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- 19/07/2020 - O risco da Energia Nuclear é a falta de conhecimentoFonte: Notícias ao MinutoMas oh não se esqueçam / Da rosa da rosa / Da rosa de Hiroshima / A rosa hereditária / A rosa radioativa. O trecho de um dos mais conhecidos poemas de Vinicius de Moraes, A Rosa de Hiroshima, reflete o terror das pessoas comuns sobre o aspecto devastador da energia nuclear, materializada na bomba que devastou a cidade japonesa citada nos versos.
Mas a energia nuclear também é responsável por avanços que facilitam o cotidiano das pessoas e até mesmo salvam vidas. "Cabos de transmissão de energia em veículos são irradiados no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) para ficarem resistentes à chama. Na saúde, técnicas de diagnóstico dependem de um isótopo radioativo produzido em reatores nucleares", explica Claudio Geraldo Schön, professor titular no Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP).
Schön esteve à frente do grupo de trabalho que solicitou a criação do curso de Engenharia Nuclear na USP, que abre turma já em 2021. Ofertada na Cidade Universitária, a graduação terá duração de cinco anos em período integral, e o ingresso poderá ser feito pelo vestibular da Fuvest ou pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Na entrevista a seguir, o professor aborda a nova graduação e a atuação do engenheiro nuclear.
O que motivou a criação do curso de Engenharia Nuclear?
Temos no País um problema de falta de mão de obra na área nuclear. Poucos sabem, mas as ações de pesquisa no Brasil começaram junto com a descoberta da própria radiação, no início do século 20. Foi bem antes das operações industriais, que tiveram início no acordo com a Alemanha na década de 1970 e quando houve um esforço de formação de mão de obra. Mas, no caso da área nuclear, não houve continuação nesse processo de preparo de profissionais e tal omissão ficou mais séria nos últimos dez anos, momento em que se viu a perspectiva dos especialistas da década de 1970 se aposentarem sem as devidas reposições. Tendo em vista que o momento dessas substituições se aproxima, vimos que criamos nosso curso no momento correto.
Como será aplicado?
O curso terá a primeira turma em 2021. Fará parte como terceira opção de uma formação mais ampla que engloba Engenharia de Materiais e Engenharia Metalúrgica na Escola Politécnica da USP. Serão três anos de disciplinas compartilhadas entre essas três opções de engenharia, nos quais fizemos adaptações. Nós alteramos um pouco as disciplinas do ciclo comum, introduzindo aspectos que são próprios da engenharia nuclear, como por exemplo o tratamento de radiações no contexto da físico-química, ou o transporte de nêutrons dentro da disciplina de fenômenos de transporte. Mas estamos estimulando todos os docentes a incluir tópicos de engenharia nuclear em suas disciplinas. Ao fim do terceiro ano, o aluno pode então optar pelo direcionamento exclusivo a engenharia nuclear. Decidimos por essa configuração para dar uma formação mais sólida nos anos iniciais do curso.
Por que tal integração com as Engenharias de Materiais e Metalúrgicas é necessária para o interessado no curso de Engenharia Nuclear?
No aspecto em que planejamos o curso, ou seja, na ênfase no ciclo de combustíveis, um aspecto importante é o comportamento das matérias-primas da engenharia nuclear como materiais, ou seja, quais são suas propriedades mecânicas e como são afetadas por processamento. Assim, a vinculação aos cursos de Engenharia Metalúrgica e de Engenharia de Materiais é natural. Esses cursos oferecem uma forte base em físico-química de materiais, em ciência dos materiais, assim como disciplinas que discutem a relação entre as estruturas e as propriedades dos materiais.
Em que áreas o engenheiro nuclear pode atuar?
Pode atuar em qualquer área da indústria que utiliza radiação. Temos sempre noção negativa do tema, mas é preciso ficar claro que usamos radiação em várias tecnologias presentes no cotidiano. Por exemplo cabos de transmissão de energia em veículos são irradiados no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) para ficarem resistentes à chama. Na saúde, técnicas de diagnóstico dependem de um isótopo radioativo produzido em reatores nucleares. E lembrando que no Brasil 3% da eletricidade é feita pelas usinas nucleares de Angra 1 e Angra 2.
Desastres em usinas nucleares como os de Chernobyl, na Ucrânia, e mais recentemente em Fukushima, no Japão, despertam medo em muitas pessoas. Como o curso trabalha tais preocupações?
A radiação é algo perigoso, mas na verdade o maior risco é justamente a falta de conhecimento em seu processamento. O engenheiro nuclear é justamente quem domina os modos seguros de lidar com irradiações e, assim, garante que elas sejam usadas em nosso dia a dia.
E quais são as perspectivas para o profissional no cenário nacional pós-pandemia?
Estamos vivendo uma situação de crise que causará um grande impacto em toda a nossa vida. É de se esperar que ocorrerá uma retomada econômica e aí serão necessários implementos na segurança energética no País. A indústria nuclear vai ser responsável por boa parte da energia brasileira, o que põe em discussão as usinas que estão sendo construídas. Angra 3 vai ser concluída em algum momento e integrada à grade energética brasileira. Outro grande projeto é o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), que será construído em Iperó, próximo de Sorocaba, que tornará o País autossuficiente na fabricação de isótopos para radiofármacos, colaborando assim na medicina nuclear. Esses são grandes exemplos com necessidade específica de produção de reatores e que precisarão de engenheiros nucleares.
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- 19/07/2020 - ‘O risco da energia nuclear é a falta de conhecimento', diz professor da USPClaudio Geraldo Schön esteve à frente do grupo de trabalho que solicitou a criação do curso de Engenharia Nuclear na USP
Claudio Geraldo Schön esteve à frente do grupo de trabalho que solicitou a criação do curso de Engenharia Nuclear na USP
Fonte: O Estado de S. Paulo
Entrevista com
Claudio Geraldo Schön, professor titular no Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Poli/USP
Alex Gomes, especial para o Estado, O Estado de S.Paulo
Mas oh não se esqueçam / Da rosa da rosa / Da rosa de Hiroshima / A rosa hereditária / A rosa radioativa.O trecho de um dos mais conhecidos poemas de Vinicius de Moraes, A Rosa de Hiroshima, reflete o terror das pessoas comuns sobre o aspecto devastador da energia nuclear, materializada na bomba que devastou a cidade japonesa citada nos versos.
Mas a energia nuclear também é responsável por avanços que facilitam o cotidiano das pessoas e até mesmo salvam vidas. "Cabos de transmissão de energia em veículos são irradiados no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) para ficarem resistentes à chama. Na saúde, técnicas de diagnóstico dependem de um isótopo radioativo produzido em reatores nucleares”, explica Claudio Geraldo Schön, professor titular no Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP).
Schön esteve à frente do grupo de trabalho que solicitou a criação do curso de Engenharia Nuclear na USP, que abre turma já em 2021.Ofertada na Cidade Universitária, a graduação terá duração de cinco anos em período integral, e o ingresso poderá ser feito pelo vestibular da Fuvest ou pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Na entrevista a seguir, o professor aborda a nova graduação e a atuação do engenheiro nuclear.
Alex Gomes, especial para o Estado, O Estado de S.Paulo19 de julho de 2020 | 14h31
Mas oh não se esqueçam / Da rosa da rosa / Da rosa de Hiroshima / A rosa hereditária / A rosa radioativa.O trecho de um dos mais conhecidos poemas de Vinicius de Moraes, A Rosa de Hiroshima, reflete o terror das pessoas comuns sobre o aspecto devastador da energia nuclear, materializada na bomba que devastou a cidade japonesa citada nos versos.
Mas a energia nuclear também é responsável por avanços que facilitam o cotidiano das pessoas e até mesmo salvam vidas. "Cabos de transmissão de energia em veículos são irradiados no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) para ficarem resistentes à chama. Na saúde, técnicas de diagnóstico dependem de um isótopo radioativo produzido em reatores nucleares”, explica Claudio Geraldo Schön, professor titular no Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP).
Schön esteve à frente do grupo de trabalho que solicitou a criação do curso de Engenharia Nuclear naUSP, que abre turma já em 2021.Ofertada na Cidade Universitária, a graduação terá duração de cinco anos em período integral, e o ingresso poderá ser feito pelo vestibular da Fuvest ou pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Na entrevista a seguir, o professor aborda a nova graduação e a atuação do engenheiro nuclear.
O que motivou a criação do curso de Engenharia Nuclear?
Temos no País um problema de falta de mão de obra na área nuclear. Poucos sabem, mas as ações de pesquisa no Brasil começaram junto com a descoberta da própria radiação, no início do século 20. Foi bem antes das operações industriais, que tiveram início no acordo com a Alemanha na década de 1970 e quando houve um esforço de formação de mão de obra. Mas, no caso da área nuclear, não houve continuação nesse processo de preparo de profissionais e tal omissão ficou mais séria nos últimos dez anos, momento em que se viu a perspectiva dos especialistas da década de 1970 se aposentarem sem as devidas reposições. Tendo em vista que o momento dessas substituições se aproxima, vimos que criamos nosso curso no momento correto.
Como será aplicado?
O curso terá a primeira turma em 2021. Fará parte como terceira opção de uma formação mais ampla que engloba Engenharia de Materiais e Engenharia Metalúrgica na Escola Politécnica da USP. Serão três anos de disciplinas compartilhadas entre essas três opções de engenharia, nos quais fizemos adaptações. Nós alteramos um pouco as disciplinas do ciclo comum, introduzindo aspectos que são próprios da engenharia nuclear, como por exemplo o tratamento de radiações no contexto da físico-química, ou o transporte de nêutrons dentro da disciplina de fenômenos de transporte. Mas estamos estimulando todos os docentes a incluir tópicos de engenharia nuclear em suas disciplinas. Ao fim do terceiro ano, o aluno pode então optar pelo direcionamento exclusivo a engenharia nuclear. Decidimos por essa configuração para dar uma formação mais sólida nos anos iniciais do curso.
Por que tal integração com as Engenharias de Materiais e Metalúrgicas é necessária para o interessado no curso de Engenharia Nuclear?
No aspecto em que planejamos o curso, ou seja, na ênfase no ciclo de combustíveis, um aspecto importante é o comportamento das matérias-primas da engenharia nuclear como materiais, ou seja, quais são suas propriedades mecânicas e como são afetadas por processamento. Assim, a vinculação aos cursos de Engenharia Metalúrgica e de Engenharia de Materiais é natural. Esses cursos oferecem uma forte base em físico-química de materiais, em ciência dos materiais, assim como disciplinas que discutem a relação entre as estruturas e as propriedades dos materiais.
Em que áreas o engenheiro nuclear pode atuar?
Pode atuar em qualquer área da indústria que utiliza radiação. Temos sempre noção negativa do tema, mas é preciso ficar claro que usamos radiação em várias tecnologias presentes no cotidiano. Por exemplo cabos de transmissão de energia em veículos são irradiados no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) para ficarem resistentes à chama. Na saúde, técnicas de diagnóstico dependem de um isótopo radioativo produzido em reatores nucleares. E lembrando que no Brasil 3% da eletricidade é feita pelas usinas nucleares de Angra 1 e Angra 2.
Desastres em usinas nucleares como os de Chernobyl, na Ucrânia, e mais recentemente em Fukushima, no Japão, despertam medo em muitas pessoas. Como o curso trabalha tais preocupações?
A radiação é algo perigoso, mas na verdade o maior risco é justamente a falta de conhecimento em seu processamento. O engenheiro nuclear é justamente quem domina os modos seguros de lidar com irradiações e, assim, garante que elas sejam usadas em nosso dia a dia.
E quais são as perspectivas para o profissional no cenário nacional pós-pandemia?
Estamos vivendo uma situação de crise que causará um grande impacto em toda a nossa vida. É de se esperar que ocorrerá uma retomada econômica e aí serão necessários implementos na segurança energética no País. A indústria nuclear vai ser responsável por boa parte da energia brasileira, o que põe em discussão as usinas que estão sendo construídas. Angra 3 vai ser concluída em algum momento e integrada à grade energética brasileira. Outro grande projeto é o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), que será construído em Iperó, próximo de Sorocaba, que tornará o País autossuficiente na fabricação de isótopos para radiofármacos, colaborando assim na medicina nuclear. Esses são grandes exemplos com necessidade específica de produção de reatores e que precisarão de engenheiros nucleares.
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- 16/07/2020 - Ventilador pulmonar desenvolvido na USP começa a ser utilizado no InCorFonte: Agência FapespAndré Julião | Agência FAPESP – Chegam nesta quinta-feira (16/7) ao Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) as primeiras 10 unidades do INSPIRE, ventilador pulmonar de baixo custo desenvolvido na Escola Politécnica (Poli) da USP em parceria com a FM-USP. O desenvolvimento durou quatro meses e envolveu mais de 200 pesquisadores.
