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Propina atingiu projeto de submarino nuclear no Brasil, revelam delações

Ex-presidente da Eletronuclear e PT teriam recebido pagamento. Delatores negam participação de oficiais da Marinha no esquema.

Fonte: Jornal Nacional 
   

Delatores da Odebrecht revelaram um esquema de pagamento de propina na construção do submarino nuclear brasileiro, mas negaram que tenha havido participação de oficiais da Marinha. Segundo as delações, houve pagamentos para o ex-presidente da Eletronuclear e para o PT.

O submarino será construído numa fábrica em Itaguaí, região metropolitana do Rio.

O delator Benedicto Júnior disse aos procuradores que a empresa francesa DCNS, escolhida para executar o projeto, procurou a Odebrecht para uma parceria. Mas, para firmar o acordo, exigiu pagamentos ilegais ao lobista José Amaro Ramos, que ficaria responsável por distribuir o dinheiro a outros participantes do esquema.

Benedicto Júnior: Quando da assinatura do nosso consórcio, fui a uma reunião em Paris para a assinatura. E um dos executivos da DCNS, na presença do doutor José Amaro Ramos disse: "Está tudo tranquilo, está tudo bem, mas eu preciso que o senhor faça um contrato e comece a pagar alguns recursos ao José Amaro Ramos. Essa era a condição para que essa parceria evolua”. A verdade é que eu fiz, autorizei pagamentos de quase 40 milhões de euros para esse agente.

Outro executivo da Odebrecht, Luiz Eduardo Soares, disse que parte do dinheiro repassada a José Amaro Ramos era destinada a um militar reformado da Marinha, identificado como almirante Braga.

Luiz Eduardo Soares: Almirante Braga é um ex-almirante reformado. Ele recebia esse dinheiro porque, segundo eles, toda a concepção do submarino nuclear saiu da cabeça deles lá na década de 70 e eles tinham esse acordo com o Amaro Ramos que, quando saísse esse negócio, eles queriam receber por isso.

O Jorna Nacional entrevistou nesta terça-feira (18) o almirante Max Rosé Hirschfled. Há quatro anos ele é o coordenador-geral do programa de submarino nuclear. O almirante se mostrou surpreso e garantiu que não existe um almirante de nome Braga nem na ativa nem na reserva.

Repórter: Quem é esse almirante Braga?

Hirschfled: Esse almirante Braga inexiste.

Repórter: Não existe?

Hirschfled: Não existe esse almirante Braga.

Na mesma delação, Luiz Eduardo Soares diz que não houve participação de oficiais da Marinha.

Procurador: Sobre esse tema do submarino, teve outros pagamentos para o pessoal da Marinha, Defesa?

Luiz Eduardo: Não, tudo era centralizado no Amaro Ramos.

Benedicto Júnior também confirma que não houve participação de oficiais da Marinha. Disse isso em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral, em março, ao qual o Jornal Nacional teve acesso.

O documento diz que "não houve benefício por parte da Marinha, que a Marinha estava totalmente isenta”.

Na delação da Odebrecht, Benedicto Júnior afirmou que pagou propina ao ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz da Silva Pinheiro para receber assessoria técnica.

Benedicto: Ele trouxe uma conta inicialmente no exterior e fizemos pagamentos em dinheiro que meu executivo entregou na casa dele pessoalmente.

Marcelo Odebrecht afirmou que parte do dinheiro foi desviada para o PT, depois de uma negociação com o ex-ministro Antonio Palocci.

Mas segundo Benedicto Júnior foi o então tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, que fez a cobrança.

Benedicto: A gente recebeu um adiantamento de R$ 650 milhões. Nesse momento que o dinheiro entrou no nosso caixa eu fui procurado pelo doutor João Vaccari. Ele com a informação de que eu tinha recebido um valor expressivo. E ele disse que eu deveria fazer pagamentos por conta do submarino. Eu disse a ele: doutor João, veja, nós nunca conversamos sobre esse assunto. Nós temos uma agenda de contribuições ao partido, o senhor tem uma agenda com a Petrobras e os executivos, mas nós nunca conversamos sobre o submarino.

Benedicto Júnior disse que decidiu não fazer o pagamento e avisou a Marcelo Odebrecht, que acabou fechando um novo acordo com Antonio Palocci.

Marcelo Odebrecht: E eu falei para o Palocci: "Houve esse pedido, não tem nenhum cabimento. Olha, eu acertei com você o valor global, não vou ficar acertando valor por projeto”. E o Palocci, nesse sentido, de alguma maneira, passou a mensagem para Vaccari e o assunto foi resolvido. Ou seja, o Palocci para apaziguar o Vaccari aceitou que eu abatesse da conta dele um valor que foi de R$ 6,5 milhões e parece que depois foi para R$ 17 milhões.

Submarino nuclear é vital

Desde os anos 70 do século passado, a Marinha brasileira sonha em entrar para o exclusivo clube dos cinco países do mundo que constroem submarinos nucleares. Até agora, o projeto já consumiu R$ 14 bilhões. A previsão é que chegue aos R$ 31 bilhões.

Segundo especialistas em defesa nacional, a construção do submarino nuclear é vital para o Brasil. A Marinha viu com indignação os fatos delatados pelos executivos da Odebrecht.

O almirante Hirschfled disse desconhecer qualquer pagamento de propina.

Repórter: O senhor acredita que essa denúncia de corrupção vai manchar a imagem do submarino nuclear brasileiro?

Hirschfled: Como a Marinha declarou, ela não tem conhecimento de irregularidades no Prosub.

Repórter: O senhor nunca teve conhecimento que a Odebrecht fizesse pagamentos irregulares ilegais aqui?

Hirschfled: Não, não tenho. Aqui dentro? Não tenho. Não tenho, lhe digo isso com tranquilidade.

Respostas

A defesa de José Amaro Ramos declarou que ele atuou de forma absolutamente legal e que recebeu 17 milhões de euros por serviços de consultoria, e não 40 milhões de propina, como afirmou o delator.

O advogado do ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz da Silva Pinheiro disse que não houve propina, e sim pagamentos em razão de conhecimento científico.

A defesa de João Vaccari Neto afirmou que ele jamais pediu ou recebeu pagamentos ilícitos.

O JN não teve resposta do ex-ministro Antonio Palocci nem da empresa francesa DCNS.

O PT não quis se posicionar sobre o assunto.

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