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- 16/11/2015 - Como descobrir se uma usina nuclear poderá ser uma Chernobyl ou uma FukushimaFonte: Jornal da Ciência
Artigo de Sidney Luiz Rabello, engenheiro em Segurança de Usinas Nucleares e membro da Comissão Nacional de Energia Nuclear, para o Jornal da Ciência
Nas usinas de Chernobyl e de Fukushima e, anteriormente, em Three Mile Island (TMI), ocorreu o acidente de fusão do combustível nuclear, o urânio. Este acidente é conhecido como acidente severo e não fazia parte do projeto de segurança destas usinas ou das usinas de projeto da década de 1970.
Antes de caracterizar os recursos de projeto que permitem o reconhecimento se uma usina nuclear pode resistir ou evitar acidentes severos e os fenômenos associados, algumas noções básicas são necessárias para garantir uma visão abrangente.
Como a energia nuclear gera energia elétrica
Quando há a divisão do urânio em duas partes (fissão nuclear), é gerado calor. Este calor produz vapor d’água, que gira uma turbina, que gira um gerador elétrico, que envia energia elétrica aos consumidores por linhas de transmissão. É o mesmo processo que ocorre nas demais usinas térmicas. O carvão, o óleo combustível do petróleo e o gás são queimados e geram calor. Este calor gera vapor e assim por diante. Portanto, uma usina nuclear não é nada mais que uma chaleira nuclear.
Por que o reator nuclear é desligado, mas ele não desliga
Na verdade, quando se desliga um reator nuclear se interrompe a reação nuclear em cadeia e 99% da geração de calor. O problema é o 1% de calor restante, que não se consegue desligar, gerado pela radiação dos fragmentos de fissão, que são as partes em que o urânio foi dividido decorrente da fissão nuclear.
Um por cento parece muito pouco, mas não é. Angra 1 gera 600 MW de energia elétrica ou 1800 MW de calor. Desligada, Angra 1 continua gerando 18 MW de calor que seria capaz de alimentar 180 mil lâmpadas incandescentes de 100 W ou 1,8 milhão de lâmpadas LED de capacidade de iluminação equivalente ou ainda de atender mais de 80 mil residências de consumo médio mensal de 157 kWh (08/2015), utilizando-se a equivalência de energia elétrica. E pior, este calor é suficiente para derreter ou fundir o núcleo do reator. Portanto, o 1% de calor restante, conhecido como calor residual, representa muito calor e muita água é necessária para retirar este calor para impedir a fusão do núcleo.
Isto é surpreendente, pois as outras usinas térmicas não tem este calor residual: desligou-se o gás, interrompeu-se a queima do carvão e do óleo combustível, a geração de calor acaba imediatamente. Então, a chaleira nuclear é perigosa por causa do calor residual, isto é, desliga-se a usina nuclear, mas ela continua a gerar calor. Este é o perigo real que dá início a acidentes de grandes proporções. Se não se retira este calor, o reator se funde, o material radioativo pode ir para o meio ambiente, alcançar grandes distâncias como ocorreu nos acidentes de Chernobyl e Fukushima e complicar a vida de quem vive nas regiões atingidas.
O que é um Acidente Severo
De acordo com a definição da Agência Internacional de Energia Atômica, um acidente severo é um acidente que envolve degradação significativa do núcleo do reator. Em outras palavras, significa a fusão parcial ou total do urânio no interior do reator. A causa é a falha da refrigeração do reator, isto é, a falta de água para retirar o calor residual.
Por que antes de TMI o acidente severo não era considerado
O acidente de 1979 na usina de Three Mile Island (TMI) nos EUA mudou a história (e o projeto) da segurança nuclear. Antes de TMI, era considerado no projeto de segurança nuclear um conjunto de acidentes frequentes e de baixa probabilidade de ocorrência, isto é, para este conjunto de acidentes, esperava-se que o projeto de segurança nuclear garantisse que nenhum material radioativo seria liberado para o meio ambiente (princípio de defesa em profundidade). Este conjunto de acidentes não incluía os acidentes severos de fusão do núcleo do reator de probabilidade muito baixa de ocorrência.
A exclusão dos acidentes severos era reforçada pela crença de que a duplicação dos sistemas de segurança, chamada de redundância e decorrente da aplicação do princípio de falha simples, seria suficiente para evitá-los. Antes de 1979, acreditava-se que, durante um desligamento inesperado ou em função de acidentes, se falhasse um sistema de emergência de água de refrigeração do núcleo do reator, um segundo sistema, uma duplicação do primeiro, seria suficiente para impedir a fusão do núcleo do reator. O acidente de TMI veio a demonstrar que isto nem sempre é verdade, pois ocorreram falhas múltiplas, desencadeando um acidente severo com fusão de cerca de 50% do núcleo e uma explosão de hidrogênio dentro do Edifício de Contenção, felizmente de proporções limitadas a 50% da pressão de projeto. Só não foi um acidente mais grave com fusão total do núcleo e com liberação abundante de hidrogênio, desafiando o Edifício da Contenção, por fatores circunstanciais.
As múltiplas falhas que levaram ao acidente de TMI decretou a fragilidade do princípio de falha simples e ficou evidenciado que os acidentes severos de fusão do núcleo do reator deveriam estar incluídos no projeto de segurança de todas as usinas novas. As usinas em operação deveriam ser reformadas, com o objetivo de garantir que o material radioativo resultante do acidente não seja liberado para o meio ambiente ou então liberado em quantidades bem limitadas. Na década de 1980, a Agência de Segurança Nuclear dos EUA (USNRC) estabeleceu regulamentação exigindo que os acidentes severos de fusão do núcleo fossem incorporados ao projeto de segurança nuclear, acompanhada posteriormente pela regulamentação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Particularmente, após a transformação em lei da Convenção de Segurança Nuclear em 1999, o Brasil se comprometeu na aplicação dos princípios fundamentais e das normas (diretrizes) de segurança formuladas pela AIEA (inciso VIII do preâmbulo da Convenção). O artigo 6° da mesma Convenção estabelece que o Brasil garantirá a segurança das usinas existentes através da introdução de melhorias para elevar o nível de segurança. Estes dois itens da Convenção estabeleceram para o Brasil, a partir de 1999, o compromisso internacional de incluir os acidentes severos de fusão total do núcleo no projeto das usinas novas e a realizar reformas nas usinas em operação para limitar ou evitar a liberação de material radioativo em caso de ocorrência de acidentes severos.
Os fenômenos gerados pelos acidentes severos de fusão do núcleo
(1) Ejeção do Núcleo Fundido a Alta Pressão: O núcleo fundido é ejetado do vaso do reator à alta pressão para o interior do Edifício da Contenção;
(2) Temperaturas e Pressões: Juntamente com a ejeção do núcleo fundido para a contenção, haverá a liberação de grande quantidade de vapor e o Edifício da Contenção será submetido a altas temperaturas e pressões;
(3) Detonação de Hidrogênio: O núcleo fundido, em contato com a água do reator e, quando ejetado, com a água do piso do Edifício de Contenção, causará a formação de grandes quantidades de hidrogênio, decorrente da dissociação da água. As quantidades de hidrogênio envolvidas tem grande potencial de detonação na presença de oxigênio do Edifício de Contenção;
(4) Decomposição do Concreto do Piso da Contenção: O núcleo fundido ejetado para a contenção entrará em contato direto com o concreto do piso, provocando a sua decomposição, podendo atingir o lençol freático, e a geração de grandes quantidades de monóxido de carbono, que em contato com o oxigênio também pode gerar explosões; e
(5) Explosão de Vapor: O contato do núcleo fundido a alta temperatura com a água fria poderá causar instantaneamente explosões de vapor de diversas intensidades, em alguns casos, superiores à decorrente da detonação de hidrogênio.
Depois do acidente de TMI de 1979, adotou-se a estratégia para o projeto de segurança nuclear de diminuir a probabilidade de ocorrência de acidentes severos dentro do razoável e introduzir recursos de projeto para impedir a liberação de material radioativo para o meio ambiente no caso da ocorrência da fusão total do núcleo do reator.
Estes recursos são de dois tipos:
(1) evitar que os fenômenos ocorram, por exemplo, impedir a ejeção do núcleo a alta pressão, despressurizando o reator a tempo; ou
(2) incluir sistemas, estruturas e dispositivos para controlar ou mitigar os fenômenos e manter contido o material radioativo no Edifício de Contenção do Reator.
Como o projeto de segurança nuclear evita a liberação de material radioativo para o meio ambiente
Antes, como depois do acidente de TMI, a estratégia de projeto é a mesma, ou seja, a última barreira de proteção do meio ambiente não pode ser ultrapassada pelo material radioativo. A última barreira é conhecida como Edifício de Contenção, em geral uma estrutura de aço onde o reator nuclear está instalado. Portanto, a partir da década de 1980, o Edifício da Contenção e seus sistemas passaram a ser projetados para resistir aos fenômenos decorrentes do acidente severo de fusão do núcleo do reator.
Como vimos anteriormente, o Edifício da Contenção é projetado para resistir apenas a fenômenos internos decorrentes de acidentes. Para protegê-lo de fenômenos externos (chuvas, ventos fortes, marés, tsunamis, ruptura de barragens, explosões, atos terroristas, etc.), é construída uma barreira de concreto especificamente projetada para esta finalidade. Esta estrutura de proteção do Edifício de Contenção tem o nome de Edifício do Reator, que também tem a finalidade de servir de blindagem de radiação.
Afinal, como reconhecer se o projeto de segurança inclui o acidente de fusão do núcleo
Para este reconhecimento, o projeto de segurança exige uma análise detalhada de Engenharia para se concluir se resiste aos fenômenos decorrentes da fusão do núcleo do reator, como a introdução de dispositivos de despressurização do reator e a resistência à pressão e temperatura do Edifício da Contenção.
No entanto, a ejeção do núcleo fundido para fora do reator implica em cuidados que requerem um layout especial para o Edifício da Contenção de fácil reconhecimento. É necessário um Tanque Coletor para o Núcleo Fundido ("core catcher”) projetado para impedir a decomposição do concreto do piso do reator.
O Tanque Coletor para o Núcleo Fundido requer refrigeração para não ser danificado e, então, deve ser previsto um sistema de refrigeração exclusivo para resfriar o núcleo fundido, sem necessidade de uso de energia elétrica e contando com um grande Reservatório de Água.
Portanto, a inclusão do acidente de fusão do núcleo no projeto de segurança pode ser reconhecida prontamente se, no interior do Edifício da Contenção, encontram-se o Tanque Coletor para o Núcleo Fundido e o Reservatório de Água do Sistema de Refrigeração.
No caso do projeto de segurança do reator EPR (Evolutionnary Pressurized Reactor) da projetista francesa AREVA, o Tanque Coletor para o Núcleo Fundido e o Reservatório de Água podem ser identificados facilmente. Isto pode ser visto no vídeo demonstrativo "AREVA – Safety profile of the EPR reactor” no endereço https://www.youtube.com/watch?v=QHoaJmK2aac. O primeiro EPR da AREVA teve sua construção iniciada em agosto de 2005 na Finlândia, Olkiluoto-3, de 1600 MW. A solicitação da licença de construção foi requerida em janeiro de 2004.
Então, o Gerenciamento de Acidentes Severos por si só não resolve nada
Exatamente, não resolve nada. O Gerenciamento de Acidentes Severos é um conjunto de instruções escritas na forma de procedimentos com a finalidade de orientar os operadores como atuar durante um acidente severo.
