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- 06/03/2023 - Professor da UFRJ defende a conclusão do Reator Multipropósito e recursos para formação de pessoas no setor nuclearFonte: Petronotícias
O Petronotícias inicia o noticiário desta semana falando sobre o futuro do setor nuclear brasileiro. Além da tão aguardada conclusão das obras de Angra 3, o Brasil precisa endereçar o início da construção do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB). Esses são alguns dos projetos prioritários do segmento, segundo avalia o professor do Departamento de Engenharia Nuclear da Escola Politécnica da UFRJ, Aquilino Senra. "O RMB foi tratado com muito descaso pelos governos anteriores. É algo incompreensível, já que se trata de um projeto socialmente aceito. Todos concordam sobre a importância do uso da energia nuclear na medicina”, disse. "A finalização de Angra 3 é fundamental por conta do investimento já realizado e da demanda brasileira por energia a partir do momento em que a economia começar a deslanchar”, acrescentou. Senra ressalta ainda a importância de robustecer a formação de profissionais para o setor nuclear, por meio do fortalecimento dos cursos de graduação e pós-graduação de engenharia nuclear nas universidades brasileiras. "Hoje, quem está trabalhando no setor nuclear, passou por um banco das universidades federais. Por isso, o que devemos fazer no futuro é garantir um incentivo para esses cursos. Se não houver formação de recursos humanos em engenharia nuclear, não haverá Programa Nuclear Brasileiro”. Por fim, o professor alerta também para a necessidade de destinar recursos para os institutos de pesquisa da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN): "Na última década, a maioria dos institutos teve uma redução de mais de 40% em seus quadros. Isso é insustentável”.
Ao seu ver, quais são as principais prioridades do setor nuclear brasileiro atualmente?O Brasil tem como prioridade máxima, pelo menos, cinco atividades que já estão mais do que amadurecidas e que já deveriam ter sido concluídas. A primeira delas é a conclusão da usina Angra 3. A finalização desse projeto é fundamental por conta do investimento já realizado e da demanda brasileira por energia a partir do momento em que a economia começar a deslanchar.
A segunda atividade principal é o início da construção do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB). Esse empreendimento é essencial para a medicina nuclear do país, cuja demanda cresce ano a ano. O terceiro ponto é a conclusão do protótipo em terra do reator nuclear para propulsão naval (LABGENE), porque é um projeto importante para a defesa do nosso vasto e rico litoral.
O quarto item é a recuperação dos quadros de docentes e técnicos-administrativos nas universidades que formam o pessoal para o setor nuclear brasileiro. É como costumo dizer: se não houver milho, não haverá pipoca. Ou seja, se o Brasil não formar engenheiros nucleares, não haverá Programa Nuclear Brasileiro. São as universidades – federais, na maioria – as responsáveis por formar esses profissionais.
O último ponto, que também é fundamental, é a formação de profissionais da infraestrutura dos institutos de pesquisa que hoje estão vinculados à CNEN.O Brasil precisa pensar em avançar no setor nuclear. Mas antes de endereçar novas iniciativas dentro do segmento, o país deve concluir essas cinco atividades.
O RMB, citado pelo senhor, é um projeto muito importante para o país, mas que está parado há muitos anos. Como avalia esse cenário?
O Reator Multipropósito Brasileiro foi tratado com muito descaso pelos governos anteriores. É algo incompreensível, já que se trata de um projeto socialmente aceito. Todos concordam sobre a importância do uso da energia nuclear na medicina. Há uma aceitação pública da energia nuclear para fins de aplicação na medicina.
O RMB foi concebido com a finalidade específica de produzir os radioisótopos e, além do mais, fazer ensaios de materiais necessários para o avanço da tecnologia nuclear. O projeto começou em 2009 e até hoje não conseguiu avançar. O antigo coordenador do projeto, José Augusto Perrotta, que é um dos técnicos mais bem preparados e um dos profissionais que eu mais admiro, decidiu aposentar-se, porque não recebeu apoio nos últimos anos. Isso não está certo. Então, eu acredito que o RMB deveria ser prioridade zero a partir de agora.
Poderia nos dizer quais são, ao seu ver, as medidas necessárias para destravar os projetos do RMB e de Angra 3?
Para o RMB, é preciso ter recursos específicos destinados do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Além disso, o Ministério da Saúde, que tem o maior orçamento da União, pode destinar uma pequena parcela na sua previsão de recursos para investir no RMB. Isso já daria uma garantia anual de recursos para a conclusão do reator. É preciso ter vontade de fazer. A medicina nuclear não pode ficar exclusiva para aqueles que têm planos de saúde. Ela tem que ser colocada nos SUS para toda a população. O Ministério da Saúde terá um benefício quando o RMB entrar em operação.
Para Angra 3, é necessário discutir a questão do financiamento que está sendo tratada no BNDES. Há uma declaração do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, de fortalecer o desenvolvimento nacional em diversos setores. Então, acredito que com boa relação com o BNDES, é possível acelerar os recursos para acelerar essa obra.
O senhor também poderia falar um pouco mais sobre a importância de recuperar os institutos de pesquisa da CNEN?
Essa medida é necessária para recuperar a capacidade tecnológica do país. A maior parte daquilo que foi desenvolvido em tecnologia nuclear no Brasil foi realizado nos institutos da CNEN (IPEN, CDTN, IEN). Para o país ter a capacidade de desenvolver novas tecnologias, é preciso fortalecer os institutos. Uma informação preocupante: na última década, a maioria dos institutos teve uma redução de mais de 40% em seus quadros. Isso é insustentável.
Como está a gestão do conhecimento do setor nuclear no país?
Os recursos humanos são necessários para a manutenção da tecnologia nuclear no país. O novo Programa Nuclear Brasileiro, que foi editado por meio do decreto 9.600de 2018, explicita que deve ser dado incentivo e fomento à formação continuada de recursos humanos necessários para o desenvolvimento do setor. Mas, a realidade é que o incentivo atual é zero. As universidades federais, com esforço próprio, abriram sete cursos em nível de pós-graduação e um em nível de graduação. Sem nenhum apoio específico para isso.
As universidades formam profissionais de boa qualidade. Não sou apenas eu quem diz isso, porque senão pareceria defender em causa própria, mas é o mercado que confirma a qualidade dos alunos formados. Nós formamos pessoas de qualidade, que vão para universidades estrangeiras e também para universidades estrangeiras.
Hoje, quem está trabalhando no setor nuclear, passou por um banco das universidades federais. Por isso, oque devemos fazer no futuro, é garantir um incentivo para esses cursos. Senão houver formação de recursos humanos em engenharia nuclear, não haverá Programa Nuclear Brasileiro.
De que forma o país poderia incentivar a formação de novos profissionais para o setor nuclear?
O primeiro passo é fortalecer os cursos existentes, que hoje não recebem um tratamento específico, contam com um corpo docente reduzido e possuem baixíssimos recursos de custeio e infraestrutura. Desafio alguém a dizer-me onde está sendo cumprido o que está previsto no Decreto 9600/2018 em relação à formação de recursos humanos. Então, o primeiro passo é o fortalecimento dos cursos de pós-graduação e graduação em Engenharia Nuclear como uma política.
Em segundo lugar, é preciso também criarbolsas específicas diferenciadas, devido ao caráter estratégico do setor nuclear. E, por fim, o desenvolvimento de um programa de contratação de médio prazo.
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- 06/03/2023 - Descarte de águas do desastre nuclear de Fukushima no oceano vai além do domínio japonêsRubens Cesar Lopes Figueira comenta decisão do Japão de despejar mais de 1 milhão de toneladas de água contaminada no Oceano Pacífico em 2023
Rubens Cesar Lopes Figueira comenta decisão do Japão de despejar mais de 1 milhão de toneladas de água contaminada no Oceano Pacífico em 2023
Fonte: Jornal da USP
O Japão planeja despejar mais de 1 milhão de toneladas de água contaminada no Oceano Pacífico em 2023. Essas águas são remanescentes do resfriamento dos reatores da Usina Nuclear de Fukushima, que foram danificados em 2011 por conta do terremoto de magnitude nove na escala Richter seguido de um tsunami.
"A radiação tem esse processo e está aí, emitindo radiação, contaminando o ambiente. Ela está presente em todo o ambiente, no solo, na água, na planta, na cadeia trófica. Ela acaba participando como um elemento natural", diz o professor Rubens Cesar Lopes Figueira, do Instituto Oceanográfico (IO) da USP. Por isso, é importante a discussão sobre os perigos desse descarte pretendido pelo Japão.
Contaminação radioativa
Para compreender o tamanho da discussão é preciso saber o que é a contaminação radioativa. Ela ocorre independentemente e depende do processo de meia-vida do elemento químico: "Os elementos radioativos quimicamente têm o mesmo comportamento dos elementos estáveis, o que eles diferem é que emitem algum tipo de radiação, ou seja, têm então os processos nucleares. Esses que estão envolvidos no núcleo atômico, da emissão atômica, que faz com que esses elementos, ditos radioativos, tenham um processo de decaimento para um elemento estável e esse processo de decaimento pode demorar segundos, décadas, milhares ou milhões de anos. Tem a questão da contaminação radioativa por elementos de meia-vida longa”, explica o professor.
Para explicar a meia-vida, um exemplo é o do Césio-137, isótopo (mesmo número de prótons que o césio normal) altamente radioativo conhecido pelo desastre radioativo de Goiânia, em 1987. Ele possui uma meia-vida de cerca de 33 anos, ou seja, se eu tiver um grama de Césio-137 hoje, daqui a 33 anos eu terei meio grama, e assim sucessivamente. Porém, no decorrer desse tempo, até a concentração da radioatividade decair, a contaminação continuará ocorrendo.
"Nós somos constituintes de uma tabela periódica no nosso corpo e os elementos radioativos vão estar competindo da mesma forma, mas, como eles emitem radiação, vão estar aí tendo uma problemática, porque, ao emitir radiação, eles vão ter efeitos no nosso sistema celular. Um exemplo é o Estrôncio-90, que é semelhante ao Cálcio, ele entra no sistema ósseo. Então, tem o que a gente chama também de uma meia-vida biológica grande, porque ele fica internamente participando dentro dos nossos processos biológicos", pontua Figueira sobre as consequências da radiação. Por essa razão, vemos muitos sobreviventes de desastres nucleares morrendo depois de alguns anos, vítimas, principalmente, de câncer.
Impacto
A possível contaminação radioativa das águas do oceano por conta da decisão japonesa depende de diversos fatores, explica o especialista: "Isso é um dilema, mas a indústria nuclear também é uma indústria química e libera rejeitos controlados como qualquer indústria química. Se for uma liberação controlada, é passível de ser realizada. Mas é claro que é questionável: você está jogando um elemento radioativo na água. Eu li que eles teriam mais o Trítio (isótopo do Hidrogênio), mas acho que os elementos mais danosos como Estrôncio, Césio e até mesmo Plutônio sejam retirados com o sistema de troca iônica, filtração, não sei como eles utilizam a parte química, mas acho que eles têm feito um trabalho de melhoria da qualidade da água que vai ser liberada no ambiente marinho. Mas é complicado pensar em um sistema de tratamento, infelizmente, que não seja danoso”.
Os impactados com isso, além dos próprios cidadãos, serão os países vizinhos, que compartilham do mesmo oceano próximo: "Tem um problema quando você vai lançar água no Pacífico, é óbvio vai atingir outros países, atingir a pesca, vai ter um problema ambiental. Talvez pensar numa forma de um repositório que não fosse desse jeito, deixar mais tempo, ir trocando essa água, porque tem uma atividade muito alta no reator. Eu preciso fazer essa troca, então ela tem que ser feita com uma liberação controlada”, coloca Figueira. O professor ainda acrescenta que, quando se pensa no oceano, o tratamento dado a ele é de grande solvente, usam ele para diluir tudo. Porém, mesmo que a concentração radioativa seja espalhada e, assim, fique num nível aceitável, há um impacto imediato na área.
É importante analisar os níveis propostos pelo Japão e levar em conta toda a questão ambiental e socioeconômica envolvida nessa decisão. Cerca de 1,27 milhão de toneladas de água radioativa devem ser liberadas com o argumento de que elas foram tratadas e estarão seguras. Países como a Coreia do Sul e a China demonstraram descontentamento e o Fórum das Ilhas do Pacífico tem uma "grave preocupação” com o descarte.
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- 06/03/2023 - School on Light and Cold AtomsCurso do Instituto Sul-Americano para Pesquisa Fundamental oferece uma introdução ao campo da óptica e dos átomos ultrafrios
Curso do Instituto Sul-Americano para Pesquisa Fundamental oferece uma introdução ao campo da óptica e dos átomos ultrafrios
Fonte: Agência FAPESP
O Instituto Sul-Americano para Pesquisa Fundamental (ICTP-SAIFR) realizará entre os dias 6 e 17 de março de 2023, em São Paulo, a "School on Light and Cold Atoms”.
Direcionada a doutorandos, pós-doutorandos e, também, mestrandos, a escola tem como objetivo oferecer uma introdução ao campo da óptica e dos átomos ultrafrios, além de familiarizar os participantes com as aplicações em novas tecnologias.
As inscrições são gratuitas, vão até 25 de dezembro e devem ser feitas pelo site do ICTP-SAIFR. Haverá auxílio financeiro limitado para viagem e despesas locais.
A Escola será sediada no Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (IFT-Unesp), na rua Dr. Bento Teobaldo Ferraz, 271, Várzea da Barra Funda, São Paulo.
O ICTP-SAIFR é um centro de pesquisas que recebe apoio da FAPESP e sede no IFT-Unesp.
Mais informações: www.ictp-saifr.org/lca2023/.
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- 04/03/2023 - Diretora do IPEN fala com exclusividade sobre os desafios no governo Lula. Ela também enfrentou preconceito e machismoNatural de Campina Grande, na Paraíba, a engenheira química Isolda Costa está na direção do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), em São Paulo, administrando os mais diversos campos da ciência e tecnologia. da produção de radioisótopos (medicamentos para diagnósticos e tratamento contra o câncer), a quantidade e procedência de rejeitos radioativos (fato inédito revelado ao blog) e enriquecimento de urânio, parceria com a Marinha; até novos projetos para 2024, com apoio da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), como a Despoluição dos Oceanos por Microplásticos, como tema principal no Meio Ambiente. Aqui, Isolda conta como divide o comando com Wilson Calvo, que tentaram afastar no governo Bolsonaro; revela a impressionante queda no número de funcionários do sexagenário IPEN, um dos mais importantes da América Latina; enfatiza a sua esperança no governo do presidente Lula, com a ministra Luciana Santos no comando do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação; e fala também sobre preconceitos e machismo, sobretudo porque estamos no mês Internacional das mulheres. Eis a entrevista:
Natural de Campina Grande, na Paraíba, a engenheira química Isolda Costa está na direção do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), em São Paulo, administrando os mais diversos campos da ciência e tecnologia. da produção de radioisótopos (medicamentos para diagnósticos e tratamento contra o câncer), a quantidade e procedência de rejeitos radioativos (fato inédito revelado ao blog) e enriquecimento de urânio, parceria com a Marinha; até novos projetos para 2024, com apoio da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), como a Despoluição dos Oceanos por Microplásticos, como tema principal no Meio Ambiente. Aqui, Isolda conta como divide o comando com Wilson Calvo, que tentaram afastar no governo Bolsonaro; revela a impressionante queda no número de funcionários do sexagenário IPEN, um dos mais importantes da América Latina; enfatiza a sua esperança no governo do presidente Lula, com a ministra Luciana Santos no comando do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação; e fala também sobre preconceitos e machismo, sobretudo porque estamos no mês Internacional das mulheres. Eis a entrevista:
Fonte: Blog Tânia Malheiros
BLOG: Qual a importância do acordo que acaba de ser assinado entre o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) e a Indústria Nucleares do Brasil (INB)?
