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Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares

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Emoção foi a tônica do segundo dia de apresentações pelos 60 anos do ciclo do combustível nuclear no IPEN

Anúncio dos destaques do ano, homenagem surpresa ao superintendente Wilson Calvo, discurso da filha de Bertha Floh e relatos de quem participou da história fizeram desse dia um momento emocionante

O momento histórico, o resgate de memórias de pesquisadores atuantes em áreas multidisciplinares e que levaram ao domínio do ciclo do combustível nuclear no Brasil, dividiu espaço com a emoção que contagiou a todos no webinar "60 anos do Ciclo do Combustível Nuclear no IPEN: Enredos de uma Conquista Estratégica”, nesta terça-feira, 1. Foi o segundo dia de celebração dos 64 anos do IPEN/CNEN, instituição que conduziu o processo desde os primeiros estudos até o momento atual, em que o país pertence ao seleto grupo de 12 nações que detêm essa tecnologia.

Dentre os homenageados, a surpresa: a manifestação de apoio e agradecimento ao superintendente do IPEN/CNEN, Wilson Calvo, pela forma democrática e respeitosa com que dirige o Instituto, mas, principalmente, pela condução das atividades e do comprometimento no combate à pandemia da Covid-19. Internamente, todas as medidas foram tomadas para a segurança dos servidores, inclusive os que se revezaram na produção de radiofármacos. Apesar das dificuldades de logística, o IPEN/CNEN não deixou de atender nenhum pedido por esses medicamentos.

A homenagem não estava no script oficial, mas os membros do Conselho Técnico-Administrativo do IPEN/CNEN fizeram questão de fazê-la nesses 64 anos. Foi exibido um vídeo produzido pela família de Wilson Calvo, que comoveu a todos os participantes. Imagens de diferentes momentos de sua vida. "Nós, do CTA, gostaríamos de agradecer por todo o seu trabalho incansável nessa época de pandemia, todos os dias no IPEN, incansável, nos representando”, disse Antonio Teixeira, coordenador de Segurança do Instituto e um dos participantes do webinar.

Destaques do Ano: O vídeo foi apresentado após Calvo anunciaro os servidores e colaboradores que se detsacaram no ciclo 2019-2020, também escolhidos pelo CTA. Dos quase 400 funcionários que colaboram com atividades do dia a dia do IPEN/CNEN, foram escolhidos Lino Rocha, da Empresa Orion, e Márcio Gledison de Oliveira Lima, da empresa Gavi. O primeiro atua na Divisão de Infraestrutura e o segundo, presta serviços para o Setor de Transportes e Logística. "Parabéns a vocês, por nos ajudarem nesse dia a dia, e a todos os demais que vocês representam”, comentou Calvo.

O "Servidor Destaque”, na verdade, foram dois: Samir Luiz Somessari, do Centro de Tecnologia das Radiações (CETER), e Edvaldo Paiva da Fonseca, chefe da Comunicação Social – outra surpresa que não estava no script oficial, já que ele organizou tudo, mas não poderia saber antecipadamente. Somessari atua na gestão de produtos e serviços do CETER, onde estão os Aceleradores de Eletrons, a Unidade Móvel de Irradiação e o Irradiador Multipropósito de Cobalto-60. Fonseca participa ativamente de todas as comissões, eventos, coordenações, inclusie esta, "cuja atuação foi fundamental”, ressaltou o superintendente.

O "Pesquisador Destaque” foi Adminir dos Santos, do Centro de Energia Nuclear (CEENG), por seu papel na condução do projeto dos 19 elementos combustíveis do tipo placa produzidos no IPEN/CNEN para o Reator Nuclear de Pesquisas IPEN/MB-01. "Dr. Adimir coordenou toda essa parte do núcleo, interagiu com a equipe do CECON. Ele realmente fez a diferença e graças a ele e tantos outros temos o núcleo da nossa unidade crítica já preparado para ensaio do núcleo do Reator Multipropósito Brasileiro”. Os 19 elementos combustíveis foram produzidos no Centro do Combustível Nuclear (CECON).