É apenas um papel escrito e não inclui Tanque Coletor do Núcleo do Reator e o Reservatório de Água dentro do Edifício da Contenção, nem recursos físicos para se evitar a detonação de hidrogênio, a explosão térmica ou ainda a ejeção do núcleo fundido a alta pressão.
O Gerenciamento de Acidentes Severos apenas orienta os operadores na utilização adequada dos recursos físicos existentes, que podem ser muito limitados se o acidente severo não for incluído no projeto de segurança da usina. Não havendo os meios adequados, como nas usinas de projeto da década de 1970 não reformadas, o Gerenciamento de Acidentes Severos não impedirá a evolução do acidente severo para situações de grandes liberações de material radioativo para o meio ambiente, tais como Chernobyl e Fukushima.
Deve-se ter uma atenção especial na identificação de informações diversionistas, pois a pomposidade do nome "Gerenciamento de Acidentes Severos” pode ser utilizada como meio de se criar ilusões de que a segurança nuclear possa estar garantida. O Gerenciamento de Acidentes Severos pode ser apenas uma pintura bonita em cima de uma lataria totalmente podre, que se desfaz assim que a compra do carro se realiza (ou que o acidente ocorra).
* As opiniões do autor não necessariamente refletem as posições da Comissão Nacional de Energia Nuclear.
** A equipe do Jornal da Ciência esclarece que o conteúdo e opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do jornal.
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- 16/11/2015 - CNEN instala rede para dar mais segurança ambiental à região próxima a usinas nuclearesFonte: Site MCTI
A Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) implantou uma rede de monitoração radiológica no entorno da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA) para aumentar a segurança da região. Os equipamentos instalados entre as cidades de Paraty e Angra dos Reis, ambas no Rio de Janeiro, verificam, em tempo real, elementos radioativos eventualmente presentes no meio ambiente e avaliam dados relativos à precipitação pluviométrica.
O objetivo da iniciativa é promover a avaliação contínua das condições de segurança radiológica da área ao redor das usinas de Angra 1 e Angra 2 e prover resposta imediata a qualquer eventual liberação de resíduos radiológicos.
A instalação das seis estações de monitoração radiológica (EMRs) ficou a cargo dos técnicos da Coordenação Geral de Reatores e Ciclo Combustível e do Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD), ambos ligados à Cnen. Essa ação foi precedida de estudos de adequação das condições meteorológicas, de proteção radiológica e de densidade populacional da região, além de se basear no plano de emergência. A iniciativa contou ainda com a colaboração do Colégio Naval e da Administração do CIEP Guignard, assim como da Defesa Civil de Paraty e da Eletronuclear.
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- 16/11/2015 - Laboratório associado ao Cietec assina convênio de P&D com o IPENProjeto inédito da Biosintesis inovará em técnicas e metodologias in vitro, em condições de Boas Práticas de Laboratórios (BPL)
Projeto inédito da Biosintesis inovará em técnicas e metodologias in vitro, em condições de Boas Práticas de Laboratórios (BPL)
Fonte: Agência Fapesp
O Laboratório Biosintesis – associado ao Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec) – e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) fecharam acordo para o desenvolvimento de novas técnicas e metodologias para pesquisa in vitro na área de segurança e eficácia de radiofármacos e biomateriais.
O convênio tem como objetivo criar uma metodologia inédita para estudos em materiais biológicos e medicamentos radiológicos. Os estudos serão desenvolvidos dentro dos princípios de boas práticas de laboratório (BPL), um sistema de qualidade adotado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para todos os países membros. As normas estabelecem requisitos ao processo organizacional e condições técnicas para estudos não clínicos de segurança à saúde humana e ao meio ambiente.
"A exposição e a utilização de produtos seguros é uma preocupação constante para a sociedade, indústria e órgãos regulamentadores. O uso de metodologias in vitro, em ensaios biológicos validados e monitorados por sistemas de qualidade robustos, possibilita a realização de estudos de segurança e eficácia com grande rapidez, precisão e rastreabilidade dos resultados", afirma Fabiana Medeiros, diretora da Biosintesis.
Sergio Risola, diretor-executivo do Cietec, sublinha que "as normas que serão utilizadas nos estudos seguirão padrões internacionais, o que colaborará para o reconhecimento global dos produtos desenvolvidos a partir delas".
Marcelo Linardi, diretor de P&D e Ensino do Ipen, salienta a importância do convênio de Inovação Tecnológica com empresas incubadas. "O caminho da inovação tecnológica é vital para a política de continuidade dos Institutos de Pesquisas, pois dá o retorno à sociedade do investimento público em P&D, justificando todo o processo, gerando melhoria da qualidade de vida do brasileiro."
O documento que estabelece o convênio entre a Biosintesis e o IPEN estabelece um prazo de dois anos para o trabalho. De acordo com Medeiros, "inicialmente a tecnologia tem aplicação na radiofarmácia do Ipen e poderá ser desdobrada para outros segmentos da saúde".
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- 14/11/2015 - Tempos de crise no setor da energia nuclearA energia nuclear não emite gases efeito estufa, no entanto, seu futuro é incerto nos países desenvolvidos
A energia nuclear não emite gases efeito estufa, no entanto, seu futuro é incerto nos países desenvolvidos
Fonte: site Opinião e Notícia
A queda nos preços das commodities nos Estados Unidos e na Europa está ameaçando o futuro da energia nuclear, já abalado pelo desastre nuclear de Fukushima Dai-ichi em 2011, no Japão. A revolução do gás de xisto nos EUA, o suprimento crescente de energia renovável subsidiada na Europa e a demanda menor de energia elétrica em ambos os lugares diminuíram drasticamente os preços no mercado atacadista de energia.
Nesse contexto, muitas usinas de energia nuclear estão com dificuldade de cobrir os custos de funcionamento e, em consequência, os donos têm sido obrigados a fechá-las. Ironicamente, em um momento em que os países do mundo inteiro estão se comprometendo em diminuir as emissões de carbono, o encerramento das atividades das usinas nucleares tem com frequência provocado a queima de mais combustíveis fósseis. Além disso, a capacidade da energia renovável não soluciona o problema; na ausência do vento e do sol, a energia nuclear ainda é a melhor fonte de energia com um baixo nível de emissão de carbono "baseada” na eletricidade.
O fechamento de usinas nucleares nos dois lados do Atlântico representa um duro golpe para um setor que durante anos anunciou a perspectiva de um "renascimento nuclear”, com base nos méritos do fornecimento de energia em larga escala e com baixo teor de carbono. Esse fato mostra como os governos ocidentais têm hesitado em seu apoio à tecnologia e preferiram investir no subsídio das energias renováveis, em vez de definir um preço real para as emissões de carbono, que prejudicaria mais os combustíveis poluentes como carvão e gás e, portanto, incentivaria o uso da energia nuclear.
O encerramento das atividades das usinas nucleares também mostra como as ONGs ambientalistas, muitas das quais foram criadas para fazer oposição ao uso militar e civil da energia atômica, têm influenciado a discussão sobre energia nuclear. Muitas ONGs ainda veem a energia nuclear como um vilão semelhante ao aquecimento global.
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- 13/11/2015 - Laboratório associado ao Cietec assina convênio de pesquisa e desenvolvimento com IPENProjeto inédito da Biosintesis inovará em técnicas e metodologias in vitro, em condições de Boas Práticas de Laboratórios (BPL)
Projeto inédito da Biosintesis inovará em técnicas e metodologias in vitro, em condições de Boas Práticas de Laboratórios (BPL)
Fonte: site Maxpress
O Laboratório Biosintesis e o IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) fecharam acordo para o desenvolvimento de novas técnicas e metodologias para pesquisa in vitro. O trabalho conjunto será na área de segurança e eficácia de radiofármacos e biomateriais. O laboratório é associado ao Cietec (Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia), gestor da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de São Paulo USP/IPEN, desde 2008.
O convênio com o Centro de Biotecnologia do IPEN tem como objetivo principal criar uma metodologia inédita para estudos em materiais biológicos e medicamentos radiológicos. O tema das pesquisas biológicas in vitro tem instigado a criação de métodos alternativos que proporcionem resultados com ganhos qualitativos e éticos em relação aos estudos tradicionais. A preocupação fica evidente quando se analisa as constantes iniciativas de instituições de pesquisa científica e tecnológica, agências regulatórias e políticas públicas.
Os estudos serão desenvolvidos dentro dos princípios de boas práticas de laboratório (BPL), um sistema de qualidade adotado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), para todos os países membros. As normas estabelecem requisitos ao processo organizacional e condições técnicas para estudos não-clínicos de segurança à saúde humana e ao meio ambiente. A iniciativa é importante para a competitividade brasileira, uma vez que estudos in vitro com estes requisitos de qualidade só estavam disponíveis no exterior.
Segundo Fabiana Medeiros, diretora da Biosintesis, "a exposição e a utilização de produtos seguros é uma preocupação constante para a sociedade, indústria e órgãos regulamentadores. O uso de metodologias in vitro, em ensaios biológicos validados e monitorados por sistemas de qualidade robustos, possibilita a realização de estudos de segurança e eficácia com grande rapidez, precisão e rastreabilidade dos resultados".
O documento que estabelece o convênio entre a Biosintesis e o IPEN estabelece um prazo de dois anos para o trabalho. De acordo com Fabiana, "inicialmente a tecnologia tem aplicação na radiofarmácia do IPEN e pode ser desdobrada para outros segmentos da saúde".
Para Sergio Risola, diretor-executivo do Cietec, o acordo de trabalho conjunto mostra o grau de excelência do laboratório Biosintesis. "A assinatura da tratativa demonstra que a equipe de Fabiana Medeiros está apta para cooperar com um centro de referência no Brasil e na América Latina, como é o IPEN", comemora o especialista em empreendedorismo inovador. E completa: "as normas que serão utilizadas nos estudos seguirão padrões internacionais, o que colaborará para o reconhecimento global dos produtos desenvolvidos a partir delas".
Marcelo Linardi, Diretor de P&D e Ensino do IPEN, salienta a importância do convênio de Inovação Tecnológica com empresas incubadas. "O caminho da inovação tecnológica é vital para a política de continuidade dos Institutos de Pesquisas, pois dá o retorno à sociedade do investimento público em P&D, justificando todo o processo, gerando melhoria da qualidade de vida do brasileiro".
Sobre o Cietec
O Cietec, Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia, inaugurado em abril de 1998, tem como missão incentivar o empreendedorismo e a inovação tecnológica, apoiando a criação, fortalecimento e a consolidação de empresas e empreendimentos inovadores de base tecnológica. Em suas unidades de negócio, São Paulo e Mogi das Cruzes, são conduzidos processos de incubação de empresas inovadoras, em diferentes níveis de maturidade. Nesses processos o Cietec oferece serviços de apoio para demandas nas áreas de gestão tecnológica, empresarial e mercadológica, além de infraestrutura física para a instalação e operação dessas empresas. O Cietec possibilita a ampliação d o índice de sobrevivência e competitividade das micro e pequenas empresas, oferecendo a excelência de sua infra-estrutura, a capacitação do seu recurso humano e a comercialização e busca por inve stimento, como o investimento-anjo, capital semente e venture capital (capital de risco).
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- 11/11/2015 - Corte de verba faz Marinha suspender projeto para defesa do pré-salFalta de dinheiro fará submarino nuclear atrasar 4 anos, diz comandante. Orçamento ficou 30% menor em 2015 e 200 trabalhadores serão cortados.
Falta de dinheiro fará submarino nuclear atrasar 4 anos, diz comandante. Orçamento ficou 30% menor em 2015 e 200 trabalhadores serão cortados.