ISOLDA COSTA: O Brasil desenvolveu vários projetos na área nuclear e continua avançando no domínio de várias tecnologias que fazem o seu uso pacífico. O Brasil já dominou a tecnologia de enriquecimento isotópico de urânio, o que se tornou um patrimônio do país, o que, juntamente ao fato de deter umas das 10 maiores reservas de urânio do mundo, o coloca em um seleto grupo de países que possuem estas características. O INB e o IPEN possuem longa história de cooperação em diversos projetos de desenvolvimento das tecnologias nucleares. Estas duas instituições detêm conhecimentos tecnológicos que são complementares para a produção de urânio metálico enriquecido, o que é fundamental para a produção de combustíveis nucleares para reatores de pesquisa. O acordo de parceria entre IPEN e INB viabilizará desenvolvimentos científicos e tecnológicos na área Nuclear do país. Permitirá assegurar a produção de materiais nucleares especiais, melhorar os processos de fabricação de combustíveis, além de capacitar profissionais quanto à integridade dos elementos combustíveis, e o aprimoramento no controle de rejeitos radioativos no setor de fabricação de elementos combustíveis nucleares. Além disso, apoiará o projeto de construção do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB).
BLOG: E os resultados?
ISOLDA:O desenvolvimento destes projetos resultará em domínio de novas tecnologias extremamente importantes para o desenvolvimento e autonomia do setor nuclear do país, principalmente na fabricação de componentes altamente qualificados para a indústria nuclear. Inicialmente, as áreas de cooperação mútua que serão destacadas são: (1) aprimoramento e ampliação do processo de produção do urânio metálico, (2) desenvolvimento de tecnologias para melhoria do processo de fabricação de pó e pastilhas de dióxido de urânio, (3) pesquisa aplicada e capacitação profissional na área de corrosão em revestimentos e nas áreas de solda de varetas combustíveis e/ou estruturas de elementos combustíveis, e (4) aplicação de tecnologia e inovação na análise e controle de rejeitos radioativos no âmbito da fabricação do elemento combustível nuclear. Os recursos envolvidos neste acordo serão provenientes de ambas as instituições envolvidas, IPEN, pelo uso da sua infraestrutura e de recursos humanos altamente qualificados, e a INB, com recursos financeiros de seus orçamentos destinados à inovação e desenvolvimento tecnológico.
BLOG: Em 2022, a senhora passou a atuar como diretora substituta do IPEN, função que ocupa até hoje. Como analisa o afastamento do seu antecessor, Dr. Wilson Calvo, naquele momento? Foi injustiçado?
ISOLDA: A exoneração do meu antecessor do cargo de Diretor do IPEN, Dr. Wilson Calvo, não ocorreu segundo o rito do processo de afastamento de um Diretor/Superintendente descrito no Convênio estabelecido entre o IPEN e a USP e com validade até 2037. Segundo o rito, o Diretor/Superintendente só pode ser afastado após análise pelo Conselho Superior do IPEN composto por dois representantes da CNEN, dois representantes da USP, um representante da FIESP, e u da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo (hoje estamos subordinados à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo, cujo secretário é o Dr. Vahan Agopyan). Apenas após a análise (período em que o Diretor/Superintendente ficaria afastado temporariamente) e aprovação pelo Conselho, o afastamento definitivo poderia acontecer. Isso não ocorreu, bem como não foi explicitada a motivação da exoneração do Dr. Calvo, apesar de consultas terem sido feitas. O processo ficou em sigilo. O Dr. Calvo continuou no cargo de Superintendente, desde então, pois a exoneração deste cargo se dá apenas pelo Estado de São Paulo, o que não ocorreu. Pela primeira vez na história do IPEN temos duas pessoas ocupando os cargos de Superintendente e a Diretoria. Antes sempre a mesma pessoa ocupava os dois cargos. Esperamos que neste novo governo, o equilíbrio entre as instituições partícipes do Convênio seja restabelecido e este seja respeitado.
BLOG: Como tem dirigido o IPEN desde aquele momento? São muitos os desafios? Quais os mais difíceis?
ISOLDA: Temos dirigido o IPEN desde aquele momento com a colaboração e apoio do Superintendente. No momento de sua exoneração ele estava iniciando o sexto ano de sua gestão, pois havia sido reconduzido ao cargo após quatro anos na Direção do IPEN, após ter passado pelo rito de escolha pelo Conselho Superior. Este rito é regulado pelo convênio vigente que estabelece para o processo de escolha a formação de uma lista tríplice a qual é avalizada pelo presidente da CNEN, pelo reitor da USP, e, finalmente, a escolha é feita pelo governador do Estado de São Paulo. Este geralmente opta pelo primeiro colocado na lista tríplice. A formação da lista tríplice se dá pela apresentação da proposta do plano de gestão para o período de quatro anos ao Conselho Superior que em seguida sabatina o candidato e finalmente os classifica em uma lista tríplice. Eu passei por todo este processo tendo sido a segunda colocada na lista, enquanto o Dr. Calvo ficou como primeiro colocado. Uma vez que na ocasião da exoneração eu era a substituta do Diretor, quando esta ocorreu assumi o cargo de Diretora Substituta, no qual me encontro até hoje.
BLOG: Tem apoio? Recursos?
ISOLDA: Sim. Além do apoio do Superintendente, tive e tenho tido grande apoio do Conselho Técnico Administrativo (CTA) do IPEN, dos servidores em geral, os quais, apesar de não concordarem com a exoneração do diretor, ofereceram o suporte necessário para que a instituição continuasse operando normalmente e sem grandes sobressaltos. Os desafios na gestão do IPEN são muitos em tempos de escassos recursos para a Ciência e Tecnologia no país. Estes têm sido enfrentados com a dedicação dos servidores que "vestem a camisa” da instituição, mas cada vez mais em menor número. O IPEN conta com um número insuficiente de servidores para o tamanho das responsabilidades e funções que deve e poderia realizar. Sem dúvida, o principal e mais difícil desafio do IPEN são os recursos humanos escassos na instituição e que diminuem rapidamente devido ao grande número de aposentadorias nos últimos anos sem reposição. Este é um desafio que esperamos ver sendo enfrentado pelo novo Governo.
BLOG - Como o IPEN está atuando desde a aprovação da PEC que abriu caminho para a produção de radiofármacos pela iniciativa privada? E como analisa a questão tão combatida por autoridades, como o atual ministro Alexandre Padilha?
ISOLDA- O IPEN vem atuando de forma regular e rotineira desde a aprovação da PEC mas muito preocupado com o futuro da instituição a partir da instalação de radiofarmácias no país com Boas Práticas de Fabricação. Vale ressaltar que a continuidade da produção da Radiofarmácia do IPEN, apesar de todas as dificuldades existentes e crescentes, é um verdadeiro milagre que só se dá pelo amor e dedicação dos seus funcionários que assumem as suas funções como uma verdadeira missão. A quebra do monopólio não seria um problema para o IPEN e, digo que também para o país, se as condições necessárias para a modernização da Radiofarmácia do IPEN estivessem dadas e a modernização concluída. O IPEN não teme a concorrência, mas sim a falta de condições para concorrer na área de produção de radiofármacos. Tendo os recursos financeiros e humanos que possibilitem a modernização rápida e imediata da Radiofarmácia, estaríamos prontos para concorrer em condições de igualdade.
BLOG: É complicada a questão dos recursos...
ISOLDA: Precisamos de investimentos na forma de recursos financeiros e humanos para que a quebra do monopólio, que ocorreu de forma muito rápida e sem discussão com a sociedade, em suas diversas representações, não resulte em impacto aos pacientes, principalmente os do SUS. O atual ministro, e então deputado, Alexandre Padilha batalhou bravamente na Comissão, juntamente com a deputada Jandira Feghali e o deputado Jorge Solla, todos médicos e conhecedores das implicações da quebra do monopólio para a população carente e o SUS. O deputado Ivan Valente foi também um combativo defensor da manutenção pelo Estado do monopólio da produção dos radiofármacos de meia vida longa. Diferentemente do que se propaga que a entrada da iniciativa privada na produção de radiofármacos deve causar redução nos preços dos radiofármacos, o custo do principal radiofármaco produzido pelo IPEN a partir da importação de insumos, ou seja, o gerador de tecnécio, é um terço do oferecido pela iniciativa privada. Este produto é fornecido aos hospitais públicos e privados. São cerca de 450 clínicas e hospitais atendidos no país e cerca de dois milhões de procedimentos (diagnóstico e terapia) por ano. A quebra do monopólio deve resultar em custos muito elevados dos tratamentos de radioterapia os quais inviabilizariam o atendimento de parte da população carente. O ministro Alexandre Padilha conhece bem esta situação havendo já sido ministro da Saúde no governo Dilma Roussef e secretário municipal da Saúde de Fernando Haddad. Vale lembrar implicações de quebra do monopólio estatal como a ocorrida na produção de insulinas no país que resultou no desabastecimento do mercado pelo setor privado.
BLOG : O IPEN continua produzindo, importando os insumos? Qual o investimento nesta área? Qual a sua opinião sobre a demora na construção do RMB?
ISOLDA: O IPEN continua produzindo e importando os insumos para produção de radiofármacos e assim deve continuar enquanto não for solicitada a interrupção da produção pela ANVISA. Isto pode ocorrer caso uma empresa privada, instalada e com a BPF para a produção dos radiofármacos solicite à ANVISA esta interrupção. Os investimentos para a modernização da Radiofarmácia no IPEN ao longo dos últimos anos foram insuficientes para que este processo ocorresse a tempo de estarmos com a BPF já por ocasião da quebra do monopólio na produção de radiofármacos de meia vida longa. Há necessidade de se aumentar os investimentos nesta direção e de acelerar este processo de modernização para que possamos estar aptos a continuar produzindo e atendendo a população brasileira. A demora na construção do RMB se deu por falta de priorização deste projeto nos últimos seis anos. Já devíamos estar com o reator construído e em operação se tivéssemos seguido os planos iniciais. Temos o terreno, em parte (40%) doado pelo Estado de São Paulo na gestão do então governador Geraldo Alckmin, e parte (60%) doado pela Marinha do Brasil. Temos todos os projetos prontos, autorizações ambientais e da Comissão Nacional de Energia Nuclear para o início das obras do RMB. Caso o investimento necessário seja feito, o RMB poderá ser concluído em quatro anos. Temos observado pelas manifestações da nova ministra do MCTI, Luciana Santos, em seus pronunciamentos e manifestações nas mídias, que o RMB é uma prioridade e um dos projetos estratégicos de sua gestão, o que tem encontrado eco nas declarações do novo Presidente do CNPq, Prof. Ricardo Galvão. Portanto, temos muita esperança que ele saia do papel nestes próximos anos e seja uma realização do novo governo.
BLOG - Como sobrevive o IPEN?
ISOLDA: O IPEN sobrevive hoje com recursos orçamentários do Governo Federal que são destinados à CNEN e suas Unidades Técnico Científicas (UTCs). O valor do orçamento provisionado para o IPEN-CNEN variou nos últimos anos entre R$ 174 milhões (2020) e R$ 203 milhões (2022). Em 2022 contamos muito com a ajuda do Ministro da Ciência e Tecnologia à época, Paulo Alvim, para o aumento ocorrido nos recursos. É importante ressaltar que o IPEN gera recursos (receita arrecadada) da ordem de R$ 100 milhões com a venda dos radiofármacos, recursos estes que são devolvidos à União e desde 2017 não houve aumento nos preços dos radiofármacos fornecidos pelo IPEN. O IPEN sobrevive também com recursos de grandes projetos institucionais de agências de fomento, principalmente nos últimos seis anos.
BLOG: Exemplo?
ISOLDA: Como exemplo, temos um projeto com recursos de cerca de R$ 17 milhões em Nanotecnologia apoiado pela FAPESP cujo principal beneficiário é a Radiofarmácia, e um outro projeto financiado pela FINEP com recursos de R$ 16 milhões para equipamentos multiusuários. É fundamental que um novo modelo de gestão seja pensado e implementado para o IPEN pelo novo governo para que a instituição possa ter vida longa e continuar dando sua contribuição tão essencial para o bem estar da sociedade brasileira. Vale ressaltar que aproximadamente 85% de todos os radiofármacos utilizados para exames e tratamentos no Brasil são produzidos no IPEN.
BLOG: – Quais os principais projetos futuros? O que acha que o novo governo, do presidente Lula, através da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, pode promover de melhor para a pesquisa, a ciência, no IPEN?
ISOLDA: Muitos dos principais projetos em andamento hoje, e a serem iniciados em futuro próximo no IPEN, são na área da Saúde. Estamos trabalhando para a melhoria da infraestrutura laboratorial para pesquisas nesta área. Em breve iniciaremos um projeto coordenado pelo IPEN já aprovado pela FAPESP e em parceria com a iniciativa privada (CMR do Brasil) que foi submetido ao Edital do Programa Ciência para o Desenvolvimento. Este projeto é intitulado "Programa multicêntrico utilizando radioligantes de PSMA para o diagnóstico e terapia de pacientes com câncer de próstata” e conta com a participação do Hospital de Câncer de Barretos, da Faculdade de Medicina da USP, do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), do Hospital das Clínicas da Unicamp e da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP.
BLOG: E com o setor privado?
ISOLDA: Sim. Além desse, temos vários projetos de inovação em desenvolvimento em parceria com o setor privado que têm como temas principais de pesquisa: Meio Ambiente, Nuclear, Energia e Indústria. Temos vários projetos em andamento que têm como objetivo o desenvolvimento de tecnologia de células a combustível e hidrogênio verde. Estes são sistemas energéticos eficientes e de baixo impacto ambiental. Um dos projetos com início programado para 2024 será apoiado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e tem como tema principal o Meio Ambiente e visa a despoluição dos Oceanos por microplásticos por meio do uso de tecnologias nucleares. O IPEN tem também uma longa história de pesquisa em Materiais e na área de Lasers e suas Aplicações. Temos muitas expectativas positivas com relação ao novo governo.
