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Descontração e sinergia na segunda noite do IPEN no Pint Of Science, no tema tecnologia nuclear

Pesquisadores entraram no espírito do evento e falaram de temas 'hard' com desenvoltura e leveza, mostrando que ciência também pode ser assunto de mesa de bar

Descontração foi a tônica do segundo dia do IPEN no Pint Of Science SP 2019, nesta terça-feira, 21, no Avareza Beer & Burger, na Consolação, São Paulo. Nem poderia ser diferente, afinal, não dá para falar de "Nêutrons que não sabem nadar e insetos comestíveis” sem que o público seja envolvido de forma criativa e divertida. Marcos Carvalho, Maria Elisa Rostelato e Jorge Sarkis se apresentaram com uma dinâmica diferente, um performático "bate-papo” sobre ciência entre eles, como se realmente estivessem bem à vontade numa conversa de amigos.

"Nós até ensaiamos um jogral, para cada um soubesse a hora de intervir e de passar a palavra ao colega”, diverte-se Carvalho. Brincadeiras à parte, é fato que os representantes do IPEN estavam muito motivados e se dedicaram ao máximo para que a ciência produzida no Instituto chegasse da maneira mais interessante possível ao público. "Vocês trouxeram um timaço, super animado, que tornou nossa noite um sucesso aqui. Parabéns ao IPEN”, afirmou Malu Tippi, do Instituto de Física da USP (IFUSP), coordenadora do Pint no Avareza.

Carvalho começou falando sobre a diferença entre reator de potência e de pesquisa, caso do Reator IEA-R1, do IPEN, em operação há mais de seis décadas. Falou das partículas (de nêutrons) que se chocam de forma controla, gerando energia que tem múltiplas aplicações. "Normalmente, você usa a energia de um reator nuclear para gerar eletricidade, porque, nesse choque, você libera energia, que libera calor, e esse calor aquece a água, que se transforma em vapor. Esse vapor você gira uma turbina, e essa turbina gera energia elétrica”.

No caso do reator de pesquisa, ele não é feito para gerar energia elétrica. "O IEA-R1, nosso reator tem fins de , fica no fundo de uma piscina com 300 mil litros de água e uma luz brilhante, azul, denominada efeito Cherenkov”, explicou Carvalho. No Brasil, só há dois desse tipo, o do IPEN, e um de pequeno porte do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), em Minas Gerais. "Mas a nossa luz é bem maior. Se vocês quiserem fazer uma selfie com esse efeito, é só nos visitar, teremos o maior prazer em recebê-los”.

Marcos falou ainda das múltiplas funções do IEA-R1, sua utilidade para pesquisas nas áreas de física, química, engenharias, biologia etc.. Salientou que uma das principais aplicações do reator do IPEN é na medicina nuclear. Foi a deixa para Maria Elisa Rostelato entrar falando da irradiação de fontes utilizadas para tratamentos de câncer. "Nós estamos fazendo pequenas fontes radioativas para tratamento de câncer. São chamadas sementes porque são menores que um grãozinho de arroz, e o material é o Iodo-125”.

Segundo Rostelato, as sementes, que na verdade são metálicas, são irradiadas com esse material para situações em que a radiação é necessária para "atacar o câncer apenas naquele local”, sem risco de atingir outros órgãos. "A radiação desse radioisótopo caminha apenas meio centímetro no tecido humano e é absorvida. Então, é possível matar o tumor num lugar muito localizado, sem atingir os outros tecidos que estão próximos. O IPEN produz essas fontes no Brasil, um dos mais importantes usos é para tratar câncer de próstata”, afirmou.

Com essas sementes, não é preciso fazer cirurgia, outra vantagem da técnica. "Além de não precisar cortar o paciente, a radiação é intensa o suficiente para atacar o tumor localizado, poupando tudo o que está em volta. Por enquanto, a maior parte dessas sementes é importada, mas nós já temos um protótipo, já enviamos o pedido de patente ao INPI [Instituto Nacional de Propriedade Intelectual] para fazer aqui. Com isso, diminuiremos os custos para que mais pessoas possam ser beneficiadas a esse tipo de terapia. Outro uso é para câncer oftálmico, que poupa muitas vezes o paciente de perder a visão.

"Câncer oftálmico atinge muitas crianças, e às vezes a solução, infelizmente, é tirar o globo ocular. Com essa técnica, você preserva o olho das pessoas”, explicou Rostelato. A pesquisadora comentou ainda que outro uso da semente de Iodo-125 é como marcador de câncer de mama. "Você usa a sementinha com energia um pouco menor, não para matar o câncer e sim para marcar o tumor na mama. Quando ele é muito pequeno, o médico tem dificuldade de localizá-lo na hora de extrai-lo, porque a mama é um tecido muito gorduroso, e acaba tirando mais do que o necessário”, acrescentou.

O uso como marcador é feito na hora da biópsia, quando o médico introduz a semente no local onde está o tumor, para orientar o médico. "Na hora da cirurgia, o médico vai com o detector de radiação e sabe exatamente onde está o tumor e o tecido com células cancerosas a ser removido. Esse uso é como marcador, não terapia, como os outros que expliquei. Mas nós, no IPEN, muitas pesquisas na área de saúde e em outras aplicações da tecnologia nuclear, como, por exemplo, na segurança alimentar”, disse Elisa, passando a deixa para Sarkis.