Para "Pesquisador do Ano”, na verdade "Pesquisadora”, a contemplada foi Linda Caldas, do Serviço de Gestão de Metrologia das Radiações. Essa escolha é baseada em métricas: número de publicações, orientações e defesas e projetos. É feito um cálculo, e o que obtém o melhor índice é o contemplado do ciclo. Linda é pesquisadora 1A do CNPq e membro da Academia de Cência do Estado de São Paulo (ACIESP). Em mensagem ao Superintendente, comentou: "Estendo esta homenagem a todos os colegas do CMR, aos alunos, ex-alunos e colaboradores do IPEN e de outras instituições, pois nunca fiz nada sozinha, sempre trabalhamos juntos. Muito obrigada!”

Pioneirismo e resultados – Após as homenagens, o diretor-presidente do Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (CIETEC), Cláudio Rodrigues, tomou a palavra como moderador e conduziu as apresentações. Ressaltou a emoção que sentiu com a homenagem ao superintendente. Rodrigues dirigiu o IPEN/CNEN em duas ocasiões, de 1985 a 1990, e de 6 de maio de 1995 a 2005, respectivamente. O CIETEC é a entidade gestora das Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de São Paulo IPEN/USP, com mais de 110 empresas incubadas.

Rodrigues destacou que a cerimônia "é real, sob o ponto de vista da continuidade, porque as atividades do IPEN/CNEN no ciclo do combustível não é um evento dos anos 80, ou dos anos 2000, é uma continuidade que nasceu com o próprio IPEN”. Começou, segundo ele, com a Divisão de Engenharia Química, cuja primeira atividade foi purificação do urânio. O ex-superintendente lembrou que Alcídio Abraão foi o grande incentivador e batalhador que deu sua vida profissional ao desenvolvimento do ciclo do combustível.

Citando as produções para outros reatores nucleares no Brasil, Rodrigues comentou que os resultados do IPEN/CNEN nos últimos 20 anos e o comprometimento do Instituto com o RMB são uma "história de resultados”. "Essa é que a diferença do IPEN, o IPEN faz e mostra resultado. No ciclo do combustível, os resultados não são somente um enredo de importância e conquista estratégica, mas de conquista de valor econômico. Todos os resultados estão em nível de produção industrial. Não fosse o IPEN, provavelmente não estaríamos entre os países que detêm toda a tecnologia do ciclo do combustível nuclear”.

À frente do tempo – A primeira convidada a falar foi Bertha Floh de Araújo, que começou essas atividades no chamado projeto CELESTE – Células de Estudos e Testes em Extração. Ela agradeceu e saudou a todos, mas foi sua filha Tatiana quem se pronunciou em seu nome, em um dos momentos mais emocionantes e contundentes do webinar, reforçando o papel pioneiro da mulher, sua mãe, numa área tradicionalmente "de homens”. Ela leu o texto intitulado "Uma mulher para deixar as feministas do 2020 para trás”, escrito a partir da perspectiva da "filha de uma pesquisadora importante durante esse ciclo”.

Tatiana fez um breve relato da trajetória de mais de quatro décadas da mãe, uma mulher à frente de seu tempo. "As feministas e defensoras da equidade de gêneros e diversidade do ano 2020 que me desculpem, mas minha mãe há muito já militava por seu espaço e o espaço da mulher no mercado de trabalho, para romper as amarras dos pré-estabelecidos consensos de uma sociedade”. Bertha ousou ao trabalhar "fora de casa” numa época em que a sociedade acostumada num modelo baseado no homem provedor e na mulher que cuida dos afazeres da casa e dos filhos, disse a filha.