BLOG: Acredita em novos investimentos?
ISOLDA: Acreditamos que haverá aumento nos investimentos em Ciência, Tecnologia e Inovação na gestão da ministra Luciana Santos com a recomposição dos recursos do FNDCT e o reajuste das bolsas de graduação e pós graduação. Retomaremos o caminho do qual nunca deveríamos ter nos afastado. Estamos muito esperançosos que as pesquisas na área Nuclear serão uma prioridade neste governo. É fundamental que haja recomposição dos recursos humanos perdidos ao longo dos últimos anos. Grande parte dos servidores que adquiriram suas expertises ao longo de anos de trabalho estão prontos para fazerem a transmissão destes conhecimentos, mas à espera da chegada dos novos para que o processo ocorra.
BLOG: Boas expectativas agora?
ISOLDA: Essa é a esperança que nos une como servidores do IPEN e sonho que esperamos ver concretizado neste governo. Acreditamos que a ministra Luciana Santos tem a mesma expectativa que temos e valorizará o nosso potencial de recursos humanos altamente qualificados para que fiquem no país e tenhamos o reconhecimento internacional em várias áreas do conhecimento.
BLOG: A quantas anda a pesquisa do IPEN para o enriquecimento de urânio?
ISOLDA: O IPEN continua colaborando em pesquisas em parceria com a Marinha do Brasil no desenvolvimento de ultracentrífugas para enriquecimento de urânio. Além disso, o IPEN também realiza pesquisas no desenvolvimento de novas ligas e elementos combustíveis para reatores de pesquisa.
BLOG: O IPEN ainda armazena material radioativo? Qual a quantidade, procedência?
ISOLDA: O IPEN recebe e armazena rejeitos radioativos que são materiais que não têm previsão de uso. São obrigações da Instituição: receber, tratar, acondicionar e armazenar. O material descartado como rejeito no Estado de São Paulo em resultado de aplicações médicas, industriais, pesquisa, etc. deve ser recebido pelo IPEN. O IPEN recebe também rejeitos de outros estados (Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul), principalmente dos mais vizinhos, por questão de logística. A situação atual dos depósitos intermediários de rejeitos no IPEN em volume armazenado é de 545 metros cúbicos.
BLOG: O IPEN tem quantos funcionários? É suficiente?
ISOLDA: O IPEN tem hoje 540 funcionários. Não é suficiente. No início dos anos 90 o IPEN contava com cerca de 1400 servidores. Entre 1990 e 2020 perdemos 784 servidores, ou seja, mais da metade de seu quadro, sem reposição. Em 2022 tivemos mais 40 aposentadorias, além dos óbitos que foram seis. Temos hoje 60% dos servidores na ativa em condições de aposentadoria imediata, o que, caso ocorra, inviabiliza o funcionamento da instituição. É urgente que este desafio seja enfrentado pelo novo Governo.
BLOG: Estudantes de engenharia nuclear da UFRJ, por exemplo, estão deixando o Brasil para estudar nos EUA, porque a oferta é irrecusável. Estamos perdendo mão de obra para o exterior. O que acha disso?
ISOLDA: Os concursos praticamente não existem. Qual a sua avaliação? A saída de recursos humanos para o exterior é uma lástima. O custo para a formação de um profissional bem qualificado no país é muito alto e estamos perdendo estas pessoas para o exterior por não serem valorizadas aqui. As bolsas para os estudantes de pós-graduação e iniciação científica estão sem reajuste há muitos anos. Os recursos para as pesquisas são muito escassos, a infraestrutura laboratorial em várias universidades e institutos de pesquisa necessita maiores investimentos para ser equiparada aos centros de referência mundial, e tudo isto faz com que os novos pesquisadores se sintam desestimulados a desenvolverem suas carreiras no país. E assim perdemos profissionais de alta qualidade para países que não investiram nenhum recurso na formação deles. É uma perda muito grande. Temos que trazer de volta para esta nova geração o sonho e a confiança de que é possível a realização de pesquisas de alto nível no Brasil. É importante que os pesquisadores do país se sintam valorizados para que desejem permanecer no país. Estimulados e valorizados, acreditamos que nossos recursos humanos bem formados queiram ficar e dar sua contribuição para o desenvolvimento do país. Esta valorização passa pela recuperação do valor das bolsas de pesquisa, já anunciada, pelo aumento nos recursos para atualização de infraestrutura laboratorial, e aumento no valor dos recursos destinados à pesquisa, em geral.
BLOG: A senhora possui 229 publicações em periódicos com política de avaliação por pares. Orientou 24 mestrados e 22 doutorados. Os principais temas de pesquisa são Corrosão, Biomateriais, Tratamentos de Superfície. Com este potente curriculum, se sente valorizada?
ISOLDA: Nos últimos anos tenho assumido cargos de direção na instituição e acredito que estes vieram em função do meu curriculum. O meu antecessor, Dr. Marcelo Linardi, que é o pesquisador responsável por me trazer para atuar na Administração, valoriza o desempenho do pesquisador nas suas diversas áreas, como ensino, desempenho acadêmico (publicações e participações em eventos) e coordenação de projetos de grandes Agências de Fomento (aprovação, gestão e resultados), o que se reflete no curriculum.
BLOG: Quais as suas sugestões para o Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta área?
ISOLDA: Minhas sugestões são para que o investimento na contratação de pessoal na área Nuclear ocorra com a maior brevidade possível de forma que a transferência do conhecimento possa ocorrer antes da aposentadoria dos nossos reduzidos recursos humanos que representam a expertise atingida ao longo de décadas. Que o governo estabeleça como prioridade projetos de desenvolvimento científico que resultem em autonomia nacional em tecnologia e que nos permita atravessar períodos de crise, como ocorreu com a pandemia da Covid 19, sem grandes sobressaltos.
BLOG: Conte um pouco a sua história: origem, por que o interesse na área química e nuclear; por ser mulher, ingressando no IPEN em 1982, sofreu algum tipo de preconceito ou machismo entre tantos (a maioria) profissionais do gênero masculino?
ISOLDA: Sou natural de Campina Grande, Paraíba, de onde saí aos dois anos de idade indo morar em Recife até os oito anos. Morei em seguida em Belém, depois Manaus e aos 13 anos mudei para São Paulo, onde concluí o Curso Fundamental, cursei o Ensino Médio e a Universidade (Engenharia Química) na Unicamp. Logo após concluída a graduação ao final de 1981, iniciei o mestrado no IPEN em 1982, tendo escolhido o tema Corrosão de ligas de zircônio, e, em 1984 fui contratada para trabalhar na Metalurgia, hoje Centro de Ciência e Tecnologia de Materiais (CECTM). Em 2018 fui convidada a gerenciar a Internacionalização do IPEN e em 2019 passei a ser a Coordenadora de Pesquisas, Desenvolvimento e Ensino (COPDE) do IPEN, cargo que mantive juntamente com o Diretora Substituta do IPEN, a partir de 2022. Venho de uma família que tem a educação como um valor e que sempre estimulou a leitura, desde cedo. As escolhas pelas áreas química e depois nuclear foram oportunidades que surgiram no momento e que foram aproveitadas, mas não foram planejadas nem sonhadas.
BLOG: Estamos no mês de muitas homenagens às mulheres. Daí, reiteramos, e o machismo?
ISOLDA: Sendo mulher e ingressando no IPEN em 1982, naturalmente experimentei situações de preconceito e machismo, por vezes, expressos de forma sutil, e outras de forma mais explícita. Porém, estes comportamentos são desestimulados na instituição. Espero que as mulheres se sintam encorajadas a não normalizarem estes comportamentos, principalmente pelo fato de haver uma mulher na Direção. Sou casada com um pesquisador do IPEN que conheci durante o período de desenvolvimento do mestrado, em 1982. Temos dois filhos, uma advogada e um engenheiro elétrico, ambos formados na Universidade de São Paulo que atualmente trabalham e cursam mestrado na USP.
BLOG: Planos para o futuro?
ISOLDA: Meus planos para o futuro mais imediato são o de criar uma Central de Análises no IPEN com os equipamentos de caracterização mais atuais com a finalidade de apoiar os trabalhos de pesquisas de nossos pesquisadores e da comunidade. Pensando em um futuro menos imediato, meus planos são o de deixar sucessores bem formados para assumirem a responsabilidade de coordenar os laboratórios e trabalhos de pesquisas que são estruturantes para a instituição. De forma geral, contribuir para que o IPEN continue sendo uma referência, nacional e internacional, na área Nuclear e que possa atravessar sem sobressaltos os tempos difíceis.
BLOG: Como se define?
ISOLDA:Sou uma pessoa determinada e muito pragmática.
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- 03/03/2023 - Brasil tem oportunidade de se tornar um grande exportador de combustível nuclear do futuroFonte: Petronotícias
Esquenta o segmento de produtos gerados pela energia nuclear. O mercado internacional deixou de ser apenas o de geração de energia. O foco mudou e vai ampliando-se. Cresceu muito a procura pela medicina nuclear. Não só os radiofármacos, mas a alta tecnologia dos equipamentos para tratamento e diagnósticos. A busca pela conservação de alimentos e também pelos combustíveis de fonte nuclear. E neste particular, o Brasil está diante de uma grande oportunidade no setor internacional, se tiver agilidade para criar condições de ser um produtor e exportador do combustível nuclear do futuro, o HALEU. Tradicionalmente, o combustível para os reatores de pesquisa e os alvos para uso na produção de radioisótopos são fabricados com urânio altamente enriquecido (High Enriched Uranium – HEU), isto é, acima de 20% no teor (assay) do isótopo 235. Esse material vem sendo fornecido principalmente pelos Estados Unidos e Rússia a partir do excedente militar, sob o Tratado de Não Proliferação (salvaguardas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), e também poderá ser feito por uma empresa privada canadense.
Com o tempo, o fornecimento e o uso de HEU se tornaram sujeitos a restrições políticas e legais adicionais e nenhum novo HEU vem sendo produzido. Esses fatores haleu tornam incertos os futuros suprimentos. Em apoio à não proliferação, a maioria dos Estados Membros da AIEA está comprometida com o objetivo de converter o combustível dos reatores de pesquisa e os alvos para produção de radioisótopos para o HALEU, abaixo de 19,75%. O combustível dos reatores de pesquisa brasileiros, em especial o IEA-R1 do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), maior produtor de radioisótopos do País, já fez com sucesso essa transição para a HALEU. O Petronotícias conversou com um dos maiores especialistas brasileiros no assunto, Leonam Guimarães, ex-presidente da Eletronuclear:
– Como o senhor vê este mercado?
A disponibilidade e acessibilidade a longo prazo do HALEU em forma metálica é uma questão fundamental para garantir a operação contínua de reatores de pesquisa e a produção de radioisótopos de fissão usando o HALEU. Atualmente, o único fornecedor comercial disponível é a Rússia. Essas circunstâncias criam um risco potencial à segurança do abastecimento tanto de combustível como de alvos. Considerações políticas semelhantes às do fornecimento de HEU também podem afetar o fornecimento futuro de HALEU a 19,75%. Se nenhuma ação for tomada, existe o risco de que o fornecimento deste material de importância crítica não possa ser garantido algum tempo após 2030.
– O senhor considera que o país está diante de uma oportunidade de ser protagonista neste mercado?
Tem-se aí uma grande oportunidade para o Brasil, que já produziu bateladas de HALEU para o reator de pesquisa nacional nas instalações de enriquecimento de Aramar, do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP) nos primeiros anos da década passada. Mais recentemente, o CTMSP produziu bateladas de HALEU destinados à fabricação do combustível e de alvos para produção de Molibdênio 99, radioisótopo de amplo uso na medicina para o futuro Reator Multipropósito Brasileiro bem como o combustível para o Reator de Pesquisa 19haleu 2 elementos combustível tipo placa fabricados pelo IPEN com urânio nacional também localizado no IPEN. Essa capacitação torna possível que a produção nacional seja uma alternativa para garantir a disponibilidade futura da HALEU para suas próprias necessidades e, eventualmente, também para exportação.
Ainda mais importante, note-se que também estão surgindo vários novos conceitos de combustíveis para pequenos reatores modulares (Small Modular Reactor – SMR quase todos considerando o uso da HALEU. Esse é um tema que foi pesquisado pelo CTMSP e IPEN ao final do século passado Muitos dos novos projetos reatores avançados de potência, além dos reatores de pesquisa, exigirão que o HALEU seja enriquecido de 5 a 20% de U-235, e somente a disponibilidade desse material permitirá sua efetiva implantação.
A ausência de capacidade de produção de HALEU para essas aplicações pode atrasar ou até mesmo impedir totalmente esses novos desenvolvimentos. Como a indústria nuclear irá alimentar a próxima geração de reatores e tecnologias nucleares comerciais avançados é um tópico importante de discussão entre especialistas do setor. Nesse contexto, uma capacidade de produção nacional expandida poderá permitir que o Brasil desempenhe um papel de liderança nesses importantes desenvolvimentos da indústria nuclear mundial.
– A nossa infraestrutura é adequada para este empreendimento?
A fim de garantir um suprimento seguro de HALEU, a atual infraestrutura do ciclo de combustível nuclear destinada aos reatores nucleares comerciais que usam urânio de baixo enriquecimento (Low Enriched Uranium – LEU) a até 6%, que consiste em mineração, beneficiamento, conversão, enriquecimento e fabricação de combustível, precisará ser mais desenvolvida e mais robusta. Dependendo da localização das instalações dessa infraestrutura, meios de transporte associados também precisarão ser desenvolvidos.
No entanto, ao contrário do material necessário para os reatores de pesquisa e alvos para produção de radioisótopos, o investimento industrial necessário em infraestrutura para produção de HALEU para reatores comerciais é substancial, sendo realisticamente possível apenas se houver perspectivas de demanda suficiente e se os preços forem adequados e aceitável para os futuros clientes.
– Qual será a real necessidade do mercado para este combustível?
É muito difícil fazer previsões confiáveis da demanda da HALEU para futuros reatores comerciais com base nas informações atualmente disponíveis. Estão em discussão vários projetos avançados de reatores que envolvem o uso de um nível de enriquecimento de 19,75%. Um fator que afeta se esses projetos serão ou não concretizados será uma nova infraestrutura para garantir o fornecimento da HALEU. Atualmente, não há uma avaliação consolidada das necessidades de HALEU, mas muitos projetos apontam para um futuro que envolve uma demanda crescente de reatores comerciais usando esse tipo de combustível.
