Ex-executivos da Eletronuclear receberam pagamentos, diz delator
A Odebrecht prestava serviço para o consórcio formado pela americana Westinghouse e a espanhola Ibedrola, que havia sido contratado para realizar a troca do equipamento.
"Começaram a colocar dificuldades para o andamento normal do serviço [...] e vieram com a cobrança [de pagamento] em cima do Herique [Pessoa, ex-dirigente da Odebrecht]. Está aqui o valor”, afirma Valladares, sem citar verbalmente a quantia.
O ex-executivo da Odebrecht disse ter sentido "vergonha” de avisar à Westinghouse e à Iberdrola que os então superintendentes haviam cobrado propina e que, por isso, a própria Odebrecht fez os pagamentos. "Nós exclusivamente assumimos o compromisso [de pagar a propina] para que a obra andasse, para que o americano [Westinghouse] não fosse embora, para que não criasse um problema muito maior. [...] Foi com essa faca no pescoço que concordei com esse pagamento, o que me deixou profundamente irritado”, completou Valladares.
O ex-executivo da Odebrecht explicou que, caso não fosse paga a propina, os então superintendentes criariam dificuldades na prestação do serviço, questionando vários itens e mandando refazer tarefas, o que comprometeria a rentabilidade do contrato.
"O Messias é o chefe da quadrilha, o mentor intelectual desse negócio todo. Ele era o ‘oportunista’”, disse Valladares. Questionado se Othon Pinheiro teria recebido alguma alcunha, Valladares disse que internamente chamava o almirante de "Xaréu”.
Valladares contou que a própria licitação para a contratação da troca do gerador de vapor de Angra 1 teve irregularidades. Segundo ele, a licitação teria sido vencida pela francesa Areva, que apresentou uma proposta de preço com valor inferior ao da Westinghouse/Ibedrola, que tinha se sagrado vencedora do processo, após a concorrência. "É ilegal você aceitar um negócio desses, depois da licitação”."Aí você vê o que é o cúmulo da perversidade. Os caras baixaram o preço ilegamente, nos submeteram ao preço que não era o preço justo do serviço que seria prestado e começaram a colocar dificuldades, sabendo que estávamos com a corda no pescoço”.
No depoimento, os procuradores perguntam sobre a participação do ex-diretor da Eletronuclear Edno Negrini no esquema. Valladares, no entanto, disse apenas que "esses dois [Mattos e Messias] estão lá de conluio desde 1992” e que os outros dois, Pinheiro e Negrini, "chegaram depois”. Ele disse não ter conhecido Negrini.
Na semana passada, Negrini, Mattos e Messias tiveram a prisão preventiva revogada pelo juiz da 7ª Vara Criminal Federal do Rio de Janeiro, Marcelo Bretas. Eles haviam sido presos na operação "Pripyat”, que revelou que Pinheiro teria recebido R$ 12 milhões em propinas das obras de Angra 3. O ex-presidente da estatal permanece preso.