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IPEN participa de publicação pioneira sobre uso da radiação para preservação de bens culturais

Por seu protagonismo, Instituto é o único da América Latina a integrar essa obra essencial, editada pela Agência Internacional de Energia Atômica

O IPEN é o único Instituto da América Latina a participar do livro "Uses of Ionizing Radiation for Conservation for Tangible Cultural Heritage” (Usos de Radiação Ionizante para Conservação para Patrimônio Cultural Tangível, em tradução livre). É a primeira publicação do gênero no mundo, editado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), e já está disponível tanto na versão on-line quanto impressa (ISBN 978-92-0-103316-1 - STI/PUB/1747), ao preço de €50. Três dos 26 capítulos são de autoria do pesquisador Pablo Vasquez, coordenador do Irradiador Multipropósito de Cobalto-60, do Centro de Tecnologia das Radiações (CTR).

A obra destaca a aplicação da radiação ionizante para desinfecção e restauração de objetos do patrimônio cultural e fornece orientações e diretrizes para tecnólogos de radiação que pretendem colaborar com curadores de arte, restauradores, historiadores e arqueólogos sobre o uso desta avançada tecnologia. Para se ter uma dimensão da importância dessa publicação, basta dizer que ela vem sendo discutida desde 2012, quando a AIEA convocou especialistas das principais instituições internacionais para diversas reuniões com o objetivo de compilar as informações e organizá-las em capítulos.

A conservação do patrimônio cultural é um dever para todos países, "por razões de ética”, segundo John Havermans, que assina a Introdução. Ele diz, no entanto, que os "tomadores de decisão” começaram a perceber "muito lentamente” a importância de se conservar obras e objetos de arte, especialmente coleções de museus, bibliotecas e arquivos, e que se trata de "um investimento valioso a longo prazo para a cultura dos cidadãos e para a economia”. O autor salienta que a acessibilidade de um patrimônio cultural depende das condições em que ele é apresentado ao público.

Essas condições dependem de ações de conservação preventiva e de longo prazo, e de possíveis restaurações. "Materiais sensíveis exibidos em um ambiente agressivo podem sofrer ataques químicos (de poluentes, umidade relativa inadequada, luz excessiva, etc.), levando a dano irreversível em apenas algumas semanas”, diz Havermans, que é cientista técnico e consultor do TNO Environmental Chemistry, organização holandesa independente de pesquisa sediada que tem como missão "conectar pessoas e conhecimentos para criar inovações que promovam a força competitiva da indústria e o bem-estar da sociedade de forma sustentável”.

Tecnologia segura

Havermans destaca ainda que, embora a tecnologia de radiação venha sendo utilizada com sucesso nos últimos anos, inclusive com a participação efetiva de museus e bibliotecas, sua maior aceitação dependerá de uma atuação "cientificamente convincente” para os usuários finais. Ou seja, o público não especializado precisa estar convicto de que a irradiação é uma tecnologia segura e não provoca mudanças ​​nas propriedades funcionais ou decorativas do material irradiado, bem como não compromete a sua autenticidade. Para isso, é fundamental uma postura científica adequada.

"Os profissionais que atuam em instalações de irradiação devem ter uma profunda compreensão dos efeitos da radiação sobre os materiais básicos tipicamente utilizados nos artefatos e devem proceder as abordagens científicas corretas necessárias para garantir segurança e longevidade do material”, diz, acrescentando que também são fundamentais estudos documentados prévios para orientar esses profissionais na concepção de metodologias de tratamento adequadas para quaisquer novos aplicativos.

Nesse sentido, conclui Havermans, o livro traz informações essenciais relacionadas aos efeitos de radiação ionizante nas propriedades físicas dos artefatos, às características de fontes de radiação que podem ser usadas no tratamento, procedimentos de controle de processo e algumas das aplicações bem-sucedidas da tecnologia de radiação para preservação e consolidação do patrimônio cultural. "Informações essenciais para melhorar a interação entre as partes interessadas na maior aceitação e uso dessas técnicas de processamento aplicadas a bens culturais”.