O anúncio foi realizado em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes nesta quarta-feira (15/07). "É uma grande conquista, uma grande vitória”, disse o governador João Doria durante a coletiva.
"Isso foi possível não apenas porque foi um trabalho árduo de quatro meses, de quase 200 pesquisadores, mas porque o Governo do Estado de São Paulo confia, apoia e financia seus centros de ensino e pesquisa. É importante destacar que os participantes desse projeto são pesquisadores que se dedicam a esse tema e a outros similares há décadas. Por isso, quando a sociedade necessitou, felizmente conseguimos, em um espaço de tempo muito pequeno, colocar o equipamento à disposição”, disse Vahan Agopyan, reitor da USP.
No total, 40 pacientes deverão utilizar os respiradores neste estudo-piloto, autorizado pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). A equipe cumpre as últimas exigências para liberação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a produção do ventilador pulmonar.
"Deve ser um processo de um mês e durante esse tempo estamos cumprindo as últimas exigências da Anvisa. Estamos nos preparando para uma produção de 10 a 20 respiradores por dia”, disse Raul Gonzalez Lima, professor da Poli-USP e coordenador do projeto. Os respiradores são montados nas instalações da Marinha do Brasil em São Paulo.
Lima trabalha há cerca de 20 anos, com apoio da FAPESP, no desenvolvimento de tecnologias que possibilitam monitorar e otimizar a ventilação artificial em pacientes em tratamento intensivo. Com o monitoramento, busca-se minimizar os efeitos colaterais e diminuir o tempo de dependência da ventilação mecânica (leia mais em: agencia.fapesp.br/33084/).
"A USP é uma universidade pública e de pesquisa e tem como uma de suas missões a transferência de tecnologia e de conhecimento. O resultado que estamos inaugurando tem agregado um conteúdo resultante de 20 anos de pesquisas na área pulmonar, de uma cooperação entre várias unidades da USP”, disse o pesquisador.
Lima destacou ainda que, para que o tratamento seja eficaz, as especificações de um ventilador pulmonar devem ser muito precisas. Por isso a importância da parceria com o grupo liderado por Carlos Carvalho, professor da Faculdade de Medicina da USP e membro do Centro de Contingência do Coronavírus.
"Nessa epidemia, uma UTI bem constituída, com profissionais treinados, é o que consegue manter o indivíduo vivo pelo tempo necessário para que ele produza os anticorpos contra o vírus. Para tratar a insuficiência respiratória, a alternativa é a ventilação mecânica. Fizemos testes-piloto, o ventilador se mostrou adequado e, a partir de amanhã [16/7], vamos iniciar a pesquisa em 40 pacientes, que deve ser concluída em três ou quatro semanas”, disse Carvalho.
"É mais uma vitória da academia e da ciência e reforça o compromisso do Estado de São Paulo com a ciência e a tecnologia. São iniciativas como esta que podem, de fato, fazer a diferença e que colocam São Paulo em outro patamar de compromisso no enfrentamento do coronavírus”, disse Patricia Ellen, secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado.
Custo de produção
Lima esclareceu que o custo de produção, antes estimado em R$ 1 mil, subiu devido à alta do dólar e à adição de novos componentes para atender a mudanças na legislação. As estimativas agora variam de R$ 5 mil a R$ 10 mil.
O governador João Doria acrescentou que, assim que o equipamento passar a ser produzido em larga escala, deve pedir a isenção de impostos para quem fabricá-lo.
"Neste momento ele [INSPIRE] é fruto de doações, não há nenhum imposto federal ou estadual. Havendo a produção em escala, vamos enviar projeto de lei à Assembleia Legislativa – não é uma decisão do Executivo – e ela deve validar a isenção do imposto. Deve ser feito tão logo entre em ritmo de [produção em] escala”, afirmou o governador.
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- 16/07/2020 - Especialistas apontam caminhos para o combate à pandemia no segundo semestreFonte: Agência FapespKarina Toledo | Agência FAPESP – Investir pesadamente em estratégias de vigilância em saúde que possibilitem identificar e isolar rapidamente pessoas com sintomas de COVID-19 e seus contatos próximos. Manter as escolas fechadas pelo menos até o fim deste ano. Fazer campanhas para conscientizar a população sobre a necessidade de respeitar medidas de proteção, como uso de máscaras e distanciamento social, até que se tenha uma vacina eficaz. Parar de minimizar a importância da pandemia ou de transmitir a ideia de que o pior já passou.
Uma vez que os índices de isolamento social vêm caindo em todo o país e há cada vez menos clima político para a adoção de medidas rígidas de contenção do novo coronavírus – como por exemplo a adoção de lockdown –, essas seriam as medidas mínimas a serem tomadas pelos gestores de todas as esferas governamentais para garantir que os brasileiros atravessem o segundo semestre de 2020 com alguma segurança. A avaliação foi feita pelos participantes do webinar "Quatro meses de pandemia da COVID-19 no Brasil: balanço e perspectivas para o futuro”, promovido pela Agência FAPESP e pelo Canal Butantan na última terça-feira (14/07).
"Embora muitos tenham a falsa sensação de que estamos em um momento de inflexão da curva epidêmica no Estado de São Paulo, a realidade é que o número de novos casos ainda deve continuar aumentando pelo menos até outubro, considerando o nível de isolamento atual – entre 45% e 50%. A queda só deve ocorrer de fato a partir de novembro e isso se não houver alguma mudança na tendência”, afirmou Dimas Tadeu Covas, diretor do Instituto Butantan.
Na avaliação de Covas, a curva de óbitos parece ter se estabilizado no Estado, mas em um patamar elevado – em torno de 300 por dia – e tal situação deve se prolongar até o início de 2021.
Dados do Ministério da Saúde indicam que também em nível nacional a escalada acelerada da doença foi interrompida, mas em um patamar preocupante: todos os dias são contabilizados em média cerca de 40 mil casos novos e mil vidas perdidas, sem tendência de diminuição sustentada e sabidamente com grande subnotificação.
"Alguns dirigentes têm usado o platô como argumento para relaxar as medidas de isolamento social. Mas, na realidade, o platô é a assinatura do fracasso das políticas de contenção. Toda curva epidêmica que se preze tem de atingir o pico e começar a cair. Mas, como há evidências de que a adesão ao isolamento está diminuindo, muito provavelmente a curva de novos casos vai se manter. Na cidade de São Paulo, por exemplo, ela deve se estabilizar em 17 mil novas infecções por dia até, possivelmente, novembro”, avaliou Eduardo Massad, professor e pesquisador da Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Segundo Paulo Inácio Prado, professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) e integrante do Observatório COVID-19, na cidade de São Paulo a curva de novos casos apresentou uma tendência de queda entre meados de maio e final de junho. O mesmo padrão não fica claro, porém, quando são analisados os casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) na capital. O pesquisador explicou que esses são considerados casos suspeitos de COVID-19, que podem ou não ser confirmados por meio de testes.
"Parece haver recentemente uma retomada no número de casos suspeitos, que poderá ou não se refletir no aumento de casos graves de COVID-19 confirmados. Os sinais que vemos nos gráficos ainda são muito incertos. Não deixam claro se a tendência de redução de casos graves será mantida na cidade de São Paulo ou se haverá retomada do crescimento”, afirmou Prado.
Fora da capital, a situação é ainda menos confortável, avaliou Otavio Ranzani, pesquisador da Faculdade de Medicina da USP e do Instituto de Saúde Global de Barcelona. "No interior paulista a curva de novos casos está em plena ascensão”, disse.
Além disso, como ressaltou Covas, em locais como Ribeirão Preto, Campinas e São José do Rio Preto o índice de ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) encontra-se perto do limite.
Reabertura das escolas e imunidade de rebanho
Quando o pico da epidemia finalmente for atingido, o que em cada região do país deverá ocorrer em um momento diferente, o número de casos e de óbitospor COVID-19 ainda deverá dobrar. "Esse pelo menos tem sido o histórico das epidemias virais, que não terminam abruptamente e costumam ter uma cauda longa”, explicou Ranzani em sua apresentação.
"Eu não tenho dúvida de que dentro de um mês o número de mortes vai bater em 100 mil e chegaremos tranquilamente a 200 mil no país”, disse Massad.
Segundo o professor da FGV, o número de mortes entre menores de cinco anos de idade – que hoje está na casa de 300 – poderá chegar a 17 mil se as escolas forem reabertas no próximo mês. "Temos cerca de 500 mil crianças portadoras do vírus circulando no país. Se as escolas forem reabertas em agosto, mesmo com uso de máscara e distanciamento, seriam 1,7 mil novas infecções somente no primeiro dia de aula, com 38 óbitos. O número dobra em 10 dias e quadruplica em 15 dias. Abrir agora seria genocídio.”
Ranzani ponderou que na Europa as aulas presenciais foram retomadas somente quando a taxa de contágio (Rt) havia caído para valores inferiores a 1, ou seja, cada infectado europeu hoje transmite o vírus para menos de uma pessoa em média. No Estado de São Paulo, estima-se que o Rt esteja próximo de 1 e, caso a tendência atual se mantenha, só deve cair para um patamar seguro depois de novembro. O pesquisador ressaltou ainda a deficiência histórica no número de leitos pediátricos de UTI disponíveis no país.
Para os participantes do webinar, apostar na imunidade de rebanho como saída para a crise de saúde não é uma ideia sensata, ainda que esse limiar pareça próximo de ser alcançado no Estado de São Paulo.
"Hoje temos cerca de 50% das pessoas protegidas em casa e 50% circulando. Para esse estrato da sociedade que está aberto, com 25% de infectados já se consegue chegar à imunidade de rebanho. Mas, quando se relaxam as medidas de isolamento e mais pessoas passam a circular, o limiar mínimo sobe rapidamente. É um paradoxo de Zenão, ou seja, algo que se corre atrás, mas nunca se alcança”, opinou Massad.
Na avaliação de Prado, aguardar que o limiar da imunidade coletiva seja alcançado – seja ele qual for – seria uma "declaração de fracasso”. "Seria deixar a natureza cuidar de algo que historicamente a civilização sempre cuidou. A ciência da epidemiologia nasceu dessa necessidade de encontrar melhores soluções e temos condições de ter melhores soluções”, afirmou.
Caminhos possíveis
Como o lockdown tem se tornado uma opção cada vez menos viável, na avaliação de Massad, o ideal seria manter o nível de isolamento social em pelo menos 50% até a chegada de uma vacina. "Isso é caro, é difícil e ninguém aguenta mais. Mas ao menos é preciso dizer para as pessoas que vamos reabrir aos poucos e que a epidemia não acabou e o pior não passou. Fomos assolados por uma onda de otimismo e há pessoas dizendo que podemos reabrir escolas, shoppings e academias. E tudo isso, ao final do dia, é mentira”, disse.
Na falta de uma vacina, identificar o mais rapidamente possível os indivíduos infectados, seus contatos próximos e prover os meios necessários para que se mantenham em isolamento total durante ao menos 14 dias é a solução menos custosa e mais eficaz para reduzir o avanço da doença no país, avaliaram os participantes do seminário.
"Depois que o grande incêndio foi amenizado pelas medidas de isolamento social, agora é preciso conter os pequenos focos para evitar que se tornem novamente um incêndio de grandes proporções”, opinou Prado.
Segundo o pesquisador do IB-USP, o Brasil tem o privilégio de poder contar com agentes de saúde que podem atuar de forma efetiva para rastrear infectados e garantir que o isolamento seja cumprido. "É uma rede com capilaridade fora do comum, que atinge até mesmo pequenos municípios. No entanto, falta uma coordenação federal como prevê o pacto do SUS [Sistema Único de Saúde]. Os recursos que poderiam ser usados no preparo material e no treinamento dos agentes estão parados no Ministério da Saúde”, afirmou.
Covas defendeu o uso de tecnologia e estratégias alternativas para identificação de casos suspeitos. "Estamos tentando implementar uma estratégia de vigilância em saúde, que ainda é deficiente principalmente em municípios pequenos e médios. Tentamos reforçar esse trabalho com os instrumentos disponíveis, entre eles aplicativos de celulares que ajudem as pessoas a identificar os sintomas da doença e promover o isolamento dos sintomáticos mesmo que não tenha testes disponíveis.”
Beatriz Kira, que é pesquisadora da Escola de Governo da Universidade de Oxford (Reino Unido), apresentou dados de uma pesquisa conduzida por seu grupo mostrando que a maior parte da população brasileira sabe reconhecer os sintomas da COVID-19 e tem consciência de que a doença é mais grave do que uma gripe. No entanto, somente 44% dos entrevistados demonstraram entender como deveria ser o autoisolamento caso venham a contrair o vírus.