– Neste campo, qual será a importância dos Pequenos Reatores no futuro?
O desenvolvimento de pequenas centrais nucleares tem sido de particular interesse nos últimos anos. Esses tipos de reatores SMR tipicamente têm uma saída elétrica de 3 a 100 MWe, mas alguns projetos têm potências mais altas de, até 300 MWe. Os SMRs oferecem benefícios em termos de flexibilidade devido à menor produção de energia elétrica e são atraentes porque os custos de capital por usina são menores. Muitos dos projetos envolvem ciclos de reabastecimento ou núcleos de vida útil muito longos, exigindo maior enriquecimento do material físsil no núcleo.
De acordo com uma avaliação de 2016 da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico / Agência de Energia Nuclear, até 21 GWe de SMRs poderiam ser adicionados até 2035 em um cenário de otimista. Isso representa 3% da total capacidade nuclear instalada global. Esta avaliação não leva em consideração o potencial de desenvolvimento adicional de tecnologias SMR, como atualmente conhecidas e com potencial de realização realista.
- Qual é a base da tecnologia que será usada nesses pequenos reatores?
Os projetos de SMR podem basear?se na tecnologia tradicional de água leve (LWR) ou na tecnologia avançada de reatores (Geração IV), como os reatores de alta temperatura (HTR) ou reatores de sal fundido (MSR) ou reatores rápidos resfriados a chumbo também. Além das SMRs, estão sendo desenvolvidos reatores avançados com alta potência elétrica (> 500 MW) que em alguns casos também usam o HALEU.
Analisando a demanda de combustível, podemos distinguir, grosso modo, o seguinte:
– Pequenos reatores modulares baseados em LWR: usam principalmente UO2 com enriquecimento <5%;
– Pequenos reatores modulares baseados em HTR: usam principalmente HALEU;
– Pequenos reatores modulares baseados em MSR: usam principalmente HALEU;
– Pequenos reatores modulares, refrigerados a sódio ou chumbo: usam principalmente HALEU ou óxidos mistos (MOX);
– Reatores avançados > 300 MWe: estes são principalmente reatores rápidos, refrigerados a sódio ou chumbo e usam combustível MOX ou, emswswswswsd-300x169 alguns casos, HALEU;
– E como está o desenvolvimento desse combustível no mundo?
A demanda por HALEU para uso em tecnologias avançadas está nitidamente se tornando um aspecto interessante do ciclo do combustível nuclear global. Também pode ser interessante para os reatores de água leve atuais, especialmente para desenvolver combustíveis mais seguros, os chamados "combustíveis tolerantes a acidentes.” Provavelmente ainda levará algum tempo até que esses desenvolvimentos resultem em uma demanda significativa por HALEU. Protótipos, no entanto, exigirão volumes menores em um futuro próximo. Se esses programas de LTA forem bem sucedidos, o volume de HALEU necessário para suportar quantidades de recarga para um LWR grande a longo prazo será significativa, de cerca de 40tU/recarrega com 16% de enriquecimento de U-235.
– Há estudos sobre a demanda desse combustível?
O Instituto de Energia Nuclear (NEI) da indústria nuclear dos EUA avaliou a demanda nacional da HALEU em 2018. A NEI pesquisou desenvolvedores de reatores avançados e projetistas de combustível que usam HALEU a fim de identificar suas necessidades anuais até 2030. A demanda anual de menos de 1 tonelada de HALEU em 2018 deverá aumentar para cerca de 185 toneladas de HALEU até 2030 em várias faixas de enriquecimento, que variam de 13 a 19,75%. É claro que esses números devem ser tratados com cautela, mas mostram que a indústria nuclear pode precisar da HALEU no curto prazo para novos desenvolvimentos. Os volumes esperados podem exceder rapidamente as atuais necessidades estabelecidas para reatores de pesquisa e outros fins. -
- 01/03/2023 - Comitiva do IPEN é recepcionada na Prefeitura de Toledo e apresenta tecnologiasFonte: Governo Municipal de Toledo
Uma comitiva do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) participou, nesta terça-feira (28), de um encontro com o prefeito Beto Lunitti, o vice-prefeito Ademar Dorfschmidt e demais integrantes da administração municipal. A recepção aconteceu na Sala de Reuniões do Gabinete do Prefeito e serviu para estreitar relações entre a Prefeitura de Toledo e a instituição de ensino que é vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) do Governo do Estado de São Paulo, bem como sinalizar possibilidades de parcerias.
Apesar de vinculado ao governo paulista, o IPEN é gerido técnica e administrativamente pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), do Governo Federal. "Estamos impressionados com os índices e os dados de desenvolvimento do município. Participamos de uma reunião e vimos quanta dedicação da comunidade. Nós queremos firmar parcerias para desenvolvimento e aplicação de inovações, em diversas situações, como pesquisas em nanotecnologia. Queremos contribuir com o que for possível”, disse o superintendente do IPEN, Wilson Aparecido Parejo Calvo durante apresentação.
No Paraná, Toledo e Pato Branco foram escolhidas para possíveis convênios voltados ao desenvolvimento de tecnologias que podem ser aplicadas em saúde, no agronegócio, indústrias e demais áreas. "O município de Toledo se sente honrado em recebê-los e temos um olhar importante sobre o nosso agronegócio, em especial na produção animal, mas temos também uma indústria forte e estamos avançando em tecnologias e inovações para as crianças da rede municipal, por meio de programas como o Aluno Conectado, preparando esses estudantes para se apropriarem dos mais de 100 cursos universitários disponibilizados por universidades e faculdades estaduais e federais, com cursos das áreas de exatas, humanas e ciências médicas, públicas e privadas. Possuímos também um grande parque de biociências, o Biopark, um investimento privado, mas que transformará nossa região”, expôs o prefeito Beto Lunitti.
O gestor toledano ainda comentou que a maioria das propostas apresentadas vem ao encontro de necessidades da região e sugeriu novas possibilidades, como apresentação de projetos para mais entidades, entre elas o Programa Oeste em Desenvolvimento, com o intuito de conectar tecnologias disponíveis com as necessidades de Toledo e região. O grupo também teve agendas com empresários, Associação Comercial e Empresarial de Toledo (ACIT) e Biopark.
No encontro estiveram presentes o diretor executivo da Fundação de Desenvolvimento Sustentável, Científico e Tecnológico de Toledo (Funtec) Renato Tratch, o secretário do Agronegócio, Inovação, Turismo e Desenvolvimento Econômico Diego Bonaldo e diretores e servidores municipais ligados ao Gabinete do Prefeito.
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- 28/02/2023 - ACIT recebe membros do Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares – IPEN através de iniciativa do CODETFonte: ACIT
A Associação Comercial e Empresarial de Toledo – ACIT, através do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Toledo (Codet) recebeu representantes do IPEN – Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares na terça-feira (28).
A conversa foi conduzida pelo presidente do Codet, Mario Lopes Neto ao lado da presidente da ACIT, Anaide Holzbach e do membro do conselho, Tiago Rockembach, com o objetivo de realizar um intercâmbio de soluções, acelerandoo processo de desenvolvimento tecnológico local e regional.
Com 66 anos, o Ipen possui cinco áreas de atuação: saúde, meio ambiente, indústria, nuclear e energia. Segundo o superintendente do Ipen, Wilson Calvo, a reunião de integração foi uma oportunidade para ambas as partes envolvidas. "Apresentamos possibilidades de pesquisas e desenvolvimento e aplicações práticas utilizando a tecnologia nuclear a qual estão à disposição da sociedade, na intenção de formar políticas públicas na região. Esse contato foi gratificante e agora vai se desdobrar com visitas técnicas em várias dessas instituições, para que possamos ofertar à região tecnologias disponíveis com o conhecimento que existe hoje no Ipen, através de seus pesquisadores”, conta.
A diretora do Ipen, Isolda Costa fala da satisfação em compartilhar o trabalho do Ipen. "É muito importante esse compartilhamento de ideias e principalmente em poder mostrar o que estamos fazendo, dando a possibilidade da integração entre setor privado e público em uma região que mostra grande eficiência em seu trabalho. Temos certeza que novas parcerias irão surgir deste encontro.”
Além da apresentação do Ipen, o presidente do Codet, Mário Lopes Neto, expôs alguns dados da cidade de Toledo, que segundo informações atualizadas do IBGE, possui mais de 156 mil habitantes, sendo reconhecida oficialmente como a Capital Paranaense do Agronegócio, líder na geração de empregos per capita no Paraná em 2022, melhor cidade de porte médio do Brasil em indicadores econômicos, terceira melhor cidade do Brasil em mercado de trabalho, terceira maior cidade do oeste paranaense, quinta melhor cidade de porte médio do Brasil na categoria geral, décima melhor cidade de porte médio do Brasil em padrão de vida, entre outras informações.
O momento também serviu para apresentar a entidade ao grupo. Ao todo, a ACIT possui 4.365 empresas associadas, totalizando mais de 50% da força produtiva de Toledo. Para a presidente da ACIT, Anaide Holzbach, a visita demonstra a importância da entidade em fazer a ponte entre pesquisadores e desenvolvedores das empresas locais. "Com o apoio do Codet, mais uma vez demos foco a relevância de se trabalhar em conjunto em prol do desenvolvimento local e região, com foco na tecnologia de diversos segmentos.”
Segundo Tiago Rockembach, que é membro do Codet e viabilizou a visita do Ipen na ACIT através do Nexo Espaço de Negócios e Coworking, apoiar o desenvolvimento cientifico é fundamental para o crescimento dos negócios locais. "Preencher essa lacuna foi o objetivo da vinda do Ipen, ou seja, canalizar suas aplicações para a prática que o empresário tem na ponta da linha. Essa parceria tem tudo para dar certo e os próximos passos devem trazer soluções ao município e ao desenvolvimento regional.”
A iniciativa Iguassu Valley, que é um movimento que reúne instituições de apoio, grandes empresas, startups, instituições de ensino e pesquisa e que atua para fomentar o ecossistema de inovação do Oeste do Paraná também foi apresentada pelo representante do Sebrae PR, Alan Debus.
Além da integração durante reunião extraordinária do Codet, membros do Ipen retornaram à ACIT no período da noite no espaço InovAcit para um novo encontro de aproximação com membros da diretoria executiva da entidade, conselheiros do Codet, empresários, industriais, representantes de universidades, de instituições públicas e privadas, pesquisadores, entre outros.
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- 28/02/2023 - Liderados pela França, 11 países da UE se unem para promover energia nuclearOnze países da União Europeia (UE), liderados pela França, comprometeram-se nesta terça-feira (28) a "reforçar a cooperação europeia" em torno da energia nuclear, a qual consideram uma forma eficaz de combater a mudança climática.
Onze países da União Europeia (UE), liderados pela França, comprometeram-se nesta terça-feira (28) a "reforçar a cooperação europeia" em torno da energia nuclear, a qual consideram uma forma eficaz de combater a mudança climática.
Fonte: Site Uol
"A energia nuclear é uma das muitas ferramentas que nos permitem atingir nossos objetivos climáticos, produzir eletricidade de base e garantir a segurança do abastecimento", disseram estes países em uma declaração assinada à margem de uma reunião de ministros europeus da Energia em Estocolmo.
Os 11 países concordaram quanto à necessidade de "apoiar novos projetos" nucleares, baseados em "tecnologias inovadoras". Também apoiaram "a exploração das centrais existentes".
Os países envolvidos são França, Bulgária, Croácia, República Tcheca, Hungria, Finlândia, Holanda, Polônia, Romênia, Eslováquia e Eslovênia.
O texto prevê projetos conjuntos de treinamento, "possibilidades de cooperação científica" e "aplicação coordenada das melhores práticas em matéria de segurança".
Antes da reunião, o gabinete da ministra francesa da Transição Energética, Agnès Pannier-Runacher, havia manifestado o objetivo de "criar uma aliança da energia nuclear" e "enviar uma mensagem forte nas diferentes negociações europeias".
Historicamente ligada à energia atômica, a França quer usá-la para cumprir suas metas climáticas. Nesse sentido, faz campanha em Bruxelas para que o hidrogênio produzido a partir de uma mistura que inclui energia nuclear também seja considerado "verde".
Alemanha e Espanha se opõem a essa flexibilização e querem que a EU considere como "verde" apenas o hidrogênio produzido a partir de fontes renováveis.
"A energia nuclear representa 25% da nossa produção elétrica europeia e emite menos carbono do que a energia eólica e a fotovoltaica", disse a ministra Pannier-Runacher na segunda-feira (27), que vê no átomo uma ferramenta "complementar" às renováveis para alcançar a neutralidade de carbono na EU em 2050.
"As energias renováveis podem ser instáveis. É necessária uma energia estável, sustentável e baixa em carbono. Conhecemos apenas uma, a nuclear", concordou o ministro tcheco de Energia, Jozef Sikela. Em contrapartida, Alemanha, Áustria e Luxemburgo reafirmaram em Estocolmo sua hostilidade ao surgimento da energia atômica na Europa.
"Para ganhar a corrida contra a mudança climática temos que agir rápido. As novas centrais nucleares levam 15 anos para serem construídas, ou seja, é entre duas e três vezes mais caro do que no caso da energia eólica, ou solar. Isso é ideologia, e não pragmatismo", argumentou ontem o ministro luxemburguês, Claude Turmes. -
- 26/02/2023 - Conheça o reator nuclear que fica no meio de São PauloVocê sabe o que um reator nuclear faz no meio da cidade de São Paulo?
Você sabe o que um reator nuclear faz no meio da cidade de São Paulo?
Fonte: Site Tecmundo
Equipe Tecmundo
No Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), que fica dentro do campus da USP, no bairro do Butantã, existe um reator nuclear que está em operação desde 1957: o IEA-R1.
Embora os reatores nucleares sejam mais famosos pela capacidade de produzir energia elétrica, o IEA-R1 tem funções diferentes: fazer pesquisa científica e produzir radiofármacos, que são produtos usados na medicina nuclear para fazer diagnóstico e tratamento de doenças como o câncer.
A equipe doTecMundovisitou o reator e conversou comFrederico Genezini, gerente do Centro do Reator de Pesquisas, que explicou como é o funcionamento do IEA-R1. A parte principal do reator fica mergulhada em uma piscina com cerca de 9 metros de profundidade, e o prédio onde ele está possui diversos aparatos e procedimentos de segurança.
Você pode conferir a visita completa no vídeo abaixo.
Link para o vídeo do Reator IEA-R1
O Ipen recebe visitantes interessados em conhecer melhor o reator. As visitas acontecem às terças e quartas no período da manhã e podem ser agendadas pelo emailpergunta@ipen.br. Os visitantes devem ter mais de 18 anos de idade.
Mais informações sobre o reator e o instituto podem ser encontradas no site do Ipen.
