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Professor da UFRJ defende a conclusão do Reator Multipropósito e recursos para formação de pessoas no setor nuclear

Fonte: Petronotícias

O Petronotícias inicia o noticiário desta semana falando sobre o futuro do setor nuclear brasileiro. Além da tão aguardada conclusão das obras de Angra 3, o Brasil precisa endereçar o início da construção do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB). Esses são alguns dos projetos prioritários do segmento, segundo avalia o professor do Departamento de Engenharia Nuclear da Escola Politécnica da UFRJ, Aquilino Senra. "O RMB foi tratado com muito descaso pelos governos anteriores. É algo incompreensível, já que se trata de um projeto socialmente aceito. Todos concordam sobre a importância do uso da energia nuclear na medicina”, disse. "A finalização de Angra 3 é fundamental por conta do investimento já realizado e da demanda brasileira por energia a partir do momento em que a economia começar a deslanchar”, acrescentou. Senra ressalta ainda a importância de robustecer a formação de profissionais para o setor nuclear, por meio do fortalecimento dos cursos de graduação e pós-graduação de engenharia nuclear nas universidades brasileiras. "Hoje, quem está trabalhando no setor nuclear, passou por um banco das universidades federais. Por isso, o que devemos fazer no futuro é garantir um incentivo para esses cursos. Se não houver formação de recursos humanos em engenharia nuclear, não haverá Programa Nuclear Brasileiro”. Por fim, o professor alerta também para a necessidade de destinar recursos para os institutos de pesquisa da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN): "Na última década, a maioria dos institutos teve uma redução de mais de 40% em seus quadros. Isso é insustentável”.

Ao seu ver, quais são as principais prioridades do setor nuclear brasileiro atualmente?

O Brasil tem como prioridade máxima, pelo menos, cinco atividades que já estão mais do que amadurecidas e que já deveriam ter sido concluídas. A primeira delas é a conclusão da usina Angra 3. A finalização desse projeto é fundamental por conta do investimento já realizado e da demanda brasileira por energia a partir do momento em que a economia começar a deslanchar.

A segunda atividade principal é o início da construção do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB). Esse empreendimento é essencial para a medicina nuclear do país, cuja demanda cresce ano a ano. O terceiro ponto é a conclusão do protótipo em terra do reator nuclear para propulsão naval (LABGENE), porque é um projeto importante para a defesa do nosso vasto e rico litoral.

O quarto item é a recuperação dos quadros de docentes e técnicos-administrativos nas universidades que formam o pessoal para o setor nuclear brasileiro. É como costumo dizer: se não houver milho, não haverá pipoca. Ou seja, se o Brasil não formar engenheiros nucleares, não haverá Programa Nuclear Brasileiro. São as universidades – federais, na maioria – as responsáveis por formar esses profissionais.

O último ponto, que também é fundamental, é a formação de profissionais da infraestrutura dos institutos de pesquisa que hoje estão vinculados à CNEN.O Brasil precisa pensar em avançar no setor nuclear. Mas antes de endereçar novas iniciativas dentro do segmento, o país deve concluir essas cinco atividades.

O RMB, citado pelo senhor, é um projeto muito importante para o país, mas que está parado há muitos anos. Como avalia esse cenário?

O Reator Multipropósito Brasileiro foi tratado com muito descaso pelos governos anteriores. É algo incompreensível, já que se trata de um projeto socialmente aceito. Todos concordam sobre a importância do uso da energia nuclear na medicina. Há uma aceitação pública da energia nuclear para fins de aplicação na medicina.

O RMB foi concebido com a finalidade específica de produzir os radioisótopos e, além do mais, fazer ensaios de materiais necessários para o avanço da tecnologia nuclear. O projeto começou em 2009 e até hoje não conseguiu avançar. O antigo coordenador do projeto, José Augusto Perrotta, que é um dos técnicos mais bem preparados e um dos profissionais que eu mais admiro, decidiu aposentar-se, porque não recebeu apoio nos últimos anos. Isso não está certo. Então, eu acredito que o RMB deveria ser prioridade zero a partir de agora.

Poderia nos dizer quais são, ao seu ver, as medidas necessárias para destravar os projetos do RMB e de Angra 3?

Para o RMB, é preciso ter recursos específicos destinados do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Além disso, o Ministério da Saúde, que tem o maior orçamento da União, pode destinar uma pequena parcela na sua previsão de recursos para investir no RMB. Isso já daria uma garantia anual de recursos para a conclusão do reator. É preciso ter vontade de fazer. A medicina nuclear não pode ficar exclusiva para aqueles que têm planos de saúde. Ela tem que ser colocada nos SUS para toda a população. O Ministério da Saúde terá um benefício quando o RMB entrar em operação.

Para Angra 3, é necessário discutir a questão do financiamento que está sendo tratada no BNDES. Há uma declaração do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, de fortalecer o desenvolvimento nacional em diversos setores. Então, acredito que com boa relação com o BNDES, é possível acelerar os recursos para acelerar essa obra.

O senhor também poderia falar um pouco mais sobre a importância de recuperar os institutos de pesquisa da CNEN?

Essa medida é necessária para recuperar a capacidade tecnológica do país. A maior parte daquilo que foi desenvolvido em tecnologia nuclear no Brasil foi realizado nos institutos da CNEN (IPEN, CDTN, IEN). Para o país ter a capacidade de desenvolver novas tecnologias, é preciso fortalecer os institutos. Uma informação preocupante: na última década, a maioria dos institutos teve uma redução de mais de 40% em seus quadros. Isso é insustentável.

Como está a gestão do conhecimento do setor nuclear no país?

Os recursos humanos são necessários para a manutenção da tecnologia nuclear no país. O novo Programa Nuclear Brasileiro, que foi editado por meio do decreto 9.600de 2018, explicita que deve ser dado incentivo e fomento à formação continuada de recursos humanos necessários para o desenvolvimento do setor. Mas, a realidade é que o incentivo atual é zero. As universidades federais, com esforço próprio, abriram sete cursos em nível de pós-graduação e um em nível de graduação. Sem nenhum apoio específico para isso.

As universidades formam profissionais de boa qualidade. Não sou apenas eu quem diz isso, porque senão pareceria defender em causa própria, mas é o mercado que confirma a qualidade dos alunos formados. Nós formamos pessoas de qualidade, que vão para universidades estrangeiras e também para universidades estrangeiras.

Hoje, quem está trabalhando no setor nuclear, passou por um banco das universidades federais. Por isso, oque devemos fazer no futuro, é garantir um incentivo para esses cursos. Senão houver formação de recursos humanos em engenharia nuclear, não haverá Programa Nuclear Brasileiro.

De que forma o país poderia incentivar a formação de novos profissionais para o setor nuclear?

O primeiro passo é fortalecer os cursos existentes, que hoje não recebem um tratamento específico, contam com um corpo docente reduzido e possuem baixíssimos recursos de custeio e infraestrutura. Desafio alguém a dizer-me onde está sendo cumprido o que está previsto no Decreto 9600/2018 em relação à formação de recursos humanos. Então, o primeiro passo é o fortalecimento dos cursos de pós-graduação e graduação em Engenharia Nuclear como uma política.

Em segundo lugar, é preciso também criarbolsas específicas diferenciadas, devido ao caráter estratégico do setor nuclear. E, por fim, o desenvolvimento de um programa de contratação de médio prazo.

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