"Muitos ainda não entenderam que autoisolamento significa ficar sem qualquer contato com o mundo exterior durante todo o período infeccioso. Acham que podem sair para ir à farmácia ou ao supermercado, por exemplo. Além de aumentar a testagem, portanto, me parece necessário melhorar a qualidade da informação pública que é dada às pessoas”, disse.
A pesquisa feita em Oxford mostrou ainda que a população brasileira respondeu bem às políticas públicas implementadas para combater a epidemia – sobretudo por governadores e prefeitos – e de fato houve uma mudança no comportamento da sociedade a partir de março.
"Isso reforça o papel crucial dos formuladores de políticas públicas, que precisam evoluir conforme mudam os dados epidemiológicos, sempre com foco nas populações mais vulneráveis. É mais fácil desenhar políticas para quem pode trabalhar de casa ou lavar com frequência as mãos. Para os mais pobres é muito mais complexo e os governantes devem estar na linha de frente promovendo essas políticas públicas”, afirmou Kira.
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- 15/07/2020 - Novo coronavírus também causa morte por insuficiência cardíacaFonte: Agência FapespElton Alisson | Agência FAPESP – As autópsias realizadas nos últimos quatro meses em cerca de 70 pacientes diagnosticados com COVID-19 falecidos no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) revelaram que alguns deles morreram, principalmente, em razão de alterações cardiovasculares causadas pelo novo coronavírus e não da insuficiência pulmonar.
Os pesquisadores dedicam-se agora a tentar desvendar qual o mecanismo de ação do SARS-CoV-2 que provoca, além de lesões epiteliais em praticamente todos os órgãos, alterações na micro e macrocirculação.
"Já sabemos como o vírus se distribui por órgãos como o cérebro e os rins, além das glândulas salivares e gônadas, por exemplo, e que ele chega ao sistema nervoso central por meio do nervo olfatório. Queremos saber, agora, como o vírus causa trombos na micro e macrocirculação de forma muito mais exuberante que a do vírus da influenza, por exemplo”, disse Paulo Saldiva, um dos coordenadores do projeto, em um debate on-line sobre a situação da epidemia de COVID-19 no Brasil que ocorreu segunda-feira (13/07), durante a "Mini Reunião Anual Virtual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)”.
O evento é uma versão on-line e reduzida da 72ª Reunião Anual da entidade, programada para o período entre 12 e 18 de julho, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal, mas cancelada em razão da pandemia de COVID-19.
De acordo com Saldiva, entre os pacientes diagnosticados com COVID-19 e autopsiados que morreram em decorrência de alterações cardiovasculares causadas pelo novo coronavírus havia adultos e também crianças, com idade de 8 e 11 anos.
"Eles tinham pulmões razoavelmente preservados, mas desenvolveram uma insuficiência cardíaca muito intensa, que levou ao óbito”, diz.
Em alguns casos, os pesquisadores identificaram a presença do vírus no músculo cardíaco – o miocárdio. Em outros, observaram trombose na microcirculação tanto pulmonar como cardíaca.
"Queremos entender as causas dessa situação para poder ajudar e intervir mais rapidamente no tratamento desses pacientes. Esse é um dos propósitos do projeto”, afirma Saldiva (leia mais em agencia.fapesp.br/32882/).
O procedimento de autópsia é realizado com técnicas minimamente invasivas, guiadas por métodos de imagem, por meio das quais são coletadas amostras de tecidos de todos os órgãos, desenvolvido no âmbito de um projeto apoiado pela FAPESP.
Mortalidade segregada
Os pesquisadores fazem a anamnese dos pacientes que morreram em decorrência da COVID-19 no HC-USP no mesmo momento em que pedem a autorização da família para realização da autópsia.
As respostas dos familiares indicaram que quase todos os pacientes e seus familiares tinham pleno conhecimento do risco da doença, mas não tiveram condições para se manter em isolamento social, conta Saldiva.
"Os familiares disseram que não puderam cumprir o isolamento por morarem em casas com grande número de pessoas, às vezes, em um único ambiente.”
Os dados sobre a origem desses pacientes também reforçam a constatação de que o risco de morte por COVID-19 no país é muito maior em regiões com piores indicadores socioeconômicos.
"O risco de adoecer por COVID-19 no Brasil não é tão caracteristicamente segregado nas regiões de menor nível socioeconômico, mas a mortalidade sim, e há dois fatores responsáveis por isso: habitação e, principalmente, utilização de transporte coletivo, para o deslocamento para trabalhar”, afirma Saldiva.
O pesquisador destacou que o adensamento urbano e a migração são os principais indutores de mutação de vírus respiratórios que a partir do século 20 passaram a ser os principais causadores de pandemias.
Enquanto no século 20 ocorreram duas pandemias por vírus respiratórios – a gripe espanhola entre 1918 e 1920 e a gripe asiática entre 1957 e 1958 –, no século 21 têm sido registradas duas pandemias por década. "Entre 2002 e 2004 ocorreu a SARS e, em 2009, a de pandemia de H1N1. Já em 2012 aconteceu a de MERS e, entre o final de 2019 e início de 2020,a de SARS-CoV-2”, comparou Saldiva.
"Ter vacina para combater essas doenças é desejável, mas insuficiente. Será preciso ter sistemas efetivos de testagem e identificação de vírus em todos os países”, avalia.
Além disso, será preciso aumentar a cooperação internacional, o financiamento e a realização de estudos na área da saúde não só por pesquisadores das Ciências da Vida, mas também de Humanidades, apontou Saldiva.
"Não se controla epidemias sem saber Antropologia, História e Urbanismo”, afirmou.
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- 10/07/2020 - Por que o Brasil precisa de Engenheiros Nucleares?A partir de 2021 a Escola Politécnica (Poli) da USP passa a oferecer a habilitação em Engenharia Nuclear. Esta área pode ser vista como negativa devido a grandes tragédias, porém a relevância da utilização de materiais nucleares vai desde a produção de energia até a fabricação de fármacos para tratamentos e equipamentos médicos. Como o Brasil dispõe desses recursos, é necessário formar profissionais para atuarem nessa indústria, e continuar a aprimorar as tecnologias e desenvolver inovações. Historicamente o Brasil teve diversos projetos na área nuclear e até hoje é um dos poucos países que dominam todo o ciclo do combustível nuclear – da extração ao gerenciamento de rejeitos.
A partir de 2021 a Escola Politécnica (Poli) da USP passa a oferecer a habilitação em Engenharia Nuclear. Esta área pode ser vista como negativa devido a grandes tragédias, porém a relevância da utilização de materiais nucleares vai desde a produção de energia até a fabricação de fármacos para tratamentos e equipamentos médicos. Como o Brasil dispõe desses recursos, é necessário formar profissionais para atuarem nessa indústria, e continuar a aprimorar as tecnologias e desenvolver inovações. Historicamente o Brasil teve diversos projetos na área nuclear e até hoje é um dos poucos países que dominam todo o ciclo do combustível nuclear – da extração ao gerenciamento de rejeitos.
Fonte: Notícias site Poli/USP
O professor da Poli, Cláudio Geraldo Schön, contextualiza: "A radiação está presente na nossa vida cotidiana. Todo mundo pensa a energia nuclear como produção de energia, e é importante por fazer parte da nossa grade de energia elétrica, mas as pessoas usam energia nuclear quando, por exemplo, vão fazer um exame de imagens em hospitais, o que é importante para um médico dar um diagnóstico para o paciente”. O docente cita, ainda, que o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), está na última fase de licenciamento e será instalado na cidade de Iperó, na Região Metropolitana de Sorocaba, e sua principal função é fornecer ao Brasil os principais produtos para a medicina nuclear do País.
O docente defende que o curso se faz necessário pois, para operar e desenvolver soluções ligadas a essas tecnologias, é preciso formar especialistas. "O grande problema do Brasil, pelo incrível que pareça, é mão de obra. Precisamos de engenheiros nucleares para operar ferramentas e equipamentos de engenharia nuclear. Estamos preocupamos em oferecer essa demanda de engenheiros para o mercado. A nossa Escola vai entrar com esse propósito, porém isso não quer dizer que nossos engenheiros terão que trabalhar dentro de usinas nucleares. Isso por que a radiação tem atuado em muitas áreas tecnológicas”.
O professor da Poli, José Carlos Mierzwa, que também participou da comissão que propôs o curso, explica que o Brasil já possui atuação em Engenharia Nuclear forte desde a década de 1950, quando o País participou de um programa dos Estados Unidos e da Agência Internacional de Energia Atômica, o Átomos para a Paz. O objetivo deste programa era, depois da utilização da tecnologia com o uma arma, difundir a noção dos benefícios da utilização da tecnologia nuclear.
"No período do pós-guerra, mais precisamente em 1953, o então presidente norte-americano Dwight Eisenhower propôs um projeto chamado "Átomos Pela Paz” (Atoms for Peace), que visava levar os benefícios da recém-descoberta tecnologia nuclear para os países aliados dos EUA. Dentro desta iniciativa, foi incentivada a construção de reatores nucleares de pesquisa ao redor do mundo, e por meio dela foi construído o primeiro reator nuclear do Brasil, o IEA-R1. Este reator foi implantado no recém-inaugurado Instituto de Energia Atômica em 1956, dentro do então praticamente deserto campus da USP no Butantã – que, nesta época, contava com apenas 2 ou 3 construções.” Trecho disponível no site do Ipen.
Mierzwa conta que o Brasil já vinha trabalhando e formando profissionais em nível de pós-graduação, principalmente físicos e engenheiros, por meio de programas internacionais de estudos, e o Ipen foi se consolidando na pesquisa, principalmente na área de radioisótopos, reatores, gerenciamento de rejeitos radioativos, produção de radiofármacos para uso na medicina. O professor explica que, devido também a projetos como o submarino nuclear e as usinas de Angra, o Brasil foi dominando aos poucos a tecnologia, o "Ciclo do combustível nuclear”.
O Ciclo do combustível nuclear consiste em todas as etapas, desde a extração do minério de urânio, o projeto de reatores nucleares, montagem, operação, até o gerenciamento de rejeitos radioativos. "Uma etapa sensível desse ciclo é o enriquecimento isotópico, que é a produção de urânio para usar em um reator nuclear. Poucos países na época tinham, e o Brasil conseguiu desenvolver, sendo um dos poucos países que dominam todo o ciclo do combustível nuclear”, destaca Mierzwa.
O Brasil tem atuação e várias empresas na área nuclear – a Eletronuclear, a Indústrias Nucleares do Brasil (INB), o Centro Experimental de Aramar da Marinha, o projeto da base de submarinos da Marinha no Rio de Janeiro, tem outros institutos de pesquisa no País – que absorvem profissionais de outras áreas e os capacitam para atuar com tecnologia nuclear. O professor Mierzwa explica que para dar conta de toda essa demanda, faltava a formação de profissionais, em nível de graduação, para atuarem nessas áreas. Neste sentido, devido à posição de destaque tecnológico e disponibilidade de recursos naturais, o curso da Poli, assim como o da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), visa formar profissionais para atender a esta necessidade no contexto nacional.
Do ponto de vista estratégico, o Brasil precisa desenvolver essa área para produção de energia. Mierzwa aponta que há algumas avaliações que indicam as reservas disponíveis de urânio no Brasil são a segunda maior fonte para a geração de energia. "Para o País se desenvolver, ele precisa de energia. Se não houver condição de desenvolver essa área, o Brasil vai acabar exportando esses nossos recursos para outros países sem poder utiliza-los, ou seja, transferir para outro País se desenvolver em detrimento do nosso”. O professor explica que o uso da energia nuclear pode servir para melhorar o desenvolvimento do País de maneira mais ampla. "Com o desenvolvimento da energia você desenvolve outras áreas, tem uma alavancagem muito grande de recursos tecnológicos”.
Uma área onde a tecnologia nuclear é também muito importante é a produção de radioisótopos, necessária para o tratamento e diagnóstico de várias doenças, feitos com base em materiais derivados da energia nuclear, como traçadores radioativos, usados em diagnósticos e mapeamentos de tumores e vários outros tipos de diagnósticos. "No passado, o Brasil tinha condição de produzir e hoje estamos importando, o que acaba tendo um custo elevado”, relata Mierzwa. "Com a falta de reatores nucleares e, também, do desenvolvimento dessa área, isso acabou ficando restrito”.
Por fim, os materiais também são utilizados a agricultura, uma vez que vários alimentos que o Brasil exporta, principalmente frutas, são submetidas a processos de radiação para eliminação de microorganismos. "É uma área bastante importante para o Brasil, no desenvolvimento de equipamentos para esta aplicação”.
Em relação ao estigma da área nuclear, em relação aos riscos, o docente explica que as pessoas costumam ligar às bombas e aos acidentes ocorridos em outros países. "Há diferença na tecnologia desenvolvida no Japão e a que desenvolvemos aqui no Brasil. O tipo de tecnologia que a gente usa para reatores é um tipo bastante diferente deste, se você for pesquisar você vai ver que o número de acidentes com a tecnologia que o Brasil usa na área é muito menor do que de outros tipos de fontes de energia. Então é mais seguro que energia hidrelétrica, entre as coisas que podem acontecer”.