Fonte: G1 Portal de Notícias
Tahiane Stochero Do G1, em São Paulo
O corte de recursos devido à crise econômica levou a Marinha a suspender o projeto para monitorar o mar territorial do país e proteger os recursos do pré-sal, informou o comandante da Marinha, almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira.Um estudo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) estima que a área do pré-sal possua ao menos 176 bilhões de barris de recursos não descobertos e recuperáveis de petróleo e gás natural.
Com certeza, vai atrasar [o projeto do submarino nuclear brasileiro]. Há duas dificuldades. A primeira é financeira, temos que ter um fluxo de dinheiro constantemente. A outra é dificuldade técnica, porque estamos desenvolvendo tudo sozinho, sozinho, sozinho. Mas nós estamos avançando" almirante Eduardo Leal Ferreira, comandante da Marinha
Também foi afetado pelo corte o projeto do submarino nuclear brasileiro, cuja previsão inicial de entrada em operação, avaliada para 2025, sofrerá um atraso de três a quatro anos, segundo o comandante da Marinha, almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira.
"Com orçamento 30% menor do previsto neste ano, tivemos que refazer o cronograma físico e financeiro de uma série de projetos. Todos os projetos sofreram redução de ritmo em diferentes graus”, informou Leal Ferreira a jornalistas em São Paulo. "Temos que enfrentar esta realidade e dar nossa contribuição para se adaptar [à crise econômica no país]. Não podemos desistir e nos desesperar", acrescentou.
O governo federal bloqueou em maio R$ 69,9 bilhões em gastos para 2015. Pela Lei Orçamentária, a Marinha teria disponíveis R$ 3,85 bilhões para custeio e R$ 2,1 bilhões para investimentos neste ano. Com o corte, porém, de R$ 2 bilhões, restou para investimento R$ 1,3 bilhão. Sobraram quase mais R$ 2,6 bilhões para custeio.
O projeto para controlar e vigiar a a zona econômica exclusiva brasileira do Oceano Atlântico, chamado de Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (Sisgaaz), uma área de 4,5 milhões de quilômetros quadrados, tem investimento estimado de R$ 13 bilhões e tinha previsão inicial de estar concluído em 2027.
A interrupção ocorreu no dia 29 de outubro "devido às restrições orçamentárias impostas”, quando uma carta, comunicando oficialmente a decisão, foi enviada aos três consórcios concorrentes. O documento não foi divulgado.
Segundo a Marinha, o alerta foi enviado às candidatas a contratante principal, sendo elas: Embraer Defesa & Segurança, Odebrecht Defesa e Tecnologia e Orbital Engenharia. Não há previsão de quando o programa será retomado, o que pode ocorrer "assim que as condições financeiras permitirem”.
Semelhante ao projeto que o Exército possui para vigiar as fronteiras terrestres, o Sisgaaz tem como missão garantir maior segurança marítima e a defesa no Atlântico Sul, gerando maior eficiência dos órgãos brasileiros para a fiscalização de narcotráfico e contrabando pelo mar, operações de busca e salvamento e também impedir que embarcações de outros países invadam as águas jurisdicionais brasileiras.
Em 30 de outubro, o jornal "Folha de S. Paulo” divulgou que navios de guerra dos Estados Unidos realizaram operações marítimas na costa brasileira em 2014 sem avisarem às autoridades e sem terem sido percebidas. Segundo o comandante da Marinha, o ocorrido se deve a uma diferença de entendimento sobre como o Brasil e os Estados Unidos analisam cláusulas da convenção da ONU sobre os direitos do mar. Ele minimizou suspeitas de que outras invasões podem ter ocorrido.
"Eu considero estes meus direitos, de autorizar manobras militares, em especial com emprego de armas, em nossa zona econômica exclusiva. O americano tem uma posição diferente, ele acha que a navegação ali é livre e não inclui qualquer restrição a operações militares. É a interpretação que ele tem e ele tenta forçar a ideia de que o ponto de vista dele está coerente”, afirma Leal Ferreira sobre o tema.
"Este é um assunto para ser discutido no ponto de vista diplomático e não no âmbito militar”, diz. "São pequenos pontos divergentes que não podemos transformar em grandes contendas”.
O Sisgaaz, quando introduzido plenamente, permitirá ao Brasil identificar navios invasores em toda a sua área de controle, afirma o comandante. Com a suspensão do programa, não há previsão de quando isso irá acontecer.
A construção do submarino nuclear, que também servirá como fator de dissuasão para impedir a invasão de embarcações estrangeiras e impor o poder militar brasileiro no mar, também foi atingida pelo corte de recursos.
Além do atraso em até 4 anos para a sua finalização, haverá corte de 200 funcionários civis em São Paulo e Iperó entre o fim de 2015 e início de 2016. Hoje são 3 mil pessoas trabalhando no desenvolvimento - 1.200 são profissionais qualificados, como cientistas, que não podem ser desvinculados do projeto por possuírem informações estratégicas.
O projeto do submarino nuclear brasilerio teve início em 1979 e já consumiu mais de R$ 1 bilhão de recursos. "Fomos afetados pelo corte orçamentário e tivemos que reduzir o ritmo, mas não paralisou. Em 2015, o esperado era de R$ 320 mil para custeio, e recebemos R$ 250 mil. Esta redução significativa deve se manter em 2016", afirmou Leal Ferreira.
A Marinha também vem emperrando em adversidades para desenvolver a propulsão nuclear, pois os países que detêm o conhecimento – o seleto grupo com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, China, Inglaterra e França) – não desejam repassá-los ao Brasil.
"Com certeza, vai atrasar. Há duas dificuldades. A primeira é financeira, temos que ter um fluxo de dinheiro constantemente. Porque fazemos contratos para daqui a três, quatro anos, e repactuar um contrato destes sempre fica muito difícil, os próprios fornecedores ficam desconfiados. A outra é dificuldade técnica, porque estamos desenvolvendo tudo sozinho, sozinho, sozinho. Mas nós estamos avançando", diz Leal Ferreira.
"Quando eles (outros países) tomam conhecimento que nós vamos usar aquele determinado equipamento no programa nuclear, eles proíbem a venda. Tudo nós temos que descobrir por nós mesmos. Apesar das dificuldades técnicas, nós estamos sempre avançando, até agora não teve nada intransponível. Mas com a redução dos recursos, tivemos que reduzir mais", salientou o comandante da Marinha.
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- 06/11/2015 - Começam as trocas no MCTIFonte: Agência Gestão MCT&I
A dança das cadeiras no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) começou. Levou cerca de 20 dias para que o novo titular da pasta, Celso Pansera, iniciasse o processo de mudanças. Em 27 de outubro, o dirigente nomeou Gil Rosa de Carvalho para exercer o cargo de assessor especial. No Diário Oficial União (DOU) desta sexta-feira (6) foram anunciadas novas escolhas e dispensas.
Uma delas ocorreu na Subsecretaria de Coordenação das Unidades de Pesquisa (SCUP/MCTI). Comandado pelo físico Adalberto Fazzio desde maio de 2015, o departamento tem como objetivo propor, gerenciar e acompanhar a implementação de programas e projetos dos institutos vinculados ao ministério. À seção também é incumbida a missão de analisar e fiscalizar os contratos de gestão assinados entre o governo e as organizações sociais. Um novo nome deve ser anunciado nos próximos dias.
Também está no DOU a nomeação de Luciana de Camargo da Silva. Ela exercerá a função de Acompanhamento e Avaliação das Atividades Finalísticas da Secretaria-Executiva (Sexec) do MCTI.
Ambas seções estão ligadas à Sexec, que também terá o comando trocado. Emília Ribeiro que está no cargo há quase sete meses sairá. Nos bastidores, comenta-se que um nome para a função já foi definido pelo ministro Celso Pansera. A tendência é que ele anuncie as mudanças assim que voltar da viagem ao Catar.
(Agência Gestão CT&I)
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- 06/11/2015 - Grupo Fleury anuncia vencedores do prêmio de inovação em saúdeDois pesquisadores apoiados pela FAPESP tiveram seus projetos de pesquisas premiados nas categorias mestrado e doutorado e jovem pesquisador
Dois pesquisadores apoiados pela FAPESP tiveram seus projetos de pesquisas premiados nas categorias mestrado e doutorado e jovem pesquisador
Fonte: Agência FAPESP
Dois pesquisadores apoiados pela FAPESP estão entre os contemplados na primeira edição do Prêmio de Inovação do Grupo Fleury (PIF).
Na categoria mestrado e doutorado, Thatiana Evilen da Silva, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), foi premiada por sua pesquisa "Mutações no gene DHX37 identificadas por sequenciamento exômico em larga escala são causa da síndrome de regressão testicular embrionária (SRTE) em quatro famílias com DDS 46,XY”.
Na mesma categoria também foi vencedora a pesquisa sobre "Inovação no diagnóstico da hanseníase: potencial método não invasivo associado à espectrometria de massas de alta resolução”, de Estela de Oliveira Lima, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Na categoria jovem pesquisador, Mariana de Oliveira Diniz, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (ICB/USP), foi a vencedora com o trabalho "Nova abordagem imunoterapêutica contra tumores induzidos por HPV”.
Também foi contemplado Andre Luiz Vettore, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com o trabalho "Acurácia de microRNAs como marcadores de detecção de metástases em linfonodos cervicais de pacientes com carcinoma epidermoide de cabeça e pescoço”.
Na categoria graduação, foram reconhecidos os trabalhos "Efeitos inflamatórios oriundos da poluição atmosférica urbana utilizando camundongos deficientes no gene de reparo XPC”, da aluna Giovanna Mamesso di Costanzo, e o trabalho "Dissulfeto-isomerase proteica é superexpressa na resposta vascular à lesão e tem ação antirremodelamento constritivo”, do aluno Haniel Alves Araújo, ambos da Faculdade de Medicina da USP.
O prêmio principal foi para o trabalho de Allan Kardec Nogueira de Alencar, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sobre o "Desenvolvimento de novos agonistas de receptores de adenosina A2A para a reversão do remodelamento cardíaco e vascular em ratos com hipertensão arterial pulmonar”.
Ao todo, 69 trabalhos foram inscritos na primeira edição do PIF, sendo 18 selecionados para apresentação oral e sete premiados.
"Tivemos desde pesquisas básicas voltadas para a área de métodos moleculares até tratamentos terapêuticos e inovações tecnológicas para a criação de ferramentas que facilitam o dia a dia do corpo médico. Isso mostra a riqueza e a diversidade da produção acadêmica e científica no país”, afirmou Jeane Tsutsui, diretora executiva Médica, Técnica e de P&D da empresa.
Os pesquisadores que tiveram seus projetos reconhecidos terão oportunidade de passar 15 dias na área de Pesquisa e Desenvolvimento do Grupo Fleury. A proposta é promover a interação e vivenciar os desafios da equipe com os futuros cientistas do país, bem como estreitar o relacionamento da empresa com as universidades e vice-versa. "Nesta imersão, os jovens cientistas poderão ver como a pesquisa acadêmica pode ser aplicada em uma empresa, assim como terão a chance de trazer insights importantes para a equipe de P&D”, explica Tsutsui.