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- 19/02/2023 - Governo Lula reacende projeto do Reator Multipropósito BrasileiroO programa Com Ciência, da Rede TVT, informa sobre a retomada do projeto para o Reator Multipropósito Brasileiro entrevistando sua coordenadora técnica, Patrícia da Silva Pagetti de Oliveira, do IPEN, e seu coordenador administrativo, Francisco Rondinelli Jr, da CNEN
O programa Com Ciência, da Rede TVT, informa sobre a retomada do projeto para o Reator Multipropósito Brasileiro entrevistando sua coordenadora técnica, Patrícia da Silva Pagetti de Oliveira, do IPEN, e seu coordenador administrativo, Francisco Rondinelli Jr, da CNEN
Fonte: Programa Com Ciência - Rede TVT
O apresentador Edmon Garcia, do programa Com Ciência, da Rede TVT, entrevista a coordenadora técnica do projeto para o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), a tecnologista Patrícia da Silva Pagetti de Oliveira, do IPEN, e o coordenador administrativo, Francisco Rondinelli Jr., da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN0.
No programa são apresentadas as principais linhas de pesquisa e atividades a serem desenvolvidas no RMB e a situação atual do empreendimento. Também são apresentadas entrevistas com Efrain Perini, então gerente do Centro de Radiofarmácia (CECRF) do IPEN e o físico Marcos Rodrigues de Carvalho, operador do Reator IEA-R1, do Centro do Reator de Pesquisa (CERPQ).
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- 16/02/2023 - Governo reajusta valores das bolsas do CNPq e da Capes“Estamos cuidando dos pesquisadores e das pesquisadoras”, disse a ministra Luciana Santos durante cerimônia no Palácio do Planalto
“Estamos cuidando dos pesquisadores e das pesquisadoras”, disse a ministra Luciana Santos durante cerimônia no Palácio do Planalto
Fonte: MCTI
om o Salão Nobre do Palácio do Planalto lotado de estudantes e representantes da comunidade científica, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou o reajuste dos valores das bolsas do CNPq e da Capes. A cerimônia realizada nesta quinta-feira (16) contou com a participação da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, e do ministro da Educação, Camilo Santana.
"As pessoas têm que saber que investimento em educação é o melhor e mais barato investimento que o Estado pode fazer. Porque esse país não pode passar a vida inteira sendo exportador de minério”, disse o presidente.
Os reajustes variam entre 25% e 200% nas bolsas de graduação, pós-graduação, de iniciação científica e na Bolsa Permanência e contemplam 258 mil bolsistas.
"Os desafios colocados serão solucionados com pesquisa científica de alta qualidade, desenvolvida em laboratórios bem equipados e com infraestrutura robusta, mas, sobretudo, por pessoas. E essas pessoas devem ser reconhecidas, respeitadas e valorizadas. E é isso que estamos fazendo hoje. Nós estamos cuidando dos nossos pesquisadores e das nossas pesquisadoras”, disse a ministra.O ministro da Educação, Camilo Santana, reforçou a importância dos anúncios para a ciência. "Esse momento é simbólico. É uma demonstração do retorno da autoestima dos nossos pesquisadores, dos nossos alunos, dos nossos professores e, além de tudo, é a esperança de construirmos um mundo melhor através da educação, da ciência e da tecnologia”, disse.
Comunidade científica– O presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos, Vinícius Santos Soares, é doutorando em saúde pública pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele tem uma história de sucesso e resiliência na área acadêmica – uma experiência parecida com a de muitos outros brasileiros. Nascido em Peixinhos, em Olinda (PE), Vinícius foi o primeiro da família a entrar numa universidade pública e só conseguiu dar sequência aos estudos por causa das bolsas de estudo. "Fui o primeiro da família a entrar numa universidade pública e serei o primeiro a virar doutor e tudo isso graças às políticas públicas de educação e ciência”, contou.
Bolsas- O aumento das bolsas será de 40% para os alunos do mestrado e doutorado, de 25% para os pós-doutorandos, de 75% para a iniciação científica e de 200% para a iniciação científica junior. Além dos valores das bolsas, serão reajustadas em 20% as taxas de bancada para alunos de cursos de doutorado e pós-doutores e os adicionais de bancada das bolsas de Produtividade do CNPq.Os alunos de iniciação científica no ensino médio também vão se beneficiar. Serão 53 mil bolsas para estimular jovens estudantes a se dedicar à pesquisa e à produção de ciência que vão passar de R$ 100 para R$ 300. Na graduação no ensino superior, as bolsas de iniciação científica terão acréscimo de 75%. Vão passar de R$ 400 para R$ 700.
As bolsas para formação de professores da educação básica terão reajuste entre 40% e 75%. Em 2023, haverá 125,7 mil bolsas para preparar melhor os professores, peça central na elevação da qualidade do ensino básico. Atualmente, os valores dos repasses variam de R$ 400 a R$ 1.500.
Recomposição- O governo federal também vai recompor a quantidade de bolsas oferecidas. No caso do mestrado, por exemplo, em 2015 havia 58,6 mil bolsas, número que caiu para 48,7 mil em 2022, redução de quase 17%. Agora, a estimativa é de que sejam ofertadas 53,6 mil.
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- 16/02/2023 - Bolsas de pós-graduação: Presidente do CNPq defende reajuste anual para mestrado e doutoradoEle diz que vai estudar se pesquisadores podem atuar sob contrato temporário, mas afirma ser difícil que tenham direitos de trabalhador CLT; governo federal anuncia novos valores esta quinta
Ele diz que vai estudar se pesquisadores podem atuar sob contrato temporário, mas afirma ser difícil que tenham direitos de trabalhador CLT; governo federal anuncia novos valores esta quinta
Fonte: O Estado de S. Paulo
O novo presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), Ricardo Galvão, defende que as bolsas de pós-graduação no País sejam reajustadas anualmente para manter o poder aquisitivo dos pesquisadores e ser atrativa para os estudantes. Como o Estadão revelou, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai anunciar nesta quinta-feira, 16, aumento médio de 40% para o auxílio dado a quem faz mestrado e doutorado. Outras bolsas, como as de formação de professores, terão reajuste ainda maior. O governo deve também divulgar um aumento no número de bolsas concedidas.
As bolsas para pesquisadores não têm reajuste há uma década e, no mesmo período, o salário mínimo quase dobrou de valor. "Compensar toda a inflação desde 2013 acho difícil, mas é um absurdo ficar dez anos sem aumento. É preciso ter um processo de correção anual”, disse Galvão ao Estadão.
Atualmente, os auxílios de pós-graduação são de R$ 1,5 mil para mestrado e R$ 2,2 mil para doutorado. Eles devem ficar em R$ 2,1 mil e R$ 3,3 mil, respectivamente. Bolsas de pós-doutorado, de R$ 4,2 mil, devem ir para cerca de R$ 5 mil, um reajuste de 20%. As de iniciação científica júnior (para alunos de ensino médio) deve triplicar - o valor atual de R$ 100.
Sobre o aumento no número de bolsas, Galvão disse que "esperaria cerca de mil, pelo menos, para mestrado e doutorado”, mas afirmou não ter a informação de quantas serão anunciadas pelo presidente. Atualmente, são 77 mil no CNPQ, ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, e mais de 200 mil Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ligadas ao Ministério da Educação (MEC), o que inclui os auxílios para professores em programas de formação.
O aumento dessas bolsas, que hoje vão de R$ 400 a R$ 1,5 mil, segundo o Estadão apurou, foi uma defesa do ministro da Educação, Camilo Santana. Ele acredita que elas podem ajudar a impulsionar o ensino básico no País. Cerca de 60 mil bolsistas - entre alunos de Licenciaturas e professores de escola públicas - recebem o benefício.
Galvão afirmou ainda que vai estudar uma forma de contrato temporário de trabalho para os pesquisadores que recebem bolsa no País. O Brasil é um dos poucos países do mundo que tem um sistema universal do governo de concessão de bolsas. Na Europa, em geral, os pesquisadores são funcionários contratados em pelas universidades e têm direito a férias, bônus e licenças.
"Vamos estudar com a Mercedes (Bustamante, presidente da Capes ) uma forma de implementar um sistema semelhante, já que com a reforma trabalhista é possível fazer um contrato de trabalho temporário no serviço público. Mas ainda não sabemos se é possível juricamente”, disse Galvão.
Segundo a reforma trabalhista, o trabalhador temporário tem direito às mesmas garantias que o empregado por tempo indeterminado, como férias, 13º salário, horas extras, adicionais, pagamento do INSS.
Galvão, no entanto, acredita que não se pode ter uma "mentalidade quadrada” porque o pesquisador não é comparado ao "trabalhador que bate prego”. "Essa questão das férias é complicada porque o pesquisador está o tempo todo no laboratório, se tem de fazer medidas, não pode deixar de ir porque é dezembro”, afirmou. "O grande direito para o cientista é a satisfação de produzir ciência.”
A Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) defende que os bolsistas tenham todos os direitos trabalhistas e previdenciários. "Não pode ser um vínculo precarizado, com um arcabouço de direitos, uma relação frágil em que o que prevalece é o poder do orientador sobre o orientado”, diz o presidente da ANPG, Vinícius Soares.
Até 2016, por exemplo, as mulheres bolsistas não tinham direito à licença maternidade e os casos eram negociados com cada orientador. Soares diz, porém, que a ANPG ainda está estudando também qual a melhor forma de vínculo trabalhista para os bolsistas.
O novo presidente do CNPQ tornou-se nos últimos anos uma das principais lideranças da comunidade científica no enfrentamento ao negacionismo da gestão Jair Bolsonaro (PL). Isso depois de ter sido exonerado em 2019 da diretoria do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão também ligado ao Ministério daCiência, após contestar publicamente declarações do então presidente Jair Bolsonaro(PL), que acusava o órgão de estar "a serviço de alguma ONG” e produzir dados distorcidos sobre o aumento do desmatamento na Amazônia. Ao ser nomeado para o cargo no governo Lula, declarou: "a ciência está de volta”.
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- 14/02/2023 - Lula anuncia quinta-feira reajuste de bolsas de pós-graduação; veja o que mudaAumento médio deve ser de 40%, a partir de março, para auxílios pagos para mestrado, doutorado e iniciação científica
Aumento médio deve ser de 40%, a partir de março, para auxílios pagos para mestrado, doutorado e iniciação científica
Fonte: O Estado de S. Paulo
Renata Cafardo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai anunciar nesta quinta-feira, 16,um reajuste médio de 40% das bolsas de pós-graduação do País, cujo valor é o mesmo desde 2013. Segundo o Estadão apurou, o aumento, que passa a valer a partir de março, será diferente para cada categoria de auxílio. Mestrado e doutorado, por exemplo, devem ter os 40%, mas a bolsa de iniciação científica para o ensino médio pode mais que dobrar (hoje é de R$ 100). A medida foi prometida desde a transição e o governo vinha sendo cobrado por estudantes e pesquisadores pela demora.
Atualmente, os auxílios de pós-graduação são de R$ 1,5 mil para mestrado e R$ 2,2 mil para doutorado. Eles devem ficar em R$ 2,1 mil e R$ 3,3 mil, respectivamente. Bolsas de pós-doutorado, de cerca de R$ 5 mil, devem ter um reajuste menor. O Estadão apurou que o governo pretende dar o aumento em março, mas retroativo a janeiro. Não há previsão de novo valor para médicos residentes, cujos auxílios foram reajustados em 2022.
Lula fez questão de anunciar o pacote, que pode ainda incluir um aumento no número de bolsas no País, para relacionar uma valorização da educação e da ciência diretamente ao seu governo. O evento deve ser às 15 horas, mas a agenda de quinta-feira do presidente ainda não foi divulgada.
Só para os reajustes de mestrado e doutorado, a previsão de investimento é de R$ 1 bilhão, que virá de remanejamentos do orçamento da União, segundo o Estadão apurou. A medida engloba os orçamentos do Ministério da Educação (MEC) e do Ministério da Ciência e Tecnologia, com aumentos nas bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ).
Atualmente, são cerca de 200 mil bolsistas na Capes, o que inclui também professores em programas de formação, e 77 mil no CNPQ, de várias áreas do conhecimento.
Perdas
A Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) pedia um reajuste de 75% para todas as bolsas, para compensar as perdas com a inflação dos últimos anos, mas comemorou a definição do anúncio. De acordo com estudos da entidade, desde 2013 o salário mínimo quase dobrou de valor, enquanto os auxílios continuaram os mesmos. "A gente reconhece a conjuntura econômica pesada, mas pede que também seja anunciado um plano de outros reajustes no curto prazo. Esse precisa ser apenas o primeiro”, diz o presidente da ANPG, Vinícius Soares. Segundo ele, a associação vai também reivindicar direitos trabalhistas para os bolsistas.
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e ex-ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, o reajuste era uma "necessidade absoluta devido ao descompasso total em relação ao aumento do custo de vida nesses anos e a perda da atratividade da pesquisa científica, levando à evasão de cérebros”. "Falta ainda aumentar o número de bolsas e que, até o fim do mandato do presidente Lula, sejam reconhecidos os direitos previdenciários dos bolsistas”, completou.
No fim do ano passado, o Estadão revelou que os bolsistas ficariam sem receber em dezembro, depois que o Ministério da Economia do governo de Jair Bolsonaro (PL) promoveu um bloqueio nos limites orçamentários e financeiros de todos os ministérios. Após pressão da Justiça e da repercussão negativa na imprensa, os auxílios foram pagos. Universidades, como a USP, chegaram a liberar gratuitamente o restaurante para os alunos de pós graduação.
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- 14/02/2023 - ABC promoveu encontro virtual pelo Dia das Mulheres e Meninas na CiênciaNo dia 11 de fevereiro foi comemorado o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. Instituído em 2015 pelas Nações Unidas, a data busca valorizar a contribuição feminina na pesquisa e estimular que cada vez mais meninas sigam a carreira.
No dia 11 de fevereiro foi comemorado o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. Instituído em 2015 pelas Nações Unidas, a data busca valorizar a contribuição feminina na pesquisa e estimular que cada vez mais meninas sigam a carreira.
Fonte: Site da ABC
Nesse contexto, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e o Capítulo Brasil da
A OWSD é uma rede pioneira fundada em 1987 a partir de um programa da Unesco, sediada em Trieste, na Academia Mundial de Ciências para o avanço da ciência em países em desenvolvimento (TWAS). A ideia de um ramo brasileiro da entidade surgiu em 2018 e tomou corpo em 2020, com a escolha da ABC como organização anfitriã. Nas palavras de Danila Dias, uma de suas idealizadoras, "este encontro é um marco na história do Capítulo e um incentivo para que cada vez mais mulheres se juntem a OWSD”.