Quanto à questão ambiental, o professor explica que, em comparação, não há emissões atmosféricas de CO2. "A usina nuclear não tem esse problema, ela não tem o processo de combustão”. Mierzwa, que hoje atua na área de engenharia ambiental e tratamento de efluentes, conta que a área ambiental avançou por conta da área nuclear. "Vários problemas que tinham que ser resolvidos na área nuclear, os pesquisadores foram atrás de novos métodos e novos procedimentos para melhorar a gestão, essa tecnologia acaba sendo transferida para a área convencional”.
Texto: Amanda Rabelo, com a colaboração das estagiárias de jornalismo Beatriz Carneiro e Letícia Cangane. Com informações do Jornal da USP.
Revisão: Rosana Simone.
Leia também : Iniciativa da CNEN leva a criação de habilitação em Engenharia Nuclear na Poli-USP
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- 10/07/2020 - Iniciativa da CNEN leva a criação de habilitação em Engenharia Nuclear na Poli-USPArticulação entre a diretoria e o órgão federal gerou a proposta de um curso na área nuclear, aprovado pela USP em junho.
Articulação entre a diretoria e o órgão federal gerou a proposta de um curso na área nuclear, aprovado pela USP em junho.
Fonte: Site Poli/USP
No dia 23 de junho de 2020, o Conselho Universitário da USP aprovou a criação da habilitação em Engenharia Nuclear na Escola Politécnica da USP. A proposta de criação do curso – que já havia sido proposto em 2013 – foi retomada em 2019 por iniciativa da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), por meio do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), órgão ligado ao ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) do Governo Federal. A nova Comissão foi coordenada pelo professor da Escola Politécnica, Cláudio Geraldo Schön, em um grupo que teve a participação de docentes da Poli de diversas áreas.
O curso contou com um processo rápido de aprovação, com o apoio de todos os órgãos envolvidos no processo dentro da USP: da diretoria e de professores da Escola Politécnica à Reitoria e Pró-Reitorias da Universidade de São Paulo. A justificativa para criação do curso e o que propiciou esta mobilização entre os órgãos da USP, foi a importância do setor nuclear, considerado estratégico para o País, como ressaltam os especialistas da Poli.
Segundo os criadores do curso, a indústria nuclear alavanca a inovação tecnológica em todas a áreas do conhecimento, uma vez que há uma grande oferta de energia e necessidade de desenvolvimento de outras técnicas para garantirem a segurança das operações com materiais nucleares, além dos desenvolvimentos que ocorrem para o desenvolvimento de equipamentos e sistemas.
Outras justificativas apontadas foram o fato de que vários países estão retomando os seus programas nucleares para produção de energia; a disponibilidade de recursos naturais no Brasil (ver tabelas ao lado); para utilização dos materiais nucleares na geração de energia e produção de fármacos e equipamentos para uso na indústria, medicina, agricultura e meio ambiente; além da demanda para este tipo de profissional no mercado, em órgãos ligados ao CNEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares – IPEN, Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear – CDTN, Centro Regional de Ciências Nucleares do Centro Oeste e Nordeste – CRCNs, Marinha do Brasil, entre outras empresas.
Texto: Amanda Rabelo, com a colaboração das estagiárias de jornalismo Beatriz Carneiro e Letícia Cangane.
Revisão: Rosana Simone.
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- 09/07/2020 - Pesquisadores investigam fatores genéticos de resistência ou suscetibilidade à COVID-19Fonte: Agência FapespElton Alisson | Agência FAPESP – Entre os mais de 1 milhão de pessoas que se recuperaram da COVID-19 no Brasil até o momento há pacientes idosos, entre eles nonagenários e até centenários, com diabetes e hipertensão, por exemplo, que a despeito de apresentarem esses fatores de risco se curaram da doença sem grandes complicações. Por outro lado, entre os que não resistiram e morreram em decorrência da infecção pelo novo coronavírus, há diversos casos de jovens saudáveis, sem histórico de doenças crônicas.
Um dos fatores que podem ter contribuído para a doença ter evoluído dessa forma inesperada nesses dois grupos de pessoas pode ser genético, estimam pesquisadores da área.
"Pessoas que desenvolvem formas graves da doença podem ter o que chamamos de genes de risco, enquanto outras que foram infectadas pelo vírus, mas não desenvolveram a doença, podem ter genes protetores”, explica Mayana Zatz, professora do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) e coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano e de Células-Tronco (CEGH-CEL).
Para confirmar ou refutar essa hipótese, pesquisadores do CEGH-CEL – um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) financiados pela FAPESP – estão estudando o genoma de pessoas desses dois grupos de pacientes: os super-resistentes e os suscetíveis.
Além do estudo dos genomas – a partir do DNA –, têm sido coletadas amostras de células de sangue de pacientes idosos que resistiram à COVID-19, principalmente de nonagenários e centenários.
Em laboratório, as células adultas desses pacientes super-resistentes serão reprogramadas para voltar ao estágio de células-tronco pluripotentes, capazes de se diferenciar em diversas linhagens de células, como de pulmão, rim e coração.
Para avaliar as respostas dessas diferentes linhagens celulares ao SARS-CoV-2, elas serão expostas ao novo coronavírus. "Dessa forma, vamos verificar se o vírus infecta ou não essas células e como elas se comportam quando expostas ao SARS-CoV-2”, diz Zatz.
Já para avaliar a resposta genética de pacientes jovens que desenvolveram formas graves de COVID-19 e vieram a óbito, os pesquisadores do CEGH-CEL fizeram uma parceria com colegas da Faculdade de Medicina da USP (FM-USP).
Por meio de um projeto também apoiado pela FAPESP, os pesquisadores da FM-USP estão realizando, por meio de procedimentos minimamente invasivos, a autópsia de corpos de pacientes diagnosticados com COVID-19 que faleceram no Hospital das Clínicas da instituição.
O projeto resultou em um biorrepositório de tecidos que tem sido usado por diversos grupos de pesquisadores em estudos sobre os mecanismos da infecção com o objetivo de aprimorar o diagnóstico, entre outros objetivos (leia mais em agencia.fapesp.br/32882/).
"Esses pacientes, principalmente os mais jovens, devem ser portadores de alguma mutação que fez com que desenvolvessem formas mais graves da doença e, infelizmente, não resistiram”, afirma Zatz.
Diferença de sexo
Os pesquisadores do CEGH-CEL estão estudando também o grupo dos assintomáticos, ou seja, pessoas (geralmente cônjuges) que tiveram contato direto com doentes, mas que não foram infectadas ou não apresentaram nenhum sintoma.
Em geral, esse último grupo é composto predominantemente pelas companheiras dos infectados.
"Há vários casos de homens com diagnóstico confirmado da doença por testes molecular e sorológico que foram hospitalizados ou ficaram em isolamento em casa sob os cuidados de suas companheiras, e elas não foram infectadas. Quando apresentam a sorologia positiva – pelo teste de anticorpos –, essas pessoas são classificadas como assintomáticas, mas quando têm a sorologia negativa são chamadas de resistentes”, diz Zatz.
De acordo com a pesquisadora, os dados internacionais mostram que os homens são os mais afetados pela COVID-19. Os casos mais graves da doença também são mais comuns em homens do que em mulheres.
Estudos internacionais têm analisado as diferentes respostas à doença entre homens e mulheres, sintomáticos e assintomáticos. "No Reino Unido há uma proposta de projeto para sequenciar o genoma de 20 mil pessoas e nos Estados Unidos também há iniciativas nessa mesma linha”, afirma Zatz.
Os resultados desses projetos podem contribuir para mudar a abordagem terapêutica de pacientes e prever quais teriam maiores ou menores chances de complicações, avaliam os pesquisadores.
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- 08/07/2020 - Capacidade de Energia Nuclear pode crescer cinco vezes até 2050, diz MMEFonte: Defesa.TVO Brasil tem um potencial de expansão de 10 gigawatts (GW) de energia nuclear até 2050, afirmou há pouco o secretário de planejamento e desenvolvimento energético do Ministério de Minas e Energia, Reive Barros. Segundo ele, esse potencial, cerca de cinco vezes maior que a capacidade atual do país, é associado à capacidade de urânio disponível no país hoje.
Os dados fazem parte do Plano Nacional de Energia (PNE) 2050, que deverá ser colocado em consulta pública ainda esta semana, segundo Barros, que participa de evento on-line organizado pela Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan).
De acordo com o especialista, a concretização do potencial de crescimento da fonte nuclear pode variar entre 8 GW e 10 GW, dependendo do cenário de expansão do crescimento da fonte solar fotovoltaica no país.
Barros disse ainda que o potencial de expansão da capacidade instalada de energia nuclear pode ser parcialmente atendido por reatores de menor porte, e não apenas equipamentos de 1 GW de capacidade. Nesse caso, explicou, é preciso, porém, que os pequenos reatores sejam competitivos.
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- 06/07/2020 - Combinar diferentes vacinas poderia ampliar a proteção contra a COVID-19, avaliam cientistasFonte: Agência FapespKarina Toledo | Agência FAPESP – Mesmo antes de a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciar a COVID-19 como uma emergência de saúde pública de importância internacional, em março deste ano, a busca por uma vacina já tinha começado em diversas partes do mundo. Alguns desses estudos têm avançado com uma velocidade sem precedentes na história e, apenas sete meses após o surgimento do SARS-CoV-2, 18 das mais de 140 formulações criadas a partir de diferentes conceitos já estão sendo testadas em seres humanos.
Duas das candidatas que estão no estágio mais avançado de desenvolvimento – conhecido como ensaio clínico de fase 3, cujo objetivo é avaliar a eficácia da vacina em um grande grupo de voluntários – começam a ser aplicadas experimentalmente no Brasil. Uma delas, a ChAdOx1 nCoV-19, foi desenvolvida pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e licenciada para o laboratório AstraZeneca. A outra, nomeada Coronavac, é fruto do trabalho feito pela empresa chinesa Sinovac Biotech, que firmou um acordo com o Instituto Butantan.
Por ser um dos locais onde o novo coronavírus mais circula atualmente e onde mais casos de COVID-19 são confirmados todos os dias, o Brasil se converteu no local ideal para estudos de eficácia de vacinas e, em breve, outras potenciais candidatas devem aportar por aqui. Mas não se trata de uma corrida para ver qual é a melhor ou qual conseguirá obter primeiro a aprovação das agências reguladoras, afirmam os pesquisadores envolvidos nos ensaios clínicos. Quanto mais vacinas se mostrarem capazes de proteger ao menos em parte os imunizados, mais chance a Humanidade terá de transformar a COVID-19 em uma doença possível de ser controlada, como a gripe.
A avaliação foi feita pelos participantes do seminário on-line "As vacinas contra a COVID-19 em teste no Brasil”, realizado na última quinta-feira (02/07) pelo Canal Butantan em parceria com a Agência FAPESP.
"Ter várias vacinas contra a COVID-19 aprovadas pode ser útil, pois é possível que a melhor estratégia para induzir uma resposta imune protetora seja combinar várias formulações. Além disso, todos esses estudos em andamento nos permitem aprender mais sobre a resposta imune contra o SARS-CoV-2. Entender como essas vacinas protegem pode nos dar uma ideia mais clara de qual é o marcador de proteção contra a COVID-19, o que pode acelerar estudos futuros”, disse o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) Esper Kallás, que coordena no Brasil o ensaio de fase 3 com a Coronavac. A pesquisa, que incluirá quase 9mil voluntários brasileiros em diferentes estados, é patrocinada pelo Instituto Butantan.
Feita com uma cepa viral isolada de uma paciente em janeiro, e depois inativada em laboratório por meio de processos químicos, a Coronavac avançou rapidamente graças ao conhecimento gerado quando se buscava uma vacina contra o SARS-CoV-1, o coronavírus que entre 2002 e 2003 causou a epidemia de síndrome respiratória aguda grave (SARS) na China e em alguns outros países, contou Ricardo Palacios, diretor médico de Pesquisa Clínica do Instituto Butantan.
"A vacina contra a SARS avançou até a fase 1 dos testes clínicos. Depois o vírus foi contido e o projeto, interrompido. Mas o conhecimento de como desenvolver vacinas contra um coronavírus foi aproveitado. A empresa seguiu um caminho bem tradicional em um tempo muito curto. Normalmente, as diferentes etapas de testes pré-clínicos e clínicos são feitas uma após a outra, mas eles fizeram várias ao mesmo tempo”, contou Palacios.