Protagonismo do IPEN

A relevante contribuição do IPEN na preservação do patrimônio cultural utilizando radiação resultou em três capítulos no livro, todos de autoria de Pablo Vasquez. No capítulo 5, "Fundamentals of Radiation Processing Technology” (Fundamentos de Tecnologia de Processamentos de Radiação), são abordados aspectos técnicos do processo de irradiação ionizante, tais como determinação correta dos padrões de distribuição de dose. "O sucesso da tecnologia depende principalmente da capacidade de controlar com precisão a dose absorvida especificada para o produto e validá-lo através de uma dosimetria confiável”, explica Vasquez.

No capítulo 6, "Sources and Equipment in Radiation Technologies" (Fontes e Equipamentos em Tecnologias de Radiação), o pesquisador apresenta tipos de instalações usadas para aplicações regulares de processamento de radiação que pode ser usado para irradiar bens do patrimônio cultural. São basicamente duas categorias: instalações de irradiação gama utilizando fontes seladas contendo radionuclídeos como 60Co ou 137Cs e instalações que usam geradores de radiação, como aceleradores de elétrons (EB) com energias até 10 MeV e geradores de raios X com energias até 5 MeV.

Vasquez explica que a maior capacidade de penetração de raios gama e raios-X permite processamento de produtos relativamente grandes e densos, enquanto os EBs são adequados para irradiar materiais finos, mas fornecem um rendimento mais alto a um custo menor por unidade de produto quando grandes quantidades são processadas. "A distribuição uniforme de dose de radiação para os produtos é um parâmetro crítico nas aplicações de processamento de radiação, incluindo desinfestação ou consolidação de artefatos patrimoniais culturais, que podem às vezes ser volumosos ou de forma irregular.

"Isso requer metodologias de tratamento adequadas usando irradiadores industriais gama e instalações EB que podem fornecer campos de radiação uniformes cobrindo grandes áreas”, explica Vasquez. O capítulo é ilustrado com modelos de instalações, sendo uma industrial de radiação gama, uma de processamento de EB projetada para processar um alto volume de produtos e outra um irradiador com conversor de raios-x. O pesquisador explica as características e o funcionamento de cada uma.

No capítulo 23, "The State of the Art in Radiation Processing for Cultural Heritage in Brazil” (O Estado da Arte no Processamento de Radiação para o Patrimônio Cultural no Brasil), Vasquez destaca a contribuição do IPEN no uso da radiação gama para a preservação de bens culturais. As obras são processadas no Irradiador Multipropósito de Cobalto-60, uma tecnologia 100% brasileira, pioneira no País. Em atividade desde 2004, essa instalação tem sido utilizada para desinfestação, desinfecção e esterilização de diversos tipos de patrimônio cultural, materiais arquivados, madeira, couro, têxteis e outros diversos.

"Essas atividades tiveram um impacto social significativo, e museus, bibliotecas, colecionadores, conservadores e outros se beneficiaram desse uso de tecnologia de radiação”, diz Vasquez. Em seguida, o autor apresenta alguns dos principais acervos que passaram pelo processo de descontaminação, tais como o acervo cultural do município colonial de São Luiz de Paraitinga, que sofreu inundação e teve seu patrimônio coberto de lama, a coleção particular de incunábulos (livros produzidos entre 1450 e 1500) de Juan Carlos Repucci, e uma pintura peruana do século XVII.

Para Vasquez, todo esse trabalho realizado no IPEN ao longo de quase duas décadas foi decisivo para a sua participação no livro. "Estudar o efeito da radiação gama em acervos e bens culturais foi um trabalho pioneiro, e esse pioneirismo é reconhecido pela Agência [Internacional de Energia Atômica], que sempre nos apoiou em nossas atividades. Nosso Irradiador tornou-se um modelo de referência para o processamento por radiação não apenas no Brasil, mas também em nível mundial”, destaca o pesquisador, acrescentando que todos os autores presentes no livro se ajudaram mutuamente, em todos os tópicos. "É um trabalho realmente coletivo”, conclui.

Para acessar a versão on-line, clique aqui

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Ana Paula Freire, da Assessoria de Comunicação Institucional
Jornalista - MTb 172-AM

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