Além de Dias, participaram do encontro a presidente da ABC, Helena Bonciani Nader; a diretora Maria Domingues Vargas; a vice-presidente da OWSD para América Latina e Caribe, Kleinsy Bonilla; a Acadêmica e membra da diretoria provisória do Capítulo Brasil, Eliane Volchan; a pesquisadora e representante da iniciativa Parent in Science, Fernanda Staniscuaski; a pesquisadora do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) Denise Fungaro e a pesquisadora da Uerj Josely Khoury.
A desigualdade de gênero no Brasil
Helena Nader abriu as discussões com um panorama geral da mulher na sociedade brasileira. O Brasil ocupa a 94ª colocação em igualdade de gênero no ranking de 146 países do Fórum Econômico Mundial, não figurando nem entre os dez primeiros países da América Latina e Caribe. Esse resultado mostra que o problema é generalizado e presente em todos os setores da sociedade.
Enquanto nas Américas a média de representantes eleitas para as casas legislativas é de 30%, no Brasil não chega a 20%. No setor privado a situação é semelhante, mulheres são apenas 15% nos conselhos gestores das 90 empresas que compõe a Ibovespa, das quais apenas duas têm uma mulher na presidência. "O Brasil é desigual e parece não querer a igualdade”, lamentou a presidente da ABC.
Na ciência o cenário também é desanimador. Apesar de existir uma paridade entre cientistas homens e mulheres atuando no país, isso não se reflete nos cargos mais altos e na progressão de carreira. Nader ainda alertou para o "efeito Matilda”, que faz com que as contribuições de mulheres na pesquisa sejam diminuídas ou atribuídas a homens, lembrando casos históricos como o de Marie Curie e Rosalind Franklin.
Organização para Mulheres na Ciência do Mundo em Desenvolvimento (OWSD, na sigla em inglês) organizaram nesta segunda-feira, 13 de fevereiro, um encontro aberto virtual para debater a situação atual da mulher cientista e discutir os próximos passos da parceria entre as duas entidades.Efeito Matilda e viés implícito
A predisposição da comunidade científica em atribuir maior mérito científico a homens é um fenômeno bastante estudado. A Acadêmica Eliane Volchan apresentou uma série de pesquisas que exemplificam esse viés machista. Em Moss-Racusin et al 2012, pesquisadores distribuíram currículos idênticos entre funcionários de uma universidade americana para uma vaga de chefe de laboratório, a única diferença era o nome do aplicante: "John” ou "Jennifer”. O resultado mostrou que tanto homens quanto mulheres avaliaram melhor o currículo de "John”, inclusive com propostas salariais muito discrepantes quando comparadas a "Jennifer”.Já em Eaton et al 2020, outro grupo repetiu o experimento adicionando um viés de raça, e o resultado encontrado não surpreende: homens brancos foram os melhor avaliados, enquanto mulheres negras tiveram as piores avaliações. Esse "viés implícito”, conforme Volchan denominou, atua também minando o desempenho de pessoas estereotipadas negativamente. Num famoso experimento em 1999, Spencer et al demonstraram que mulheres submetidas a um teste de nível superior performavam significativamente pior quando informadas que a prova seria usada para comparações por gênero. "Pertencer a grupos estigmatizados negativamente na academia exacerba estresses mentais e até fisiológicos, gerando ansiedade e prejudicando o desempenho”, resumiu a Acadêmica.
Para terminar com uma mensagem de esperança, a Acadêmica fez questão de ressaltar que estigmas e estereótipos são construções sociais, e, portanto, podem ser desconstruídos. "Todas as associações implícitas são maleáveis e passíveis de serem substituídas por novas associações mentais”, afirmou. "Para isso, representatividade é crucial”. Ela indicou o artigo de Calaza et al 2021,que traz recomendações sobre como editores, membros de comitês e demais tomadores de decisão na ciência podem fazer para mitigar seus próprios vieses.
Maternidade na ciência
Outro ponto central quando pensamos em mulheres na ciência é a maternidade. Em artigo de 2019, Cech & Blair-Loy já alertavam para a frequência duas vezes maior com que mulheres se viam obrigadas a abandonar a carreira científica após terem filhos, e isso só se agravou com a pandemia. Para a professora da UFRGS Fernanda Staniscuaski, representante do movimento Parent in Science, é chegada a hora de falar abertamente sobre maternidade na academia. "A vida inteira tentamos separar as duas coisas, individualizando o problema. Precisamos entender que é sistêmico”, afirmou.
Staniscuaski sentiu na pele os efeitos que a chegada dos filhos exercem na carreira de uma pesquisadora. Após ser mãe pela primeira vez, em 2013, a professora percebeu que estava cada vez mais difícil competir por recursos e projetos num ambiente tão produtivista, o que a levou a se juntar à iniciativa que reivindica um ambiente menos hostil a mães e pais na ciência. "Desde que comecei a faculdade eu tive certeza de que seria cientista, mas quando tive filhos cheguei a duvidar de minha capacidade”, contou.
Criado em 2016, o Parent in Science conta atualmente com 90 cientistas, em sua maioria mulheres, e já deu alguns frutos importantes. Em 2021, a Plataforma Lattes adicionou o campo "Licenças” para que períodos de pausa na produção científica sejam justificados. Outra vitória foi a inclusão de cláusulas de maternidade em concursos, criando fatores de correção para analisar a produtividade de cientistas que tiveram filhos recentemente. Para além de mudanças institucionais, o Parent in Science também atua na criação de redes de apoio e possui um programa para o financiamento de pós-graduandas mães: o Programa Amanhã.
Próximos passos do Capítulo Brasil da OWSD
Para a vice-presidente regional da OWSD, Kleinsy Bonilla, o Brasil é peça-chave no fortalecimento da entidade na América Latina. O Capítulo Brasil foi o quarto a ser criado na região, em 2018, e desde então outros 11 países seguiram o exemplo. "O Brasil é uma liderança regional e faz parte da trajetória de muitos estudantes latino-americanos”, conta a pesquisadora guatemalteca, que já fez intercâmbio na Unicamp.
Ela destacou a importância dessa conexão Sul-Sul e a capacidade que o Brasil tem de atrair pesquisadoras de outros países em desenvolvimento. Além da criação de redes e do estímulo a premiações voltadas para cientistas mulheres, a OWSD fornece apoio financeiro a cerca de 150 cientistas todo ano, e também oferece auxilio de até US$ 50 mil para que pesquisadoras estabeleçam grupos de pesquisa e laboratórios quando retornam a seus países de origem.
Danila Dias, que integra a diretoria provisória do Capítulo Brasil, afirmou que o próximo passo é elaborar um regimento interno para a organização, assim como fizeram outro Capítulos nacionais ao redor do mundo. Ela incentivou que mais cientistas de juntem à iniciativa e ajudem em sua difusão. "Só pelo trabalho coletivo poderemos avançar”, sumarizou.
A diretora da ABC Maria Vargas, que moderou a sessão, fez um apelo para que mulheres membras da ABC abram seus laboratórios para receber estudantes estrangeiras.
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- 13/02/2023 - 43ª Escola de Verão em Química da UFSCarProgramação abordará temas como “Saúde Mental”, “Políticas de acesso aberto e integridade científica” e “Caracterização de materiais por espectroscopia de fotoelétrons”, entre outros
Programação abordará temas como “Saúde Mental”, “Políticas de acesso aberto e integridade científica” e “Caracterização de materiais por espectroscopia de fotoelétrons”, entre outros
Fonte: Agência FAPESP
A 43ª edição da Escola de Verão em Química da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) acontecerá entre os dias 13 e 17 de fevereiro, em São Carlos.
A escola teve início em 1981 por iniciativa de uma série de professores da área de química orgânica e sempre contou com a participação efetiva de alunos de graduação e pós-graduação, além de professores de instituições brasileiras e de outros países.
A programação desta edição será composta por mesas-redondas, palestras e minicursos, que abordarão temas como "Saúde Mental”, "Políticas de acesso aberto e integridade científica”, "Caracterização de materiais por espectroscopia de fotoelétrons”, "Fundamentos Teóricos e Práticos da Microscopia Eletrônica de Transmissão”, "Green energy strategies for sustainable development” e "A Química de Coordenação como ferramenta no aprimoramento da atividade anticancerígena de moléculas orgânicas”.
O público interessado em participar deve se inscrever pelo site do evento. Cada participante poderá se inscrever em até dois minicursos, sendo que cada um custa R$ 50. Os alunos dos cursos de graduação da UFSCar estão isentos da taxa de inscrição.
O evento será no Departamento de Química da UFSCar, na rod. Washington Luis, s/n, km 235, São Carlos, SP.
Mais informações: www.dq.ufscar.br/evq.
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- 13/02/2023 - Escola de Verão IFGW 2023: MagnetismoCurso busca proporcionar aos alunos de final de graduação e pós-graduandos uma visão geral da área de magnetismo e suas aplicações
Curso busca proporcionar aos alunos de final de graduação e pós-graduandos uma visão geral da área de magnetismo e suas aplicações
Fonte: Agência FAPESP
A Escola de Verão 2023 do Instituto de Física Gleb Wataghin da Universidade Estadual de Campinas (IFGW-Unicamp) ocorrerá em formato presencial entre os dias 13 e 16 de fevereiro, em Campinas, e será focada no tema magnetismo.
O curso busca proporcionar aos alunos de final de graduação e pós-graduandos uma visão geral da área de magnetismo e suas aplicações. Serão minicursos e palestras sobre princípios básicos de magnetismo e temas específicos relacionados a pesquisas de professores do IFGW, desde a pesquisa básica, passando pelo desenvolvimento de novos materiais com propriedades magnéticas até a aplicação do magnetismo em medicina.
Também acontecerão visitas ao Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e vários laboratórios de pesquisa no IFGW.
Para participar, os interessados devem se inscrever pela página do curso e pagar taxa de R$ 90. Os inscritos que desejarem solicitar auxílio financeiro deverão requisitar até duas cartas de recomendação e solicitar que o recomendante envie a carta em até dois dias após a sua inscrição para o endereço extensao@ifi.unicamp.br, informando o nome completo do solicitante no campo "Assunto”. Além disso, eles deverão fazer a inscrição no evento até a próxima quarta-feira (14/12).
As atividades serão realizadas no IFGW, na rua Sérgio Buarque de Holanda, 777, Cidade Universitária Zeferino Vaz, Campinas, SP.
Mais informações: https://sites.ifi.unicamp.br/veraoifgw/.
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- 10/02/2023 - Igualdade de gênero na ciência é uma questão de excelência, diz ministraDeclaração foi feita na cerimônia de entrega do 4º Prêmio “Carolina Bori Ciência & Mulher, organizado pela SBPC
Declaração foi feita na cerimônia de entrega do 4º Prêmio “Carolina Bori Ciência & Mulher, organizado pela SBPC
Fonte: MCTI
A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, participou, nesta sexta-feira (10), em São Paulo, da cerimônia da entrega do 4º Prêmio "Carolina Bori Ciência & Mulher”, realizado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Ao todo, foram agraciadas com prêmios e menções honrosas 18 estudantes do Ensino Médio e de Graduação nas áreas de Biologia e Saúde, Engenharias, Exatas e Ciências da Terra e Humanidades.
Na cerimônia, a ministra lamentou a fuga de talentos brasileiros para o exterior e apontou a desigualdade de gênero na ciência. "No caso das mulheres, vemos com tristeza o abandono da carreira científica em decorrência de um sistema constituído por critérios de avaliação cujo desenho é masculino. Como resultado, uma grande desigualdade no acesso das cientistas às bolsas de estudo e pesquisa”, afirmou.
"As consequências disso vão além da igualdade de direitos e oportunidades que defendemos. É uma questão de excelência. Ao perder talentos femininos, o País perde também a diversidade de olhares que enriquece a sua produção de conhecimento”, acrescentou a ministra.
Ela renovou o compromisso com a retomada da agenda das mulheres na ciência através de políticas públicas robustas e efetivas. "É fundamental fortalecer os instrumentos que dispomos e avançar na construção e implementação de ferramentas capazes de democratizar e garantir a participação feminina, de forma permanente, nos ambientes de pesquisa e desenvolvimento. Vamos enfrentar a desigualdade de gênero que ainda define a distribuição de bolsas de estudo e pesquisa e avançar na inclusão das cientistas e pesquisadoras pretas. Se conseguimos ampliar o acesso dessas mulheres a universidade, ainda há muito o que fazer para que tenham seus talentos reconhecidos na ciência.”
O presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, destacou a importância da diversidade na ciência. "É um belíssimo dia e estamos contentes com o diálogo que a ministra Luciana Santos incitou com a comunidade científica e com este momento que constrói um futuro muito mais plural e muito mais rico do que o país machista que foi planejado desde a sua colonização e que nós estamos revertendo”, disse.
A vice-presidente da SBPC, Fernanda Sobral, e a professora Vanderlan Bolzani também participaram do evento.
Bolsistas do CNPq são destaques do prêmio– Bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento científico e Tecnologia (CNPq), Camily Pereira dos Santos foi a primeira estudante a ser homenageada. De Osório (RS), a aluna do curso Técnico em Informática Integrado do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul recebeu prêmio pelo projeto "Desenvolvimento de material biodegradável para absorventes femininos".
"O prêmio vai além do reconhecimento, e eu represento a minha escola e a minha cidade. É muito significativo eu representar a ciência jovem brasileira feita em escola pública”, destacou a jovem.
A ideia da pesquisa começou em 2021, quando a estudante observou a falta de absorventes sustentáveis e se deparou com a falta de absorventes para jovens e mulheres que vivem em vulnerabilidade social. "Eu fiquei preocupada com o impacto ambiental das minhas ações junto com o meio ambiente e me deparei com a pobreza menstrual, quando minha mãe contou que ela não teve acesso a absorventes na juventude e usava materiais improvisados”, contou a aluna, que em seguida, entrou em contato com a professora Flávia Twardowski para ser sua orientadora e ajudar na pesquisa.
O projeto consiste em trocar o algodão e o plástico do absorvente por fibras vegetais da bananeira e do açaí. "Além de ser sustentável, utilizando fibras e menos água para a produção, ele custa só R$ 0,02, tornando acessível para mais mulheres”, disse.A pesquisa também contou com a colaboração da estudante Laura Drebes.
Da cidade de Marechal Deodoro (AL), Wadja Feitosa dos Santos Silva, de 22 anos, graduanda do curso de Química Tecnológica e Industrial da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) recebeu a menção honrosa pelo trabalho "Planejamento de alfa-Cianoacrilatos e alfa-Cianoacrilamidas Baseado em Fragmentos, como Inibidores da NS2B/NS3 dos Vírus Dengue e Zika".