A segurança da Coronavac e sua capacidade de induzir no organismo uma resposta de defesa foram testadas em diferentes espécies de animais. Observou-se que a imunização reduziu significativamente a carga viral na mucosa nasal dos animais infectados e conferiu proteção significativa contra a infecção do pulmão.
Já nas fases 1 e 2 dos ensaios clínicos foram testados a segurança e o potencial imunogênico de diferentes doses da vacina, com diferentes intervalos entre as duas doses administradas. Até o momento, observou-se que 90% dos voluntários que receberam as duas doses desenvolveram anticorpos neutralizantes contra com o SARS-CoV-2.
O tempo de permanência desses anticorpos no organismo e seu potencial protetor contra a COVID-19 – ou ao menos contra o desenvolvimento de sintomas severos da doença – é algo que somente os ensaios clínicos de fase 3 poderão informar, comentaram os pesquisadores durante o webinar.
"A produção de anticorpos protetores é o mecanismo principal de atuação da maioria das vacinas. Mas no caso de algumas doenças, para que o desempenho seja bom, a vacina também precisa ser capaz de ensinar as células de defesa a agir contra o patógeno, como é o caso das vacinas novas contra herpes zoster, usadas em pessoas com mais de 50 anos”, explicou Kallás.
De acordo com os participantes do evento, tanto a Coronavac quanto a ChAdOx1 nCoV-19 parecem ser capazes de induzir tanto a produção de anticorpos neutralizantes quanto a chamada imunidade celular, que é o treinamento de determinados tipos de linfócito para que se tornem capazes de reconhecer e atacar as células infectadas pelo SARS-CoV-2.
No caso da vacina britânica, a estratégia adotada foi usar um vírus causador de gripe em símios como vetor para induzir no organismo humano a produção de uma das proteínas do novo coronavírus, conhecida como spike. Presente na superfície do microrganismo, essa proteína de espícula se conecta a um receptor presente na membrana da célula humana para infectá-la. Em tese, se o corpo desenvolver defesas contra essa proteína, poderia impedir que o vírus entre nas células e consiga se replicar caso a pessoa seja contaminada.
A estratégia vinha sendo desenvolvida em Oxford havia alguns anos para a criação de uma vacina contra a síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS), causada pelo coronavírus MERS-CoV. Isso permitiu ao grupo avançar rapidamente para a fase clínica da ChAdOx1 nCoV-19, contou Pedro Folegatti, pesquisador do Jenner Institute, o centro de pesquisa em vacinas da universidade britânica.
"A vantagem dessa tecnologia é que o vetor pode ser adaptado para outras doenças e ele é considerado um bom indutor de resposta humoral [anticorpos] e celular. Há outros grupos testando metodologia semelhante para influenza, tuberculose, febre do Vale do Rift, chikungunya e zika. Todos os estudos mostram perfil consistente de segurança e imunogenicidade com dose única”, disse Folegatti.
Os testes pré-clínicos indicaram que a vacina foi eficaz em proteger a infecção do trato respiratório inferior, que inclui a traqueia, os pulmões, os brônquios, os bronquíolos e os alvéolos pulmonares. No entanto, não mostrou redução significativa da carga viral na mucosa nasal dos animais.
Os ensaios clínicos de fase 1 com a ChAdOx1 nCoV-19 começaram em 23 de abril com 330 voluntários e, cerca de um mês depois, tiveram início as fases 2 e 3. Esta última fase vai incluir cerca de 50 mil voluntários em diversos países, sendo 5 mil no Brasil.
"As negociações para trazer o ensaio de fase 3 para o Brasil começaram em maio. O país estava com uma curva ascendente de infecção e a cidade de São Paulo, então, era o epicentro das infecções no país. Em segundo lugar estava o Rio”, contou a professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Lily Weckx, que coordena o braço paulista da pesquisa com a vacina de Oxford. Segundo ela, também haverá vacinação de voluntários na Bahia.
O acordo firmado entre a AstraZeneca e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) prevê a transferência da tecnologia para o Brasil e a licença para produzir o imunizante no país caso ele seja aprovado pelas agências reguladoras.
"O Brasil tem grandes grupos envolvidos em vários estudos de vacina contra a COVID-19 e, a meu ver, isso é algo estratégico para o país. Já que infelizmente nossa situação epidêmica nos fez o local ideal para ensaios de fase 3, que ao menos isso facilite a negociação com as empresas desenvolvedoras, de modo que, se uma ou mais vacinas forem aprovadas, esses imunizantes fiquem disponíveis para a população brasileira, inclusive os mais desfavorecidos”, afirmou Kallás.
Quando a vacina ficará pronta?
Os estudos clínicos em andamento preveem que os voluntários imunizados sejam acompanhados durante 12 meses. No entanto, segundo informou Palacios, é possível que um resultado preliminar seja anunciado antes do término do prazo.
"Se o número de casos entre os imunizados ficar em um patamar considerado satisfatório, um grupo independente de cientistas será chamado para fazer uma avaliação. Se concluírem que o resultado preliminar de eficácia foi estatisticamente significativo, poderá ser anunciado para o público”, disse o diretor do Butantan.
O percentual de pessoas que a vacina precisa proteger para ser considerada eficaz, porém, é algo que ainda não está muito claro. A OMS recomenda algo entre 50% e 70%. Diretrizes recentes divulgadas pela Food and Drug Administration (FDA, agência reguladora norte-americana) determinam que, para poder obter registro nos Estados Unidos, o imunizante deve proteger ao menos uma em cada duas pessoas vacinadas. Na avaliação de Palacios, esse patamar de eficácia seria suficiente.
"Qualquer que seja a vacina aprovada, não vamos acabar com o coronavírus. Ele veio para ficar e vai nos acompanhar durante todas as nossas vidas. O objetivo das vacinas é proteger contra a doença e não contra a infecção. Se conseguirmos alcançar patamares de pelo menos 50%, evitamos o grande problema da sobrecarga no sistema de saúde e da demanda por cuidado intensivo. Assim, convertemos a COVID-19 em algo controlável”, disse.
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- 05/07/2020 - Engenharia Nuclear é novo curso da USP a partir de 2021Fonte: Defesa.TVO ano de 2021 trará novas oportunidades para quem busca cursar o ensino superior na USP. Além do curso de Ciência de Dados, a Universidade passará a oferecer também a habilitação em Engenharia Nuclear pela Escola Politécnica (Poli), no campus Cidade Universitária. Com duração de cinco anos em período integral, o ingresso poderá ser feito pelo vestibular da Fuvest ou pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Apesar do país possuir muitas atividades relacionadas à energia nuclear em aplicações industriais, biomédicas e agrícolas, há falta de profissionais com formação especifica no setor. Ou seja, existem poucas pessoas capacitadas para trabalhar na área e necessidade de se renovar a mão de obra qualificada. Por isso, surgiu a necessidade da criação de uma graduação capaz de suprir essa demanda em alguns anos, conforme destacou o coordenador do novo curso, professor Cláudio Schön.
A nova formação fará parte da carreira Engenharia de Materiais, Metalúrgica e Nuclear, que terá 55 vagas disponíveis no vestibular. Os estudantes terão grade curricular comum, podendo optar pela especialização em Engenharia Nuclear ao fim do terceiro ano. A partir desta fase, passam a estudar disciplinas específicas da área, "como processamento de combustíveis nucleares e experimentos no reator nuclear. Esta, oferecida pelo Ipen de maneira optativa para todos os cursos da USP”, explicou o professor, referindo-se ao Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), parceiro da Poli na criação do curso e cuja sede fica dentro da Cidade Universitária, no bairro do Butantã.
Segundo ele, a Engenharia Nuclear não é restrita à produção de energia elétrica ou à produção de bombas, como muitos acreditam. Muito além desses aspectos, ele explica que esse tipo de engenharia está relacionado à vida cotidiana em áreas biomédicas, industriais e agrícolas. "Pouca gente percebe que ao fazer um exame de imagem, por exemplo, está utilizando um equipamento que foi produzido em um reator nuclear. Boa parte da operação de reatores é dedicada à produção de radioisótopos para a medicina nuclear”.
Desse modo, os engenheiros formados nesta carreira poderão atuar em diversas áreas, tanto na indústria, como em setores governamentais. Atividades como projetar instalações nucleares, delinear processos de fabricação de combustíveis nucleares, operar e gerenciar reatores ou instalações que fazem uso de fontes radioativas, além de laboratórios de controle de qualidade com acesso a materiais radioativos, também especificar e selecionar materiais e efetuar a análise de falhas em equipamentos que estão em serviço num ambiente nuclear.
"Será um curso muito bom. Esperamos que os alunos interessados na área respondam ao nosso chamado. Eles não irão se arrepender, pois iremos nos dedicar muito à formação deles”, afirmou Cláudio Schön.
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- 03/07/2020 - A resposta dos governos à COVID-19 poderá deixar cicatrizes políticas, afirmam pesquisadoresFonte: Agência FapespClaudia Izique | Agência FAPESP– Além de milhares de vítimas fatais e de um desastre econômico sem precedentes em todo o planeta, a COVID-19 poderá deixar outra cicatriz profunda nas nações cujos líderes não ofereceram resposta adequada à pandemia: a perda de confiança nas instituições.
Esse cenário, formulado por três pesquisadores – Cevat Giray Aksoy, do European Bank for Reconstruction and Development; Orkun Saka, da University of Sussex, ambos do Reino Unido; e Barry Eichengreen, do Department of Economics, da University of California, Berkeley, dos Estados Unidos –, está descrito no artigo The political Scar of epidemics, ainda não revisto por pares, e sintetizado no portal Vox CEPR Policy Portal. O tema também foi debatido em webinar da London School of Economics and Political Science, em 17 de junho.
O pressuposto é que a confiança nos governantes é fundamental para limitar a propagação de uma epidemia, mas que políticas de saúde pública precárias acionam uma espiral circular de desconfiança que mina ainda mais a eficácia das políticas de saúde pública, deixando um legado negativo, sobretudo entre os jovens.
Estudos anteriores sobre o impacto de epidemias em 140 países demonstram que indivíduos com idade entre 18 e 25 anos, expostos a epidemias, são menos propensos a acreditar na honestidade das eleições (-7,2 pontos percentuais em relação a indivíduos não expostos), a confiar no governo nacional (-5,1 pontos percentuais) ou a aprovar o desempenho de lideranças políticas (-6,2 pontos percentuais). Os autores sublinham que comportamentos e atitudes moldados nesse período, que vai do final da adolescência até o início da vida adulta – conhecido como impressionable years (anos impressionáveis) –, persistem por pelo menos duas décadas e "decaem apenas gradualmente”.
A magnitude da perda de confiança varia na razão inversa da força do governo de dar resposta aos desafios de saúde. "Quando indivíduos vivenciam epidemias sob governos fracos, o impacto negativo na confiança é maior e mais persistente. Isso é consistente com a ideia de que esses governos são menos capazes de responder efetivamente a epidemias, levando a uma queda de longo prazo na confiança política”, afirmam.
A quebra de confiança será ainda maior em países democráticos, em que a expectativa de resposta adequada do poder público, eles supõem, deva ser maior do que nas "autocracias”. Além disso, como os regimes democráticos são abertos, "podem permitir uma cacofonia de visões oficiais conflitantes, resultando em um impacto maior na confiança”.
E exemplificam: "Depois que o presidente Jair Bolsonaro descartou pública e enfaticamente os riscos associados ao vírus COVID-19 e desaconselhou o isolamento, o distanciamento social dos residentes em localidades pró-governo caiu em relação a lugares em que o sentimento pró-governo era mais fraco”, afirmam, citando o artigo Leaders' speech and risky behaviour during a pandemic, assinado por Nicolas Ajzenman e Daniel Da Mata, da Fundação Getúlio Vargas, e Tiago Cavalcanti, da Universidade de Cambridge.
O impacto negativo da exposição a epidemias é maior nos países de renda média e alta. "Os indivíduos com menor escolaridade respondem mais fortemente, adotando atitudes ainda mais negativas em relação às instituições e líderes políticos. Moradores de áreas urbanas respondem mais negativamente do que os que residem em áreas rurais. As mulheres exibem queda maior de confiança.”
A falta de confiança contamina também o sistema público de saúde e a segurança e eficácia da vacinação. "Esse achado sugere que a adequação ou não das intervenções governamentais relacionadas à saúde durante epidemias, tanto farmacêuticas quanto não farmacêuticas, é importante para a confiança no governo em geral.”
O impacto na campanha de vacinação
"O artigo oferece lições e recomendações importantes para o futuro”, diz Elize Massard da Fonseca, professora do Departamento de Gestão Pública da Fundação Getúlio Vargas e coordenadora do estudo Enfrentamento ao COVID-19: Brasil em Perspectiva Comparada, apoiado pela FAPESP e desenvolvido em parceria com a Universidade de Michigan, que avalia estratégias de diferentes países no enfrentamento da pandemia.