Com essa força, segundo Tatiana, "a doutora Bertha, como vocês a conhecem aqui, conseguiu quebrar os tabus, chutar algumas canelas e formar-se mestre e doutora pela Poli [Escola Politécnica da USP], onde não conseguiu fazer sua graduação dado ser uma faculdade voltada para homens. Conseguiu escrever diversos artigos científicos, ter uma carreira de destaque e liderar projetos na área de energia nuclear no país”, lembrou, acrescentando imaginar que o nome CELESTE tenha sido resultado de um momento de criatividade da mãe por algo "quase caído do céu” no Brasil da época, ainda sem muita estrutura para projetos desse porte.

História e memória – O resgate de memórias de pesquisadores atuantes em áreas multidisciplinares e que levaram ao domínio do ciclo do combustível nuclear, tema pouco explorado, trouxe reconhecimento ao intenso trabalho desenvolvido por Bertha e pelos demais convidados: Wagner dos Santos Oliveira, Humberto Gravher Riella, Antônio Teixeira e Silva, Paulo de Oliveira Lainetti, José Augusto Perrotta, que relataram os desafios enfrentados e o legado desse período. Rodrigues apresentou cada um deles e então as histórias de cada período do ciclo foram contadas.

Oliveira fez um breve histórico do projeto Conversão, cujo desafio era transformar o urânio numa escala semi-industrial e industrial. "Em tecnologia, ou se domina, ou se é dominado”, era o lema, motivados pelo sentimento de promover "atividades garantidoras da soberania nacional”. Riella também relatou etapas do ciclo de combustível e manifestou preocupação com o fato de o IPEN/CNEN "estar perdendo cabeças”. "É importante pensar um pouco a situação que vivemos hoje, porque teremos o RMB e precisamos de combustível nuclear”.

Teixeira mencionou as conquistas do ciclo do combustível nuclear em dois Centros do IPEN/CNEN, o de Engenharia Nuclear (CEENG) e do Reator de Pesquisas (CRPq) que, desde 1982, vêm desenvolvendo o projeto Mecânica Estrutural do Combustível, as especificações técnicas de fabricação e a qualificação de todos os combustíveis que a partir dessa data foram fabricados no Instituto e as expectativas para o futuro. "A gente espera, com o RMB, que a gente tenha realmente um reator de testes materiais, e a gente possa irradiar placas e rapidamente saber se o combustível vai ter um bom comportamento antes de colocar no reator”.

Lainetti também mencionou as principais atividades desenvolvidas salientando o papel de cada um dos que deram a sua contribuição para o ciclo do combustível nuclear. Destacou o papel do IPEN/CNEN não apenas ao desenvolver as várias etapas, mas também treinar pessoas, seja na área de produção, seja nos procedimentos analíticos, sem os quais, disse, não seria possível avançar, a caracterização físico-química em todas as etapas. "É importante destacar a importância que todas essas pessoas tiveram e que acabaram proporcionando as várias conquistas obtidas ao longo dessas décadas”.

Mostrando imagens de diversos momentos do ciclo, Lainetti ressaltou o pioneirismo do IPEN/CNEN, lembrou das "mudanças radicais” na política nuclear brasileira, nos anos 90, que "determinaram a interrupção da maioria das atividades de P&D e o encerramento das operações de usinas-piloto”, à exceção da produção de combustíveis do tipo placa. Segndo Lainetti, as mudanças levaram a uma alteração no perfil do IPEN/CNEN, de uma instituição eminentemente nuclear, para um perfil mais abrangente e multidisciplinar.

José Augusto Perrotta encerrou o ciclo de apresentações fazendo um paralelo entre passado e futuro, pensando o RMB e sua relevância para o Brasil. Disse que não se trata de "um projeto”, mas de um "novo IPEN”, só que com um reator de maior capacidade (ver matéria). Ressalta que, para que dê certo, é preciso que haja investimento, incentivo, e aproveitamento de recursos humanos competentes. Por fim, a diretora de Pesquisa, Desenvolvimento e Ensino, Isolda Costa, leu um documento do CTA em homenagem a Wilson Calvo, ressaltando sua liderança, sua ética e seu espírito democrático. Calvo, então, agradeceu a todos e encerrou o webinário.

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