"Fiquei surpresa quando vi meu nome na lista de menção honrosa da SPBC e muito feliz pelo reconhecimento”, disse. "Ser uma representante de meninas na ciência é um grande prestígio. Essa menção honrosa é mais um incentivo para mim e para todas as meninas que fazem ciência.” -
- 10/02/2023 - Reunião na SBPC marca a retomada do diálogo com a comunidade científicaMinistra da Ciência, Tecnologia e Inovação cumpriu agenda nesta sexta-feira (10) em São Paulo, onde teve encontro com representantes da SBPC, ABC, pesquisadores e reitores
Ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação cumpriu agenda nesta sexta-feira (10) em São Paulo, onde teve encontro com representantes da SBPC, ABC, pesquisadores e reitores
Fonte: MCTI
A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, participou nesta sexta-feira (10), na sede da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em São Paulo, de reunião com representantes da comunidade científica. O encontro selou a retomada do diálogo e o compromisso do MCTI com a participação dos diversos atores do Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia na construção das políticas públicas.
"Quero ressaltar o caráter simbólico desta reunião. Ela é prova inequívoca do nosso compromisso de retomar o diálogo e a parceria com a Academia, a comunidade científica e todos os atores que compõem o Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia”, disse a ministra.
O presidente da SBPC, Renato Janine, abriu o encontro defendendo a adoção de medidas urgentes para superar as dificuldades enfrentadas pelas atividades de pesquisa e desenvolvimento no país. "Após quatro anos de um governo que promoveu o negacionismo, temos urgência de retomar as pautas que podem reconstruir o Brasil. Entendemos e a ministra compartilha a visão da importância da ciência para o desenvolvimento econômico e social. Por isso, temos pressa”, disse Janine.
"A comunidade científica estava precisando de foco e da retomada do diálogo com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação”, acrescentou a presidente da Academia Brasileira de Ciências, Helena Nader.
A ministra Luciana Santos reafirmou o empenho do MCTI em recompor o Orçamento e ressaltou que um pedido de crédito suplementar será feito pelo governo federal ao Congresso Nacional para recuperar R$ 4,2 bilhões do FNDCT. Ela sinalizou ainda que o reajuste das bolsas de pesquisa e estudo do CNPq e da Capes deve ser anunciado pelo presidente Lula na próxima semana.
"Apresentamos uma proposta de reajuste e de expansão da oferta de bolsas em todos os níveis. Essa proposta foi aprovada e está aguardando a agenda do presidente Lula para ser anunciada, o que deve ocorrer nos próximos dias”, explicou.
Durante o encontro na SBPC, a ministra ouviu as principais demandas de pesquisadores, reitores e representantes da comunidade científica. A pesquisadora Ana Tereza Ribeiro, do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), destacou a falta coordenação entre os institutos vinculados ao MCTI. "Eles atuam de forma independente, mas devem estar alinhados às demandas estratégicas do país”, avaliou.Já a professora Miriam Grossi, da Universidade Federal de Santa Catarina, defendeu a implementação de políticas afirmativas para promover a inclusão de pesquisadores negros e dos povos originários na ciência. "A ciência brasileira é desigual. Não há pesquisadores negros. E as ações afirmativas são urgentes.”
O presidente da Fapesp, Marco Antônio Zago, lamentou o fenômeno mundial que tem afastado os jovens das carreiras científicas. Segundo ele, o ingresso de estudantes nos cursos de Engenharia caiu 40%, e a demanda por bolsas de estudo e pesquisa está 30% menor. "Reajustar o valor das bolsas é importante, mas não é suficiente. É preciso buscar outras medidas para resgatar os jovens para a ciência.”
Ao final do encontro, a ministra Luciana Santos assegurou que vai manter o diálogo aberto com a comunidade científica. "Farei desses encontros uma rotina.”Para melhorar a sua experiência na plataforma e prover serviços personalizados, utilizamos cookies.Ao aceitar, você terá acesso a todas as fun
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- 09/02/2023 - Bases para reconstruir a capacidade científica do BrasilPromessa de recuperação de investimentos públicos suscita discussão sobre prioridades e planos para a pesquisa e a inovação do país
Promessa de recuperação de investimentos públicos suscita discussão sobre prioridades e planos para a pesquisa e a inovação do país
Fonte: Revista FAPESP
Embora com vigor e velocidade ainda não definidos, é esperada uma recuperação nos investimentos em ciência, tecnologia e inovação nos próximos anos que trará novas responsabilidades à comunidade científica e aos formuladores de políticas públicas. Eles terão a incumbência de resgatar a capacidade de instituições de pesquisa e de estabelecer prioridades. Os anos recentes foram ásperos. O Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), principal instrumento federal de custeio da pesquisa, vem sofrendo desde 2016 bloqueios de recursos sucessivos e vultosos – o Ministério da Economia atribuía os cortes à necessidade de cumprir o teto constitucional de gastos.
O torniquete no financiamento ocorreu na contramão de um notável crescimento na arrecadação do fundo, hoje na casa dos R$ 10 bilhões anuais. Ele é abastecido por percentuais de receitas e impostos de empresas de 14 diferentes segmentos da economia, que compõem os Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia. Segundo análise do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apenas algo próximo de R$ 1 bilhão em recursos não reembolsáveis do FNDCT foi investido anualmente entre 2019 e 2021. Em valores atualizados, trata-se do pior patamar de aportes do fundo em projetos científicos e de inovação em instituições de pesquisa e empresas registrado neste século.
Segundo dados do Observatório do Conhecimento, ligado a sindicatos de docentes de universidades federais e estaduais, caiu de R$ 25,3 bilhões, em 2019, para R$ 17,1 bilhões, em 2022, o chamado "orçamento do conhecimento”. A metodologia contempla, por exemplo, gastos e investimentos de universidades federais e recursos de órgãos de fomento à pesquisa, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agência do Ministério da Educação. "Somando todos os cortes em orçamentos de ministérios ligados à pesquisa, houve um desinvestimento acumulado de R$ 130 bilhões em quatro anos de governo”, estima a cientista política Mayra Goulart, professora das universidades federais do Rio de Janeiro (UFRJ) e Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e coordenadora do Observatório. A organização trabalha em um inventário de projetos e laboratórios que interromperam seus trabalhos por falta de dinheiro, a ser divulgado neste ano.
A contenção orçamentária atingiu bolsas, projetos e despesas de custeio, mas não alcançou gastos obrigatórios, como salários de docentes e de pesquisadores de instituições e universidades públicas federais. Esse contingente seguiu trabalhando, ainda que com desfalques, uma vez que houve poucos concursos públicos para reposição de aposentados. Mas surgiram rachaduras na usina que forma profissionais de alto nível no país: o sistema nacional de pós-graduação. Também por influência da pandemia, o número de doutores formados em 2020 e 2021 foi de pouco mais de 20 mil, 4 mil a menos do que o contingente titulado em 2019 (ver Pesquisa FAPESP nº 315).
Para a presidente da Academia Brasileira de Ciências, a biomédica Helena Nader, a redução de recursos para projetos de pesquisa, associada ao duradouro congelamento do valor das bolsas federais de mestrado e doutorado, explica em grande medida a redução dos formados. Desde 2013, um bolsista de mestrado do CNPq ou da Capes recebe R$ 1,5 mil mensais e o de doutorado R$ 2,2 mil. "A demanda por formação em pós-graduação diminuiu porque a carreira científica ficou desprestigiada, foi colocada como desnecessária pelo governo. Para que eu vou estudar, investir anos da minha vida, se isso não é considerado relevante para o país?”, analisa Nader, que é pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ela diz que o caminho para recuperar a capacidade científica será longo. "Será necessário, no curto prazo, enfrentar emergências como o valor das bolsas e promover a reestruturação do MCTI, que perdeu nos últimos anos sua capacidade de articulação.”
A economista Fernanda De Negri, coordenadora do Centro de Pesquisa em Ciência, Tecnologia e Sociedade do Ipea, ressalta a necessidade de fazer um diagnóstico preciso sobre a situação dos recursos humanos em áreas estratégicas para o país, tais como tecnologia de informação e energias renováveis. "É preciso avaliar até que ponto dispomos de pesquisadores preparados para atuar em grandes desafios, já que houve uma desaceleração na formação de doutores”, afirma. Vale a mesma lógica, segundo ela, para a infraestrutura de pesquisa: "Não houve em anos recentes editais para atualização de laboratórios de instituições públicas e é provável que vários deles estejam pouco competitivos internacionalmente. Investigamos há pouco tempo a situação dos laboratórios do setor de petróleo e vimos um percentual mais elevado de obsolescência do que em levantamentos anteriores. Será preciso renová-los”.
Embora tenha havido algum alívio nos investimentos federais em 2022, o orçamento federal aprovado para 2023 ainda previa bloqueios superiores a R$ 4 bilhões no FNDCT. Segundo análise feita pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), vários órgãos terão de novo um ano difícil se não receberem socorro. O CNPq, por exemplo, previa aplicar R$ 1 bilhão em bolsas, mesmo patamar do ano passado, mas os recursos para projetos de pesquisa, nos quais os bolsistas de mestrado, doutorado e pós-doutorado deveriam trabalhar, cairiam de simbólicos R$ 35 milhões em 2022 para R$ 28 milhões em 2023. O novo presidente do órgão, o físico Ricardo Galvão, informou que, em conjunto com a Capes, anunciará em breve um reajuste de bolsas da iniciação científica ao pós-doutorado e que utilizará recursos previstos na chamada PEC da Transição, aprovada em dezembro pelo Congresso. Admitiu, contudo, dificuldades para ampliar os investimentos em 2023, já que o orçamento aprovado no Parlamento é restritivo.
A titular do MCTI, a engenheira eletricista Luciana Santos, primeira mulher a assumir o cargo, tomou posse em 2 de janeiro estabelecendo como prioridades iniciais a recomposição orçamentária, com a execução dos R$ 9,9 bilhões previstos para o FNDCT em 2023, e a atualização no valor das bolsas, além de medidas para ampliar a inclusão e a diversidade de gênero. O resgate do orçamento envolveu negociações para não votar no Congresso e deixar perder a validade em 5 de fevereiro a Medida Provisória nº 1.136, baixada no final de agosto de 2022, que adiou para 2027 a aplicação de uma lei aprovada pelo Congresso em 2020 – a lei, discutida amplamente por pesquisadores e empresários e negociada com os parlamentares, proibia os bloqueios do Fundo. Com essa MP, cerca de R$ 14 bilhões poderiam ser bloqueados nos próximos quatro anos, segundo cálculos da SBPC. "Vivemos um verdadeiro apagão no financiamento da ciência brasileira”, declarou Santos, em seu discurso de posse. "São recursos que seriam investidos em ações de inovação e na infraestrutura de institutos que se dedicam, por exemplo, às áreas de energia, petróleo, mobilidade, meio ambiente e tecnologia da informação. Trata-se de uma afronta à legislação aprovada no Congresso Nacional.”
Ainda que ocorra logo uma recomposição de recursos e do valor de bolsas, uma recuperação robusta é esperada a partir de 2024, se o teto de gastos for substituído na Constituição por outro mecanismo de contenção do endividamento público. Para o engenheiro Pedro Wongtschowski, que lidera a Mobilização Empresarial para a Inovação (MEI), fórum vinculado à Confederação Nacional da Indústria (CNI) que reúne representantes de mais de 500 empresas, uma agenda de estratégias de curto prazo deveria se basear em quatro frentes. A primeira passa por investir emergencialmente na infraestrutura científica e tecnológica do país a fim de que ela volte a funcionar. "As universidades federais ficaram à míngua e instituições públicas de pesquisa estão desequipadas e com quadros envelhecidos. É preciso restaurar a capacidade delas de cumprir suas missões institucionais”, afirma. Wongtschowski sugere como prioridade o financiamento de iniciativas que estão próximas da conclusão, a exemplo da fonte de luz síncrotron Sirius (ver Pesquisa FAPESP nº 269).
Uma segunda frente, diz o líder da MEI, consiste em estimular as empresas a ampliar seu volume de inovação. "Isso requer aperfeiçoar o financiamento público, aprimorando incentivos fiscais, de modo geral, e da Lei do Bem em particular”, diz, referindo-se à legislação aprovada em 2005, que estabeleceu apoio a empresas que fazem pesquisa e desenvolvimento (P&D). A terceira frente diz respeito ao apoio a empresas de base tecnológica e à cooperação entre universidades e empresas. "A lei de inovação permite que docentes e discentes de instituições públicas se dediquem à criação de empresas de base tecnológica, mas tem sido pouco usada. As startups são uma fonte de conhecimento novo para as grandes empresas, que as adquirem ou se associam a elas para acelerar seus processos de inovação.”
Por fim, aponta a importância de investir na difusão tecnológica. "Há muito conhecimento acumulado que não chega nem ao setor público nem ao privado e que poderia ajudar a modernizar pequenas e médias empresas”, alerta. Como medida prática, ele sugere a ampliação dos recursos para a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), organização social ligada ao MCTI, criada em 2014. "A Embrapii contou com recursos públicos equivalentes a apenas um terço do que havia sido originalmente contratado. Ainda assim, conseguiu mobilizar um volume de mais de R$ 2 bilhões, em dinheiro do governo e de empresas, em projetos de inovação para o setor industrial e empresarial, e reforçar a qualificação de 70 instituições de ciência e tecnologia que se engajaram nesses projetos.”
Luciana Santos já sinalizou prioridades, resgatando iniciativas engavetadas nos últimos anos. A principal delas é a construção do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB). O projeto foi concebido em 2008 pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) com o objetivo de dar autonomia ao país na produção de radiofármacos, essenciais para o diagnóstico e tratamento de diversas doenças, e que hoje, em boa medida, são importados. O RMB foi incluído em 2012 no Plano Plurianual do governo federal e orçado em cerca de R$ 500 milhões, mas suas obras físicas, em Iperó, interior paulista, não começaram. No ano passado, chegaram a ser interrompidos por algumas semanas a produção de radiofármacos pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) e o seu fornecimento a hospitais. Após um bloqueio de recursos decretado pelo Ministério da Economia, faltou dinheiro para a importação de insumos, que mais tarde acabou sendo revertido (ver Pesquisa FAPESP n° 309).
Também está prevista a retomada do Programa Sino-Brasileiro de Satélites de Recurso Terrestre (CBERS), responsável, desde os anos 1990, pelo desenvolvimento de seis satélites de sensoriamento remoto. De acordo com o presidente do CNPq, Ricardo Galvão, a parceria com os chineses deverá ser pavimentada em uma visita que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, fará a Beijing.