Fonseca se mostra particularmente temerosa de que a falta de confiança comprometa também uma futura campanha de vacinação contra a COVID-19. "O governo fez uma campanha forte em favor do uso da cloroquina no tratamento da doença, sem comprovação científica da eficácia do medicamento. Seu uso, aliás, foi desaconselhado pela própria Organização Mundial da Saúde (OMS). Como confiar na autoridade sanitária que apoia um medicamento tão controverso?”, ela indaga. "Isso pode ser um problema no momento em que tivermos uma vacina.”
A mesma preocupação – lastreada em razões semelhantes – já mobiliza autoridades sanitárias nos Estados Unidos, país que também sofre os efeitos da falta de confiança nas autoridades sanitárias. Robert R. Redfield, diretor dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), afirmou em audiência recente no Congresso que a agência vinha há três meses desenvolvendo um plano para reconstruir a "confiança da vacina", numa tentativa de conquistar uma grande fatia dos americanos ainda hesitante sobre a inoculação, conforme noticiou o jornal The New York Times no dia 30 de junho.
Na mesma reportagem, o The New York Times menciona pesquisas recentes que dão conta de que sete em cada 10 americanos afirmam que receberiam vacinas contra o vírus se as imunizações fossem gratuitas e disponíveis para todos, um número que as autoridades de saúde temem que não seja suficiente para alcançar a "imunidade do rebanho": pelo menos 70% precisam estar imunes ao vírus para chegar a esse ponto, segundo pesquisadores da Universidade Johns Hopkins.
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- 03/07/2020 - Quarentena e uso de máscara reduziram em 15% o contágio da COVID-19 em SP no início da epidemiaFonte: Agência FapespElton Alisson | Agência FAPESP – O isolamento social combinado com o uso de máscaras de proteção facial diminuíram em 15% o contágio do vírus SARS-CoV-2 em São Paulo e 25% em Brasília no início da epidemia de COVID-19 no país.
As constatações foram feitas por pesquisadores vinculados ao Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI) em um estudo publicado na plataforma bioRxiv, ainda sem revisão por pares.
Sediado no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC-USP), campus de São Carlos, o CeMEAI é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) financiados pela FAPESP.
"Verificamos que a decretação de quarentena pelos estados combinada com a recomendação do uso de máscara pelo governo federal foram medidas de saúde pública eficazes, que contribuíram para a diminuição da transmissão do vírus na fase inicial da epidemia de COVID-19 no país, em que as taxas de contágio cresciam exponencialmente”, disse à Agência FAPESP Zhao Liang, professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP) e um dos autores do estudo.
Os pesquisadores chegaram a essas conclusões por meio de análises feitas por um modelo matemático que permite estimar as taxas de transmissão do SARS-CoV-2 em cada cidade do país.
Desenvolvido por meio de um projeto apoiado pela FAPESP, o modelo é baseado em uma abordagem de rede de transmissão de doenças entre cidades chamado SIR – sigla em inglês de Susceptible Infectious Recovered.
As cidades são representadas na rede como vértices e os possíveis contágios pelo SARS-CoV-2 entre cidades comolinks, estimados a partir de dados reais de infectados em cada município do país por meio de algoritmos de aprendizado de máquina e de análise de redes complexas.
O modelo foi aplicado para analisar e comparar quantitativamente a efetividade de duas medidas de saúde pública implementadas sucessivamente para conter a disseminação do novo coronavírus no início da epidemia de COVID-19 no país. A primeira medida foi a decretação de quarentena pelos estados no final de março e a segunda a recomendação do uso de máscara pelo governo federal no início de abril.
Os resultados indicaram que, no caso de São Paulo – o primeiro estado a decretar quarentena, no dia 24 de março, sete dias após o primeiro registro de óbito causado pela COVID-19 no Brasil, quando já era o epicentro da doença no país, registrando 745 casos confirmados e 30 mortes –, essa medida contribuiu para diminuir a taxa média de crescimento de casos da doença nas cidades paulistas.
A diminuição mais substancial, contudo, ocorreu após a recomendação do uso de máscaras pelo governo federal, sobretudo em cidades de São Paulo com baixas medidas de distanciamento social no início da epidemia.
"Isso pode ser devido ao fato de que essas cidades apresentavam um contato entre pessoas maior e, portanto, o uso de máscaras foi crucial para deter a transmissão do novo coronavírus”, explica Zhao.
A fim de ter uma noção mais exata do impacto dessas medidas de saúde pública, os pesquisadores simularam cenários contrafactuais para analisar o que aconteceria se a quarentena e o uso de máscaras não tivessem sido implementados.
Os resultados das simulações feitas pelo modelo SIR em redes apontaram que a eficiência do isolamento social e do uso de máscaras difere significativamente entre as cidades do país, uma vez que as taxas de transmissão e de mortalidade por COVID-19 entre elas são muito diferentes.
Com base em dados de casos de infecção confirmados nos municípios até 8 de maio, o modelo indicou que a decretação da quarentena seguida da recomendação do uso de máscara resultaram em uma redução de, em média, 15% no pico da epidemia da COVID-19 na cidade de São Paulo, por exemplo, e de quase 25% em Brasília.
"Esperamos que essa metodologia para quantificar a eficácia de políticas públicas de saúde possa contribuir para demonstrar a importância do isolamento social e do uso de máscara como medidas de contenção da propagação do novo coronavírus para os governos e a sociedade”, afirma Zhao.
Política controversa
Alguns países ainda resistem a adotar medidas de isolamento social por duvidar de seu nível de eficácia. Essa situação cria discrepância entre as políticas municipais, estaduais e federal, como é o caso do Brasil.
"Ainda hoje estamos vivendo esse impasse em relação à continuidade do isolamento social no país, com a pressão por medidas de flexibilização, como a reabertura de comércios”, diz Zhao.
Naturalizado brasileiro e originário da China, onde se graduou em 1988 em ciência da computação na Universidade de Wuhan – província que foi o primeiro epicentro da COVID-19 no mundo –, o pesquisador avalia que, além do nível de controle muito mais rígido em seu país de origem, outro fator que contribuiu para a alta eficácia do isolamento social foi o uso de tecnologias de big data para rastrear rapidamente pessoas que tiveram contato com infectados e isolá-las, de modo a conter o contágio.
"A realidade da China é muito diferente e o país adotou alguns critérios de controle rígidos que não poderiam ser aplicados no Brasil. Mas, sem dúvida, o nível de controle do isolamento social com o uso de tecnologias de big data permitiu que a China contivesse o contágio na fase inicial da epidemia no país”, avalia.
O artigo Quantitative Analysis of the Effectiveness of Public Health Measures on COVID-19 Transmission (DOI: 10.1101/2020.05.15.20102988), de Thiago Christiano Silva, Leandro Anghinoni e Liang Zhao, pode ser lido na plataforma bioRxiv em www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.05.15.20102988v1.
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- 30/06/2020 - Ação germicida do sol tem baixo poder para impedir transmissão de coronavírus, aponta estudoRadiação ultravioleta mais potente para eliminar vírus é absorvida pela atmosfera antes de chegar ao solo
Radiação ultravioleta mais potente para eliminar vírus é absorvida pela atmosfera antes de chegar ao solo
Fonte: Folha de São PauloEverton Lopes Batista
SÃO PAULOUm grupo de pesquisadores que usou dados de mais de 200 cidades chinesas durante a pandemia não encontrou efeito da temperatura ou da radiação solar na eliminação do novo coronavírus ou na diminuição do contágio.A descoberta contraria artigos publicados nos últimos meses que apresentaram essa possibilidade com base em cálculos teóricos e experimentos em laboratório.A ação germicida do sol existe porque a estrela emite radiação ultravioleta. Existem alguns tipos desses raios, divididos pelo comprimento de onda com que viajam pelo ambiente. O ultravioleta do tipo C (UVC) é o mais potente e pode eliminar mais de 90% do novo coronavírus alojado em superfícies em poucos segundos, de acordo com experimentos realizados em diversos laboratórios com lâmpadas especiais.A radiação ultravioleta age no material genético do vírus, causando um dano que impede a multiplicação do microrganismo, fazendo com que ele não seja capaz de iniciar uma infecção.Mas o UVC emitido pelo sol fica retido na atmosfera, antes de atingir o solo. E ainda bem: esse tipo de radiação é prejudicial para pessoas, animais e plantas que recebem os raios diretamente por um período mais prolongado, podendo causar de queimaduras a câncer.Aparelhos que usam o UVC artificial emitido por lâmpadas especiais para desinfecção de ambientes já são vendidos no Brasil e usados em diferentes partes do mundo para a eliminação de microrganismos no transporte público e em ambientes fechados.Vindos do sol, chegam até a superfície do planeta os raios ultravioleta do tipo A e B (UVA e UVB). O UVB, que chega em menor quantidade ao solo, tem alguma ação germicida, ainda que com potência milhares de vezes inferior à dos raios UVC.Cientistas dos Estados Unidos realizaram uma simulação em laboratório com lâmpadas que imitam a luz do sol no nível do mar em um dia claro. Os pesquisadores lançaram a radiação sobre uma substância semelhante a uma saliva contendo o Sars-CoV-2 e sobre uma cultura de células contendo o vírus.De acordo com os resultados do experimento, 90% dos vírus foram inativados em cerca de 7 minutos na saliva falsa e em aproximadamente 14 minutos na cultura de células. O estudo foi publicado em maio na revista científica The Journal of Infectious Diseases, ligado à sociedade americana de doenças infecciosas (IDSA).Esses resultados foram obtidos em condições ideais, não levando em consideração a presença de nuvens ou bloqueios causados pela poluição, presentes em situações reais.Um outro artigo publicado no início deste mês por pesquisadores dos Estados Unidos no periódico Photochemistry and Photobiology usou cálculos teóricos para estimar a desativação do novo coronavírus pela luz do sol em diferentes localizações do planeta. Em média, mais de 90% do vírus estaria inativada em até 34 minutos para a maioria das cidades recebendo luz do sol de meio-dia no verão.
Segundo a estimativa dos pesquisadores, a desativação do vírus em São Paulo num dia de inverno levaria cerca de 41 minutos, para um sol de meio-dia.
Os autores do texto, dois pesquisadores aposentados, não fizeram nenhum experimento com o Sars-CoV-2 e usaram um modelo desenvolvido por eles mesmos há mais de dez anos para calcular a inativação de diferentes vírus pela luz do sol. O modelo para os cálculos usa dados da sensibilidade à radiação ultravioleta apresentada por diversos vírus.
No texto, que usa uma página da Wikipédia como uma de suas referências, algo incomum em artigos científicos, os autores argumentam que o distanciamento social e a quarentena imposta por governos para minimizar a transmissão do novo coronavírus podem ter causado mal à população por impedir maior exposição ao sol.
Os cientistas não responderam às perguntas enviadas pela Folha pedindo detalhamento sobre o estudo, mas Jose-Luis Sagripanti, um dos autores, enviou um artigo de opinião assinado no qual questiona os efeitos da quarentena imposta pelos governos.
Pesquisadores brasileiros da área que analisaram o artigo encontraram um forte viés no estudo.
Para Tania Mateus Yoshimura, pós-doutoranda do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) na área de aplicação da luz para a saúde, é problemático levar esse resultado ao pé da letra.
"É uma estimativa. Para sabermos de fato se o vírus tem aquela sensibilidade à luz solar precisamos de experimentos. Ainda não existe consenso sobre a dose necessária de UVC para inativar o vírus. Para a sensibilidade ao UVB, temos menos ainda”, afirma a pesquisadora.
As partículas virais estão no ar geralmente envoltas em matéria orgânica, como saliva ou secreção nasal, por exemplo, que atuariam para proteger o vírus de receber a radiação diretamente sobre o material genético, lembra Yoshimura. "O estudo foi feito com a suposição de uma ação direta no material genético”, acrescenta.
"Ainda que a inativação pelo sol seja possível, não adianta muito estar do lado de fora e alguém tossir ou espirrar por perto; o vírus não vai ficar esperando meia hora no ar até ser inativado”, afirma a cientista.
Além disso, ela lembra que as pessoas que andam pelas ruas não ficam debaixo do sol o tempo todo. "Elas vão pegar transporte público, entrar em ambientes fechados. Nesses casos, a ação germicida do sol não faz diferença”, diz.
Para Caetano Padial Sabino, doutorando na USP e pesquisador das aplicações da luz para a saúde, a afirmação que circula nas redes sociais de que o risco de infecção pelo novo coronavírus é menor em dias ensolarados é perigosa e pode causar riscos à saúde.
"O Brasil tem uma taxa de incidência solar que está entre as maiores do mundo, e mesmo assim somos o epicentro da pandemia”, afirma o cientista, que também é fundador de uma empresa que produz equipamentos de ultravioleta para desinfecção de ambientes.
