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Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares

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Jornalista do IPEN começou a carreira no Esporte, até chegar à cobertura da Ciência e Tecnologia. Conheça Ana Paula Artaxo

Fonte: Blog Tania Malheiros

Natural de Manaus (AM), a jornalista Ana Paula Freire Artaxo Netto, 52 anos, assessora de imprensa do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), em São Paulo, conta com muito bom humor a sua trajetória profissional iniciada em editorias de Esporte. Se na área da ciência ela não conheceu preconceito, foi no Esporte, no passado, predominantemente reinado por homens, que ela precisou se impor e até cobriu copa do mundo. No IPEN, já com mestrado e doutorado, Ana Paula, casada com o reconhecido professor Paulo Artaxo, da USP, mãe de Sofia, de seis anos, Ana Paula acredita nas mudanças positivas da comunicação. "Vejo o momento atual muito oportuno para um avanço na comunicação em nossa área. Temos a retomada do Programa Nuclear Brasileiro, temos o projeto Reator Multipropósito Brasileiro, que vai gerar uma enormidade de benefícios científicos, acadêmicos e sociais, temos uma Rede de Comunicação do Setor Nuclear”, por exemplo. Para Ana Paula, a divulgação da ciência nuclear pode ser um grande "filão” da comunicação na área. "O Brasil tem pesquisas de excelência, mas o foco é sempre maior em serviços ou na geração de energia, sem que se privilegie o quanto de ciência está presente nesses dois campos. O desafio é enorme, mas eu sou otimista, viu?”, comentou a jornalista, em entrevista ao Blog, no mês em homenagem às mulheres.

Como começou a sua participação na área nuclear?

Foi muito em função de uma necessidade pessoal. Eu vim para São Paulo, cursar o doutorado na Unicamp, casei e constituí família aqui, e então solicitei minha redistribuição ao MCTI. Comecei no IPEN em março de 2014. Deparei-me com um mundo totalmente novo, de certa forma, assustador, já que eu vim de um instituto cujo foco é biologia tropical – o INPA, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, em Manaus.

Onde trabalhava? Jornal ou assessoria?

Estou atuando profissionalmente desde 1994. Ingressei no serviço público, da carreira de C&T, em 1999. Nesse intervalo de cinco anos, trabalhei em redação de jornal e TV. O curioso é que eu comecei na editoria de esportes, cobri Fórmula 1, Copa América de Atletismo, fui editora na Copa do Mundo dos Estados Unidos, em 1994, acompanhei a preparação da seleção brasileira de atletismo para os Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996... esse era o meu mundo, no jornalismo. Final de 1998, prestei o concurso para o MCTI/INPA e passei em primeiro lugar, era apenas uma vaga. Mesmo alimentando o sonho de cursar mestrado e doutorado, eu já era editora e fiquei super em dúvida se deveria mesmo sair de redação e trabalhar no serviço público, afinal, os salários eram díspares. Decidi assumir a vaga no INPA, tomei posse no último dia, basicamente levando em conta a carreira acadêmica que poderia e gostaria de seguir, a estabilidade do serviço público e, principalmente, o fato de o INPA ser um lugar incrível para trabalhar, sob vários aspectos. O campus é espetacular, cheio de verde. Imagina você, na sua sala, e, de repente, passa uma preguiça, um mutum ou um sauim-de-coleira pela sua porta? (rs) Foi difícil deixar a redação, assim como foi MUITO difícil "desapegar” do INPA. Ainda hoje faço parte de grupos de amigos que fiz por lá.

O que acha que foi decisivo para cobrir/trabalhar na área nuclear? Conhecia, gostava?