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- 05/11/2015 - O maniqueísmo nuclearArtigo de Silvia Maria Velasques de Oliveira, presidente da Sociedade Brasileira de Biociências Nucleares (SBBN), para o Jornal da Ciência
Artigo de Silvia Maria Velasques de Oliveira, presidente da Sociedade Brasileira de Biociências Nucleares (SBBN), para o Jornal da Ciência
Fonte: Jornal da CiênciaEm "Diários da presidência 1995-1996”, memórias lançadas recentemente pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), há, na página 529, o registro do dia 5 de abril de 1996: "fui ao IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), aqui na USP (Universidade de São Paulo). Encontrei o Marcelo Damy (físico e professor paulista, pioneiro da energia nuclear no Brasil), que eu não via fazia quarenta anos. No discurso rápido que fiz, mencionei que eu tinha sido muito contra o reator atômico da USP, nós achávamos que ele iria explodir (…). Era uma luta entre os físicos e quem teve razão foi o Marcelo Damy. Visitei tudo o que está feito lá, o reator experimental, e vi também que recuperamos as verbas em 94, 95 e, sobretudo, em 96”. E conclui FHC: "Pediram um síncrotron (acelerador de partículas com aplicação em pesquisas físicas, biológicas e nanotecnologia) e eu sou favorável também. Vamos ver se a gente viabiliza esse sincrotron, são só 5 milhões de dólares (o Laboratório Nacional da Luz Síncrotron foi inaugurado em 1997, em Campinas)”.
Essa "luta ente os físicos” perdura, e envolve também os engenheiros. Se um presidente da República e professor universitário tem medo de um reator de pesquisas porque acha que "ele pode explodir”, qualquer brasileiro pode sentir o mesmo. Falo sentir e não pensar porque medo não é racionalizado. Minha hipótese sobre a divulgação da energia nuclear no Brasil é que não há a necessária isenção: apoiadores, operadores de usinas nucleares para geração de eletricidade e usuários das demais aplicações (Medicina, Indústria e Pesquisa) propagam os benefícios sem explicar os riscos associados às respectivas tecnologias enquanto que os ativistas antinucleares, ao contrário, divulgam os riscos de forma isolada e, na maioria das vezes, sem compará-los com problemas afetos às tecnologias alternativas.
Se físicos e engenheiros de um lado, e ativistas e políticos de outro, confundirem a opinião pública sobre as diferenças básicas das tecnologias nucleares, omitindo o que não lhes convém, diversas pesquisas para melhorar a saúde dos brasileiros, especialmente em Radiobiologia, Radiofarmácia e Medicina Nuclear, poderão ser afetadas, prejudicando toda a sociedade.
Em 2015, diversos eventos paralelos, científicos e/ou políticos, a maioria financiados pelo Estado, aconteceram com grupos homogêneos que não contaram com a admissão do contraditório. Nos dias 27 e 28 de outubro de 2015, realizou-se no Auditório INTERLEGIS, do Senado Federal, o Seminário Internacional "Usinas Nucleares-Lições da Experiência Mundial”, promovido pela Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT), coordenada pelo Senador Cristovam Buarque.
Os discursos foram dirigidos a reforçar o Projeto de Lei do Senado (PLS) 405 de 2011, de autoria do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), e atualmente na Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle. A ementa propõe suspender, pelo prazo de trinta anos, em todo o território nacional, a construção de novas usinas termonucleares com o argumento da probabilidade de ocorrência de acidentes nucleares.
A mesa "As consequências sociais e sanitárias dos acidentes nucleares” começou com Naoto Kan (ex-primeiro ministro do Japão em 2011 e responsável pelo gerenciamento da crise do acidente nuclear de Fukushima), em depoimento por videoconferência. Ele aconselhou os brasileiros a desistirem dos reatores nucleares. Vladimir Shevtsov (Bielorrússia) e Alfredo Pena-Veja (França) abordaram suas pesquisas, respectivamente sobre Chernobyl na Ucrânia e Fukushima no Japão sem comentar dados de publicações internacionais como o Comitê Científico das Nações Unidas para Efeitos das Radiações Atômicas (www.unscear.org), órgão do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), formado por cientistas de vários países. Emiko Okuno, física da USP, ao relatar o acidente com Césio-137 em Goiânia em 1987, citou dados do relatório oficial publicado pela Agência Internacional de Energia Atômica (www.iaea.org).
Acompanhando pela internet, enviei por e-mail a seguinte pergunta aVladimir Shevtsov: "por que não comentou os dados sobre exposições do público publicados pelo United Nations Scientific Committee on Effects of Atomic Radiation (UNSCEAR)? Não os considera confiáveis ou os desconhece?”O palestrante não mencionou o UNSCEAR, talvez de fato não o conheça, e criticou a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) ao comentar que as estatísticas da Organização Mundial de Saúde (OMS) são controladas pela IAEA, a qual defende os interesses dos países do Tratado de Não Proliferação (de Armas Atômicas).
Minha segunda pergunta, formulada ao representante da França, foi: "por que não comentou na sua palestra o apoio da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) em face das convenções de segurança entre os países membros? Todo o apoio logístico, técnico e financeiro nos dois acidentes nucleares não foram sequer citados. Por que não contextualizou seus projetos de pesquisas em relação a centenas de outros também publicados por vários países? Tem restrições aos outros artigos ou abordagens? Caso sim, quais?”.
Quem respondeu foi a física nuclear, do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), na França, Monique Sené, que justificou que, embora as publicações da IAEA devam ser lidas, não as mencionou porque abordara apenas os problemas da França. O pesquisador Alfredo Pena-Veja, a quem a pergunta fora dirigida, respondeu ironicamente que não compara suas pesquisas com outras publicações porque "o pessoal da área nuclear só tem certezas e seus estudos não têm incertezas".
Na mesa "Da mineração de urânio às usinas nucleares e aos rejeitos radioativos, perspectivas e alternativas”, Eduardo Souza Motta, membro da Associação dos Fiscais de Radioproteção e Segurança Nuclear (AFEN), reclamou que problemas como a mineração de urânio e a cadeia de enriquecimento do combustível nuclear não tinham sido abordados. Reivindicou, também, a discussão sobre reatores dedicados para produção de radioisótopos usados em medicina nuclear. Segundo ele, estes reatores também devem ser justificados, uma vez que, ao usar urânio enriquecido, geram rejeitos radioativos e podem provocar acidentes. É possível que, aumentando o leque de problemas, o fiscal nuclear esperasse valorizar a atuação da AFEN.
Francisco Whitaker, membro da Comissão Justiça e Paz, coordenador da Coalizão por um Brasil Livre de Usinas Nucleares e um dos organizadores do seminário, respondeu que a proposta fugia ao escopo do evento porque o título era "Usinas Nucleares”, mas poderia acontecer em outra oportunidade. Entretanto, alguns minutos depois, o próprio Whitaker, mencionou que "na Bolívia há um projeto de reator para produção de radioisótopos e isto é um verdadeiro Cavalo de Tróia, pois por onde passa boi passa boiada e logo irão querer colocar uma usina nuclear na Bolívia”.De fato, no dia seguinte, a Globo.com publicou o anúncio do presidente boliviano sobre a construção até 2020 de complexo nuclear com cíclotron, irradiador gama e reator nuclear de pesquisas com tecnologia da estatal russa ROSATOM e aporte argentino, totalizando 300 milhões de dólares.
Radiofármacos são fabricados com radioisótopos que marcam quimicamente uma molécula-vetor (fármaco) para atingir um órgão ou tecido em estudo ou tratamento. Os radioisótopos são produzidos em reatores nucleares dedicados (de baixa potência) ou em cíclotrons (aparelhos que aceleram íons em direção a um alvo definido para produção do radionuclídeo de interesse).
Fármacos marcados com Tecnécio-99m, a partir do decaimento radioativo do Molebdênio-99m (matéria-prima produzida em reator), são usados em exames cardiológicos e neurológicos, entre outros. Para tratamento de câncer, moléculas são marcadas com outros radioisótopos também produzidos em reatores dedicados: Samário-153 (metástases ósseas), Lutecio-177 (tumores neuroendócrinos), Ytrio-90 (linfomas e tumores hepáticos) ou Iodo-131 (hipertireoidismo e carcinoma diferenciado da tireóide).
Para suprir a demanda mundial de Molebdênio-99m, há apenas sete reatores em operação (Canadá, Bélgica, África do Sul, Holanda, França, Argentina e Austrália), seis com mais de 40 anos em atividade e que serão brevemente desativados, três deles entre 2015 e 2018. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) priorizou o projeto do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), gerenciado pela CNEN, devendo ser construído em um terreno cedido pela Marinha do Brasil em Iperó, interior do estado de São Paulo. Foram definidas três funções principais: (1) produção de radioisótopos, (2) produção do combustível nuclear a partir da irradiação de materiais para atender ao programa nuclear brasileiro e (3) fornecimento de feixes de nêutrons para pesquisa científica básica e aplicada.
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 recepcionou o regime de monopólio, exercido pela CNEN. Por meio da Emenda Constitucional nº 4, de 8 de fevereiro de 2006, o monopólio foi parcialmente quebrado para radiofármacos de meia-vida física inferior a 120 minutos. De quatro cíclotrons operados pela CNEN em 2010, o país saltou para 14 cíclotrons, adicionando empresas privadas ou centros universitários que produzem Fluor-18 usado em tomografias por emissão de pósitron único (PET). Mesmo assim, o país está atrasado em dezenas de anos em relação ao primeiro mundo em pesquisas e uso médico dos radiofármacos. Não há recursos suficientes para promover a energia nuclear e, simultaneamente, fiscalizar seus operadores. A criação da Agência Nacional de Segurança Nuclear permitiria disciplinar esse conflito de interesses. Contudo, o respectivo Projeto de Lei está parado na Casa Civil da Presidência da República desde 2012.
Em 1996, FHC decidiu que o projeto do sincrotron, orçado à época em cinco milhões de dólares, era importante e deveria prosseguir. Foi inaugurado em Campinas um ano depois. O RMB, orçado em 2013 em quinhentos milhões de dólares, já obteve Licença Prévia do IBAMA e a Aprovação de Local da CNEN. Está em andamento o detalhamento do projeto de engenharia realizado pelo INVAP (empresa argentina). A operação do RMB, inicialmente prevista para 2016, foi adiada para 2021 e, segundo a CNEN, "depende da regularidade de investimentos do Governo Federal”.
A segurança dos projetos nucleares estratégicos começa pela solução de conflitos de interesse dentro do Governo Federal e de seus agentes. Por outro lado, tanto os cientistas nacionais quanto os visitantes internacionais devem divulgar suas pesquisas sobre os efeitos biológicos das radiações ionizantes sem valorizar isoladamente aspectos favoráveis ou desfavoráveis. Sem independência intelectual e ética, ativistas, políticos, fiscais nucleares, pesquisadores ou operadores, não superarão o maniqueísmo nuclear. Grupos com interesses antagônicos, alguns até ambivalentes (baseados no equívoco de que "os fins justificam os meios”), insistem em polarizar a opinião pública em iniciativas isoladas que não contribuirão para o diálogo necessário para se estabelecer uma legislação coerente e compatível com os interesses da sociedade brasileira.
"O juízo bom nãoprovém daqueles aos quais se fez o bem. Foram osbonsmesmos, isto é, os nobres, poderosos, superiores em posição e pensamento, que sentiram e estabeleceram a si e a seus atos como bons, ou seja, de primeira ordem, em oposição a tudo que era baixo, de pensamento baixo, vulgar e plebeu” (Nietzsche, Genealogia da Moral, primeira dissertação, § 2).