Pesquisadores de universidades chinesas cruzaram dados de disseminação do Sars-CoV-2, temperatura e radiação solar de mais de 200 cidades da China. Os resultados, publicados em abril na revista científica European Respiratory Journal, indicam que radiação solar e temperatura não influenciaram nas taxas de contágio.
"Nosso estudo não dá suporte à hipótese de que altas temperaturas e índices de radiação ultravioleta podem reduzir a transmissão da Covid-19. É prematuro contar com o clima mais quente para controlar a doença”, escrevem os autores no artigo.
Ainda que os banhos de sol possam estimular a produção da vitamina D, que tem um potencial benéfico para o sistema imunológico, os cientistas descartam uma suposta função terapêutica do sol para casos de Covid-19, uma vez que a radiação atua apenas na superfície sobre a qual incide e os vírus se multiplicam dentro das células, no interior do corpo.
"A luz do sol traz vários benefícios, incluindo a descontaminação. Mas para concluir que pode diminuir o contágio pelo vírus é necessário analisar outras variáveis”, conclui Yoshimura, do Ipen.
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- 23/06/2020 - Ipen recebe inscrições para mestrado profissional em tecnologia das radiações na SaúdeFonte: Agência FapespAgência FAPESP – O Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo, recebe até quinta-feira (25/06) inscrições para o curso de mestrado profissional stricto sensu em Tecnologia das Radiações na Saúde.
Neste ano haverá a concessão de duas bolsas, por meio de edital interno, para os alunos aprovados que tenham dedicação integral ao programa.
O curso é direcionado a graduados em medicina, farmácia, bioquímica, biomedicina, radiologia, física médica, biologia, medicina veterinária e áreas afins. O objetivo das aulas é capacitar profissionais da área de saúde no uso das radiações ionizantes e não ionizantes para diagnóstico, terapia e demais aplicações.
São oferecidas duas linhas de pesquisa: "Processos de Radiação na Saúde”, com foco em pesquisas relativas a técnicas de aplicação de radiações ionizantes e não ionizantes em saúde, e "Medicina Nuclear e Radiofarmácia”, voltada a pesquisas relacionadas ao desenvolvimento, fabricação e aplicação clínica dos radiofármacos.
Com duração de dois anos, o mestrado tem período letivo semestral, de quartas-feiras às sextas-feiras, das 14 às 20 horas.
Para se inscrever, os candidatos devem enviar formulário de inscrição preenchido, diploma do curso de graduação registrado (frente e verso), histórico escolar do curso de graduação, documento de identificação, CPF e link do currículo Lattes para o e-mail smp@ipen.br.
O processo seletivo, que será on-line, consistirá de comprovação da proficiência na língua inglesa, análise do currículo Lattes e entrevista com a comissão avaliadora. O resultado final será divulgado no dia 8 de julho, no site do Ipen.
As aulas estão previstas para começar em 5 de agosto de 2020, também no sistema de ensino a distância.
Mais informações em: www.ipen.br/portal_por/portal/interna.php?secao_id=2947.
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- 23/06/2020 - Estudo identifica fatores que contribuíram para disseminação inicial da COVID-19Fonte: Agência FapespKarina Toledo | Agência FAPESP – Quando deixou a província chinesa de Hubei rumo à Europa e aos vizinhos asiáticos – entre dezembro de 2019 e janeiro de 2020 – o coronavírus SARS-CoV-2 encontrou em algumas regiões do globo condições particularmente favoráveis à sua disseminação.
Após analisar dados de 126 países, entre eles o Brasil, pesquisadores das universidades de Campinas (Unicamp) e de Barcelona identificaram um conjunto de fatores que teriam favorecido o espalhamento rápido do vírus na fase inicial da epidemia, ou seja, antes que fossem adotadas políticas públicas para conter o contágio.
Segundo o estudo, apoiado pela FAPESP, entre os fatores que contribuíram para a maior taxa inicial de crescimento da COVID-19 estão: temperatura baixa e, consequentemente, população menos exposta aos raios ultravioleta do sol e com menor nível de vitamina D no sangue; maior proporção de idosos e, portanto, maior expectativa de vida; maior número de turistas internacionais nos primeiros dias da epidemia; início precoce do surto (países onde a doença chegou primeiro demoraram mais para tomar medidas de prevenção); maior prevalência de câncer de pulmão, de câncer em geral e de DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica); maior proporção de homens obesos; maior taxa de urbanização, maior consumo de álcool e tabaco; e hábitos de saudação que envolvem contato físico, como beijo, abraço ou aperto de mão.
"Escolhemos como ponto de partida de nossa análise o dia em que cada país registrou o 30º caso de COVID-19 e analisamos os dias seguintes [entre 12 e 20 dias, dependendo do país]. O objetivo era entender o que ocorreu na fase em que a doença cresceu livremente, de forma quase exponencial”, explica à Agência FAPESP Giorgio Torrieri, professor do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW-Unicamp) e coautor do artigo divulgado na plataforma medRxiv, ainda sem revisão por pares.
Segundo o pesquisador, a proposta era aplicar análises estatísticas comumente usadas na área de física – entre elas a regressão linear simples e o cálculo do coeficiente de determinação – para tentar entender o que ocorreu no início da pandemia. Os dados usados nas análises vieram de fontes diversas – boa parte de um repositório público conhecido como Our World in Data.
"A ideia era avaliar o seguinte: caso não fosse feito nada para conter a doença, com qual velocidade o vírus se espalharia nos diferentes países ou nos diferentes grupos sociais? Fatores como temperatura, densidade demográfica, urbanização e condições de saúde da população influenciam a velocidade do contágio?
Fontes confiáveis
Alguns estudos sugerem que a vacina BCG, contra tuberculose, pode ter algum efeito protetor no caso da COVID-19. As análises feitas pelos pesquisadores da Unicamp e da Universidade de Barcelona indicam a existência de uma correlação fraca entre as duas variáveis (taxa de imunização contra tuberculose e taxa de contágio pelo SARS-CoV-2). Segundo Torrieri, porém, é possível que o resultado tenha sido prejudicado pela falta de dados confiáveis em países onde a vacinação não é obrigatória.
"Quando excluímos os países sem dados de vacinação, a correlação fica fraca. Mas quando incluímos esses locais na análise e assumimos que têm uma taxa baixa de imunização, a correlação se torna mais forte”, conta o pesquisador.
Para alguns dos fatores analisados – entre eles a prevalência de doenças como anemia, hepatite B (nas mulheres) e hipertensão – os pesquisadores identificaram uma correlação negativa. Ou seja, nos países com maior proporção de hipertensos, por exemplo, a taxa de contágio inicial do SARS-CoV-2 foi menor.
"Podemos imaginar que nesses locais há mais doença cardiovascular e, portanto, menor expectativa de vida”, avalia Torrieri.
Entre os fatores analisados que não apresentaram correlação com o contágio (nem positiva e nem negativa) estão: número de habitantes; prevalência de asma; densidade populacional; cobertura vacinal para poliomielite, difteria, tétano, coqueluche e hepatite B; prevalência de diabetes; nível de poluição do ar; quantidade de feriados; e proporção de dias chuvosos. No caso do Produto Interno Bruto (PIB) per capita, como explicou Torrieri, a correlação se mostrou positiva apenas em valores acima de 5 mil euros.
"O PIB está relacionado com a qualidade da infraestrutura pública. Quanto maior é o PIB per capita de um país, melhor é a infraestrutura de saúde e de moradia, por exemplo. Mas abaixo de 5 mil euros não fez diferença provavelmente porque a infraestrutura é de baixa qualidade”, avalia o pesquisador.
Como destacam os autores no texto, diversas variáveis analisadas estão correlacionadas entre si e, portanto, é provável que tenham uma interpretação comum e não é fácil separá-las. "A estrutura de correlação é bastante rica e não trivial, e incentivamos os leitores interessados a estudarem as tabelas [do artigo] em detalhes”, afirmam.
Segundo os pesquisadores, algumas das correlações apontadas são "óbvias", por exemplo, entre temperatura, radiação UV e nível de vitamina D. "Outras são acidentais, históricas e sociológicas. Por exemplo, hábitos como consumo de álcool e tabagismo estão correlacionados com variáveis climáticas. De forma semelhante, a correlação entre tabagismo e câncer de pulmão é muito alta e, provavelmente, contribui para a correlação deste último [o câncer] com o clima. Razões históricas também explicam a correlação entre clima e o PIB per capita”, dizem os pesquisadores.
Embora seja impossível para os países alterar algumas das variáveis estudadas, como o clima, a expectativa de vida e a proporção de idosos, por exemplo, sua influência na disseminação da doença deve ser levada em conta na formulação de políticas públicas, ajudando a definir estratégias de testagem e de isolamento social, defendem.
Outras variáveis, segundo os autores, podem ser controladas pelos governos: testagem e isolamento de viajantes internacionais; restrição de voos para regiões mais afetadas pela pandemia; promoção de hábitos de distanciamento social e de campanhas visando reduzir o contato físico enquanto o vírus estiver se espalhando; e campanhas voltadas a estimular na população a suplementação de vitamina D, a redução do tabagismo e da obesidade.
"Enfatizamos ainda que algumas variáveis apontadas são úteis para inspirar e apoiar a pesquisa na área médica, como a correlação do contágio com câncer de pulmão, obesidade, baixo nível de vitamina D e diferentes tipos sanguíneos e diabetes tipo 1. Isso definitivamente merece estudo mais aprofundado, com dados de pacientes”, concluem os cientistas.
O artigo COVID-19 transmission risk factors pode ser lido em https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.05.08.20095083v1.full.pdf.
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- 22/06/2020 - Descoberta de mecanismo imune envolvido na COVID-19 abre caminho para novo tratamentoFonte: Agência FapespKarina Toledo | Agência FAPESP – Pacientes com a forma grave da COVID-19 desenvolvem uma resposta inflamatória descontrolada e lesiva ao organismo muito similar à observada em casos de sepse. Experimentos conduzidos no Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID) da Universidade de São Paulo (USP) comprovam que, nessas duas enfermidades, o mesmo mecanismo imunológico está envolvido.
Detalhada em artigo divulgado na plataforma medRxiv, ainda sem revisão por pares, a descoberta abre caminho para novas abordagens terapêuticas, entre elas o reposicionamento de um fármaco hoje usado contra fibrose cística – cujo princípio ativo é uma enzima chamada DNase – para o tratamento da infecção pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2).
"Nos testes in vitro, feitos com o plasma sanguíneo de pacientes internados com COVID-19 grave, a DNase se mostrou capaz de desativar esse mecanismo imunológico que pode causar lesões em órgãos vitais. Agora estamos avaliando com o laboratório farmacêutico que produz o medicamento a viabilidade de iniciar um ensaio clínico”, conta Fernando de Queiroz Cunha, coordenador do CRID – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) financiado pela FAPESP na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP).
Embora seja conhecida como infecção generalizada, a sepse é, na verdade, uma inflamação sistêmica geralmente desencadeada por uma infecção bacteriana localizada que saiu de controle. Na tentativa de combater os patógenos, o sistema imune acaba prejudicando o próprio organismo. Nas formas mais graves, os pacientes desenvolvem lesões que comprometem o funcionamento de órgãos vitais.
"Por ser uma infecção viral, o processo inicial da COVID-19 é diferente. Mas, a partir de certo momento, o quadro se torna muito semelhante ao da sepse. Os mediadores inflamatórios são os mesmos e observamos que, nos dois casos, há participação das NETs [armadilhas extracelulares neutrofílicas, na sigla em inglês]”, diz Cunha.
Como o próprio nome sugere, a NET é uma estratégia de defesa usada principalmente pelo neutrófilo, um tipo de leucócito capaz de fagocitar bactérias, fungos e vírus e que compõe a linha de frente do sistema imune. Em algumas situações, por motivos ainda não compreendidos, ocorre a ativação de uma enzima conhecida como PAD-4, que migra para o núcleo do neutrófilo e induz um aumento da permeabilidade da membrana nuclear. Esta enzima é fundamental para que o material genético contido no núcleo se descondense e forme redes, que são lançadas pela célula para o meio extracelular com o objetivo de prender e matar potenciais invasores.
Esse mecanismo imunológico já foi observado em pacientes com doenças autoimunes e nos infectados pelo vírus da febre chikungunya – uma arbovirose que também produz lesões em tecidos. "O grande problema é que a NET é tóxica para os patógenos e também para as células humanas. A boa notícia é que nossos estudos mostram que a enzima DNase é capaz de picotar essa rede lançada pelo neutrófilo, evitando danos aos tecidos”, afirma Cunha.