Bichos no prato – A área da segurança alimentar é uma das mais "populares” de aplicação da radiação. Sarkis começou fazendo uma breve explanação sobre regulação e controle dos alimentos, desde a produção até a comercialização. De acordo com o pesquisador, em termos de políticas macroeconômicas, é o campo de estudos de suplementação e para alimentar populações de diferentes regiões. "Há países onde existe um planejamento alimentar para cada tipo de comunidade, relacionado à quantidade de alimento e também ao meio ambiente. Essa é a grande área de segurança alimentar”.

A preservação de alimentos – manutenção do frescor, das suas propriedades nutricionais, organoléptica, como cor, textura, sabor e aroma – é um problema para a humanidade e também um fator importante ao desenvolvimento populacional e econômico. A radiação é uma das mais populares técnicas de preservação de alimentos, que, conforme Sarkis, "consiste em expô-los fontes radioativas ou fontes de elétrons. Dependendo da energia da radiação, é possível eliminar bactérias, pragas e outros micro-organismos, comumente presentes nos alimentos que vêm para as nossas mesas”.

Sarkis destacou que, ao eliminar os micro-organismos, impedindo-os de seguir adiante na cadeia alimentar, a radiação se torna um fator de extrema importância para a segurança da população. "Porque você não traz pra sua mesa essas pragas tão comuns no meio ambiente. Isso evita a perda das colheitas, aumenta o tempo de prateleira e, em alguns países, altera-se alguns grãos, como arroz e milho, de modo a tornar sua produção mais resistes a pragas, gerando aumento de produtividade”.

Salientando que o IPEN é um líder na área de irradiação de alimentos e que as pessoas não precisam ficar receosas porque esses alimentos não ficam "radioativos”, Sarkis falou da sustentabilidade de alimentos, comprometida pelo aumento exponencial da população, e mencionou as pesquisas com insetos comestíveis. "Estudos demonstram que até o ano de 2050 a população chegará a 9 bilhões de habitantes. Mantendo os atuais níveis de produção de alimentos, isso será insustentável. Nós teríamos que plantar três ‘brasis’ para dar conta da necessidade de proteína no mundo inteiro. Impossível”.

A busca de novas fontes de proteína é uma opção viável do ponto de vista da sustentabilidade, avalia Sarkis. É aí que surgem os insetos, "horrorosos e imundos” para boa parte das populações urbanas. "Comer insetos é uma ideia que choca, a priori. Mas eles são cepas produzidas por empresas certificadas de alta referência microbiológica e alimentados de forma controlada. Ou seja, têm um tremendo ‘pedigree’. São grilos, baratas, besouros, larvas etc.m uma infinidade de espécies, e todos podem ser aproveitados como alimentos e fontes de proteína”, explicou.

Fazendo uma comparação entre o teor de proteína de insetos – em torno de 50% - e outros alimentos, como a soja, por exemplo, que tem 22%, e a carne bovina, com 18%, Sarkis diz que é uma grande vantagem introduzir os insetos na alimentação de humanos e animais. "Os insetos, dependendo da espécie, possuem 20% de gordura e uma grande quantidade de ômega 3, ômega 6 e metais essenciais. E eles podem ser manipulados, como fazemos no IPEN atualmente, de modo a alterar as proporções de elementos essenciais a criações específicas”.

Sarkis concluiu falando do manejo e sustentabilidade dos insetos, e das pesquisas do IPEN voltadas para a produção de suplementos minerais para grandes criações. Os insetos são irradiados no acelerador cíclotron do Instituto para aumentar o tempo de estabilidade e garantir que possa ser produzido em São Paulo e chegar à Amazônia com segurança. O pesquisador convidou o chef Casé Oliveira, seu parceiro na pesquisa, a oferecer uma degustação aos presentes. Grilos e besouros em fase jovem foram servidos em canapés.

"Eu costumo dizer que, na verdade, nós não estamos no planeta dos homens, mas nos estamos no planeta dos insetos, o maior grupo de animais e foram esquecidos no tempo com o advento da urbanização”, brincou Casé, para, em seguida, servir os canapés. Nem todo mundo encarou, mas, quem provou, gostou. "Parece algo com sabor de ervas. É bom”, disse Malu Cocato. "Tem um gosto amendoado, bem crocante. Gostei, mas comi no patê. Sozinho não tive coragem não”, brincou Walkiria Gomes.

Após as apresentações, o público fez algumas perguntas e foi encerrado o ciclo de apresentações. O músico Diogo Lima, que também trabalha no IPEN, encerrou a noite ao som de Raul Seixas e Nando Reis. Ele já havia feito a abertura e retornou ao palco para o bis. O público prestigiou a exposição fotográfica do servidor Edvaldo Paiva, presente no Avareza. O conjunto levou um pouco do que o artista classifica como "IPEN Cósmico”, "IPEN Natureza”, "IPEN Humano” e "IPEN Instalações”.

"O IPEN fez bonito. Fiquei muito orgulhosa do trabalho dessa equipe", disse a diretora de Pesquisa, Desenvolvimento e Ensino, Isolda Costa, que foi com a família prestigiar o evento. "Nossos pesquisadores despertaram o interesse do público, que participou ativamente com muitas perguntas. Estavam bem entrosados e articulados. E tudo bem equilibrado", acrescentou.

O Pint Of Science é o maior festival de divulgação científica do mundo. No Brasil, é uma realização da Unifesp, Medhacker e Scientific American, com Patrocínio da Eppendorf. Hoje à noite, último dia do evento, o pesquisador Emerson Bernardes, do Centro de Radiofarnácia, estará a partir das 19h,30, no Bar Galeria 540 (R. Mourato Coelho, 540, Pinheiros) para falar do tema"A medicina nuclear na oncologia”, sob a coordenação do jornalista Moura Neto.

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