* A equipe do Jornal da Ciência esclarece que o conteúdo e opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do jornal
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- 05/11/2015 - LNLS apresenta demandas a empresas para o Projeto Sirius na sexta-feiraEncontro acontece na sede do Cnpem, em Campinas (SP). Para diretor do laboratório, Antonio José Roque, modelo do edital é benéfico para todos os envolvidos na construção da fonte de luz síncrotron
Encontro acontece na sede do Cnpem, em Campinas (SP). Para diretor do laboratório, Antonio José Roque, modelo do edital é benéfico para todos os envolvidos na construção da fonte de luz síncrotron
Fonte: Jornal da CiênciaNesta sexta-feira (6), o Centro Nacional de Pesquisa em Energias e Materiais (Cnpem/MCTI) será palco da apresentação dos 13 desafios do segundo edital Fapesp/Finep para a construção do Projeto Sirius, a futura nova fonte de luz síncrotron brasileira. As inscrições podem ser feitas neste link.
Estão aptas a participar pequenas, médias e grandes empresas do estado de São Paulo interessadas em desenvolver tecnologias para suprir as necessidades do equipamento, que será instalado na sede do Cnpem, em Campinas (SP). A chamada promovida em conjunto pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep/MCTI) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) disponibiliza R$ 20 milhões, divididos igualmente entre as entidades.
O encontro, chamado Mesa Redonda Parceria Sirius, servirá ainda para que as companhias conheçam mais sobre o Sirius e o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS/MCTI), que cuidará da empreitada. Além disso, serão apresentados dados referentes às ações do primeiro edital da fonte de luz sincrotron, que selecionou oito empresas para cumprir outros 13 desafios apresentados à iniciativa privada.
Para o diretor do LNLS, Antonio José Roque da Silva, esta é uma oportunidade importante para que os atores envolvidos no desenvolvimento da estrutura de luz sincrotron possam interagir e conhecer diferentes aspectos acerca do anel acelerador. A programação vai das 8h30 às 16h30.
"É a chance que as empresas têm de conhecer, saber melhor quais são os desafios propostos para o Sirius. E elas também vão poder conversas com nossos técnicos para conhecer os detalhes e especificidades desses desafios”, afirmou.
Os desafios são etapas da construção da estrutura da fonte de luz sincrotron a serem completadas. São eles: trem de monitoramento de túnel; robô comandado por laser tracker; passarela sobre o anel; sensor hidrostático de nível e inclinação; banhos térmicos; controlador e driver para motor; sistema de banking modular para câmara de vácuo; câmaras de vácuo para elementos ópticos; estágios mecânicos de precisão; bases mecânicas ultra estáveis; cabanas experimentais; impressora 3D – manufatura aditiva; e mecânica do núcleo de ondulador universal.
Modelo positivo
Na avaliação de Antonio José Roque da Silva, o formato de parceria do edital é benéfico para todas as partes envolvidas no projeto. O diretor do LNLS acredita que a complementação orçamental dá fôlego para as empresas desenvolverem tecnologias específicas para suprir as necessidades da fonte de luz sincrotron.
"O Sirius é um projeto estruturante para o País. Pela dimensão dele, tem capacidade de alavancar o setor de inovação com base em tecnologia. E o modelo do edital é um sucesso por acoplar projetos científicos e tecnológicos com um programa estruturado na busca de empresas parceiras. A taxa de aprovação desse edital é significativamente maior que outras chamadas”, explicou.
Detalhes do edital
Os recursos destinados pela chamada pública são concedidos de forma separada do orçamento previsto para o Projeto Sirius. Ao menos 40% dos R$ 20 milhões disponibilizados serão destinados a empresas com faturamento anual de até R$ 3,6 milhões. Cada companhia poderá solicitar até R$ 1,5 milhão, sem expectativa de reembolso pela agência financiadora, para executar o projeto em até 24 meses. As proponentes deverão indicar um pesquisador responsável ou coordenador técnico pelo projeto.
Os interessados terão até o dia 27 de novembro para submeterem propostas ao edital. O resultado final da seleção deve ser divulgado a partir de 1º de maio de 2016.
(MCTI)
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- 04/11/2015 - Agência de Segurança Nuclear e suas limitaçõesArtigo de Sidney Luiz Rabello, engenheiro de segurança da Comissão Nacional de Energia Nuclear*, para o Jornal da Ciência
Artigo de Sidney Luiz Rabello, engenheiro de segurança da Comissão Nacional de Energia Nuclear*, para o Jornal da Ciência
Fonte: Jornal da CiênciaNo Brasil, ainda não foi criada a Agência de Segurança Nuclear (ASN), requerida pela Convenção de Segurança Nuclear, acordo internacional que se tornou lei no Brasil em 1999. Quem executa o papel de Agência de Segurança no Brasil é a Comissão Nacional de Energia Nacional (CNEN), a qual acumula as atribuições de pesquisa, desenvolvimento tecnológico, fabricação, comercialização de radioisótopos e prestação de serviços, atribuições que podem comprometer sua atuação na área de segurança nuclear. Algo similar ao modelo francês de um passado recente, sempre colocado como exemplo a ser seguido pelo Brasil. O fato de a CNEN ter em seus institutos instalações nucleares e radioativas e ainda estar subordinado à CNEN as Indústrias Nucleares Brasileiras (INB) implica que a CNEN fiscalize a si própria. A autofiscalização é um modelo bastante conhecido e não é a melhor forma de garantir a segurança no uso da energia nuclear, popularmente é a raposa tomando conta do galinheiro.
Não é por menos que a França fez reformas importantes na área nuclear e atualmente garante, pelo menos no papel, a independência de atuação de sua Agência de Segurança Nuclear. A França seguiu o que é preconizado pela Convenção de Segurança Nuclear. O Brasil ainda não, apesar da Agência de Segurança Nuclear Brasileira ser uma exigência legal desde 1999 e um compromisso internacional não cumprido até hoje.
A França constituiu a Agência de Segurança Nuclear em 2006 com independência administrativa, dirigida por cinco membros, designados pelo Presidente da República e pelos Presidentes das duas Casas do Congresso.
A ASN francesa é responsável pela segurança das usinas nucleares, de outras atividades industriais, das atividades de pesquisa e da medicina, do transporte de material radioativo, do rejeito e do descomissionamento. Inclui-se dentre suas responsabilidades a obrigatoriedade de que suas atividades sejam transparentes ao público e ao Congresso.
No Japão, pudemos conhecer o resultado da atuação de sua Agência de Segurança Nuclear que deveria ser também independente. O Japão tem usinas nucleares com um perfil similar ao francês, no que diz respeito ao número de usinas de projeto de segurança nuclear arcaico da década de 1970, como é o caso das unidades de Fukushima. Mesmo assim, seria esperado que, apesar do tsunami, nenhum material radioativo ou uma quantidade bem limitada fosse liberado para o meio ambiente em resultado da fusão do núcleo do reator, caso tivessem sido realizadas reformas em função da experiência adquirida pelo acidente de Three Mile Island de 1979. O que ocorreu foi exatamente ao contrário: grandes quantidades de material radioativo foram liberadas, além da explosão pirotécnica de hidrogênio.
Na realidade, as proporções das consequências do acidente de Fukushima no Japão não foram decorrentes do tsunami que a imprensa divulgou fartamente como causa. O principal responsável pela liberação de material radioativo para o meio ambiente foi que a Agência de Segurança Nuclear japonesa não desempenhou seu papel de garantir a proteção do meio ambiente e a segurança do povo japonês.
O relatório da Comissão de Investigação do Congresso Japonês, disponível na internet, concluiu que houve um conluio entre a empresa operadora, proprietária das usinas de Fukushima, e a Agência de Segurança Nuclear. Isto é, houve uma combinação entre as duas empresas (a operadora e a agência) para não se seguir a regulamentação de segurança nuclear. Esta foi a principal conclusão sobre o acidente de Fukushima. Se o conluio não ocorresse, certamente a contaminação do meio ambiente seria inexistente ou bastante limitada e a população não estaria sofrendo até hoje, desalojada de sua casa e incapacitada de ganhar sua vida em atividades nas regiões próximas das usinas de Fukushima.
O acidente de Fukushima evidencia fortemente que não basta a criação da Agência de Segurança Nuclear e uma lei que garanta a independência de atuação e a transparência do processo de licenciamento. É necessário que a população fiscalize sistematicamente, através de Instituições Civis Independentes, que não tenham compromissos com os lobbies nucleares, se a Agência está desempenhando adequadamente suas funções de segurança e se a transparência do licenciamento é completa. O papel de fiscalização da atuação da Agência também deve ser exercido pelo Congresso Nacional, que através de uma comissão especializada receba e analise anualmente relatórios da Agência e submeta seus dirigentes a questionamentos. Por outro lado, o Governo Federal também deve criar mecanismos para fiscalizar se os objetivos de segurança nuclear da ASN estão sendo atingidos, livrando a instituição de corporativismos ou da influência do lobby industrial-burocrático-governamental.
Em geral, na sociedade existem dois grupos que pensam a energia nuclear. Um grupo defende as aplicações da energia nuclear fanaticamente como se a tecnologia de fronteira não oferecesse qualquer risco, apenas um progresso tecnológico para o país e um trunfo estratégico no jogo geopolítico. Este segmento em geral despreza, ignora ou acha irrelevantes as questões de segurança e ambientais e julga a sua consideração um mal necessário. Deste grupo em geral fazem parte o "stablishment” nuclear, segmentos associados como funcionários das empresas nucleares, setores industriais afins e universidades ligadas às empresas nucleares, através de contratação de serviços. Em geral, este grupo constitui um forte lobby junto ao governo, dispondo de meios financeiros diretos e indiretos para conquistar corações e mentes, desde prefeitos, dirigentes de escolas dos três graus, a mídia em geral, segmentos importantes do executivo, do legislativo e judiciário. Uma das fortes bandeiras deste grupo é "quem é contra as usinas nucleares não é nacionalista”, vai contra os interesses nacionais. Só eles são nacionalistas, mesmo que o projeto das usinas não seja feito no Brasil, como Angra 1, 2 e 3. Também utiliza da complexidade tecnológica de uma usina nuclear para desqualificar qualquer crítica de leigos, como se a população que vive no entorno das usinas precisasse ser composta de engenheiros nucleares para saber que um acidente nuclear não faz bem para a saúde. Muitas vezes a defesa cega das usinas nucleares aparenta ser na verdade a defesa da corporação e dos dirigentes das empresas, nem sempre algo sadio para a sociedade, principalmente quando desconsidera a segurança das usinas.
O segundo grupo é constituído basicamente pelos ecologistas, composto de uma gama grande de posicionamentos, mas o preponderante é de ser contra as usinas nucleares. Não sem razão. Os acidentes de Three Mile Island, Chernobyl e de Fukushima, principalmente estes dois últimos, dão fortes argumentos a este grupo. Também questiona com propriedade: Se a história da humanidade demonstra que não há instituição ou edificação que sobreviveu por 5 a 10 mil anos, como se pode garantir um armazenamento seguro do rejeito radioativo por dezenas de milhares de anos? Este grupo já teve muitas vitórias em prol do meio ambiente e terá muitas vitórias pela frente. Hoje no Brasil temos secretarias de meio ambiente em prefeituras e governos estaduais e um Ministério de Meio Ambiente, além da criação da consciência na população cada vez maior a favor da preservação do meio ambiente, resultado de lutas do movimento ecologista. Veja bem, a bandeira da preservação do meio ambiente não é apenas uma bandeira de preservação das florestas, da atmosfera, dos rios e oceanos, é uma bandeira que defende as condições para que todos os seres humanos venham a viver bem. Não se pode esquecer que a bandeira dos ecologistas é uma bandeira nacionalista, que não é um privilégio dos "escolhidos” do primeiro grupo. Inclusive o primeiro grupo propaga que os ecologistas são inimigos da Pátria, a serviço de interesses estrangeiros para impedir nosso desenvolvimento, como nas melhores teorias da conspiração. Isto tudo para desmoralizar o movimento ecologista e permitir o uso indiscriminado da energia nuclear e do meio ambiente.