Como disse, eu vim para o IPEN por uma necessidade pessoal. Meu marido é professor da USP, e então era a opção mais viável entre as unidades do MCTI em São Paulo. Como tudo em minha vida, dei muita sorte, fui super bem recebida, acolhida mesma, e já no ano seguinte ao meu ingresso fui indicada pelo ex-diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Ensino, Marcelo Linardi, ao prêmio "Servidora Destaque” daquele ano de 2014. Conhecia muito pouco do IPEN, especificamente. Conhecia a CNEN, pois participávamos (unidades do MCTI) da exposição de ciência e tecnologia promovida pela SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, evento paralelo às reuniões anuais. Era uma área sobre a qual eu sempre tive certa curiosidade, mas não esperava cair nela. Eu até brincava, quando morava no Rio e passava em frente à CNEN, na General Severiano, que iria um dia trabalhar ali. Mas porque eu AMO o Rio e sempre quis morar no Rio, e a CNEN era meu caminho para a UniRio e para a ECO-UFRJ, onde ministrei disciplina e estudei como aluna especial do mestrado, respectivamente. Ou seja, não era que eu quisesse trabalhar na CNEN, pelo menos conscientemente, eu queria morar no Rio (rs). Mas a palavra tem poder, e eu acabei trabalhando na CNEN, em São Paulo (rsrsrs).

Naquela época, sem as ferramentas digitais, quais os maiores desafios?

Tudo era muito novo, nessa questão digital, mas, sim, já havia a força da internet, embora não tivéssemos tantas ferramentas como hoje em dia. Essa "transição”, entre aspas, facilitou approach com a imprensa "nacional”, conseguimos emplacar várias pautas do INPA nos grandes jornais e na televisão, com destaque para a campanha "Dê o nome para o peixe-boi do INPA”, amplamente divulgada pelo suplemento Folhinha, da Folha de S. Paulo. A ideia era mobilizar crianças do Brasil inteiro para escolher o nome do primeiro filhote macho de peixe-boi da Amazônia nascido em cativeiro, no Laboratório de Mamífero Aquático do INPA. Foi um sucesso, a vencedora era de Roraima e ganhou viagem ao INPA e eletrônicos em alta, na época, como videocassete e outros. Isso só foi possível porque a internet encurtou caminhos, diminuiu as fronteiras. Também conseguimos um Globo Repórter sobre a expedição multidisciplinar do INPA para avaliar os impactos da seca de 2005. Esse Globo Repórter foi um marco para o Instituto, conseguimos remotamente planejar tudo com a equipe de pesquisadores, a produção da Globo, os nossos barcos de pesquisa, as estações experimentais... tudo. Foi um sucesso. Enfim, avalio como positiva a chegada de novas ferramentas. Não peguei a era totalmente "analógica” (rs), não saberia dizer sobre os desafios. Suponho que não eram poucos.

Sofreu algum preconceito ou vivenciou ação machista por ser mulher?

Por incrível que pareça, sofri mais preconceito cobrindo "esportes de homem”, futebol, principalmente, do que no serviço público. Nas coletivas, os homens me olhavam com desconfiança e desdém, mas eu soube me impor, inclusive, com menos de um ano de redação, tornei-me editora e comandei uma equipe composta por mais homens do que mulheres, no início. Depois, formei minha própria equipe e contratei apenas mulheres.

Quais as maiores dificuldades? E desafios em termos de relacionamento, de divulgar bem a informação?

No IPEN o caminho foi mais fácil. O fato de eu já ter entrado "doutora” fez com que pesquisadores me olhassem de forma diferente. Não que titulação signifique competência, não mesmo. Mas, pensa só: em uma instituição de pesquisa, fogueira de vaidades por default, se você tem "capital simbólico”, isso abre portas. No INPA, eu não tinha sequer especialização, fui construindo relação de confiança com os cientistas dia a dia, tijolo por tijolo, a fim de mostrar que jornalista não é sempre mal-intencionado ou incapaz de entender a linguagem – hermética – da ciência, como pensa grande parte da comunidade científica. Claro que no IPEN também houve essa construção, mas ela foi encurtada, digamos, pelo fato de eu ter titulação. Pode não parecer, mas isso "pega” em uma instituição de ensino e pesquisa, ninguém te olha de cima pra baixo, não há "vertigem da sobreloja”. E ainda tem o agravante de eu ser uma pessoa de personalidade muito forte, que não se deixa engolir ou abater facilmente, de não levar desaforo etc.. Não sou fácil, não.

