por meio do sistema uma queda na saturação de oxigênio – que é um dos principais indicadores do agravamento do quadro de COVID-19 e que também ocorre na apneia, em que há paradas respiratórias associadas a queda do nível de oxigênio no sangue –, a equipe médica entra em contato com o paciente ou seu acompanhante.
Se além da queda na saturação de oxigênio e da frequência cardíaca o paciente ou seu acompanhante relatar febre, aumento da dificuldade para respirar, tosse e fadiga – que são os principais sintomas da infecção pelo coronavírus SARS-CoV-2 –, são orientados a seguir rapidamente para um hospital.
"O sistema possibilita encaminhar os pacientes ao hospital no momento correto e, dessa forma, diminuir os riscos de contágio pela interação com outras pessoas e proteger principalmente os profissionais de saúde”, afirma Almeida.
Além de hospitais, a tecnologia pode ser utilizada por operadoras de saúde e convênios médicos para monitorar não só pacientes com suspeita de COVID-19 ou com sintomas leves, como também para acompanhar idosos e pessoas que integram os grupos de risco de gravidade da doença.
"O sistema pode ainda ser usado nos próprios hospitais, para monitorar os pacientes com menor gravidade em leitos de enfermaria e manter as unidades de terapia intensiva (UTIs) disponíveis para os casos mais críticos”, indica Almeida.
Capacidade de adaptação
A Biologix está incubada no Eretiz.bio, incubadora de startups na área da saúde do Hospital Israelita Albert Einstein, que tem em sua rede diversas empresas apoiadas pelo PIPE-FAPESP que estão desenvolvendo tecnologias voltadas a ajudar no diagnóstico, monitoramento e tratamento de pacientes com COVID-19.
Entre elas estão a Magnamed – que fornecerá 6,5 mil ventiladores pulmonares para o Ministério da Saúde – e a Hoobox, que desenvolveu em parceria com a Radsquare um sistema de detecção de febre a distância.
O PIPE/PAPPE Subvenção reúne recursos dos programas Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), da FAPESP, e de Apoio à Pesquisa em Empresas (PAPPE), da Empresa Brasileira de Inovação e Pesquisa (Finep), para a inserção de um produto inovador no mercado.
"Esse ecossistema de startups na área da saúde tem sido muito ágil e demonstrado ter capacidade de se reconfigurar rapidamente para criar soluções para combater a COVID-19. Isso tem facilitado muito o desenvolvimento de tecnologias voltadas a fazer a triagem de pacientes que necessitam de atendimento mais urgente”, avalia José Cláudio Cyrineu Terra, diretor de inovação do Hospital Albert Einstein.
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- 22/04/2020 - Imagens de satélite confirmam redução na poluição de São PauloDiminuição de 33% nos níveis do poluente NO2 está associada à redução na queima de diesel em veículos e à queda da produção industrial, decorrentes das medidas de isolamento adotadas para conter a disseminação do novo coronavírus
Diminuição de 33% nos níveis do poluente NO2 está associada à redução na queima de diesel em veículos e à queda da produção industrial, decorrentes das medidas de isolamento adotadas para conter a disseminação do novo coronavírus
Fonte: Agência FAPESP
Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP –A poluição atmosférica diminuiu consideravelmente em algumas capitais brasileiras em decorrência das medidas de distanciamento social estabelecidas para retardar a disseminação do novo coronavírus (SARS-CoV-2). Imagens de satélite do Instituto Real de Meteorologia dos Países Baixos (KNMI) mostram, na Região Metropolitana de São Paulo, redução de 33% nos níveis de dióxido de nitrogênio (NO2), poluente associado à queima de diesel por veículos e à produção industrial."As imagens mostram que a emissão do gás diminuiu mais de 30% em São Paulo na comparação entre os meses de março e abril do ano passado e deste ano. Também é possível identificar uma grande redução de NO2 em outras regiões metropolitanas, como as de Curitiba (PR), Rio de Janeiro (RJ) e Vitória (ES). A queda está fortemente ligada à diminuição da atividade industrial e dos transportes”, diz Eduardo Landulfo, pesquisador do Centro de Lasers e Aplicações do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen).O pesquisador destaca ainda que, como São Paulo é a cidade com a maior frota de veículos e atividade industrial, é possível ver com mais clareza uma diminuição drástica e identificar em que áreas a atividade cessou na região metropolitana. "O curioso é que, no caso da Grande São Paulo, a área que está um pouco mais avermelhada, portanto com maior concentração de NO2, é a região da marginal Tietê e do viaduto para Santana do Parnaíba [Cebolão para a rodovia Castelo Branco], mostrando que ali ainda permanece tráfego intenso de caminhões. Já a região sudeste/sul está bem limpa, inclusive Santo Amaro e o ABC paulista”, diz.Por meio de vários projetos financiados pela FAPESP, o pesquisador vem desenvolvendo o radar de laser denominado Lidar (sigla em inglês para detecção de luz e medida de distância), que permite o sensoriamento remoto ativo da atmosfera para a detecção de poluentes."Trabalhamos em colaboração com a Agência Espacial Europeia, que nos forneceu as imagens de satélite. Cuido da parte de monitoramento, mas usando sensoriamento remoto com o uso de laser e da validação desses dados de satélite”, diz. A base das imagens foi gerada e cedida pelo pesquisador Henk Eskes, colaborador do KNMI.Os dados sobre a redução da poluição na Região Metropolitana de São Paulo serão importantes para estudos que estão sendo realizados por pesquisadores que integram o projeto apoiado pela FAPESP sobre o comportamento dos gases de efeito estufa.A coordenadora do projeto, Maria de Fátima Andrade , afirma que os dados obtidos neste período de quarentena vão permitir medir níveis de poluentes que geralmente são apenas estimados."Pretendemos contribuir com o balanço de emissões de gases de efeito estufa da cidade de São Paulo. É também interessante notar que as imagens de satélite confirmam a análise feita anteriormente com dados da Cetesb [Companhia Ambiental do Estado de São Paulo], sobre a redução da poluição”, diz Andrade (leia mais em: agencia.fapesp.br//32892/).Na comparação dos dados da Cetesb foi observada a diminuição de cerca de 50% de poluentes primários como o monóxido de carbono (CO) e os óxidos de nitrogênio (NOx) entre as semanas dos dias 15 a 21 e 22 a 28 de março.Além da redução significativa dos poluentes primários, diretamente ligados à emissão veicular, também houve diminuição de cerca de 30% de material particulado inalável. Entre os poluentes estão o MP 10 (material particulado com até 10 micrômetros de diâmetro), relacionado à poeira do solo levantada pelos veículos, e o MP 2.5 (com até 2,5 micrômetros de diâmetro), formado por processos secundários que ocorrem após a queima de combustível.A equipe de pesquisadores está fazendo medições com radares em três áreas da cidade para identificar a produção de gases do efeito estufa. "O projeto temático tem o objetivo de entender quanto a cidade de São Paulo produz de gases do efeito estufa. O foco principal são o dióxido de carbono [CO2] e o metano, mas outros gases, como o CO e o próprio NO2, são importantes por serem resultado da queima de combustíveis em veículos. Esse índices auxiliam na interpretação dos dados como um todo”, diz Landulfo, que também integra a pesquisa coordenada por Andrade.