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Acidente com césio 137: Quando viam carro de Goiânia, diziam para jogar pedra

Em 1987, no antigo estádio olímpico, pessoas aguardaram horas de pé para medir a radiação

Fonte: O Globo

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No dia 13 de setembro de 1987, um grupo de catadores de ferro-velho entrou numa clínica abandonada no Centro de Goiânia, encontrou um velho aparelho de radioterapia e decidiu desmontá-lo para revender suas peças. Começava ali "o maior acidente de contaminação por césio já ocorrido em todo o mundo, maior do que em Chernobyl”, informou, dias depois, o então presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), Rex Nazareth.

Numa escala de zero a sete, o acidente com césio 137 foi classificado como de nível 5. Segundo o Greenpeace, matou quatro imediatamente — entre eles uma menina de 6 anos que passou no corpo a substância que brilhava no escuro — e deixou um rastro de contaminação que afetou para sempre a saúde de centenas de pessoas. O GLOBO acompanhou o pânico da cidade, o sofrimento das vítimas e a desinformação das autoridades. O trabalho jornalístico durou quatro meses. Hoje editor do caderno de cultura do jornal "O Popular”, de Goiânia, Luiz Spada era o correspondente na capital goiana. Aos 27 anos, também não sabia o risco que corria. 

Como era o trabalho?

Começava cedo, ia pela tarde e pela noite. Tudo era novidade, a começar por nós mesmos. Não passava pela cabeça de nenhum jornalista brasileiro fazer a cobertura de um acidente daquela dimensão. 

Temia por sua própria saúde?

Quando veio à tona o acidente, ninguém sabia o tamanho da coisa e não dimensionava o real perigo em termos de exposição. Nos primeiros dias de cobertura, a gente não tinha muitos cuidados, mas nem pensava na hipótese de ser vítima de radiação. O negócio era fazer o trabalho. 

Que dificuldades encontrou?

Ter informação de qualidade. As autoridades não sabiam o que informar nem como informar. 

Quanto tempo durou a cobertura?

Foram uns quatro meses. Mas o trabalho continuou depois: quando isolaram as pessoas, quando elas morreram e quando as vítimas diretas já estavam sem risco de contaminar quem delas se aproximasse. Depois, quando a área contaminada foi isolada, e o lixo, retirado em tambores. Era entulho de construção, casas demolidas, asfalto recolhido. Até deixar todo o terreno sem risco de contaminação, foram toneladas e toneladas de lixo. Construíram um depósito em um município vizinho (Abadia de Goiás) para isso. E tudo virava notícia. 

Como era lidar com as vítimas?

A gente não tinha muito acesso, porque elas foram transferidas para o Hospital Naval Marcílio Dias, no Rio. Não dava para pegar a história da figura e contar. 

Como foi a reação na cidade?

Quando veio a notícia, houve pânico. No antigo estádio olímpico de Goiânia, formaram-se filas quilométricos de pessoas que queriam passar pelo aparelhinho para saber se estavam contaminadas ou não. Teve desinformação demais. Na época, quando alguém via carro com placa de Goiânia, dizia: "Joga pedra!”. 

E o acidente mudou o comportamento da população?

Hoje as pessoas nem comentam mais sobre ele. Os mais novos nem sabem.

 

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