Outra meta anunciada pela ministra é a formulação de uma nova estratégia para o setor de semicondutores, cuja produção, concentrada em países asiáticos, escasseou durante a pandemia, comprometendo a cadeia de suprimentos da indústria eletroeletrônica e de computação do mundo inteiro. Luciana Santos manifestou a intenção de retomar as atividades do Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), uma empresa pública criada em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, em 2008, para produzir chips, mas que só conseguiu fabricar circuitos integrados de baixa complexidade. Em 2020, o governo anunciou a liquidação da empresa e a decisão de vender os ativos para o setor privado. Segundo o Ministério da Economia, em seu melhor exercício anual, o empreendimento gerou receita de R$ 7,8 milhões, mas sustentava uma despesa operacional média de R$ 80 milhões por ano desde sua fundação. No ano passado, o Tribunal de Contas da União (TCU) suspendeu a liquidação.
Para discutir os caminhos da política científica do país, a nova ministra avisou que convocará uma nova Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia – a última foi realizada em 2006. A eventual recomposição de recursos deverá alimentar um debate sobre novas prioridades e qual deve ser o equilíbrio entre as demandas fragmentadas de dezenas de milhares de grupos de pesquisa em atividade no país e a aposta em grandes projetos estratégicos. Em anos recentes houve uma tendência de fracionar a aplicação dos recursos disponíveis. "No combate à pandemia, o MCTI selecionou projetos pulverizados, sem capacidade de dar tração ao enfrentamento da emergência sanitária, e eles ainda se revelaram pouco efetivos”, diz o economista André Tortato Rauen, do Ipea. "Os projetos relevantes contra a Covid-19 vieram do Ministério da Saúde e do governo de São Paulo para a produção de vacinas.”
Para além de resgatar ideias que não saíram do papel, será necessário olhar para o futuro, propõe Fernanda De Negri. "É importante ter projetos estruturantes. A recomposição de recursos deve vir acompanhada por desenhos mais eficientes de políticas públicas, com estratégias e objetivos mais complexos”, afirma. Segundo ela, há vocações notórias da ciência brasileira que poderiam inspirar grandes projetos. "Pesquisas relacionadas às mudanças climáticas são um caminho óbvio, à luz da importância que o novo governo dá ao assunto. É um tema que pode inspirar um conjunto consistente de projetos de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para ajudar a mitigar os efeitos das mudanças climáticas, reduzir o volume de emissões e descarbonizar a economia. É uma área de fronteira essencial para o Brasil e para o mundo”, afirma. Uma nova agenda de pesquisa sobre a Amazônia seria relevante. "É preciso investir em novas tecnologias para monitorar o desmatamento. A busca de produtos extraídos da nossa biodiversidade, produzidos de forma sustentável, pode gerar riqueza e emprego na região amazônica. A maior parte da Amazônia está em território brasileiro e o país tem instituições capacitadas para gerar conhecimento de ponta sobre a floresta.”
Ela menciona também a pesquisa em combustíveis renováveis, em que o país tem tradição: "Os recursos poderiam vir do FNDCT, mas há espaço para aproveitar melhor outras fontes. Setores regulados, como petróleo e eletricidade, são obrigados a investir um percentual em P&D, mas esses recursos poderiam ser utilizados de forma mais efetiva”. Segundo De Negri, como os recursos para pesquisa sobre petróleo oscilam muito de um ano para outro, por conta dos preços internacionais, há uma dificuldade de manter pesquisadores e laboratórios mobilizados para projetos de longo prazo. "É necessário mudar regulamentos e criar uma espécie de fundo em que esses recursos seriam depositados e administrados, podendo ser usados na busca de novas fontes de energia”, sugere.
A crise aguda do financiamento ofuscou o efeito de alguns avanços de ordem institucional, analisa André Rauen. "Criamos instrumentos para fazer encomendas tecnológicas a empresas com segurança jurídica e hoje dispomos de uma caixa de ferramentas moderna para regular as relações entre o setor privado, as universidades e o governo”, diz, referindo-se a um decreto de 2018 do governo federal que regulamenta dispositivos da legislação sobre compras públicas e permite a contratação de empresas que executem projetos de P&D. "Essa legislação foi fundamental na parceria entre instituições do país e empresas do exterior para a produção de vacinas contra o novo coronavírus”, afirma.
O economista chama a atenção para um obstáculo que pode surgir à medida que o financiamento retornar. A exemplo do problema que atingiu a formação de novos doutores, também pode haver uma escassez de recursos humanos habilitados para organizar e administrar grandes projetos de pesquisa. "Se bem utilizados, os instrumentos de que dispomos vão exigir uma profissionalização maior da gestão em ciência e tecnologia. Não estamos formando indivíduos que conheçam em profundidade a lógica que une empresas, governo e universidades. Esse profissional existe nos Estados Unidos e está trabalhando em agências como a Darpa, agência de projetos da área de defesa. Será preciso criar programas e definir um norte tecnológico para o país, sob coordenação de profissionais especializados.”
Para o físico Carlos Henrique de Brito Cruz, o momento é propício para repensar o sistema brasileiro de ciência e tecnologia em moldes mais ambiciosos dos que vigoraram no passado. "Não daria para reconstruir melhor do que era antes?”, indagou, em um evento em meados de dezembro que marcou o encerramento das comemorações dos 60 anos da FAPESP. "Seria uma perda de oportunidade discutir apenas como voltar ao que éramos em 2006 ou 2007, em uma espécie de back to the future.” Brito Cruz, que foi diretor científico da FAPESP entre 2005 e 2020 e atualmente é vice-presidente sênior da Elsevier Research Networks, no Reino Unido, lembra que o dinheiro público responde por apenas uma parte, em geral minoritária, do financiamento à ciência dos países e afirmou que é necessário aumentar no Brasil gastos privados em P&D e a presença de pesquisadores atuando dentro das empresas, que é baixa. "A política e a estratégia para ciência, tecnologia e inovação no Brasil são dominadas por uma ideia de que o lugar de fazer a pesquisa é a universidade, a empresa é um local para receber e utilizar o conhecimento e o governo é o patrocinador. Mas nos lugares do mundo que conseguiram organizar a ciência e a tecnologia para benefício da sociedade, das pessoas e da economia, não é desse jeito que se trabalha”, observou em entrevista para o site de Pesquisa FAPESP. "Na pesquisa em computação quântica, empresas como Google, Microsoft e IBM têm um papel tão ou mais importante do que as universidades.”
Ele mencionou dados produzidos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pelo MCTI, segundo os quais o número de pesquisadores contratados pelas empresas no Brasil está abaixo da média de outros 44 países, ocupando as últimas posições da lista. No Brasil há 59 mil pesquisadores trabalhando em empresas – equivalente a 280 por milhão de habitantes. Na Coreia do Sul, há seis vezes mais e, nos Estados Unidos, o número é 10 vezes maior.
Na sua avaliação, seria útil discutir o que é necessário fazer para que as empresas se sintam estimuladas a inovar para ganhar dinheiro e conquistar mercados. "A falta de exposição das empresas ao mercado internacional e de sua inserção nas cadeias de valor do mundo desestimula os dispêndios em inovação. A complexidade das regras tributárias também atrapalha”, avalia. "Por que uma empresa vai contratar um pesquisador e fazer um investimento de risco em um produto novo se ela acaba obtendo mais ganhos contratando um advogado tributarista ou um contador que a ajude a lidar com a complexidade da legislação? Várias dessas ideias nem sequer custariam orçamento para o governo. Dependem apenas de empenho e, claro, uma dificuldade política a enfrentar”, afirmou.
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- 08/02/2023 - Radiação em prol da saúde: por dentro de um acelerador de partículasEscondido no Hospital das Clínicas, centro produz moléculas que ajudam no diagnóstico do câncer e outras doenças
Escondido no Hospital das Clínicas, centro produz moléculas que ajudam no diagnóstico do câncer e outras doenças
Fonte: Veja Saúde
Chloé PinheiroNo último dia 1, cheguei ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) animada para conhecer pessoalmente o Cíclotron. O acelerador de partículas fornece moléculas radioativas para diagnósticos no Sistema Único de Saúde (SUS).
Logo no início da visita, minha primeira surpresa: na busca pelo lugar certo, ninguém sabia me informar onde ficava o CinRad – Centro Integrado de Produção de Radiofármacos. Compreensível, afinal, o HC é o maior complexo hospitalar da América Latina. Uma verdadeira cidade, com joias desconhecidas pelos próprios funcionários.
O CinRad fica no primeiro prédio a trabalhar com medicina nuclear do país. Desde 1958, naqueles poucos andares, se desenvolvem os mais variados tipos de exames e tratamentos: radioterapia, raio-x, tomografia etc.
A sala onde fomos recebidos guarda, inclusive, um museu, com equipamentos antigos e imagens históricas.
A medicina nuclear
A medicina nuclear, vale explicar, usa moléculas radioativas [que produzem um tipo específico de energia] para analisar o estado de órgãos ou mesmo fazer tratamentos. Essa energia é emitida porque algumas moléculas possuem átomos instáveis em sua estrutura.
Só para lembrar: toda matéria (inclusive nós) é formada por átomos, que, por sua vez, são compostos por minúsculas partículas, com cargas magnéticas diferentes.
Átomos instáveis são, por assim dizer, bagunçados. Para se tornarem mais estáveis, vão liberando energia [radioativa] até ficarem "sossegados” de novo. Esse processo é chamado de decaimento, e pode durar minutos, dias ou anos, dependendo do tipo de radiação emitida e do elemento em questão.
São várias possibilidades de uso. Um feixe de radiação de baixa intensidade atravessa o corpo para fazer uma tomografia computadorizada, marcando com sombra as áreas por onde passa com maior ou menor dificuldade. Uma radiação mais forte e diferente é usada para "queimar” uma célula maligna.
Para obter as moléculas radioativas, os aceleradores de partículas bombardeiam átomos com partículas (alfa, beta, próton, nêutrons, etc.) para que esses átomos estáveis passem por um processo de transmutação e se transformem em átomos radioativos de outros elementos químicos.
Como já explicamos aqui no blog, alguns tipos de aceleradores permitem, por exemplo, o estudo de microorganismos em nível atômico para melhorar o tratamento de doenças.
Já o Cíclotron, que conheci no CinRad, produz moléculas que são injetadas no paciente e marcam células específicas do corpo para fazer exames como o PET-CT. Nele, a tomografia enxerga as células marcadas pela radiação.
Para entender como isso acontece, vamos tomar como exemplo a 18F-Fluordeoxiglicose, ou 18F-FDG, para facilitar. O radiofármaco, fruto da união entre flúor radioativo e glicose, consegue se ligar às células que usam a glicose como fonte de energia, caso dos tumores de pulmão, linfomas e outros tipos de câncer.
Ao passar pela tomografia, a energia emitida pelo 18F-FDG é percebida pela máquina e os tumores aparecem em destaque.
Como funciona o acelerador de partículas Cíclotron
Durante a visita, eu e os outros jornalistas entramos em um vestiário e saímos nas entranhas do laboratório do CinRad devidamente paramentados com roupas de proteção. E com um medidor de radiação pendurado no pescoço, que não apitou em nenhum momento.
Selado em uma sala com ares de bunker, com paredes de quase 2 metros de espessura e uma porta que pesa mais de 200 toneladas, o Cíclotron é uma versão em miniatura dos grandes aceleradores de partículas, como o LHC, que fica na Suíça, e o brasileiro Sirius, usado para produzir luz síncrotron.
Basicamente, como explicamos, seu objetivo é bagunçar moléculas já existentes na natureza para que se tornem radioativas. Quem contou essa história foi o físico Rubens Abe, que conduz o Cíclotron e está na USP desde 1971.
Para fazer isso, moléculas chamadas de alvo são inseridas na máquina em formato líquido, sólido ou gasoso.
Ali, entram em contato com íons negativos [um tipo de partícula subatômica] de hidrogênio, que são acelerados em uma bobina de formato circular para gerar um feixe de prótons [outra partícula] que desestabiliza a estrutura do alvo em questão.
Tomando o 18F-FDG como exemplo novamente, o flúor radioativo é feito no Cíclotron tendo um tipo especial de oxigênio como alvo. Depois da passagem do feixe de prótons, esse oxigênio sofre uma reação em seu núcleo e se transforma em flúor. A partir daí, tem 120 minutos de meia-vida – tempo para que sua energia comece a decair.
O isótopo radioativo formado no acelerador é colhido e enviado para outras máquinas, que fazem a síntese entre ele e a molécula em questão. O resultado é um líquido a ser injetado na veia dos pacientes, que precisa ser mandado rapidamente às instituições que o CinRad atende.
Cada dose é transportada em pesadas cápsulas de tungstênio ou chumbo, que podem pesar até 20 quilos e impedem qualquer vazamento de radiação.
Elas ficam guardadas em um cofre, cuja senha só é liberada após os testes de qualidade, que são conduzidos no próprio CinRad enquanto o produto viaja ao seu destino.
Tecnologia em prol da saúde pública
O Cíclotron, em operação desde 2010, é fruto de uma parceria público-privada com o Hospital Sírio Libanês, que doou os equipamentos. "É o único centro acadêmico do país a produzir radiofármacos para assistência e pesquisa”, comenta o médico especialista em medicina nuclear Carlos Alberto Buchpiguel, professor da USP que apresentou o CinRad a mim e a outros jornalistas.
Hoje, o sistema fabrica cinco compostos aprovados pela Anvisa e já distribuiu mais de 50 mil doses deles. Suas boas práticas foram reconhecidas por entidades internacionais como a Agência Internacional de Energia Atômica.
Além do PET-CT mais clássico, graças a ele é possível realizar gratuitamente tipos do exame hoje não cobertos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como o PET-CT PSMA, para avaliar metástases do câncer de próstata, e o teste conhecido como PET Amiloide, que busca por placas no cérebro relacionadas ao Alzheimer.
"Mais de 6 mil usuários do SUS puderam fazer exames aos quais não teriam acesso normalmente”, aponta Buchpigel. Hoje, o CinRad atende instituições próximas, como o Instituto do Coração (InCor) e o Instituto de Radiologia (InRad), no próprio complexo do HC, e o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).
A ideia é aproveitar o know-how para expandir a produção. "Poderíamos nos tornar referência para toda a rede de hospitais públicos do estado de São Paulo”, conta o médico. Apesar do tempo geralmente curto de vida dos radiofármacos, alguns conseguem viajar num raio de 500 km.
O CinRad pesquisa ainda novas moléculas, que poderão auxiliar no diagnóstico de problemas psiquiátricos, neurológicos e cardíacos. De lá, já saíram mais de 180 artigos científicos, além de soluções para facilitar a produção de compostos cuja demanda é alta.
Para ter ideia, a pequena equipe do CinRad, composta por 13 pessoas, desenvolveu sua própria metodologia para a produção de gálio, mineral que faz parte do PSMA e outros exames, a partir de uma moeda de zinco.
Por fim, a estrutura do CinRad pode ser usada também para uma área promissora da medicina, a teranóstica: a ideia de localizar e, ao mesmo tempo, destruir um tumor. As negociações para captação de recursos e parcerias para isso já começaram.