Neste ambiente dos "a favor” e dos "contra”, as usinas são construídas e sempre nos termos dos "a favor”.
Infelizmente não existe um terceiro grupo, que poderia ser constituído (1) daqueles que são a favor das usinas nucleares, condicionado a que sejam projetadas e construídas de forma segura e respeitando as opiniões e os temores dos leigos; e (2) daqueles que são contra as usinas, mas enquanto não se consegue ter condições políticas de impedir novas usinas e fechar as que estão em operação, exigem transparência e que as usinas sejam seguras.
Nos dias 27 e 28 de outubro foi realizado o Seminário "Usinas Nucleares – Lições da Experiência Mundial”, patrocinado pelo senador Cristóvão Buarque, presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado Federal com apoio do arquiteto Francisco Whitaker na coordenação do evento. Participaram do seminário especialistas brasileiros, franceses, alemães, japoneses e americanos. A segurança das usinas nucleares brasileiras e a criação da Agência de Segurança Nuclear Brasileira foram destacadas pelos brasileiros, reabrindo a discussão muito necessária do anteprojeto de lei da Agência preparado a portas fechadas pelo Governo Federal.
É importante que a comunidade científica, ecologistas, as populações que vivem no entorno das usinas de Angra e das instalações nucleares do ciclo do combustível, profissionais de segurança nuclear e a sociedade brasileira como um todo participe do debate e da elaboração de um projeto de lei que contemple a independência da Agência e impeça a sua captura pelo lobby nuclear e pela operadora das usinas nucleares, tal como ocorreu no Japão pré-Fukushima.
* As opiniões do autor não são necessariamente refletem as posições da Comissão Nacional de Energia Nuclear.
** A equipe do Jornal da Ciência esclarece que o conteúdo e opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do jornal.
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- 26/10/2015 - EBE busca parceiros para montar Angra 3Fonte: Diário de Notícias
A Empresa Brasileira de Engenharia (EBE) está em busca de novos parceiros para tocar o contrato de montagem eletromecânica da Usina Nuclear Angra 3. A lista inclui empresas chinesas, americanas, russas e empreiteiras brasileiras.A obra hoje está a cargo do consórcio Angramon, formado pela própria EBE e outros seis grupos: UTC, Odebrecht, Camargo Corrêa, Techint, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez. O Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, apurou que o Angramon já comunicou a desistência do contrato à Eletronuclear.
O presidente da EBE, Paulo Massa, não confirma que um pedido oficial de rescisão tenha sido enviado à estatal na semana passada. Ele admite, entretanto, que pretende manter o contrato mesmo que suas sócias desistam do negócio e que já iniciou conversas com investidores.
A meta da EBE é ter uma proposta alternativa na manga em um prazo de 20 a 30 dias. O temor é que a estatal decida relicitar o contrato. "Se zerar tudo e relicitar, vai jogar a obra para 2023", disse.
A licitação do contrato de montagem eletromecânica foi iniciada em 2009, mas só saiu do papel em 2013. As obras começaram em setembro de 2014. Serão investidos R$ 2,9 bilhões, segundo o site da Eletronuclear.
A obra eletromecânica de Angra 3 representa cerca de 30% da carteira do grupo MPE, em que se insere a EBE. Com o setor de óleo e gás e infraestrutura parado, o contrato ganha importância para a EBE.
Em setembro, a Eletronuclear suspendeu por 60 dias o contrato com o Angramon para Angra 3, depois que Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Techint pediram afastamento da obra. Neste mês, a UTC saiu.
A Eletronuclear busca uma solução para financiar a obra de Angra 3. A empresa informou que vai recorrer da proposta feita pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para o reajuste das tarifas de Angra 1 e 2 a partir de 2016, que ficou abaixo dos 28,3% pedidos pela empresa.
Os recursos seriam destinados ao pagamento da contrapartida a um empréstimo de R$ 6,1 bilhões com o BNDES, aguardado desde 2010 para financiar Angra 3. A Eletronuclear também negocia aditivo com a Caixa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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- 23/10/2015 - Urânio em poço de Lagoa Real tem origem natural, mostra INBFonte: Setorenergetico.comAtividades da empresa na região contam com licenciamento ambiental pelo IBAMA e licenciamento nuclear pela CNEN.
As Indústrias Nucleares do Brasil – INB, a Secretaria de Meio Ambiente da Bahia e até mesmo o representante do Movimento Paulo Jackson afirmaram durante audiência realizada essa semana pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados, em Brasília, que a presença de urânio na água do poço situado na propriedade de Osvaldo Antônio de Jesus, em Lagoa Real, na Bahia, é natural e não foi causada pelas atividades da empresa.
O representante da INB, Pedro Luís dos Santos Dias, esclareceu durante a audiência que os exames foram feitos a pedido de Osvaldo, e que o poço não está na área de influência da unidade da INB: "Com a análise que nós fizemos podemos afirmar que a ocorrência é natural”.
Dias explicou como são as atividades da empresa na região, que possui licenciamento ambiental concedido pelo IBAMA e licenciamento nuclear, pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). "Para mantermos essas licenças e autorizações é necessário cumprir programas como monitoramento ambiental, recuperação de áreas degradadas, gerenciamento de resíduos sólidos e medidas relacionadas à atmosfera”, explicou.
O secretário de Meio Ambiente do Estado da Bahia, Eugênio Spengler, enfatizou que todas as condicionantes e normas de licenciamento ambiental são cumpridas pela INB. "Os resíduos de urânio encontrados no poço não são fruto de ação da indústria. Os resíduos encontrados são da natureza”, declarou, lembrando que a região é uma província uranífera: "O urânio está lá, está naquele solo, naquela rocha, é natural que ocorra a presença de urânio na água”.
O coordenador geral de Mineração do IBAMA, Jonatas Trindade, disse que de acordo com as análises feitas pelo órgão não existem, até o momento, elementos que indiquem o descumprimento de condicionante da licença de operação da unidade da empresa em Caetité. Sobre a área de influência da unidade de mineração ele esclareceu: "A área de influência do empreendimento para o meio físico, considerando as bacias hidrográficas, chega a um raio de dez quilômetros, conforme estudo ambiental”, acrescentando que a distância entre o poço e a unidade de mineração é de 16 km em linha reta”. O coordenador do IBAMA sugeriu ainda que a INB tenha uma comunicação com a comunidade "mais formalizada, porque a falta de formalidade gera um problema sério de ‘disse-não-disse’”.
O dirigente sindical Lucas Mendonça dos Santos, que representou a ONG Movimento Paulo Jackson na audiência, também afirmou acreditar que as atividades da INB não são responsáveis pela presença de urânio no poço de Osvaldo. "A INB já mostrou que são bacias diferentes, então dificilmente a atividade da empresa terá contaminado esse poço específico”, disse. Mas ele colocou em dúvida a atuação do IBAMA e citou um relatório de um laboratório independente francês, Criirad, que teria apontado, segundo Lucas, que o "monitoramento ambiental é totalmente inconclusivo e precário”.
Sobre este assunto, Pedro Luís foi categórico: "Na INB, nós prezamos pelos órgãos devidamente constituídos. O relatório do Criirad, pelo parecer que temos conhecimento, este sim foi um relatório preliminar, inconclusivo e inconsistente. Nós temos que prezar o que é devidamente constituído”, finalizou.
"O que eu tenho para registrar é que o trabalho do IBAMA é sério e que ele analisa e acompanha a Unidade de Concentrado de Urânio da INB em Caetité”, afirmou o coordenador geral de Mineração do IBAMA, Jonatas Trindade.
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- 21/10/2015 - INB é acusada de omitir dados em mineração de urânio na BahiaFonte: MIX 96 FM
Agência Estado
As Indústrias Nucleares do Brasil (INB), estatal responsável pela exploração de urânio na Bahia, foi acusada de omitir informações do governo e de órgãos de controle. Em audiência da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, o secretário de Meio Ambiente da Bahia, Eugênio Spengler, disse que até mesmo seu governo não tem acesso a dados da empresa. "O que o Estado se ressente muito é que, às vezes, a informação que nós mesmos pedimos à INB não vêm a contento.”
A falta de transparência também foi apontada pelo coordenador geral de transporte, mineração e obras civis do Ibama, Jônatas Trindade. Tanto o Ibama quanto o governo da Bahia só tomaram conhecimento da contaminação de urânio em Lagoa Real a partir da reportagem do jornal O Estado de S. Paulo no dia 22 de agosto. Ao comentar o caso, Trindade disse que a empresa não tem uma comunicação devidamente formalizada e "essa falta de formalidade gera um problema sério de ‘disse, não me disse’ para o órgão licenciador”.
O problema foi endossado pelo funcionário da INB Lucas Mendonça dos Santos, que trabalha na empresa há 13 anos. Secretário-geral do Sindicato dos Mineradores de Brumado e Microrregião e representante da Comissão Paroquial do Meio Ambiente em Caetité, Santos lembrou que a INB omitiu por sete meses a informação sobre a contaminação de um poço de Lagoa Real. O deputado Sarney Filho (PV/MA) disse que vai cobrar novos esclarecimento da INB, que nega acusações. "O que ficou claro é que nós precisamos de maior transparência nas ações. A energia nuclear é tratada como um clube secreto, em que as coisas não são muito transparentes”, comentou.
"Hoje o que está transparente na questão da energia por urânio são os riscos, com os desastres que temos vistos, como o ocorrido no Japão. Uma coisa ficou patente: há falhas no monitoramento dessa região. É preciso que haja um esforço conjunto dos governos municipal, estadual e da União para que, sistematicamente, seja feito esse monitoramento. Vamos fazer uma avaliação de tudo que foi dito. Novos esclarecimentos seguramente serão pedidos”, declarou.
O gerente de beneficiamento da unidade de Caetité, Pedro Luiz dos Santos Dias, reafirmou que o poço contaminado em Lagoa Real está fora da área de influência da empresa e que, por isso, a INB não tinha obrigação de inspecionar sua água, o que fez apenas como um favor, a pedido do dono do poço.
Dias também disse que a empresa respeita o que determina a legislação do setor e que a presença de alto teor de urânio na água é natural, porque se trata de uma região com forte presença do metal pesado. "São ocorrências naturais, não tendo relação com as atividades da INB em Caetité”, disse. (André Borges)
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- 21/10/2015 - Causa de contaminação água por urânio na Bahia tem que ser analisada, diz IbamaFonte: M.Notícias.NE10.UOLDo Estadão Conteúdo
As declarações feitas pelo governo baiano e pela estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) de que a contaminação da água por urânio no interior da Bahia decorre da presença natural do minério na região não são suficientes para comprovar o que, de fato, levou à presença do material na água. Em audiência pública realizada na terça-feira, 20, pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara, o coordenador geral de Transporte, Mineração e Obras Civis do Ibama, Jônatas Souza da Trindade, disse que ainda não foi possível ter um parecer conclusivo sobre o assunto, em razão das poucas informações enviadas pela INB em relação às águas subterrâneas da região de Lagoa Real e Caetité, no sudoeste baiano.