Desafios e dificuldades?

Falei que não sou fácil, e não sou mesmo; mas, a bem da verdade, a questão que mais "pega”, para mim, é a qualidade do trabalho. Eu sou MUITO exigente – "chata” mesmo, dizem amigos que trabalharam comigo, mas tem o outro lado: adoro ensinar e aprender, nunca quis me firmar sobre quem estava começando (vi muito isso em redação), sempre fui muito colaborativa, principalmente com meus alunos e estagiários... só não pise no meu calo (rsrs). Mas, no IPEN, eu tive que aprender tudo do zero, não conhecia a área nuclear para além do senso comum. Logo que ingressei, me inscrevi no curso que os cientistas oferecem a alunos do ensino médio, a fim de atraí-los para a carreira na área. É o básico do básico, mas eu precisava, e fui lá, para ser "alfabetizada”. Hoje eu diria que aprendi a ler, mas ainda preciso melhor muito!

Além do IPEN, conte um pouco sobre outras experiências?

Lá atrás, além do INPA e de redações de jornal e TV, ministrei aula em faculdades de jornalismo e no curso de Memória Social, na UniRio, como colaboradora, durante o mestrado na UFF (Universidade Federal Fluminense). Também como mestranda lecionei a disciplina Assessoria de Imprensa na própria UFF. Fui chefe da Divulgação Científica do INPA, depois da própria Ascom, coordenei o Departamento de Difusão do Conhecimento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), fui contemplada com bolsas de Divulgação Científica do CNPq em 2007 e 2018... enfim, fiz muita coisa mesmo! Até comentarista esportiva de rádio eu fui, acredita? Mas se você me perguntar o que mais gosto de fazer, eu diria é que ministrar aulas em cursos de jornalismo. Adoro essa meninada jovem, cheia de gás, ideias e ideais! Eu me renovava em sala de aula, não apenas nas teorias, mas como pessoa mesmo. Infelizmente, com tanto trabalho e filha pequena, não consigo mais.

Conte um pouco sobre as conquistas, os desafios e as dificuldades.

Penso que as conquistas devem ser diárias, ou seja, temos que dar o melhor de nós o tempo todo, e os frutos virão. Na carreira, cito algumas situações que considero exitosas: a aprovação, em primeiro lugar, no concurso para o INPA/MCTI, para a única vaga em Analista em C&T - Jornalismo; a indicação para "Servidora Destaque” do IPEN após meu primeiro ano na casa; a aprovação, em primeiro lugar, para a única bolsa na categoria Jornalismo do Programa de Divulgação e Disseminação Científica (PDDC/CNPq); a avaliação que a Banca Examinadora fez da minha tese – imagine um jornalista da envergadura do prof. Carlos Eduardo Lins da Silva dizer que um dado capítulo da tese foi o melhor que ele leu sobre o assunto, ao longo da vida!! Isso não tem preço!!! Aliás, ele me honra ao citar a minha tese sempre que o assunto é jornalismo, meio ambiente e mudanças climáticas. Do ponto de vista pessoal, a minha maior conquista é a Sofia, minha filha de 6 anos. Foi "um parto” ser mãe. E é também um grande desafio diário. Dificuldades? Lidar com o perfeccionismo exacerbado, autocobrança – eu sempre cobrei muito de mim. Voltando no tempo, enfrentar uma editoria de esportes composta de homens e cobrir esportes "de homens” foi difícil, no começo da carreira; também me descontentou a razão pela qual eu não fui a escolhida como "Servidora Destaque” no meu primeiro ano no IPEN, na avaliação final: eu era "nova” na casa, servidores mais antigos poderiam ficar "melindrados”. Uai, o critério não era ter se destacado na função? – pensei, na época. Mas, hoje, pensando bem, até acho que faz sentido (rsrs).

