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Proposta de uso de tecnologias verdes para reduzir poluição em São Paulo é tema de webinar

Coordenada pelo IPEN/CNEN, proposta foi submetida à FAPESP no âmbito da chamada Ciência para o Desenvolvimento

O uso de plantas como biorremediadores de poluição atmosférica é uma das apostas para reduzir o índice de material particulado e de compostos orgânicos voláteis, os chamados VOC (do original em inglês Volatile Organic Compound), da cidade de São Paulo. O assunto foi tema de webinar promovido nesta terça-feira, 27, pelo Instituto de Botânica, órgão vinculado à Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, que contou com a participação do pesquisador Paulo Sérgio Cardoso, do Centro do Reator de Pesquisas (CRPq) do IPEN/CNEN.

Cardoso coordena a proposta "Tecnologias Verdes para Biorremediação da Poluição Atmosférica”, submetida à FAPESP no âmbito da chamada Ciência para o Desenvolvimento, que tem como objetivo resolver problemas de relevância social e econômica no Estado de São Paulo. Serão financiados projetos de pesquisa internacionalmente competitivos, de médio e longo prazo, a serem executados instituições de pesquisa e ensino superior, em parceria com órgãos de governo e empresas ou organizações não governamentais.

O foco da proposta é estudar espécies de plantas que possam atuar como biorremediadoras, testá-las e, de acordo com os resultados, apresentar soluções para formuladores de políticas públicas, visando minimizar a poluição na cidade de São Paulo. Cardoso explicou as etapas de execução do projeto, começando com uma revisão sistematizada da literatura científica sobre plantas biorremediadoras de poluição atmosférica. Serão levantadas as características de cada local e quais as plantas específicas para eles.

A partir da seleção das espécies com melhor potencial, será testada a capacidade dessas plantas de retirar material particulado e VOCs do ar. Os primeiros testes serão feitos em estufas, em plantas de pequeno e médio porte, em condições relativamente bem controladas, para observar o quanto elas podem reter de material particulado e o quanto elas podem suportar para realizar essa tarefa sem sofrerem danos. Para as de grande porte, os estudos serão feitos com árvores de parques da cidade de São Paulo, pois não há tempo de plantar e esperar o crescimento.

"Nós vamos coletar material e verificar quais as melhores espécies que melhor atendem à função de biorremediadoras, para propor quais devem ser plantadas nos programas municipais de arborização”, disse Cardoso. Com relação às de pequeno e médio porte, o pesquisador explicou que, depois de determinadas as melhores espécies para a retirada de material particulado, o passo seguinte partir para o estudo de campo. "Vamos escolher determinadas regiões, plantar essas espécies para verificar se elas respondem, na cidade, da mesma forma que responderam ao estudo em condições controladas”.

Nessa fase, segundo Cardoso, será avaliado o tipo de poluição que existe em cada local, ou seja, quais os materiais particulados e os VOCs, para poder definir quais plantas serão colocadas naquela região. "E aí nós vamos implantar as tecnologias, que seriam plantação de árvores de pequeno e médio porte, de jardins, jardins verticais, telhados "verdes”, e pretendemos fazer esse estudo tanto em ambientes externos, ruas, praças etc., como também internos, residências e locais de trabalho”.

Para os ambientes internos, Cardoso disse que o projeto conta com especialistas que vão desenvolver medidores de poluição de baixo custo. "Em residências, por exemplo, nós vamos monitorar o local por um determinado tempo sem nenhuma intervenção, depois de um determinado tempo, a gente coloca as plantas, aumenta a área verde dessa casa, e continua monitorando para verificar o quanto a instalação dessas plantas, o aumento da superfície vegetal ajuda a diminuir material particulado ou mesmo VOCs”.

Cardoso comentou que as plantas têm capacidade de reduzir ruídos. Os pesquisadores pretendem aproveitar os locais de instalação das espécies biorremiadoras para aferir o quanto elas contribuirão para a diminuição dos ruídos. "Da mesma forma, vamos medir o ruído de uma região por determinado tempo, depois, vamos instalar paredes de plantas, ou jardins, ou árvores de médio porte, e aí acompanhar a diminuição de ruídos em função da área verde em cada um desses locais”, disse o pesquisador, que é especialista em determinações elementares e de radionuclideos utilizando técnicas analíticas nucleares.

"Investimento inteligente"

Cardoso concluiu sua apresentação falando que a proposta do projeto é focada em problema ambiental, mas que meio ambiente "tem uma ligação bastante forte com a saúde”. Outra contribuição que o grupo de pesquisa pretende oferecer é valorar o impacto social e econômico na saúde da população com a implementação de tecnologias verdes. "Queremos estimar qual o benefício para a saúde advindo com a retirada dessa poluição do ar. Da mesma forma, a gente pode estimar o quanto vai deixar de ser gasto em saúde com a redução de poluição atmosférica por áreas verdes”.

Para o pesquisador, "é impossível pensar em meio ambiente dissociado de saúde e políticas públicas”. "Saúde não é só construir hospitais, contratar médicos, enfermeiros... é também evitar que a pessoa fique doente, inclusive doenças mentais. E tem outro aspecto: se a gente investe em melhoria da qualidade de vida e da saúde, estaremos também pensando em termos de economia”, afirmou, acrescentando é que necessário pensar em um "investimento mais inteligente”.

Ao final, Cardoso apresentou os parceiros do projeto. Aalém de IPEN/CNEN Instituto de Botânica, participam pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG/USP), Universidade de Taubaté (UNITAU), Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), Coordenação de Educação Ambiental e Cultura de Paz, Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz de São Paulo (UMAPAZ) e Quadro Vivo Jardins Verticais, no Brasil, e das Universidades de Ferrara (Itália) e Surrey (Inglaterra).

A química Silvia Ribeiro de Souza, do Instituto de Botânica, também participou do webinar. Ela foi a primeira a se apresentar, falando de como as plantas são essenciais à temática do meio ambiente e a importância de utilizar as plantas corretas para exercerem a função de biorremiadoras, pois nem todas têm a mesma capacidade e resposta. Ela também comentou que está diante do desafio de uma linha nova de pesquisa, a partir do convite de Cardoso para participar do projeto.

Souza mostrou uma imagem da cidade de São Paulo obtida maio de 2019 e outra em maio deste ano, quando houve uma redução significativa de emissões veiculares devido à pademia da Covid-19. "É possível ver que a visibilidade foi muito melhorada em função da redução de circulando”. Ela também apresentou dados de emissões e as possibilidades de políticas públicas para reduzi-las. Por fim, elencou os critérios para a seleção das espécies vegetais a serem aplicadas em tecnologias verdes.

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