"O parecer indicou necessidade de informação mais aprofundada de dados geológicos, geoquímicos e hidrogeológicos da região", afirmou Trindade. "O Ibama consegue informar que, sobre a água superficial, realmente a unidade se encontra em uma bacia hidrográfica diferente. Mas precisa dessa confirmação sobre as águas profundas."
No dia 22 de agosto, relatou Trindade, quando o Ibama teve conhecimento sobre um poço contaminado com alto teor de urânio na zona rural de Lagoa Real, a partir de denúncia publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, foi encaminhada uma autuação à INB para que prestasse esclarecimentos. As respostas foram dadas quatro dias depois.
No dia 10 de setembro, o Ibama finalizou sua análise técnica em relação à INB. Explicações complementares sobre o caso também foram enviadas pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). "No dia 17 de setembro, o Ibama encaminhou um parecer para conhecimento e providências da CNEN. O ofício informa que a INB deveria tomar providências no sentido de apresentar um relatório mais robusto a cerca da situação", disse Trindade.
O relatório enviado pela estatal, comentou o representante do Ibama, apresenta algumas informações - como a presença da anomalia (jazida de urânio) 7 na região - para indicar que há presença natural de urânio. "Mas, como não apresentou um dado geoquímico, uma apresentação mais técnica, nosso parecer indicou que deveria ser apresentada essa informação, para confirmar se ou não vínculo da contaminação com as atividades da empresa."
O poço contaminado está localizado a 15,8 km do local de exploração de urânio, segundo o Ibama. A INB alega ainda que a comunidade Varginha, onde fica poço contaminado, está localizada numa sub-bacia hidrográfica (Sub-Bacia do Rio São Pedro) diferente daquela onde se situa a unidade da empresa (Sub-Bacia do Riacho das Vacas), o que, segundo a empresa, significa que suas atividades não têm influência sobre a contaminação.
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- 21/10/2015 - Trabalhadores nucleares têm risco aumentado de câncer mesmo a baixas doses de radiação, diz estudoFonte: Diário de Pernambuco
Paris (AFP) - A exposição prolongada a fracas doses de radiação ionizante aumenta o risco de cânceres, segundo estudo internacional realizado com mais de 300.000 trabalhadores do setor nuclear na França, na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos.
Os resultados "oferecem provas diretas sobre os riscos dos cânceres ligados às exposições prolongadas a fracas doses de radiações ionizantes", comentou a agência do câncer da Organização Mundial de Saúde (CIRC/IARC), em comunicado publicado nesta quarta-feira no British Medical Journal (BMJ).
"Este estudo demonstra uma associação significativa entre uma dose crescente de radiação e o risco de todos os cânceres sólidos", ou seja, os cânceres que afetam os órgãos, excluindo os cânceres do sangue, explicou Ausrele Kesminiene, pesquisadora do CIRC e co-autora do estudo.
No grupo de trabalhadores do setor nuclear estudado, de cada 100 mortes observadas por câncer (além da leucemia), uma morte pode ser atribuída à exposição a radiações no ambiente de trabalho, segundo o CIRC.
O estudo avaliou as exposição de mais de 300.000 trabalhadores do setor nuclear (com média de idade de 58 anos) na França, Reino Unido e nos Estados Unidos entre 1943 e 2005.
"Os resultados são importantes não apenas pela proteção dos trabalhadores da indústria nuclear, mas também para os profissionais de saúde e o público em geral", afirma Isabelle Thierry-Chef, do CIRC, também co-autora do estudo, citada no comunicado.
"O nível de doses recebida pelos trabalhadores do setor nuclear é comparável ao recebido pelos pacientes" que teriam passado diversas vezes por alguns exames médicos de imagem ou intervenções guiadas pela radiologia, informou Thierry-Chef. "Isso mostra a importância de encontrar um equilíbrio entre os riscos e as vantagens destes procedimentos de imagem".
Para o médico Christopher Wild, diretor do CIRC, "muitas questões estão envolvidas no que diz respeito ao impacto das radiações sobre a saúde". Continuar o monitoramento deste grupo de 300.000 pessoas terá um papel chave para compreender melhor a relação entre o câncer e as radiações, ressaltou.
Mesmo que, excluídos os cânceres do pulmão e da pleura, com resultados similares, os pesquisadores não puderam descartar totalmente que o tabagismo e o amianto tenham tido uma influência sobre os resultados, apontou Kesminiene. -
- 20/10/2015 - Subutilização da medicina nuclear no Brasil preocupa especialistasFonte: Rede PressO panorama atual e desafios à expansão da medicina nuclear no Brasil; a fragilidade enfrentada no que cabe à produção e distribuição de radiofármacos no Brasil – ainda totalmente dependente da importação de matéria-prima; o acesso deficitário a procedimentos diagnósticos e terapêuticos via saúde pública e suplementar; bem como os desafios para o ensino e pesquisa da especialidade, são os principais aspectos a serem debatidos na sessão "Perspectivas da Medicina Nuclear no Brasil”.
A atividade é destaque na programação do segundo dia do XXIX Congresso Brasileiro de Medicina Nuclear, encontro que acontece de 23 a 25 de outubro, no Rio de Janeiro. A mesa reunirá representantes da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), entidade organizadora do evento, da Gerência-Geral de Produtos Biológicos, Sangue, Tecidos, Células e Órgãos (GGPBS) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa); da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN); e da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) – que trará uma ampla abordagem das oportunidades e desafios do uso pacífico da energia nuclear empreendido no campo da saúde por meio da medicina nuclear.
De acordo com o presidente da SBMN e do Congresso, Claudio Tinoco Mesquita, a especialidade vivencia um momento de rápidas transformações, tanto no campo educacional, quanto científico e na prática clínica, seja ela diagnóstica ou terapêutica. Segundo Tinoco, este cenário derivou o mote do encontro, intitulado: Medicina Nuclear em Movimento. "A medicina nuclear mudou a história de várias doenças, mas ainda é subutilizada no Brasil. Nossa especialidade tem crescido e precisamos unir esforços neste sentido, sobretudo, por meio do estímulo à produção científica multicêntrica no País e ampliação do acesso à especialidade via saúde pública”, relatou Tinoco.
Embora ainda pouco conhecida entre a população e até mesmo entre seus pares médicos, a especialidade atua no campo diagnóstico e terapêutico em diversas áreas como cardiologia, oncologia, hematologia e neurologia, por exemplo. Por serem menos invasivos e capazes de detectar alterações funcionais decorrentes de algumas doenças antes que outros métodos de imagem sejam capazes de realizá-lo, os procedimentos em medicina nuclear são extremamente úteis. Além disso, são indicados em todas as faixas etárias, desde a primeira infância, a adolescentes, adultos e idosos, sem representar riscos à saúde. Seu mecanismo consiste em utilizar quantidades mínimas de substâncias radioativas (radiofármacos) como ferramenta para acessar o funcionamento dos órgãos e tecidos vivos, realizando imagens, diagnósticos e, também, tratamento.
Com 430 serviços de medicina nuclear no Brasil, entre clínicas, hospitais e centros de pesquisa, nos últimos 20 anos – desde 1995 – mais de 30 milhões de procedimentos foram realizados no Brasil. Entretanto, mesmo frente a esta evolução que vem sendo alcançada nos últimos anos, a medicina nuclear ainda é notoriamente subutilizada pela população brasileira, em especial pelos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).
No que cabe ao potencial de uso o Brasil ainda ocupa a 25ª posição de um ranking de quantidade de exames realizados por ano. Como comparativo, o Canadá executa 64,6 exames por mil habitantes/ano, o Brasil realiza apenas 2,5. Isso demonstra claramente a necessidade de se difundir a especialidade no País.
A maior parcela (82%) dos procedimentos ambulatoriais de medicina nuclear diagnóstica realizados pelo SUS são feitos na esfera privada, que precisa manter a sua sustentabilidade financeira. Ao SUS são fornecidos 23 radiofármacos, enquanto no Brasil há aproximadamente 40 radiofármacos.
"É preciso dobrar o número de serviços para 800 e de médicos nucleares, também – alcançando 1.400 especialistas, para assim atingir o padrão internacional mínimo”, analise o presidente da SBMN. Um maior investimento no desenvolvimento e produção de radiofármacos no Brasil. Desenvolver novos radiofármacos e alcançar soberania na área de pesquisa e desenvolvimento são outros pontos a serem alcançados, visto que somos dependentes de insumos importados – os radiofármacos. Precisamos deles assim como é necessário o combustível para o carro andar.
"É lamentável que a medicina nuclear ainda não se apresente adequadamente empregada. Se nada for feito para aumentar e for esperado um aumento "natural” da capacidade de seu potencial de atendimento aos usuários da saúde pública, levará aproximadamente 54 anos para que chegue ao valor de hoje alcançado na esfera privada no país”, analisa Mesquita.
Serviço
XXIX Congresso Brasileiro de Medicina Nuclear
Data: 23 a 25 de outubro
Local: Centro de Convenções do Hotel Royal Tulip – Rio de Janeiro (RJ)
Organização: Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN)
Programação: www.sbmn.org.br/congresso/programacao.htmlPré-Congresso – I Fórum Educacional Práticas da Medicina Nuclear na Saúde
Data: 22 de outubro
Horário: 13h às 17h
Atividade gratuita e aberta a todos
Local: Centro de Convenções do Hotel Royal Tulip – Rio de Janeiro (RJ)
Informações: www.sbmn.org.br/congresso/forum-dos-pacientes.php -
- 19/10/2015 - Diretor da Eletronuclear discute novos negócios na área de energia e controle de ameaças nucleares em eventos no Rio de JaneiroFonte: Site da ABEN
O diretor de Planejamento, Gestão e Meio Ambiente da Eletronuclear, Leonam dos Santos Guimarães, discutirá os aspectos financeiros e estratégicos que envolvem o desenvolvimento nuclear durante sua participação no Congresso Brasileiro de Energia e na Semana de Defesa, que acontecem no Rio de Janeiro, de terça (20/10) a quinta-feira (22/10).
Nesta quarta (21), o diretor da Eletronuclear marca presença, às 11h, no debate O futuro de novos negócios em energia no Brasil, que faz parte da programação do XVI Congresso Brasileiro de Energia (www.congressoenergia.com.br), realizado no Centro de Convenções da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan - Av. Graça Aranha, nº1, Centro). O tema desse ano é A Otimização da Produção e do Uso da Energia.
Também na quarta, às 16h, Leonam apresenta a palestra As ameaças nucleares da atualidade e os impactos para a Defesa do Brasil, durante a V Semana de Defesa e Gestão Estratégica Internacional (www.semanadefesa.com.br). O evento acontece na Universidade Federal do Rio Janeiro (UFRJ - Auditório do Bloco A do Centro de Tecnologia) e traz como tema A nova agenda de segurança internacional: o panorama brasileiro.
Sobre a Eletronuclear
Subsidiária da Eletrobras, a Eletronuclear é a responsável por operar e construir as usinas termonucleares do país. Conta com duas unidades em operação na Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), com potência total de 1.990 MW. Hoje, a geração nuclear corresponde a aproximadamente 3% da eletricidade produzida no país e o equivalente a um terço do consumo do Estado do Rio de Janeiro. Angra 3, que está em construção, será a terceira usina da central. Quando entrar em operação comercial, em 2018, a unidade (1.405 MW) será capaz de gerar mais de 10 milhões de MWh por ano – energia limpa, segura e suficiente para abastecer as cidades de Brasília e Belo Horizonte durante o mesmo período.