Hoje é bem mais fácil porque há comunicação digital ou não?

Mais fácil em alguns aspectos, mais difícil em outros. Do ponto de vista da velocidade, da fluidez da informação, ok, a comunicação digital ajuda muito. Todavia, se paramos para pensar que qualquer pessoa, hoje em dia, de posse de um smartphone, pode gerar conteúdo de interesse público sem o devido compromisso com a veracidade e a completude da informação, aí passa a ser um problema. No jornalismo, por exemplo, grandes reportagens estão perdendo espaço para notícias em drops, e eu acho que uma modalidade não anula a outra, dá para fazer as duas, em meios e plataformas distintas, para públicos diversos... e sem falar na questão das mentiras que circulam como notícias (não gosto do termo fake news). Enfim, qualquer tecnologia tem vantagens e desvantagens, o desafio está na discriminação desses dois aspectos e no uso inteligente do que é vantajoso.

Como analisa o futuro da comunicação na área nuclear no Brasil?

Vejo o momento atual muito oportuno para um avanço na comunicação em nossa área. Temos a retomada do Programa Nuclear Brasileiro, temos o projeto Reator Multipropósito Brasileiro, que vai gerar uma enormidade de benefícios científicos, acadêmicos e sociais, temos uma Rede de Comunicação do Setor Nuclear já constituída e trabalhando com todos os atores do setor para a consecução de um Plano de Comunicação, no âmbito do GSI/PR – eu, pelo IPEN, e Cássia Helena, pela CNEN, somos membros permanentes. Enfim, temos uma série de iniciativas que trazem boas perspectivas. Mas de nada adiantará se não houver uma política de Estado bem delineada que conceba a comunicação como essencial e estratégica. Sem isso, não vamos avançar. Comunicar bem tem custo, e é preciso estar disposto a investir na área. E tem outro aspecto, que sempre enfatizo nas minhas apresentações: a divulgação da ciência nuclear pode ser um grande "filão” da comunicação na área. O Brasil tem pesquisas de excelência, mas o foco é sempre maior em serviços ou na geração de energia, sem que se privilegie o quanto de ciência está presente nesses dois campos. O desafio é enorme, mas eu sou otimista, viu?

No mais?

Tenho 52 anos, sou manauara, flamenguista, fã do futebol argentino, de Maradona e de Messi (nessa ordem). Adoro ler, leio mais de um livro por vez, aliás, uma curiosidade inusitada: escolho livro depois de ler a última página. Se eu gostar do desfecho (e do estilo), compro o livro. Parece contrassenso, mas, para uma jornalista, até que faz sentido, pensando em uma releitura da pirâmide invertida. Sou casada com o prof. Paulo Artaxo, da USP, grande parceiro na jornada com a nossa filha. Adoramos viajar pelo mundo, recentemente levamos Sofia a Jerusalém, e foi emocionante a nossa conexão. Se tem algo que traz luz e cor à minha vida é a Sofia. Seis anos, seis meses e 20 dias do dia em que conheci o maior amor do mundo.

PERFIL

Formada em Comunicação Social (Jornalismo) pela Universidade Federal do Amazonas (1994), mestrado em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (2004) e doutorado em Linguística pela Universidade Estadual de Capinas (2013). É Analista em C&T Sênior no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/CNEN/MCTI). Tem especialização em Jornalismo Científico pelo Labjor-UNICAMP. Foi bolsista do Programa de Comunicação Científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), onde desenvolveu pesquisas na área e coordenou o Departamento de Difusão do Conhecimento (DECON). Coordenou projeto de divulgação científica aprovado em edital do CNPq-PPG-7 e foi bolsista do Programa de Divulgação e Disseminação Científica (PDDC) do CNPq, nível 1.


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