Ensaios pré-clínicos
Estudos recentes mostraram que a infecção pelo SARS-CoV-2 pode causar lesões nos pulmões, coração, rins, nervos e até na pele. Para confirmar a suspeita de que as NETs estariam envolvidas na agressão aos tecidos, os pesquisadores do CRID analisaram amostras do plasma sanguíneo de 32 pacientes internados por COVID-19 e compararam com o plasma de indivíduos saudáveis.
No caso dos 17 participantes do estudo que estavam internados em unidades de terapia intensiva (UTIs) e conectados a respiradores artificiais, foi possível coletar também amostras da secreção que é expelida pelos pulmões e fica armazenada no aparelho. O trabalho contou com a colaboração de professores da FMRP-USP da área básica e também da clínica. O grupo clínico é liderado pelo professor Paulo Louzada Junior. Participaram ainda diversos doutorandos e pós-doutorandos, entre eles Flavio Protássio Veras, primeiro autor do trabalho.
"Vimos que o plasma sanguíneo das pessoas internadas por COVID-19 está repleto de NETs e que a quantidade dessas armadilhas neutrofílicas na secreção pulmonar é ainda 10 vezes maior. Isso sugere que neutrófilos estão produzindo NETs por todo o organismo, mas a produção é concentrada nos pulmões”, conta Cunha à Agência FAPESP.
O achado foi confirmado nas análises feitas com amostras de tecido pulmonar de pessoas que morreram em decorrência da COVID-19, graças a uma parceria com o grupo liderado pelo professor Paulo Saldiva na Faculdade de Medicina da USP em São Paulo. Por um método conhecido como imunofluorescência, o grupo do CRID mostrou que as NETs estão presentes em grandes quantidades nos focos de inflamação existentes no órgão.
"Em um dos experimentos, isolamos neutrófilos do sangue de indivíduos saudáveis e incubamos com o SARS-CoV-2. Foi possível observar que, assim que foram infectadas, as células de defesa começaram a produzir NETs”, diz Cunha.
Em seguida, esses neutrófilos infectados foram colocados em culturas de células epiteliais originárias de tecido pulmonar humano, que morreram após algumas horas de interação. O mesmo efeito letal ocorreu quando os neutrófilos isolados de pacientes internados por COVID-19 foram colocados na cultura de células epiteliais pulmonares.
"No entanto, foi possível evitar a morte das células epiteliais quando tratamos os neutrófilos infectados com a enzima DNase antes de colocá-los no meio de cultura”, conta o pesquisador.
Além da DNase, que atua para desestruturar a armadilha neutrofílica depois que ela é lançada pela célula de defesa, os pesquisadores também testaram um composto capaz de inibir a ação da enzima PAD-4 e, portanto, capaz de evitar a formação da NET. Também nesse caso o tratamento preveniu a morte das células derivadas do epitélio pulmonar, mas a substância testada ainda não foi aprovada para uso em humanos.
"Esse trabalho apresenta evidências de que a DNase hoje indicada para tratar fibrose cística pode ser testada no combate à forma grave da COVID-19. Mas o fato de o fármaco ser administrado por via inalatória dificulta o tratamento de pessoas intubadas. Talvez o ideal seja tratar o paciente em uma fase mais precoce, quando começar a baixar o nível de oxigenação no sangue”, avalia Cunha.
O pesquisador ressalta, porém, que ainda será necessário fazer um ensaio clínico para testar a dose ideal e o momento certo de começar a terapia.
Em parceria com pesquisadores do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), a equipe do CRID também trabalha no desenvolvimento de um novo composto capaz de inibir a enzima PAD-4, cuja ação é essencial para a produção da NET dentro do neutrófilo. Os resultados da pesquisa, cujo objetivo inicial era tratar sepse, devem ser divulgados em breve.
O artigo SARS-CoV-2 triggered neutrophil extracellular traps (NETs) mediate COVID-19 pathology pode ser lido em www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.06.08.20125823v1.full.pdf.
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- 22/06/2020 - Site do Hospital das Clínicas da USP mostra tecnologias usadas no combate à COVID-19Fonte: Agência FapespAgência FAPESP – Com o intuito de divulgar algumas iniciativas tecnológicas feitas no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FM-USP), a equipe de Tecnologia da Informação do HC criou um site relatando essas implantações.
A intenção é mostrar o apoio das equipes de TI ao combate da COVID-19, em particular do Núcleo Especializado de Tecnologia de Informação do HC-FM-USP.
O site informa sobre os equipamentos que têm sido utilizados pelas equipes do HC e descreve suas várias utilizações, como na comunicação com familiares para passagem de boletim e visita virtual, entretenimento de pacientes infantis, apoio à equipe de enfermagem nos processos de checagem e aferição de sinais vitais, evitando também a circulação de papéis, que são vetores de transmissão de vírus no caso da COVID-19.
Mais de 300 dispositivos móveis foram distribuídos no complexo para apoiar processos relacionados ao cuidado e à interação. Eles foram recebidos por meio de parceiros como Samsung, Multilaser, Dedalus, Logitech e pessoas físicas.
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- 17/06/2020 - Empresa paulista desenvolve tecido capaz de eliminar o novo coronavírus por contatoFonte: Agência FapespElton Alisson | Agência FAPESP – Pesquisadores da empresa paulista Nanox, apoiada pelo Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), desenvolveram um tecido com micropartículas de prata na superfície que demonstrou ser capaz de inativar o coronavírus SARS-CoV-2.
Em testes de laboratório, o material foi capaz de eliminar 99,9% da quantidade do vírus após dois minutos de contato.
O desenvolvimento do material teve a colaboração de pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), da Universitat Jaume I, da Espanha, e do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais(CDMF) – um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela FAPESP.
"Já entramos com o pedido de depósito de patente da tecnologia e temos parcerias com duas tecelagens no Brasil que irão utilizá-la para a fabricação de máscaras de proteção e roupas hospitalares”, diz à Agência FAPESP Luiz Gustavo Pagotto Simões, diretor da Nanox.
O tecido é composto por uma mistura de poliéster e de algodão (polycotton) e contém dois tipos de micropartículas de prata impregnadas na superfície por meio de um processo de imersão, seguido de secagem e fixação, chamado pad-dry-cure.
A Nanox já fornecia para indústrias têxteis e de diversos outros segmentos essas micropartículas, que apresentam atividade antibacteriana e fungicida, e em tecidos evitam a proliferação de fungos e bactérias causadoras de maus odores (leia mais em agencia.fapesp.br/30037/).
Com o surgimento do novo coronavírus e a chegada da pandemia no Brasil, os pesquisadores da empresa tiveram a ideia de avaliar se esses materiais também eram capazes de inativar o SARS-CoV-2, uma vez que já havia sido demonstrado em trabalhos científicos a ação contra alguns tipos de vírus.
Para realizar os ensaios, a empresa se associou a pesquisadores do ICB-USP, que conseguiram logo no início da epidemia no Brasil isolar e cultivar em laboratório o SARS-CoV-2 obtido dos dois primeiros pacientes brasileiros diagnosticados com a doença no Hospital Israelita Albert Einstein (leia mais em agencia.fapesp.br/32692/).
Amostras de tecido com e sem micropartículas de prata incorporadas na superfície foram caracterizadas por pesquisadores da Universitat Jaume I e do CDMF por espectroscopia e colocadas em tubos contendo uma solução com grandes quantidades de SARS-CoV-2, crescidos em células.
As amostras foram mantidas em contato direto com os vírus em intervalos de tempo diferentes, de dois e cinco minutos, para avaliar a atividade antiviral.
Os experimentos foram feitos duas vezes, em dois dias diferentes e por dois grupos diferentes de pesquisadores, de modo que a análise dos resultados fosse feita de forma cega.
Os resultados das análises por quantificação do material genético viral por PCR indicaram que as amostras de tecido com diferentes micropartículas de prata incorporadas na superfície inativaram 99,9% das cópias do novo coronavírus presentes nas células após dois e cinco minutos de contato."A quantidade de vírus que colocamos nos tubos em contato com o tecido é muito superior à que uma máscara de proteção é exposta e, mesmo assim, o material foi capaz de eliminar o vírus com essa eficácia”, diz Lucio Freitas Junior, pesquisador do laboratório de biossegurança de nível 3 (NB3) do ICB-USP.
"É como se uma máscara de proteção feita com o tecido recebesse um balde de partículas contendo o vírus e ficasse encharcada”, comparou o pesquisador.
Além de testes para avaliação da atividade antiviral, antimicrobiana e fungicida, o material também passou por ensaios para avaliação do potencial alérgico, fotoirritante e fotossensível, para eliminar o risco de causar problemas dermatológicos.
Aplicação em outros materiais
A empresa pretende avaliar agora a duração do efeito antiviral das micropartículas no tecido. Em testes relacionados à propriedade bactericida, os materiais foram capazes de controlar fungos e bactérias em tecidos mesmo após 30 lavagens, afirma Simões.
"Como o material apresenta essa propriedade bactericida mesmo após 30 lavagens, provavelmente mantém a atividade antiviral por esse mesmo tempo”, estima.
De acordo com o pesquisador, as micropartículas podem ser aplicadas em qualquer tecido composto por uma mistura de fibras naturais e sintéticas. Além de tecidos, a empresa está testando agora a capacidade de inativação do novo coronavírus pelas micropartículas de prata incorporadas à superfície de outros materiais, como filmes plásticos e um polímero flexível, semelhante a uma borracha, que utilizou para desenvolver uma máscara de proteção contra o novo coronavírus em parceria com a fabricante de brinquedos Elka (leia mais em agencia.fapesp.br/32982/).
"O tecido foi o primeiro resultado da aplicação das micropartículas de prata para inativar o novo coronavírus. Mas, em breve, devemos ter vários outros”, afirma Simões.
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- 16/06/2020 - USP prevê continuidade das aulas de forma remota no segundo semestre de 2020Atividades acadêmicas presenciais deverão ser retomadas em janeiro do próximo ano
Atividades acadêmicas presenciais deverão ser retomadas em janeiro do próximo ano
Fonte: Jornal da USPPor Adriana Cruz
O grupo de trabalho coordenado pelo vice-reitor da Universidade, Antonio Carlos Hernandes, apresentou, no dia 16 de junho, o plano de readequação das atividades acadêmicas para o segundo semestre deste ano. O documento foi apresentado durante a Reunião de Dirigentes, que contou com cerca de 130 diretores e vice-diretores da Universidade.
De acordo com o planejamento, elaborado a partir da sistematização das propostas enviadas pelas Unidades de Ensino e Pesquisa e Órgãos da Universidade, tanto as aulas de graduação quanto de pós-graduação deverão continuar sendo ministradas de forma remota a partir do mês de agosto. Para a elaboração do relatório, o grupo também considerou documentos publicados pelo Governo de São Paulo.
"Nossa premissa básica está fundamentada na proteção e na preservação da saúde de nossa comunidade universitária”, destacou o reitor Vahan Agopyan.
Segundo o pró-reitor de Graduação, Edmund Chada Baracat, o primeiro semestre letivo deverá ser encerrado no dia 18 de julho, com posterior período de férias, e início das aulas não presenciais do segundo semestre no dia 18 de agosto. As aulas e atividades práticas de 2020 deverão ser repostas no período de janeiro a março do próximo ano. "É importante destacar que esse calendário poderá ser revisto no momento em que a situação epidemiológica for favorável”, ressaltou Baracat.
Atualmente, das quase seis mil disciplinas teóricas que seriam oferecidas presencialmente no primeiro semestre, 92% foram ministradas a distância com a utilização das plataformas e-Aulas e e-Disciplinas. As atividades presenciais estão suspensas na USP desde o dia 17 de março.
"Novo normal”
No caso da pós-graduação, o pró-reitor adjunto da área, Márcio de Castro Silva Filho, explicou que as aulas não presenciais também deverão ser mantidas, com os mesmos procedimentos adotados no primeiro semestre. Nesse período, 1.116 disciplinas estão sendo oferecidas na modalidade não presencial e já foram realizados 631 exames de qualificação, 431 defesas de mestrado e 295 defesas de doutorado.
"Nosso novo normal será diferente. Não teremos de volta a mesma realidade do início do ano e estamos no comando de uma instituição exemplar mundialmente e com muita responsabilidade. Temos de dar respostas às demandas internas e externas e teremos muitos desafios pela frente. A mudança cultural não é simples, pois estamos rediscutindo conceitos e precisamos decisões diante das incertezas”, considerou o reitor.
Também ficou definido que os campi da Universidade devem continuar com restrição de acesso e atividades como viagens nacionais e ao exterior, recebimento de estrangeiros, trabalhos de campo, eventos científicos, artísticos, culturais e esportivos presenciais devem continuar suspensos.
Além disso, restaurantes, bibliotecas, centros esportivos e culturais e auditórios e anfiteatros devem permanecer fechados e o desenvolvimento das atividades administrativas permanecer de forma remota.