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- 14/10/2015 - Radioterapia demoradaFonte: O Diário
Já dura quatro anos a promessa feita pelo Governo do Estado de São Paulo de dotar o Hospital Luzia de Pinho Melo de um completo atendimento para os pacientes de câncer de Mogi das Cruzes e Região, anteriormente atendidos por uma unidade hospitalar particular, que acabou fechada sob suspeitas de irregularidades.
Passado todo esse tempo, a Secretaria de Estado da Saúde bem que tentou, com medidas paliativas, mas não conseguiu resolver totalmente o problema de mais de 20% dos portadores de câncer com necessidade de radioterapia, que continuam sendo obrigados a cansativas viagens para a Capital em busca do atendimento que a Cidade não lhes oferece.
Segundo informações oficiais divulgadas por este jornal em sua edição de domingo, pouco mais de 50% das obras do Centro Oncológico do Hospital Luzia foram executadas até agora.
Um percentual anêmico para um governo que prometia a restabelecimento de todo o serviço aos portadores de câncer dentro de, no máximo, um ano. O contrato da obra, no valor de R$ 15,9 milhões, foi prorrogado até março do próximo ano, em razão da demora na aprovação do projeto da Radioterapia pela Comissão Nacional de Energia Nuclear, ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. A avaliação da CNEN se deve ao fato de o equipamento envolver a utilização de material radioativo para a realização dos exames.
O deputado estadual Luiz Carlos Gondim Teixeira, que é médico e desde o princípio duvidou dos prazos estipulados para a obra, é cético quanto à desculpa. "Colocar a culpa da demora numa licença é algo muito frágil. O Governo deveria ter se mobilizado antes para evitar tamanho atraso”, disse ele, em entrevista a este jornal.
O mesmo parlamentar – que integra a base de sustentação do atual governo na Assembleia – diz também que "faltou ‘pegada’ e vontade para resolver uma questão tão séria como esta”.
Os erros de cálculo do setor de Saúde da atual administração em relação à obra do Luzia só não produzem resultados ainda mais desastrosos porque o próprio governo foi buscar uma saída um tanto inusitada para o caso. Depois de praticamente desativar o Hospital do Câncer Dr. Flávio Isaías Rodrigues sob alegação de irregularidades, o Estado recontratou indiretamente os serviços da instituição, usando para isso o Instituto do Câncer Dr. Arnaldo Vieira de Carvalho, que fez uma parceria com o centro hospitalar mogiano para utilizar sua estrutura de radioterapia.
Em meio a promessas não cumpridas, improvisos e justificativas, sobram os pacientes que continuam enfrentando dificuldades para serem atendidos e precisando se deslocar até São Paulo em busca de tratamento. Justamente aqueles que são portadores dos casos mais graves e raros de câncer.
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- 07/10/2015 - Nobel de Física premia pesquisas que evidenciaram a massa do neutrinoDescobertas do japonês Takaaki Kajita e do canadense Arthur McDonald provocaram revisão da física de partículas, da descrição dos processos estelares e da cosmologia
Descobertas do japonês Takaaki Kajita e do canadense Arthur McDonald provocaram revisão da física de partículas, da descrição dos processos estelares e da cosmologia
Fonte: Agência Fapesp
José Tadeu Arantes
| Duas décadas depois da descoberta das oscilações dos neutrinos, que mostrou que essas partículas possuem massa, os dois principais responsáveis pela façanha, o japonês Takaaki Kajita, da Super-Kamiokande Collaboration, da Universidade de Tóquio, e o canadense Arthur McDonald, da Sudbury Neutrino Observatory Collaboration da Queen’s University, foram contemplados com o prêmio Nobel de Física de 2015. O anúncio oficial da premiação ocorreu em 6 de outubro.
Em dois experimentos independentes, Kajita e McDonald demonstraram que os neutrinos podem mudar de identidade – ou de "sabor”, conforme o jargão da física de partículas. Isto é, um tipo de neutrino pode se transformar em outro. E, para que tal mudança ocorra, é preciso que a partícula tenha massa. O chamado Modelo Padrão da Física de Partículas considerava até então que o neutrino não possuía massa.
A importância da descoberta para o avanço do conhecimento é enorme, porque, depois do fóton (a partícula da interação eletromagnética), o neutrino é o objeto mais abundante do Universo, descontada a matéria escura (da qual quase nada se sabe).
Além disso, diferentemente do fóton, o neutrino quase não interage com a matéria. Por isso a Terra recebe e é atravessada regularmente por trilhões de neutrinos sem que percebamos: neutrinos que foram produzidos nos primeiros tempos do Universo; neutrinos provenientes de fontes extragalácticas; neutrinos gerados no interior das estrelas, entre elas, o Sol; e neutrinos resultantes do choque de raios cósmicos com a atmosfera terrestre.
"Os neutrinos têm, por assim dizer, o dom da ubiquidade. E são os mensageiros dos confins do espaço e dos primórdios do tempo, fornecendo informações preciosas sobre a estrutura do Universo. Graças à descoberta das oscilações por Kajita e McDonald, o estudo dos neutrinos é hoje um dos ramos mais dinâmicos da Física, mobilizando pesquisadores que trabalham com partículas e com Cosmologia, com o micro e o macro”, disse à Renata Zukanovich Funchal, professora titular do Departamento de Física Matemática do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), àAgência FAPESP.
Especializada no estudo da fenomenologia de oscilações de neutrinos, Funchal participa do Projeto Temático "Fenomenologia de física de partículas”, apoiado pela FAPESP. E coordena a participação brasileira no projeto europeu "Invisibles – Neutrinos, Dark Matter and Dark Energy Physics”, do qual Kajita também participa como coordenador da equipe japonesa.
A primeira partícula da física
Para avaliar o alcance da descoberta que resultou agora no Nobel, é preciso recuar várias décadas. O neutrino foi a primeira partícula da Física que teve sua existência postulada teoricamente, muito antes da descoberta experimental. Tal postulação foi feita pelo austríaco Wolfgang Pauli (1900-1958) em 1930, para explicar a conservação da energia durante o evento nuclear conhecido como "decaimento beta”.
No decaimento beta, o núcleo atômico, que não tem elétrons, emite um elétron. Sabe-se hoje que isso resulta da transmutação de um nêutron em um próton, com a liberação do elétron. Mas, para que a energia final do processo seja igual à energia inicial, como exige a lei da conservação da energia, é preciso que o núcleo emita também outro tipo de partícula além do elétron.
Essa partícula extra proposta por Pauli, que parecia um simples artifício, foi inicialmente encarada com ceticismo pela comunidade científica. Mas o italiano Enrico Fermi (1901-1954) a levou a sério. E, em 1932, atribuiu-lhe o nome de neutrino, que significa "pequeno nêutron” em italiano. O brasileiro Mário Schenberg (1914-1990), que trabalhou com Fermi na juventude, foi um dos primeiros a utilizar operacionalmente tal ideia, por meio da qual fechou o balanço energético da explosão das estrelas supernovas.
A existência do neutrino foi finalmente confirmada em um experimento conduzido pelos norte-americanos Clyde Cowan e Frederick Reines em 1956. Em 1995, essa descoberta experimental foi contemplada com o Prêmio Nobel, que Reines recebeu, em seu nome e no de Cowan, falecido em 1974.
"No Modelo Padrão, o neutrino faz parte da família dos léptons. Para cada lépton eletricamente carregado (o elétron, o múon e o tau), existe um neutrino correspondente. Portanto, existem três neutrinos: o do elétron, o do múon e o do tau”, informou Funchal. "Inicialmente, conhecia-se somente o neutrino do elétron. O neutrino do múon foi descoberto em 1962 e o neutrino do tau apenas em 2000."
Mudança de "sabor”
A hipótese da oscilação, isto é, da mudança de "sabor” por meio da qual um neutrino se transforma em outro foi a resposta encontrada para uma grave anomalia que se tornou conhecida com o desenvolvimento dos processos experimentais. Essa anomalia foi constatada já no final da década de 1960, em um experimento realizado na mina de Homestake, nos Estados Unidos. Destinado a detectar e contar os neutrinos do elétron provenientes do Sol recebidos no local, o experimento mostrou que esse número era apenas um terço do esperado. Era como se os neutrinos solares estivessem desaparecendo.
"Na verdade, o ocorrido foi uma mudança de sabor. Mas isso não se sabia na época. O neutrino e suas propriedades foram sendo descobertos aos poucos. Apesar de extremamente abundantes, e de estarem presentes por toda parte desde o início do universo, ignoramos por muito tempo sua existência. Os neutrinos estão para a física de partículas assim como os micróbios para a medicina. Durante milênios interagimos com os micróbios sem saber que eles existiam”, comentou Funchal.
Foi essa anomalia entre o número de neutrinos esperado e o número de neutrinos contabilizado que motivou, nos anos 1990, o experimento Super-Kamiokande, coordenado por Kajita. Esse experimento, realizado em um detector gigantesco, com 50 mil toneladas de água, foi desenhado para medir neutrinos solares (resultantes nos processos de fusão nuclear que ocorrem no núcleo do Sol) e também neutrinos atmosféricos (resultantes do choque dos raios cósmicos com as partículas existentes na atmosfera terrestre).
"O extraordinário no experimento do Super-Kamiokande é que ele tem direcionalidade. O detector é capaz de medir neutrinos a partir da direção da qual provêm, desde os neutrinos vindos da posição acima do detector até os neutrinos vindos do outro lado da Terra”, afirmou Funchal.
"A grande surpresa foi descobrir que o número de neutrinos variava com a direção. Isso também podia ser interpretado como uma dependência em relação à distância. Porque os neutrinos atmosféricos que vêm de cima do detector têm que percorrer cerca de 15 quilômetros (que é a altitude na qual os raios cósmicos interagem com a atmosfera) enquanto que os neutrinos provenientes do outro lado da Terra têm que percorrer 15 quilômetros mais 12 mil quilômetros (que é o tamanho do diâmetro da Terra)”.
A descoberta feita pelos japoneses podia ser muito bem explicada pela oscilação do neutrino do múon em um outro tipo de neutrino, na época ainda não observado: o neutrino do tau. Esse resultado foi apresentado por Kajita em uma conferência realizada no Japão em 1998. "Ele não apenas chefiou o experimento como fez a análise dos resultados obtidos”, relatou a pesquisadora.
Depois disso, foi realizado o experimento do McDonald para explicar a anomalia descoberta em Homestake, no final da década de 1960, na contagem dos neutrinos solares. "Este novo experimento foi realizado na mina de Sudbury, no Canadá, que, aliás, pertence atualmente à empresa Vale do Rio Doce. Ele foi concebido especialmente para medir neutrinos solares. E observou a transformação de neutrinos do elétron (os únicos produzidos nas reações de fusão nuclear do Sol) em neutrinos do múon e neutrinos do tau”, detalhou Funchal.
A primeira implicação dessas duas descobertas, a do Super-Kamiokande e a de Sudbury, é que o neutrino tem massa. Uma massa extremamente pequena e que ainda não se sabe quanto vale, mas que existe. A segunda implicação é que se trata de um fenômeno quântico, da escala subatômica, que está sendo observado a partir de efeitos macroscópicos, por meio de detectores enormes.
"Além disso, como o neutrino têm o dom da ubiquidade e é produzido pelos mais variados processos, as descobertas de Kajita e McDonald provocaram um enorme interesse pelos neutrinos e uma reavaliação de tudo o que se sabia sobre o papel deles na física de partículas, nos processos estelares, na evolução do universo etc. Todas essas teorias foram revisitadas desde então. Ainda não podemos prever consequências tecnológicas. Mas nada impede que isso possa ocorrer no futuro”, concluiu Funchal.